Na última sexta-feira (22), a cantora e compositora Nina Inski lançou “MIRROR, MIRROR”, um single que aborda temas como aceitação pessoal, sombras interiores e os desafios da vida adulta. Influenciada por nomes como Evanescence e Slipknot, a faixa explora os sete pecados capitais em uma fusão de pós-grunge, hard rock e rock gótico. Com letras introspectivas e uma produção visceral, Nina convida os ouvintes a refletirem sobre os excessos e tentações em tempos de redes sociais.
O clipe, dirigido pela produtora Maré.Mar, traduz a intensidade da música com referências ao filme Se7en e ao musical Cabaret, trazendo uma representação teatral dos pecados capitais. Nina interpreta a Soberba, ao lado de outros talentos que personificam as demais transgressões.
“MIRROR, MIRROR” explora uma intensa introspecção e a aceitação das sombras interiores. Como foi o processo de olhar no próprio espelho e transformar suas vulnerabilidades em música?
O ato de compor, para mim, é sempre um ato de vulnerabilidade. Brinco às vezes, inclusive, que é meio que como psicografar a própria alma (risos). “MIRROR, MIRROR” foi uma música que surgiu num momento de introspecção muito grande, em que eu estava lidando com demônios interiores e desafios da vida adulta, mas não necessariamente sabia como navegá-los ainda. Acho que nasceu dessa busca incessante de me descobrir por inteiro e entender o que me faz humana, sabe? Não só as minhas qualidades e partes agradáveis, mas também as dificuldades, as “sombras” e as partes mais vulneráveis de quem eu sou. No final, foi como olhar no espelho e me ver desnuda: uma jovem adulta que carrega diversas imperfeições, vícios e pecados. Mas a principal mensagem é também conseguir enxergar a beleza nisso. É como levantar um espelho e perguntar para o seu reflexo: “Quem é você? O que te faz você? O que te faz autêntico? Como as suas dificuldades podem te tornar mais forte no futuro?”
A canção aborda temas como os sete pecados capitais e os desafios da vida moderna. O que você espera que o público sinta ou reflita ao se conectar com essa dualidade apresentada no single?
Espero que o público consiga se identificar com esse equilíbrio entre luz e sombra, e entender que está tudo bem ser uma pessoa cheia de dualismos. Eu, por exemplo, sou uma metamorfose ambulante (risos). Todos carregamos pecados conosco, mesmo que bem lá no fundo. Mesmo que a gente não mostre esse lado de nós para ninguém, é importante nos sentirmos acolhidos, né? E a música é um canal onde a gente pode se conectar com a nossa alma e reinventar as letras para o nosso próprio propósito. “MIRROR, MIRROR” surgiu dos meus próprios problemas pessoais, mas a beleza da arte é que cada um pode ressignificar como quiser: seja alguém que lida com vícios, “pecados”, transtornos alimentares ou mentais. Espero que esse single possa acolher essas pessoas, mas também mostrá-las que é importante não cairmos em excessos. Gula? Tudo bem de vez em quando, mas, por exemplo, beber demais faz mal. Avareza? Só machuca a alma e quem está ao redor da gente. Já a inveja, por exemplo, acaba corroendo a gente por dentro. Então é importante ter esse olhar crítico, reconhecer os nossos defeitos, e entender que nunca poderemos escapá-los 100%. Mas também é fundamental ter a consciência de que devemos sempre tentar ser pessoas melhores, tanto conosco quanto com os outros.
A mistura de pós-grunge, hard rock e rock gótico marca a identidade sonora de ‘MIRROR, MIRROR’. Como você chegou a essa combinação tão característica e como ela representa sua essência artística?
Desde novinha sempre fui muito fã de rock. Sinto que respiro rock e minha alma estará sempre conectada a esse estilo. Mas ao mesmo tempo, amo misturar gêneros musicais e elementos experimentais. Estou num momento da carreira em que sinto que preciso experimentar ao máximo para descobrir meu som autêntico, por mais que já saiba como quero que cada música soe (risos). Por isso, na “MIRROR, MIRROR”, quis trazer uma sonoridade um pouco mais pesada do que a minha música de estreia, “21”, o que faz total sentido com o que eu quero produzir mais para frente. Acho que nunca vou conseguir escapar do rock alternativo, pós-grunge e hard rock, mas em cada single, pretendo trazer um subgênero diferente. Nesse single em específico, foi o rock gótico. No próximo, será o emo e o pop punk. E depois desse, tenho uma música que entra bastante no indie, no country e no blues.
O videoclipe traduz visualmente a profundidade da música, explorando o simbolismo dos sete pecados capitais. Como foi interpretar a Soberba e trabalhar em um projeto tão teatral e impactante?
Ah, foi incrível. Como atriz, sinto que nunca vou conseguir desvencilhar meu amor pelo teatro da carreira musical. Eu comecei no teatro antes da música, com só nove anos, então tudo que eu faço está diretamente relacionado à interpretação dramática. Já imagino shows com elementos teatrais intensos, figurinos malucos e divididos em atos, meio no estilo Sabrina Carpenter ou Chappell Roan, só que versão rock and roll (risos). E por isso, esse primeiro clipe foi tão gostoso de fazer. Interpretar a Soberba foi super legal, porque sinto que é uma personagem que traduz bastante alguns artistas: o sentimento de superioridade, a arrogância e a sede de poder e fama. Claro que, para quem vive de qualquer tipo de arte, ambição e foco são habilidades importantes. Mas também é importante a gente não cair na armadilha que é a presunção. Trabalhar entre amigos também foi incrível, e o set de gravação foi super profissional e organizado. Chamei atores conhecidos para interpretar os outros pecados e produzi o clipe com a Maré.Mar, produtora de uma amiga de anos que conheci na faculdade de Jornalismo.
Sua carreira é marcada por uma versatilidade que transita entre música, teatro e escrita. Como essas diferentes expressões artísticas influenciam umas às outras no desenvolvimento da sua identidade criativa?
Me considero extremamente sortuda por conseguir transitar entre diferentes formas de expressão, porque sinto que uma sempre acaba influenciando outra de uma maneira positiva. A catarse para mim é inescapável, então poder traduzir minhas angústias em três fontes diferentes de arte é bem recompensador. Na música, nunca vou conseguir escapar dos shows e das produções mais teatrais (algo que eu, pessoalmente, amo em outros artistas). Na escrita, também sempre acabo incorporando elementos musicais. Este ano, escrevi um livro que foi baseado em um álbum que pretendo lançar em 2026. Então será uma obra em formato multimídia, na qual as pessoas podem ler o livro e escutar o álbum ao mesmo tempo, e vice-versa. Com o meu EP de estreia, pretendo trazer visuais bem legais que misturam meus estudos teatrais em formato de curta-metragem (o que, obviamente, só acontecerá se conseguir investimento suficiente, risos). Algumas músicas acabam nascendo de poemas, e alguns roteiros de filme acabam nascendo de músicas. Então, no final, as três formas de arte sempre se misturam. Eu, pessoalmente, acho isso incrivelmente gratificante, e pretendo continuar incorporando elementos de umas nas outras para criar uma arte multimídia.
Você menciona que ‘MIRROR, MIRROR’ é um convite à aceitação e autenticidade em tempos de redes sociais. Como você equilibra sua própria autenticidade enquanto navega nesse ambiente de constante exposição?
Para mim, é bem difícil não me comparar a outros artistas nas redes sociais (risos), e é uma pauta que está sempre bem presente nas minhas sessões de terapia. Mas acho que o importante é reconhecer a própria caminhada e a própria autenticidade. Afinal, ninguém nunca andou nos seus sapatos para poder saber por que você está aqui ou ali, ou por que decidiu fazer uma certa escolha. Mas eu luto bastante com a competitividade contra mim mesma também. Sou o tipo de pessoa que sempre espera demais de mim mesma, que sempre acha que dá para ficar melhor, que as coisas nunca estão boas o suficiente. Minha terapeuta fala que eu me cobro demais (risos), e que eu preciso aprender a relaxar. Mas eu sempre fui assim, desde criancinha. Esse ano, no entanto, tentei tirar um tempo off das redes sociais para conseguir focar no que importa para mim, que é a arte. Já fui muito viciada em Instagram, TikTok, etc, mas esse ano meu tempo de tela reduziu drasticamente, e sinto que me fez um bem danado. No final, somos nós por nós mesmos, e ninguém nunca vai te conhecer a fundo, mesmo que te veja nas redes sociais. Então estou aprendendo a aceitar a minha própria autenticidade e meio que “ligar o foda-se” para comentários bobos de quem não me conhece por completo. Além disso, entendi que as redes sociais são só um mero reflexo de quem somos; um lugar virtual que nem sempre mostra todas as facetas da gente. Quem eu sou no Instagram não necessariamente sou eu, até porque vai do olhar de cada um. Vai ter quem te ache incrível, e quem te ache bobo. E acho que fiz as pazes com isso em 2024. Estou bem mais leve.
Com o EP ’21st Century Nihilist’ a caminho, previsto para 2025, vemos um projeto que mistura punk, grunge e garage rock. O que podemos esperar em termos de conceito e mensagens que você deseja transmitir?
Esse EP foi todo composto basicamente de uma vez só, no intervalo de um mês. Em 2024, larguei a carreira na publicidade para poder me dedicar 100% à arte. No começo, foi incrível, e me senti super livre, mas depois de um tempo, comecei a entrar em uma espécie de parafuso autodestrutivo. Não estava me alimentando bem, estava dormindo super mal, parei de me exercitar e trabalhava 14 horas por dia na minha carreira. Foi um momento que eu caí nas tentações e excessos que eu tanto prego na “MIRROR, MIRROR”. “21st Century Nihilist” é, em suma, uma compilação das partes mais confusas e caóticas de mim. Um lembrete de que, às vezes, está tudo bem não estar bem! Esse EP é o epítome de ser uma “adolescente adulta” no século 21: bagunceira, sempre atrasada e cronicamente deprimida. Eu queria que o projeto soasse tão caótico quanto eu me sentia naquela época. É cru, barulhento e assumidamente sujo — assim como meu espaço mental era. Foi uma época estranha e conturbada, mas de alguma forma, toda aquela loucura se transformou em algo hilariamente cômico e inesperadamente divertido — “21st Century Nihilist”. Ser um adulto responsável? Muuuito difícil. Às vezes caio no fundo do poço. E honestamente? Tudo bem também.
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