A cantora e compositora Nilze Benedicto, após um potente mergulho no samba, celebra a obra e o impacto cultural de duas dos maiores ícones do rock: Rita Lee e Tina Turner. O lançamento do clipe que celebra esse encontro de trajetórias – das homenageadas e de Nilze, cuja vida na música abrange os palcos, os bastidores e a arte como forma de educação.

A inspiração em artistas femininas é uma constante no trabalho de Nilze. Desta vez, a influência foi também da amiga e poeta Renata Correa, que surgiu nos pensamentos de Benedicto juntamente com parte da letra de “Filha do Vento” e sua melodia.

Nilze Benedicto é uma figura multifacetada no cenário cultural brasileiro dona de uma trajetória que abrange diversas áreas. Com formação em Ciências Biológicas e uma pós-graduação em gestão ambiental, Nilze também deixou sua marca na educação. Durante 25 anos, ela se dedicou à área pedagógica, participando de congressos e assumindo o papel de coordenadora geral de Ciências no município de Itaboraí, no Rio de Janeiro.

No entanto, Nilze Benedicto não se limita à sala de aula. Sua expressividade artística se revela através da música, da poesia e da trova. Ela é uma sambista, cantora, compositora e trovadora reconhecida, com suas trovas sendo destacadas não apenas no Brasil, mas também internacionalmente, no Japão e no Uruguai. Sua habilidade em criar versos e melodias é uma manifestação da riqueza cultural do Brasil.

Além de suas contribuições no campo da educação e da arte, Nilze também desempenhou um papel importante na produção de eventos musicais, sempre unindo a influência africana na música brasileira, destacando o poder e a importância das mulheres do samba e seus instrumentos musicais.

Com “Filha do Vento”, Nilze Benedicto se volta para a guitarra, tão associada às suas homenageadas, para criar uma canção poderosa sobre identidade e potência feminina. A faixa já está disponível em todas as principais plataformas de música, e o clipe, em seu canal de YouTube.

“Filha do Vento” é uma homenagem tanto a Rita Lee quanto a Tina Turner. Como essas duas artistas influenciaram a sua música e qual a importância delas na sua trajetória musical?

Muitos me conhecem e sabem que sou do samba, porém canto tudo o que me atravessa ou me representa. Tanto a Rita quanto a Tina foram mulheres que sempre estiveram à frente do seu tempo, empoderadas, destemidas, tinham suas opiniões e isso eu queria trazer para o clipe “Filha Do Vento”.

A música tem uma conexão especial com Oyá, divindade associada ao vento. Como essa espiritualidade e conexão cultural afetaram a sua abordagem musical e artística em “Filha do Vento”?

Quando essa composição chegou para mim eu não sabia que era algo sobre a orixá Oyá e depois eu, estudando (porque não sou de nenhuma denominação Afrodescendente) vi que é destemida, guerreira, coloca a mão na massa e vai fazer o que tem de ser feito, sabe o que quer e aonde chegar e assim são muitas mulheres. Isso só descobri depois da música feita.

Sua carreira abrange áreas diversas, desde Ciências Biológicas até a gestão ambiental. Como essas experiências se entrelaçam com a sua expressão artística, especialmente em uma faixa tão simbólica como “Filha do Vento”?

Eu dei aulas quase 30 anos nas ciências biológicas e sempre estive atenta a questões ambientais. Naquela época, mesmo não sendo profissional da música, eu já fazia projetos, composições que eram trabalhadas em sala, que abordavam esses temas (dengue, poluição, escassez, reflexão sobre as práticas humanas…). Minhas músicas são muito orgânicas, não tenho um propósito para compor. Elas chegam e eu as executo.  Sempre tive essa ligação estreita. Com o tempo caminhei mais para o lado musical profissional diverso, porém não deixei o foco ambiental. Acho até que o dia do meu nascimento contribuiu para isso. Nasci no dia 5 de junho, dia do Meio ambiente.

Nilze Benedicto

A poeta Renata Correa teve um papel fundamental na inspiração para a música. Como foi o processo criativo colaborativo e qual a importância dessa parceria na sua arte?

Renata é uma querida que estamos juntas em saraus. Ela tem uma participação poética numa outra música minha. Eu nem sei por que, mas um dia ela não me saía do pensamento. Nisso me veio o refrão da música (Geralmente para mim vem a letra e a melodia) : “Filha do vento eu me viro do avesso e vou domando todos os espaços”. Na semana seguinte eu estava novamente pensando na amiga e o restante da música brotou. Alguns dias depois encontrei com ela e contei a história e cantei a música na íntegra. Eu fiquei surpresa quando ela chorou ao me ouvir e disse: Eu sou filha de Oyá.

Você mencionou que a música é uma homenagem às “filhas do vento”. Como você vê o papel da mulher na música, especialmente no contexto do samba, e como isso é refletido na sua obra?

A mulher está se despontando após muitos séculos de opressão.
A música Filha do vento, ajuda muitas mulheres a se posicionarem diferentemente, se empoderarem, mudar paradigmas impostos. O papel da mulher é sim fazer o que ela gosta e quer. Eu fico muito feliz em ouvir muitas manas, minas e monas que  já falam que essa música  as representa. Então creio que ela está cumprindo o seu papel.

Além da guitarra, que é central em “Filha do Vento”, que outros elementos musicais foram explorados para criar uma fusão entre o samba, rock e a influência afro?

O ritmo marcante, pulsando que expressa força nos estilos musicais e na ancestralidade.

Sua trajetória inclui contribuições significativas na produção de eventos musicais, destacando mulheres no samba. Como essa experiência influenciou a sua abordagem para a representação feminina na música?

Alguns temas que me atravessam eu procuro externar através das minhas composições e o empoderamento feminino é um desses atravessamentos. Sou mulher e gosto de falar sobre isso, também, não por modismo, mas acho necessário. Isso tem que ser abordado em qualquer estilo musical.

Você tem uma presença marcante na trova, com reconhecimento internacional. Como a trova se conecta com a sua expressão artística na música, especialmente em uma faixa mais ampla como “Filha do Vento”?

A trova é uma expressão ritmada que se concretiza somente em 4 versos. A primeira trova que fiz, em poucos minutos que tive contato com o tema (Cerejeira), ganhou destaque no concurso do Japão.  Acho que tenho uma certa facilidade com isso (mas que não seja imposto). Creio que isso ajuda muito nas composições musicais e Filha do Vento tem essas marcações rítmicas e fortes.

“Filha do Vento” aborda temas como identidade e potência feminina. Poderia compartilhar um pouco mais sobre as mensagens que deseja transmitir com essa música?

Filha do Vento é um “sacode” na sociedade e uma autoavaliação feminina. Desejo que toda mulher possa se identificar como pessoa de poder. Sim PODER: ser, estar, falar, se por se opor, ou seja, mostrar-se inteira em todo o lugar.

Além do lançamento da música, o clipe também é uma parte importante desse projeto. Como você visualiza a narrativa visual complementando a mensagem de “Filha do Vento”?

É uma narrativa de mulher que tem o seu cotidiano simples, como todas as pessoas. Ama a família, a protege, mas além disso, mostra sua vertente artística com algumas das suas principais referências musicais.

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