Michelle e Melissa Macedo estrelam “Thinestra”, terror visceral que denuncia padrões de beleza

Luca Moreira
8 Min Read
Michelle e Melissa Macedo
Michelle and Melissa Macedo

Michelle e Melissa Macedo, irmãs gêmeas conhecidas pelo duo alt-pop MACEDO, dão vida a uma perturbadora narrativa no filme Thinestra, que estreia em junho de 2025 no Raindance Film Festival, em Londres. O longa, dirigido por Nathan Hertz, mistura horror corporal e crítica social ao abordar os limites da obsessão com a imagem e os danos causados por padrões de beleza inatingíveis. Na trama, Michelle vive Penny, que ao tentar modificar o corpo com uma droga misteriosa, desencadeia a criação de um duplo canibal — Penelope, interpretada por Melissa. Além de protagonizarem o filme, as irmãs também assinam a trilha sonora, reforçando a carga psicológica e sombria da produção.

Vocês interpretam duas versões da mesma personagem, Penny e Penelope, que representam lados opostos de uma psique fragmentada. Como foi para vocês mergulhar juntas nessa dualidade tão intensa e visceral no set de gravação?

Todo o processo de filmagem foi muito intenso. Esse tema é incrivelmente importante para nós, em parte porque, como gêmeas, nossos corpos sempre foram comparados e sempre estivemos colocadas em contexto uma em relação à outra. Então, mergulhar em personagens que são literalmente duas metades da mesma pessoa foi muito catártico. Estávamos sempre presentes nas cenas uma da outra no set para nos apoiarmos e termos uma visão mais completa do arco da Penny/Penelope. Nós duas também trabalhamos com uma preparadora corporal para realmente encontrar nossa sincronia como personagem.

Michelle and Melissa Macedo
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O filme aborda temas complexos como obsessão, autoimagem e violência interior, especialmente no contexto da cultura da beleza. Como vocês conectam essas discussões profundas com as próprias vivências como mulheres, artistas queer e mestiças?

Esses temas foram muito fáceis de conectar para nós. Os papéis nos forçaram a confrontar nossa própria vergonha e todo o barulho em torno da imagem corporal e do valor próprio. Na nossa experiência no mundo, há uma pressão profunda para sermos o que os outros esperam. Em geral, é fácil sentir que a vida seria mais simples se fôssemos magras o suficiente ou o bastante de certa raça, gênero ou orientação sexual. Sentimos que talvez, se alcançarmos a versão perfeita de nós mesmas, finalmente seremos amadas. Acreditamos que esse é um sentimento universal.

Michelle and Melissa Macedo
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Em Thinestra, a relação de irmandade entre vocês é explorada de forma muito única e simbólica. Como a experiência real de serem irmãs gêmeas influenciou a construção dessa dinâmica na tela?

Ser gêmeas nos deu uma perspectiva verdadeiramente única para esse papel. Sempre tivemos essa conexão inata — alguém que te entende, te desafia e está ao seu lado não importa o quê. Mas também existe essa obsessão cultural com gêmeas, como se fôssemos uma pessoa dividida em duas, como se devêssemos às pessoas essa igualdade. Essa tensão — entre uma intimidade profunda e estar constantemente sendo observada ou comparada — realmente influenciou como interpretamos Penny e Penelope. Não são apenas duas personagens; é uma identidade partida ao meio, e conhecemos essa dinâmica de perto.

Michelle and Melissa Macedo
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A trilha sonora do filme mistura clássicos natalinos com um tom sombrio e distorcido, trazendo a assinatura musical de vocês para o universo do body horror. Como foi criar e interpretar essas músicas em um contexto tão diferente?

Nós nos divertimos muito transformando os clássicos de Natal em algo estranho e fora do comum. O Natal pode ter um ar mágico, mas também muito sombrio, então mergulhamos nessa tensão. Na nossa versão de “Jingle Bells”, que chamamos de Jingle Bells on the 101, nos apaixonamos pela releitura do clássico feita pelos nossos produtores. Nossa equipe da Jenga Productions realmente ajudou a criar todo o clima. Gostamos tanto que estamos lançando um EP de Creepy Christmas! Na nossa versão ainda inédita de Carol of the Bells, dividimos em “acima e abaixo”, céu e inferno, e dá para sentir essa descida para a escuridão. A Jenga Productions (Nicci Funicelli, Shayon Daniels e James Funicelli, além dos nossos brilhantes compositores Charlie Laffer e Tom Walley) realmente deram vida ao conjunto da trilha. As ideias deles levaram a música para algo realmente inquietante e cinematográfico.

Michelle and Melissa Macedo
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O filme se propõe a provocar uma reflexão sobre autonomia corporal e os padrões de beleza impostos pela sociedade. O que vocês esperam que o público leve consigo depois de assistir a essa história tão perturbadora e, ao mesmo tempo, tão real?

Acreditamos que esse filme é uma oportunidade perfeita para desafiar uma ideia sobre a qual a maioria das pessoas nem pensa muito. Nós, enquanto cultura, temos uma fascinação profunda pelo “antes e depois”, pela transformação e pela comparação. A mensagem é que você só será valorizada quando chegar a algum “depois”, não importa o que viva no caminho. Há uma expectativa nebulosa de que as mulheres sejam mais magras, mais bonitas, mais jovens e mais desejáveis para os homens, mas sem serem vaidosas ou ameaçadoras para outras mulheres. Existe essa ideia de um ponto final, um lugar que representa o auge do sucesso. O filme espelha essa ideia para o público. O desespero, a luta, a vergonha de não ser o “depois”, de nunca ser a outra, de que não importa o quanto você tente, nunca poderá ser outra pessoa. Por isso, ao usar gêmeas que são duas pessoas completamente diferentes, você é confrontada com o fato de que nunca poderá ser outra pessoa. O filme confronta o sistema de valores das pessoas sobre individualismo e exploração. Penny e Penelope são duas iterações diferentes desse sistema de exploração. Penny está cheia de vergonha do próprio corpo, sentindo que precisa se esconder do mundo até se transformar. Não importa quão tortuoso seja o processo, ela fará de tudo para alcançá-lo.

Thinestra tem sido comparado a obras impactantes como Raw e The Babadook. Vocês acham que, por meio desse projeto, estão abrindo novas possibilidades para contar histórias queer e mestiças no cinema de terror? Como gostariam de ver essa representatividade ampliada no futuro?

Sentimos que quando uma atriz pode se apresentar como ela mesma, seja qual for sua identidade, isso sempre abre possibilidades futuras. É limitador quando alguém é colocado em uma caixinha e escrito com base apenas em uma identidade, em vez de ser um ser humano real e complexo. Gostaríamos muito de ver experiências humanas autênticas de todos os tipos sendo retratadas de forma precisa, em vez de simplificadas.

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