Dominic Patrick da Costa-Maha, mais conhecido como MC Maha, é uma das maiores vozes do funk brasileiro ao trazer uma mistura única de referências da cultura geek com a irreverência do gênero. Natural de Trinidad e Tobago e radicado em Sobradinho (DF), o artista ficou conhecido com a paródia “Harry Porra e a Bruxinha Rabuda”, que viralizou nas redes sociais e consolidou sua identidade como pioneiro do “funk geek”. Após uma trajetória que incluiu passagens como modelo, ator e até carreira no axé, MC Maha tem encantado o público com suas letras cômicas e criativas, sempre trazendo universos como Dragon Ball Z, Naruto e Game of Thrones para as pistas de dança. Com lançamentos recentes como “Eita Saudade” e “Carnaval do Sukuna”, ele segue inovando e ampliando sua presença no cenário musical brasileiro, celebrando a fusão de culturas pop e funk com autenticidade e muito bom humor.
Qual a música que você considera a mais desafiadora de fazer até hoje, seja pela letra, melodia ou mesmo pela sua produção? E qual foi a mais tranquila, aquela que fluiu rapidamente?
A mais difícil de fazer foi “Evangelion Automotivo”, do anime Neon Genesis Evangelion, por conta da complexidade do anime em si. E a mais fácil, que fluiu rápido, foi o funk da Bettina, que era um meme que estava em alta na época.
Você já fez paródias de várias franquias geek. Tem algum universo nerd que ainda não explorou nas suas músicas e que adoraria transformar em um hit?
Um universo que eu gostaria muito de explorar musicalmente, mas ainda não consegui, é o de Rick e Morty.
Além da música, você tem algum outro hobby ou paixão que se mistura com esse universo geek, como cosplay, games ou quadrinhos?
Fora a música, sempre amei atuar. Cheguei a fazer faculdade de teatro por um tempo, mas acabei largando porque, na época, estava tendo dificuldade de conciliar a faculdade com o trabalho.

Falando sobre os shows: você vai se apresentar em Fortaleza e Recife para comemorar os 2 anos do Bailão Nerd. O que podemos esperar dessas edições especiais?
O que se pode esperar de qualquer show meu é que vou fazer tudo com a minha alma. Acho que, quando colocamos o coração nas coisas, as chances de sair algo mais bonito sempre são maiores.
Como você vê o crescimento dos bailes e festas temáticas voltadas para esse público nerd? Acha que isso abre mais portas para os artistas criarem fora da caixinha?
Acho que abre portas sim, principalmente para nós desse meio, que não tínhamos tanto espaço para realizar apresentações.
Em “Eita Saudade”, você mistura afrobeats com baião, dois estilos com raízes muito fortes e bem diferentes do funk que você costuma fazer. Esse estilo musical é algo que você já apreciava antes? Teve alguma preparação ou estudo especial para encarar essa fusão? E, pensa em migrar aos poucos para um som mais voltado para afrobeats?
A música “Eita Saudade” foi uma composição que fiz para mim mesmo. Era uma música que eu tocava quando queria estar em paz, e o estilo do baião me traz isso. Misturar o afrobeat veio naturalmente durante o processo de produção, porque gosto muito desse estilo. Quando vi a possibilidade de juntar os dois sem perder a essência da música, achei incrível.

Depois de “Harry Porra e a Bruxinha Rabuda”, seu nome virou sinônimo de criatividade no funk geek. Hoje, você se sente mais livre ou mais pressionado para inovar a cada lançamento?
Me sinto um pouco preso pela necessidade constante de entregar algo criativo, mas, ao mesmo tempo, livre para ser o mais ridículo possível também. É uma estrada bifurcada.
Atualmente, vivemos cada vez mais em um ambiente de críticas, onde praticamente tudo que dizemos, tanto na arte como na nossa própria expressão acaba se tornando alvo de rebates. Como você tem lidado com essas questões em suas produções, ainda mais com as paródias que tem a intenção de transmitir um tom mais humorístico?
No caso de Harry Porra, que foi a primeira música a estourar e a de maior alcance, percebi a proporção quando vi o Whindersson postando “Wingardiim Levi rola” no Twitter e quando o Felipe Neto fez um react.
Muitas de suas produções acabaram chamando atenção não só do público em geral como de outros criadores de conteúdo no cenário digital, tais como vídeos de “react”, “covers”, entre outros modelos que fazem bastante sucesso. A partir de qual momento você percebeu a dimensão que seu trabalho estava chegando e como foi sua reação a essa repercussão?
Ah, o pessoal vem xingar o tempo todo, mas quando não estou sendo criticado, é porque não estou alcançando limites fora da bolha. Quem já me acompanha, gosta. Então, o “hate” para mim é um indicativo de crescimento.
O gênero do funk teve origem em meados da década de 1960 nos EUA, e nos anos 80/90 no Brasil, principalmente nas periferias, e apesar de toda sua história e grandes representantes, ele sempre sofreu e sofre preconceitos até os dias de hoje. Na sua visão como artista, qual seria o principal motivo que é apontado para esse preconceito e como acha que se encontra o cenário funk nos dias de hoje?
O funk é um estilo que não cobra o estereótipo padrão que outros estilos impõem ao mercado. Para ser funkeiro, você não precisa ser bonito, estudado ou ter aula de canto. Basta se encontrar no ritmo, botar sua voz com sua energia e contagiar as pessoas. Isso abre espaço para que, mesmo quem não tem oportunidades de se lapidar ou recursos para tal, ainda consiga alcançar sucesso com força de vontade e talento envolvente.
Ele é inclusivo. E as pessoas geralmente mais apegadas a uma ideologia elitizada tendem a atacar o estilo por ele carregar o estereótipo do favelado, do pobre, do preto, que ainda está lutando para superar esse estigma de negatividade. Um estigma que está ligado, basicamente, ao nosso racismo cultural interno, descendente da psique colonialista, e que aos poucos vamos entendendo e tentando nos desprender.
Acompanhe MC Maha no Instagram
*Entrevista em colaboração com Regina Soares