Maurício Gomyde mostra exemplo da força feminina de maneira criativa em “Vida Becker e a Máquina de Contar Histórias”

Luca Moreira
12 Min Read
Maurício Gomyde (Henrique François)

Em “Vida Becker e a máquina de contar histórias,” o novo livro de Maurício Gomyde, a jovem Vida Becker é escolhida para liderar os grandes gênios da humanidade em uma batalha épica no Paramundo. Este é o primeiro volume de uma trilogia que mergulha em uma história repleta de ação e fantasia, onde mais de 100 bilhões de humanos já falecidos encontram seu destino. Nesse universo, eles são divididos entre os Amáveis e os Temíveis, com Vida Becker se tornando uma líder improvável em meio a uma iminente guerra. A trama leva os leitores a interagir com figuras históricas notáveis, enquanto explora temas como medo, aceitação e crescimento. Com uma escrita sensível, Gomyde entrega uma mensagem importante para jovens que enfrentam as incertezas da juventude. Maurício Gomyde, autor, músico e roteirista de cinema, apresenta uma obra repleta de aventura e reflexão, que promete cativar os leitores.

No enredo de “Vida Becker e a máquina de contar histórias”, a protagonista Vida Becker é chamada a liderar os gênios da humanidade em uma grande guerra no Paramundo. Como surgiu a ideia para essa narrativa única?

Tive a ideia durante a pandemia. Minha filha começou a estudar online, era tudo novidade e bem complicado de funcionar, de tal forma que precisei fazer as vezes de professor para ajudar. Percebi que, em relação à matéria de História, era superdifícil fazer com que ela se conectasse. Em tempos de redes sociais, as vidas de egípcios, babilônios e romanos de 2 mil anos atrás pareciam um fardo. Pensei então em escrever um livro em que uma garota, chamada Vida Becker, é alçada a um mundo especial onde revivem todas as pessoas que já morreram na Terra. Ali surgiria a oportunidade de inserir, interagindo com a menina, parte daqueles personagens históricos como “super-heróis”, pessoas maravilhosas que poderiam mostrar quem foram, por meio de uma aventura incrível em que ela fosse a protagonista. Acho que ficou bem forte, tem muita gente interessante no livro 1 e vários outros estão prontos para entrar nos livros 2 e 3.

O livro explora a vida após a morte de uma maneira criativa e única, com diferentes territórios para os Amáveis e os Temíveis. Como você desenvolveu esses conceitos do Paramundo?

A maior pergunta da humanidade, que é “Para onde vamos depois de morrer?” também sempre me inquietou, claro. Quando fui conceber o Paramundo, pensei: “Por que não criar um mundo fantástico pós-morte cheio de alternativas?”. Eu não queria que a representação de céu fosse um lugar branquinho, cheio de nuvens e anjinhos tocando lira, assim como a representação do inferno fosse só fogo e enxofre (risos). Dessa forma, dividi o Paramundo em dois territórios (o Fraterno e o Ermo). No Fraterno, os amáveis de todas as épocas e culturas se entendem e vivem em cidades que são reproduções misturadas de cidades terrestres (Paristambul, Londyork, Cairatenas, Nairoberlim…); já o Ermo, lar dos temíveis, fica no meio de um deserto e é caótico. E esses dois grupos vão se enfrentar na maior guerra da história da humanidade pelo controle do Paramundo. No final das contas, hoje até acredito nisso e estou me vigiando para ser um ser humano sempre amável. Assim, reviverei no Território Fraterno quando morrer (risos).

Vida Becker interage com diversas figuras históricas durante sua jornada no Paramundo. Qual foi o critério para escolher essas personalidades e como elas contribuem para a narrativa?

Essa foi uma das partes mais difíceis, porque toda figura histórica é um personagem em potencial e quem entrasse, abriria um novo universo de possibilidades, pesquisas, cenas etc. Dessa forma, o principal critério de escolha foi a “utilidade” para o crescimento da Vida, que é a personagem principal e quem atravessará a jornada. Com base nesse critério, houve personagens que entraram e depois saíram, assim como aqueles que entraram aos 45 do segundo tempo. Uma questão interessante foi a separação dos grupos “Temível” e “Amável”, porque o critério foi a conveniência da história. Quando escolho Leonardo da Vinci para ser amável, isso é um tanto quanto senso comum, assim como quando defino Mussolini como temível. Porém, escolher Júlio César como temível e Alexandre como amável foi aleatório, para tornar a história mais interessante e instigante.

Parte do livro enfatiza a força das mulheres, com figuras como Joana d’Arc, Dandara dos Palmares e Marielle Franco. Qual mensagem você espera transmitir com essas personagens?

Além das que você citou, ainda estão neste primeiro livro Anita Garibaldi, Marie Curie, Jeanne Hachette, Maria Pita… Todas elas foram mulheres que “mandaram ver” e nunca abaixaram a cabeça. Essa era uma das premissas do livro, a de trazer mulheres fortes que atravessariam a trajetória da Vida Becker com lições de força e resiliência, que são dois dos principais valores que a menina precisará ter para enfrentar seus desafios. Ao longo dos livros 2 e 3, diversas mulheres maravilhosas (reais ou não) darão à Vida muitas lições importantes.

Maurício Gomyde

Seu livro também aborda questões que os jovens costumam enfrentar, como medo, aceitação e incertezas sobre o futuro. Como você espera que sua obra ressoe com esse público?

Toda história, a meu ver, deve ter subtextos poderosos. Um dos principais motivos que me impeliram a escrever este livro, para além da aventura que os leitores acompanharão, foi o de trazer a mensagem de que o medo, a tristeza e o ódio (que são as três grandes forças que Vida Becker terá de aprender a lidar e a derrotar) são sentimentos inerentes a todo ser humano, mas podem ser dominados. Acho que se os leitores, jovens ou adultos, finalizarem a trilogia com isso na alma, a tarefa terá sido cumprida.

O componente feminista é uma parte essencial de sua obra, inspirada em conversas com sua filha de 14 anos. Como a experiência de ser pai influenciou a criação da personagem Vida?

Sou feminista, acho que as mulheres estão anos-luz adiante dos homens em termos de sensibilidade, força, percepção de mundo, solidariedade etc. Temos muito o que aprender com esse poder feminino, o mundo não estaria este caos se elas comandassem. Vivo com minha esposa e duas filhas, elas são superfortes, têm opiniões contundentes, são ciosas de seus papéis no mundo. Sempre fiz questão de, em nossas conversas, enfatizar a importância de terem e defenderem suas opiniões, de traçarem bons objetivos, de serem honestas e nunca abaixarem a cabeça às injustiças. E a personagem Vida é uma menina que está começando a se encaixar no mundo, está crescendo, tem muitas dúvidas e medos. Ao longo da trilogia ela se transformará em uma mulher muito forte. Acho que isso será inspirador para todos os que lerem, independentemente do gênero.

O livro celebra o lado bom do ser humano como um “superpoder”. Pode nos contar mais sobre essa ideia e como ela se desdobra na história?

A divisão maniqueísta do Paramundo entre bons e maus exacerba a pergunta sobre o que é ter uma existência do bem ou uma existência do mal. Claro, é um mundo fantástico, há toda uma lógica que não se aplica precisamente ao nosso mundo real, mas minha ideia foi a de pontuar que ser bom, justo e honesto em sua vida real é, de fato, um superpoder que vai te levar muito mais longe do que se imagina.

Quais são as mensagens fundamentais que deseja que os leitores levem consigo após a leitura de “Vida Becker e a máquina de contar histórias”?

Primeiramente, o que eu mais desejo é que os leitores se divirtam, curtam a aventura e se conectem com a jornada da Vida. Mas, se ao final da trilogia saírem com a sensação de que a bondade é o maior valor a ser perseguido, além de que é possível dominarmos o medo, a tristeza e o ódio para termos uma existência do bem, tudo será ainda mais gratificante.

Como suas experiências como músico e roteirista de cinema se refletem em sua escrita literária?

Eu não consigo dissociar as três artes (literatura, música, cinema). Na verdade, sou músico há muito mais tempo do que escritor e fui estudante de cinema. Tudo está bem entrelaçado na minha mente. Eu só escrevo com um fone e uma música bem alta, crio trilhas sonoras para os livros. Além disso, procuro histórias jogando uma cena após a outra e tentando dar dinamismo à trama, como se fosse um filme (neste caso, um filme de fantasia). É tudo parte do meu processo criativo.

Por fim, o que os leitores podem esperar dos próximos volumes da trilogia? Há mais aventuras e descobertas reservadas para Vida Becker?

Sim, há muitas aventuras ainda. O primeiro livro foi a apresentação do mundo fantástico e de toda a lógica, a passagem da Vida para esse mundo, o surgimento dos primeiros personagens, os conflitos iniciais. Nos livros 2 e 3 os desafios vão escalar, a Vida vai crescer e cada vez tudo ficará mais difícil, assim como ela terá mais sabedoria para enfrentar tais obstáculos. Os leitores podem esperar grandes aventuras e muita emoção nos três livros, sim.

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