Próxima edição do evento acontece nessa quinta-feira (29) em Sapucaia
Educador e especialista em economia criativa, Mário Frazão assume a direção pedagógica do projeto “Minha Arte, Meu Negócio” (MAMN), evento que chegou ao Novotel de Botafogo, no Rio de Janeiro, no dia 15 de maio, com o objetivo de capacitar artistas e profissionais da cultura para transformar seus talentos em negócios sustentáveis. A iniciativa é uma realização da LEP Produções e conta com o apoio de grandes nomes do setor artístico e cultural.
Voltado para músicos, atores, dançarinos, produtores, artistas visuais e demais profissionais da economia criativa, o evento promove encontros, palestras e mentorias com especialistas do mercado, abordando temas como gestão de carreira, captação de recursos, networking e marketing pessoal. A curadoria de Mário Frazão estrutura os conteúdos de forma prática e acessível, refletindo seu compromisso com a democratização do conhecimento no setor artístico.
Além da edição no Rio de Janeiro, o projeto seguirá para outras cidades do estado, como Sapucaia (29/05) e Miguel Pereira (07/06), ampliando o alcance da proposta e levando formação empreendedora para regiões que, muitas vezes, carecem desse tipo de oportunidade. Para Frazão, o evento é um passo importante para fortalecer o setor cultural como potência econômica e social.
O “Minha Arte, Meu Negócio” conta com o patrocínio da LIGHT, do Instituto BAT, e o apoio do Governo do Estado do Rio de Janeiro, por meio da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa, via Lei Estadual de Incentivo à Cultura.
Como Diretor Pedagógico e curador do “Minha Arte, Meu Negócio”, você tem acompanhado de perto o desafio de transformar artistas em empreendedores. O que você considera o primeiro passo para que um artista comece, de fato, a olhar sua arte como um negócio?
O primeiro passo é diferente para cada artista, em cada lugar do país que a gente passa. Fazer esse evento no Rio de Janeiro e em Juazeiro do Norte-Ce, por exemplo, exige de nós entender diferente realidades da formação, profissionalização e do mercado do artista no Brasil. Mas, em geral, ainda lidamos com uma mentalidade de que arte é sempre movida por paixão, o que não deixa de ser uma verdade, mas isso leva a um pensamento de que se o artista é um apaixonado por sua arte, ele pode receber qualquer quantia, ou receber qualquer estadia, ou não precisa ter uma logomarca nem um e-mail profissional. Então, o primeiro passo, tentando fazer uma generalização perigosa (rss) eu diria que é tirar a arte do lugar apenas da paixão e colocá-la no lugar de um ofício que exige formalização, profissionalização e competências gerenciais.
Vivemos um momento em que há diversas linhas de incentivo à cultura, mas muitos artistas ainda não conseguem acessar ou administrar esses recursos com eficácia. Na sua visão, por que esse gap ainda existe — e como o MAMN contribui para mudar esse cenário?
Isso acontece pelo grande problema do fomento nacional que é a burocracia e a comunicação. A comunicação sobre como acessar os recursos da economia criativa e muito aquém do que deveria ser, e quando ela consegue chegar, enterra os artistas em burocracias que eles não estão preparados. O que fazemos no MAMN é trazer a informação para o publico ao qual ela se destina. Por isso explicamos o que é possível, no tempo do evento, sobre os recursos das principais leis de incentivo, como acompanhar os editais, como abordar as empresas para recursos que independem de editais e como eles precisam estar com o “negócio” deles organizados para terem a chance de serem contemplados com esses recursos, porque muitos deles sequer têm um CNPJ.
Com uma programação tão rica e plural, o evento vai desde dança e audiovisual até artesanato e produção musical. Como você estruturou a curadoria para garantir que todos os profissionais da cultura se sentissem representados e acolhidos?
Essa foi uma parte muito difícil. Na verdade, a gente pretende para 2026 lançar eventos segmentados, de início, pelo menos um evento para a música, outro para as artes visuais e outro para Artes plásticas e manuais ancestrais. Mas agora, o mais difícil não foi a seleção temática, porque de algum modo todo artista tem um instagram, é protegido por direitos autorais, precisa de conhecimentos de produção… enfim, mas minha principal preocupação foi alinhar, individualmente, a linguagem de cada um dos nossos professores, para que eles pudessem, durante a sua fala, ampliar os exemplos, as possibilidades de descrição do seu conteúdo, para que todos os presentes pudessem, de alguma forma, absorver algo importante de cada aula.
O evento chega ao Rio de Janeiro, mas também passará por cidades como Sapucaia e Miguel Pereira. Qual é a importância de descentralizar esse tipo de formação e levar conhecimento para artistas que estão fora dos grandes centros?
O Rio de Janeiro é uma vitrine importante, mas o interior é sempre o foco da LEP produções, porque esse é o DNA da produtora do projeto, que é a Tayana Santos. Ela, grande parceira e proponente deste evento, sonha com essa estrutura de cultura que chegue onde ninguém quer chegar, ou onde grandes marcas e eventos não costumam ter interesse. É exatamente nesses lugares que a gente quer ir. Imagina os artistas incríveis que existem no interior do país?

O MAMN recebe nomes consagrados como Carlinhos de Jesus, Amanda Françozo e Alexandre Barillari. Como essas participações contribuem não só para inspirar, mas para criar pontes reais entre quem está começando e quem já trilhou uma longa trajetória?
Esses nomes não foram escolhidos aleatoriamente. Todos eles estão construindo paralelamente à sua carreira artística, um projeto com palestras, oficinas, escrita de livros, algo do campo intelectual. Porque não basta ser um artista da área e saber fazer, é preciso ter alguma didática, alguma experiência de transferência de conhecimento. E isso esse time tem de sobra. Quem vem assistir, muitas vezes vem um pouco como fã, mas logo entende que rapidinho se tornou aluno.
Você acredita que empreender na arte exige uma combinação de sensibilidade e estratégia. O que você mais vê faltar nos artistas independentes hoje em dia: técnica ou visão de futuro?
Eu acho que nada disso. O artista entendeu que ele tem que ser artista, gestor, produtor, social media, e ainda entender de direitos autorais e contabilidade para não ser passado para trás por nenhum ser de má-fé, que tem aos montes por aí. Isso se torna muito exaustivo quando você não sabe como fazer e faz tudo “do jeito que dá”. Empreender na arte é um pouco lidar com a frustração da diferença entre sucesso e fama, que é algo que eu falo muito. Se você mirar no sucesso, você pode ter uma carreira boa, longa, com um bom retorno financeiro, construir um trabalho artístico de qualidade sem necessariamente ser famoso. A busca pela fama esgota as pessoas. Quem busca a fama não empreende, porque quer várias pessoas ao redor que façam por ela, porque a ilusão da fama é esse sonho dourado. Empreender na arte é aprender de forma inteligente a “jogar” nas principais posições até que você cresça, como provavelmente pode crescer, e ter uma carreira que te possibilite uma vida digna sendo artista.
A sua trajetória dentro da pedagogia cultural tem impactado muitos projetos ao longo dos anos. O que mais te emociona pessoalmente ao ver o MAMN ganhar corpo e transformar vidas?
Na verdade, eu lido com cultura há muito tempo, mas eu venho do mercado editorial, então meu universo durante muito tempo foram apenas os escritores. Depois o audiovisual e agora, por fim, a música, os shows e outros projetos que a LEP tem me proporcionado atuar. No MAMN eu estou desde 2023 e cada cidade, cada evento, guarda uma surpresa nova. Eu acho esse projeto extraordinário, que deve ganhar o Brasil, porque artistas estão espalhados por todo o canto, mas os holofotes não estão apontados para esses cantos (leia-se os rincões do país). Então o que me move nesse projeto é fazer artistas de lugares longínquos se sentirem de fato artistas, sensação que muitas vezes eles não têm. Essa autoestima, da imagem de artista, a gente minimamente consegue despertar neles.
Além de formação técnica e networking, o evento também propõe uma mudança de mentalidade. Se você pudesse deixar um único conselho para os artistas que vão participar desta edição, qual seria?
Olha, eu diria que se você vem a um evento como esse, esteja presente de verdade, com sua mente, sua alma, seu tempo. Esteja inteiro, para aproveitar cada palavra, cada gesto, cada imagem, cada slide. Participe, pergunte, interaja, porque a gente faz a nossa parte, mas existe um percentual do sucesso do evento que depende do quanto esse público está realmente disposto a estar ali conosco. Acho que é isso.
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