Maria Luiza Wiederkehr desafia estereótipos em ‘Santa ou Puta? – Vênus de mim’, seu livro de estreia sobre liberdade feminina

Maria Luiza Wiederkehr
Maria Luiza Wiederkehr

Em seu livro de estreia Santa ou Puta? – Vênus de mim, a escritora e pedagoga Maria Luiza Wiederkehr convida as mulheres a repensarem os rótulos impostos pela sociedade patriarcal e a abraçarem sua autenticidade. Misturando relatos pessoais, poesia e ilustrações feitas à mão, a autora explora a liberdade feminina em meio a pressões sociais, incentivando o amor-próprio e o rompimento com estereótipos de gênero.

Seu livro “Santa ou Puta?” aborda rótulos que a sociedade impõe às mulheres. Como surgiu a ideia de usar essas figuras para discutir a liberdade sexual feminina?

A sociedade onde vivemos é patriarcal e o paradigma da santa ou da puta, está presente na vida das mulheres até hoje, em pleno século XXI, no terceiro milênio.  Evoluímos em diferentes setores da sociedade, mas os índices de feminicídios, de violência, as legislações de proteção indicam que as mulheres ainda sofrem discriminação de gênero.

São cobrados das mulheres comportamentos de submissão e concordância aos homens, em diferentes coletivos, sejam religiosos, políticos ou sociais. Para escrever o livro, sem confrontar as condições impostas, busquei as personagens que aprendemos a representar numa sociedade que impõe uma sobrecarga de papéis às mulheres.

Nesse contexto a liberdade sexual e religiosa está contaminada por dogmas de dominação e submissão, para muitas mulheres. No Brasil, Japão, África, Oriente Médio podemos observar a distância que existe, até a libertação do Ser humano, quanto aos seus desejos, sejam sexuais, sociais ou religiosos. Escrevo, de uma maneira ainda sarcástica que meu sonho é ver uma fumacinha rosa, na escolha de uma papisa, no Vaticano, por exemplo, algum dia.

Nos três capítulos de seu livro, você mistura relatos pessoais com poesia e também bom-humor. Como foi o processo de escolher essas formas de expressão para contar sua história?

Ao escrever o livro percebi que precisava mostrar o meu processo de aprendizado, de me despir daquilo que a sociedade me impõe. Não adianta relatar e confrontar os paradigmas e dogmas vigentes. Era preciso encontrar um jeito de expressar uma forma feminina de escrever e ler. Como mulher posso afirmas que gostamos da diversidade, somos multifacetadas, temos o poder de gerar vida, de parir.

Mulher desempenha muitos papéis e diferentes personagens, em suas rotinas. Por isso gosta de ter formas diferentes de ler e curtir seus momentos de lazer.

Ao invés de relatar a minha história, sob a ótica da superação de situações muito difíceis, onde poderia expor pessoas que amo, resolvi, num autorretrato apresentar maneiras de me descobrir como Ser, repleta de poder e amor por mim mesma. Foi interessante convencer os editores sobre uma forma mais leve e divertida de apresentar o livro, com capítulos, receitas, histórias. Nosso mundo é mais rico de possibilidades e oportunidades.

Ao viajar sozinha e se libertar das imposições sociais, a protagonista do livro encontra sua autenticidade. Como você acredita que esse processo de autodescoberta pode inspirar outras mulheres?

Ao invés de apresentar fórmulas prontas e racionais de processos, como vemos em tantas literaturas, resolvi me expor, num processo de descoberta e de experiências pessoais, sem apresentar nenhum confronto ou vitimização do que vivi. Assim imagino poder contribuir com outras pessoas, para encontrarem seus caminhos de autodescoberta, sem depressão, vitimização.

Suas ilustrações feitas à mão complementam o conteúdo do livro. O que essas ilustrações representam em relação ao tema da liberdade feminina?

Atualmente o que mais vivemos é a pressão por termos saúde mental, mas se observarmos atentamente, a sociedade patriarcal globalizada onde, crescer indiscriminadamente 6% a.a ( um índice global que a Economia dos países impõe), ou  taxas de crescimento profissional, enriquecimento, ganhos de produtividade, etc. Podemos ver que, é uma maneira racional e brutal de sobrevivência. As mulheres então, que conquistam seus espaços nessas sociedades, desconsiderando a sua essência, são as mais cobradas e exigidas.

O livro propõe momentos de estar Consigo Mesma, como forma de estar em sintonia com essa essência, encoberta e esquecida. A essência feminina, que todo Ser Humano possui, tem uma beleza, na sua essência, que permite momentos de contemplação, criação, gestação de Vida e Arte.

É por isso que, ao escrever o livro, senti necessidade de desenhar um corpo de mulher, desenhar asas, pintar com as minhas mãos, compor um sambinha, buscar receitas e histórias de família como forma de fazer brotar a minha essência e enxergar um mundo mais feminino.

Maria Luiza Wiederkehr
Maria Luiza Wiederkehr

Você também traz um capítulo bem leve, com receitas e celebrações à arte de cozinhar com amor. Qual é a conexão entre essas receitas e a jornada de autodescoberta da protagonista?

O mundo onde vivemos de forma tão racional e estruturada nos remete a processos de melhoria contínua, identificação de falhas em processos, o que nos deixa mecanizados e prontos a encontrar falhas e erros, cheios de filtros e antidepressivos.

Nas relações pessoais estamos da mesma forma, em busca de apontar o que não queremos, o que deve melhorar, as falhas e críticas em relação ao outro. Por quê não aprender cada dia mais, a enriquecer nossas relações com pequenas gentilezas, em primeiro lugar a Nós mesmos, como se dar um bom dia, elogiar o próprio corpo, se dar um sorriso ao primeiro olhar, no espelho, pela manhã.

O que dizer das relações em família, dos amores e amigos. A proposta é estar disponível, preparar um jantar, uma massagem ao outro, por prazer, por novas formas de viver. Assim fiz, primeiro Comigo Mesma e depois com meus filhos, amores e amigos. Hoje, ao escrever o livro e ter coragem de expressar minhas ideias através de uma obra, de um autorretrato, sinto que existe uma forma mais feminina de viver.

O título traz a reflexão e o conteúdo apresenta maneiras diferenciadas, onde, num mundo  mais feminino podemos viver com – estresse – agonizante e individualizada, mais felizes com nossas escolhas pessoais.

Além das mulheres, você também convida os homens a se conectarem com a sensibilidade e a autonomia feminina. Qual a importância dessa inclusão masculina no contexto de seu livro?

Esta é uma das melhores perspectivas do livro, mostrar para os homens o nosso jeito de viver. Mulheres enxergam oportunidades, onde homens veem problemas. Muito mais do que as mulheres, os homens vivem com o seu “lado feminino” reprimido, escondido, estuprado por um comportamento que exige demonstrações de masculinidade, competitividade, sem permitir que a feminilidade aflore.

Essa feminilidade está em todos os seres humanos, assim cantaram Pepeu Gome e Baby Consuelo em 1983, na música Feminino e Masculino: “Ser um homem feminino, não fere o meu lado masculino, se Deus é menino e menina, Sou masculino e feminino…”

Caetano Veloso e Gilberto Gil cantaram em Super Homem: “Que nada, minha porção mulher que até então se resguardara, é a porção melhor que trago em mim agora, é o que me faz viver…”

Como foi a experiência de escrever um livro tão intimista e pessoal? Houve desafios ao compartilhar suas próprias reflexões e vivências?

Levei vinte anos para escrever o livro. Do título (que ainda causa estranheza, reflexões, mas não causa indiferença). Precisei me acreditar como Mulher e, como Escritora, para encontrar, na literatura, através do autorretrato, uma forma mais feminina, que inspirasse pessoas a se auto descobrirem e viverem melhor com suas escolhas.

Antes da primeira publicação contei com muitas amigas e amigos para me convencer de que o livro seria uma obra leve e gostosa de buscar momentos de prazer e descoberto por nossa essência. Foram momentos de muita conversa e aprendizado.

Você tem uma trajetória diversificada, atuando como pedagoga, ilustradora e compositora. Como todas essas experiências influenciaram a escrita do seu livro de estreia?

O prazer de aprender, de estar pronta para novas experiências e desafios me entusiasmam. Sou professora, consultora de projetos socioambientais e conselheira de carreira e vida. Criar, compor, projetar e participar do desenvolvimento de pessoas é o que mais gosto de fazer. Estar Comigo Mesma, criando, gestando e compartilhando experiências de vida e amor.

Através do meu trabalho sempre voltado a educação e desenvolvimento de pessoas, obtenho os resultados que me permitem viver uma vida confortável, um casamento feliz, três filhos bem-sucedidos e quatro netos que me enchem de amor e alegria de Viver a Vida. E uma nova perspectiva, onde ser escritora e poder falar de um mundo mais feminino é meu propósito, como conselheira de carreira e vida.

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