O cantor e compositor Marcelo Segreto apresenta “Cinemúsicas, Vol.1”, um projeto inovador que busca estabelecer um diálogo artístico entre a canção popular e o cinema. Este trabalho é composto por canções originais inspiradas em filmes icônicos como “Bacurau” (2019), “Lost in Translation” (2004) e “Cidadão Kane” (1941). Com arranjos elaborados para quarteto de cordas e violão, a produção conta com a colaboração de Marcus Preto e Tó Brandileone, além de participações especiais de Paulo Miklos e Tatiana Parra. O álbum será lançado pelo selo Gravadora Experimental (Fatec Tatuí) e será acompanhado por uma série de videoclipes dirigidos por Martina Mattar e Thiago Ricarte.

Segreto, que também é o fundador do grupo Filarmônica de Pasárgada, traz em “Cinemúsicas, Vol.1” uma nova abordagem para a sua já renomada carreira. Seus álbuns anteriores, incluindo “O Hábito da Força” (2012) e “PSSP” (2022), demonstram sua habilidade em integrar narrativas complexas e arranjos sofisticados. Em 2020, ele lançou seu primeiro projeto solo, o EP “América, América”, que contou com a participação da cantora argentina Loli Molina e a produção de Marcus Preto e Tó Brandileone. Sua experiência como compositor, arranjador e músico também inclui colaborações com Tom Zé, notadamente no EP “Tribunal do Feicebuqui” (2013) e no CD “Vira Lata na Via Láctea” (2014).

Marcelo Segreto possui uma formação acadêmica robusta, com graduação em Letras e Música (Composição) pela USP, além de mestrado e doutorado sob a orientação do Prof. Dr. Luiz Tatit. Sua pesquisa acadêmica foca na composição de canções populares, e ele possui um pós-doutorado pela ECA-USP. Na Escola de Música do Estado de São Paulo (EMESP), formou-se em composição musical e violão erudito. Com “Cinemúsicas, Vol.1”, Segreto reafirma seu compromisso com a inovação artística, explorando novas fronteiras entre música e cinema.

Como surgiu a ideia de criar o projeto “Cinemúsicas, Vol. 1”? Qual foi a inspiração por trás dessa fusão entre cinema e música?

Bom, essa ideia de criar o Projeto Cine Músicas veio de uma paixão forte pelo cinema, assim. Quando eu estava fazendo faculdade de música, do lado da minha faculdade, lá na USP, tinha a unidade, a faculdade de cinema. E eu fiz várias matérias lá, ao mesmo tempo que eu cursava música, eu fazia matérias como ouvinte ou matriculado, assim, nas disciplinas de audiovisual, de história do cinema, enfim. E ali, fazendo as duas coisas, estudando um pouquinho de cinema e fazendo a graduação na música, eu já pensava em fazer um trabalho que misturasse canção e os filmes, e o cinema. Então veio um pouco desse momento, quando eu estava estudando na faculdade, e depois eu fui vendo como era interessante, a partir de um filme, pensar uma canção, a partir da estrutura do filme, ou coisas mais sutis em relação… o roteiro, enfim.

Você mencionou ter um vínculo familiar com o cinema desde os primórdios. Como essa herança influenciou sua abordagem na composição das músicas para este projeto?

Eu acho que essa história familiar ligada ao cinema veio mais, assim, aumentar meu interesse pelo cinema, enfim. Porque quando estudando lá, nas matérias do cinema, lá na ECA, lá na USP, eu fiquei também interessado em pesquisar, quer dizer, a história desse primeiro cinema, desse cinema do final do século XIX, começo do século XX, assim, que é o cinema no qual a minha família está mais envolvida. Depois a coisa foi para outro lugar, quer dizer, meu avô mesmo trabalhou com cinema até uns 30 anos de idade, depois foi fazer outra coisa, meu pai era arquiteto, então não tem nada, depois abandonou-se o cinema. Então eu acho que veio mais para aumentar ainda mais o interesse e o gosto, assim, por essa linguagem. E aí eu acho que a composição das músicas, o que mais influenciou foi a escolha de uma canção, Uma Vista da Baía de Guanabara, que é uma homenagem ao filme de mesmo nome. de 1898, realizado pelo Afonso Segreto, mas na parte da composição em si eu acho que foi mais a parte, quer dizer, mais a minha experiência musical mesmo, que orientou o trabalho.

Como foi o processo de composição das canções inspiradas nos filmes selecionados? Houve algum filme que teve um impacto particularmente profundo em você durante esse processo?

Foi um processo muito prazeroso, sim, a composição das canções inspiradas nos filmes, porque eu fiz questão, assim, além de assistir ao filme, claro, né, uma ou duas vezes, também analisar, estudar, né, ler artigos sobre o filme, conexões com outros filmes, né, levantadas por esses artigos, enfim, então foi um processo bem prazeroso e gostoso de aprender, assim, também, né, mais sobre o filme, sobre o cinema, enfim, eu acho que curiosamente o filme que mais me impactou foi o filme que não existe, o filme que se perdeu, né, que é esse filme, Uma Vista da Baía de Guanabara, obviamente eu não vi o filme, né, ninguém conhece esse filme, mas só o fato de ele não existir, quer dizer, fica uma aura meio poética sobre ele, assim, né, então, pensar sobre o filme, ler sobre o filme. filme, o que era, e a história do Afonso Segreto, foi uma coisa bastante forte de entrar em contato.

Pode nos contar um pouco sobre como foi trabalhar com Marcus Preto e Tó Brandileone na produção musical do projeto? Qual foi a dinâmica de colaboração entre vocês?

Trabalhar com o Marcos Preto e com o Tó foi maravilhoso, assim. Eles são grandes produtores, assim, né, então tem muita experiência e acho que o trabalho cresceu muito por conta disso, assim. O Marcos, ele é o meu maior incentivador, assim, ele que me deu a ideia de fazer um trabalho musical paralelamente à Filarmônica de Passárgada, né, que é o meu grupo. E aí ele me incentivou muito a fazer esse trabalho e compor canções, inclusive essas canções, né, do EP Cine Músicas, né. Eventualmente eu perguntava para ele alguns filmes, né, que seria legal, o que ele achava, a gente às vezes escolheu filmes juntos, assim, né, que poderiam render algumas canções. Aí eu fazia, compunha as canções, mostrava para ele. Ele às vezes falava assim, ah, você poderia repetir, quer dizer, repete essa melodia do A, mas com outra letra, sabe. Então ele entrou bastante na área da composição, assim, o Marcos também, né. E depois o Marcos, ele acompanhou muito o processo de gravação, interpretação, né, então, muitas orientações interessantes, assim, parte do cantar, né? E o Tó é um super produtor, assim, no estúdio, né? Me ajudou também na interpretação e realizar a ideia musical do arranjo que eu fiz, né? Incorporando também outros instrumentos. O Tó é interessante porque ele toca outros instrumentos, né? Então, ele tocava… Colocava um baixo, um coro, uma suvi, uma percussão, sabe? Coisas assim. Um violão. Ele vai acrescentando coisas também ao arranjo. A gente foi sentindo juntos, né? Então, foi essa dinâmica, assim, né? A composição, eu, meio que um Marcos Preto fazendo esse diálogo. Depois, eu fazia o arranjo, levava para o estúdio e dialogava com o Tó até a hora de gravar a voz. Aí, quando eu gravava a voz, era o Marcos junto com o Tó fazendo a gravação, né?

Os filmes escolhidos para o EP abrangem uma ampla gama de gêneros e estilos. Como você selecionou quais filmes adaptar em músicas? Houve critérios específicos ou foi uma escolha intuitiva?

Eu acho que é um pouco das duas coisas, a escolha dos filmes teve um caráter intuitivo, de ir à hora de pensar se aquele filme poderia render uma canção, e alguns critérios. Às vezes o critério era um filme conhecido, mas às vezes não também, porque eu também escolhi para esse projeto, que são canções que eu vou lançar a partir de julho, por exemplo, o filme Limite, que tem Democracia e Vertigem também, mas o filme Limite de 1931 do Mário Peixoto também vai sair como um single em julho, enfim, então é um filme que não é tão conhecido. Mas eu acho que o critério mais forte para a escolha dos filmes era um filme que poderia render uma canção que tivesse esse estilo musical, que pudesse render uma canção com um estilo musical mais ligado a esse gênero, quer dizer, uma canção mais melancólica, acústica, enfim. Então, o caráter musical desse projeto do EP Cine Músicas são canções assim, né, mais lentas, melancólicas, enfim. Então eu fiquei pensando em filmes que pudessem gerar canções desse tipo, assim, né, se fosse um filme, sei lá, um filme de comédia, sei lá, talvez não fosse se casar com essa ideia musical que eu tinha, né.

Marcelo Segreto
Marcelo Segreto

Existe algum filme que você considera particularmente desafiador de interpretar musicalmente?

Um filme que eu estava pensando em fazer uma canção é Zelig, do Woody Allen, que é um desafio pra mim, que eu pretendo fazer essa canção ainda, mas é um filme interessante assim, porque a personagem, ela vai, é uma camaleão, né, ela vai mudando o seu próprio caráter de acordo com o ambiente, com as pessoas que estão à volta, assim, então eu pensei em fazer uma canção que também mudasse de caráter a cada, né, então eu preciso ver como resolver isso, quer dizer, como é que essa canção vai ser um camaleão também, né, que é um desafio, assim. Outra canção que eu tinha pensado também em fazer é O Cinema Falado, do Caetano Veloso, é um filme experimental, assim, digamos, né, então também queria, é um desafio também como fazer uma canção a partir disso, né, talvez eu fiquei pensando numa coisa de mistura da fala com a música, né, da canção com a música, enfim, como a canção tem a ver com a fala também, né, então acho que seria uma coisa interessante.

Como foi trabalhar com artistas como Paulo Miklos e Tatiana Parra no projeto? Como essas colaborações enriqueceram o resultado do EP?

As participações do Paulo Miklos e da Tatiana Parra enriqueceram muito o projeto, quer dizer, não só pela beleza do canto deles, que são grandes cantores, mas também pela inventividade. O Paulo e a Tatiana, eles eventualmente fizeram pequenas alterações na melodia, sabe? A Tatiana propôs vozes, aberturas de vozes muito interessantes. Então, para além da interpretação em si, acho que eles tiveram uma participação inventiva, sabe? Então, foi uma coisa que enriqueceu muito o trabalho.

Qual foi o papel desses artistas nas faixas em que participaram? Como suas vozes contribuíram para a narrativa das canções?

A participação do Paulo tinha uma ideia interessante, que como o Paulo é cantor mas também ator, um super ator, então a gente achou interessante, o Marcos pensou que seria uma coisa bonita assim, ele como ator, ele faz parte do cinema, quer dizer, ele trabalha com o cinema, ele cantar a canção comigo, então tinha um pouco essa ideia, e interpretativamente ele também, quer dizer, eu acho que ele deixou a canção mais emocionante, ele aumentou a duração de notas, sabe, ele alongou vogais, eu acho que deu uma carga emotiva mais forte para a canção, então acho que acrescentou essa característica para uma vista da Baía de Guanabara. E a Tati Parra, super cantora, inventiva com a voz, ela inventou coisas muito legais na interpretação dela, as melodias defasadas, né, quando ela canta a mesma melodia que eu canto, mas… esperando um pouquinho para começar, né, essas defasagens vocais que ela fez, enfim, que eu acho que acabaram acrescentando muito para a canção, não só pra não repetir da mesma maneira, né, mas também com uma carga de emoção, assim, né.

Como você espera que o público receba o EP “Cinemúsicas, Vol. 1”? Quais são suas expectativas para o lançamento e a recepção das músicas?

Eu espero que seja uma boa recepção, quer dizer, e na verdade esse EP, né, eu acho que essa é a ideia principal, assim, o EP ele é também o meu primeiro trabalho solo, né, maior assim, né, quer dizer, um EP que eu lancei em 2020, no meio da pandemia, tinha três faixas só, né, então esse já tem cinco, mas na verdade é um projeto que engloba outros singles que eu lancei, como Deus e o Diabo na Terra do Sol e Bacurau, e outros que eu vou lançar agora a partir de julho, então é um projeto maior, assim, né, que ele prepara o lançamento do meu primeiro disco solo no ano que vem, também produzido pelo Tobran de Leone e pelo Marcos Preto, então o que eu espero é que esse trabalho de alguma forma também prepare as pessoas, né, que acompanham para o lançamento do disco no ano que vem, né, que as canções tenham a ver, né, tem esse mesmo caráter, enfim.

Existe um plano futuro para expandir este projeto para novos volumes ou explorar outras formas de arte além do cinema?

Existe, sim, um plano de expandir o projeto, eu penso em fazer cinemúsicas volume 2, 3, 4, 5 e talvez lançar em LP, dois volumes, então volume 1 e volume 2 num LP, volume 3 e 4 num outro LP, cada um em um lado do vinil, né, porque eu acho muito, primeiro que é uma experiência, como eu disse, muito legal, assim, de estudar, assistir os filmes, estudar os filmes, eu gosto de estudar cinema, né, então, pra mim, já é prazeroso só essa parte, e compor, assim, a partir desse, de um mote, de um filme, pra mim é muito, também, é muito gostoso, sabe, então eu pretendo fazer, já tenho, já estou compondo, inclusive, mais canções a partir dos filmes, que provavelmente vão compor esse volume 2 dos cinemúsicas. Outras, para compor a partir de outras formas de arte, além do cinema, eu já pensei, penso muito na literatura, assim, porque eu estudei letras, né, antes de fazer música, eu me formei em letras, e eu acho interessante, também, de repente, fazer um trabalho ligado à literatura. Eu só não sei se eu vou levar esse projeto… para a filoarmônica de Passargada ou se eu vou fazer no solo. Então é uma coisa que eu vou decidindo aos poucos, o que eu gravo com a filoarmônica e o que eu gravo no solo. Mas eu acho uma prática muito legal de fazer, de compor a partir de outras linguagens.

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