Diante do avanço preocupante do diabetes tipo 2 — que já atinge uma em cada nove pessoas adultas no mundo, segundo o IDF Diabetes Atlas 2025 —, a terapeuta ortomolecular Cintia Oliveira lança Diabetes em Remissão: A Revolução da Alimentação Consciente. A obra traz orientações práticas sobre como a mudança no estilo de vida, especialmente nos hábitos alimentares, pode ajudar a controlar a glicemia, evitar o uso de insulina e, em alguns casos, alcançar a remissão do quadro clínico.
Seu livro fala sobre a possibilidade de remissão da diabetes tipo 2 — uma esperança que muitas pessoas sequer imaginam ser real. Em que momento da sua trajetória você percebeu que precisava transformar essa mensagem em um livro?
A decisão nasceu da minha vivência pessoal e profissional diante do sofrimento causado pela diabetes tipo 2 não controlada. Vi pessoas queridas perderem a saúde, a autonomia e até a vida — o que me tocou profundamente. Esse livro existe porque acredito que cada pessoa merece saber que há outro caminho. Trata-se de uma possibilidade real, cientificamente comprovada, e acessível para quem busca mudança com consciência e comprometimento. Escrevê-lo foi minha forma de entregar ferramentas práticas, conhecimento acessível e inspiração para que cada leitor possa transformar sua história com a alimentação consciente — e avançar, com segurança, rumo à remissão.
“Saber o que fazer” muitas vezes não basta quando as barreiras emocionais e comportamentais são tão fortes. Como você enxerga o papel da alimentação consciente nesse processo de “virar a chave”?
A alimentação consciente é justamente esse ponto de virada. Não se trata apenas de saber o que é saudável ou não — mas de reconectar-se com o próprio corpo, entender os sinais que ele envia, perceber o impacto das emoções nas escolhas alimentares. É olhar para o prato e ver ali não só nutrientes, mas decisões, histórias, e até crenças que podem ser transformadas. Quando a pessoa se envolve com o processo, em vez de apenas seguir uma lista de restrições, ela se empodera. E é aí que a mudança começa de verdade — do lado de dentro.
Você destaca a importância de compreender rótulos e diferenciar os alimentos ultraprocessados dos in natura. Por que esse conhecimento básico ainda é tão negligenciado nas rotinas de quem convive com a doença?
Infelizmente, muitas pessoas recebem o diagnóstico, mas não a educação adequada. A maioria não tem orientação sobre como ler rótulos, identificar armadilhas do marketing ou entender que “zero açúcar” não significa “zero glicose”. O sistema de saúde ainda trata a diabetes com foco principal em medicação. A figura do educador em diabetes ainda não existe formalmente nos centros de cuidados primários. No entanto, é a própria pessoa com diabetes quem irá gerir a doença ao longo da vida. A educação em saúde é, portanto, um passo essencial para que ela desenvolva autonomia, compreenda seu papel no processo e consiga controlar — ou até mesmo colocar em remissão — a doença.
Entre as dietas que você cita, como a mediterrânea e a low carb, qual delas costuma trazer mais resultados práticos para quem está no início da jornada contra o diabetes tipo 2?
Ambas têm respaldo científico e podem trazer bons resultados, mas na prática clínica, a low carb — quando bem orientada — tende a promover reduções mais rápidas da glicemia e maior sensibilidade à insulina. Ainda assim, o mais importante não é o nome da dieta, mas a mudança de comportamento. Muitas vezes, as pessoas enxergam a dieta como algo temporário ou como punição, mas a remissão da diabetes exige uma transformação duradoura na conduta alimentar. Comer com consciência é o que realmente restaura a função pancreática, preserva as células produtoras de insulina e evita a progressão da doença e suas complicações. O foco deve ser sempre a qualidade das escolhas e a constância no cuidado diário.

Muitas vezes o diagnóstico vem carregado de medo e confusão. Que conselhos você daria para alguém que acabou de descobrir que tem diabetes e está se sentindo perdido?
Respire e saiba que o diagnóstico não é uma sentença — pode ser o ponto de partida para uma grande transformação. A primeira atitude é buscar conhecimento confiável e apoio profissional que enxergue você como um todo, e não apenas como alguém com uma doença. É fundamental compreender que os medicamentos ajudam, mas não evitam as complicações a longo prazo se não houver mudança de hábitos. Quanto mais cedo você focar na remissão, maiores são as chances de alcançá-la. Mesmo que não atinja a remissão completa, o controle efetivo já traz benefícios profundos e duradouros. Meu livro foi escrito para apoiar essa jornada com ferramentas práticas e acolhimento, olhando para a pessoa — não apenas para a glicemia.
Você fala da importância de fatores como sono, estresse e saúde intestinal. O quanto esses pilares são negligenciados e por que eles merecem tanto destaque na prevenção e controle da doença?
Esses pilares são muitas vezes esquecidos, mas influenciam diretamente no controle da glicemia. O sono ruim desregula hormônios que controlam o apetite e eleva o cortisol, assim como o estresse crônico, dificultando a resposta do corpo à insulina. Um intestino saudável favorece a produção de substâncias benéficas, como o hormônio GLP-1 (glucagon-like peptide-1) e o butirato, que aumentam a saciedade, reduzem a inflamação e melhoram a sensibilidade à insulina. Já o fígado, peça-chave no metabolismo da glicose, também atua na regulação dos níveis de açúcar no sangue e precisa ser cuidado com atenção. Por isso, cuidar do corpo como um todo — além da alimentação — é essencial tanto para prevenir a doença como para alcançar a remissão ou o controle.
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