Adentrando o labirinto de um Brasil escravocrata, o livro “Mãe Liberté” não apenas narra uma saga ficcional, mas ergue um espelho à nossa sociedade contemporânea. Escrito por Simone Maryam, o romance desvenda as tramas de personagens marcados por um contexto de preconceitos e injustiças, ecoando a luta perene pela liberdade individual e coletiva. Ao costurar os fios de ideologias divergentes e destinos entrelaçados, a obra revela um panorama complexo, onde a dignidade humana e os anseios libertários resplandecem.
Como surgiu a inspiração para escrever “Mãe Liberté” e por que você escolheu abordar temas como escravidão e luta pela liberdade?
Diria que Mãe Liberté é um grito poetizado de uma alma que não se deixou amordaçar pela hipocrisia dos falsos padrões que a nossa sociedade nos impõe a todo momento. Somos filhos da liberdade escravizada pela ganância humana, pela conveniência dos mais fortes.
Em “Mãe Liberté”, os personagens enfrentam diversos desafios e representam diferentes ideologias. Como foi o processo de desenvolvimento desses personagens e o que você espera que os leitores aprendam com eles?
Minha maior fonte de inspiração se chama “pessoas”. Cada pessoa é um mundo, um livro ambulante, uma obra de arte ou um rascunho imperfeito. Mãe Liberté nasceu para defender vidas inocentes escravizadas por falsas verdades, aliás, por falar em verdade, quem é que não tem a sua? A verdade que não muda é Deus. O resto não passa de realidade, vestes para a verdade que nós queremos evitar. Julgamos o beija-flor no jardim do nosso vizinho e nos esquecemos de cuidar das flores do nosso jardim.
“Como anda a nossa liberdade? Será que a liberdade é livre. A liberdade, numa palavra, é como o remédio. Sabendo respeitar a dose certa é cura, caso contrário, será o nosso pior veneno. A diferença entre a liberdade e a injustiça é a dose”.
Você menciona que o livro é uma “prosa poética” e utiliza o termo “ficção puzzle” para descrever o estilo literário. Pode explicar um pouco mais sobre essa abordagem e como ela se reflete na narrativa de “Mãe Liberté”?
Mãe Liberté é um dos livros que faz parte do estilo literário “ficção puzzle”, em que sou pioneira. É a autoajuda poetizada. Um estilo que nasceu para revolucionar a literatura convencional. Um misto de ficção, autoajuda, filosofia, psicologia e espiritualidade. O modelo “ficção puzzle” é simples, os capítulos se iniciam com algumas perguntas. As respostas estão no texto. E todos os livros possuem uma pergunta escondida em algum lugar no livro, a pergunta que os personagens não conseguiram responder.
Quem responde é o leitor, que participa da trama como um detetive literário, buscando encontrar a resposta “puzzle” e concorrendo a prêmios. Uma nova proposta para a literatura onde o leitor interage com o texto de maneira divertida, visando resgatar o prazer pela leitura, especialmente, entre o público jovem. A pergunta “puzzle” para o livro Mãe Liberté é “qual é a cor do amor?”.
A partir de março de 2024, no dia 16 de cada mês, os leitores terão a oportunidade de enviar a resposta por e-mail e postá-las também nas redes sociais. O primeiro que postar a resposta correta será contemplado com 1000 reais e o segundo colocado com 500 reais. Busco patrocinadores, parceiros para tornar a lista de prêmios mais extensa. Ler também pode ser divertido!
Qual foi o maior desafio que enfrentou ao escrever este livro e como o superou?
Os desafios foram muitos, porém ficou uma grande lição: “é melhor ouvir a verdade que dói, mas não mata, do que ser iludido pela mentira que agrada, mas não cura”
O lançamento de “Mãe Liberté” está acompanhado de uma campanha interativa nas redes sociais, com o questionamento “qual é a cor do amor?”. Como essa campanha se relaciona com a obra e o que os participantes podem esperar?
Mãe Liberté fala de escravidão, preconceito, desejo e liberdade. Toda a trama acontece na cidade histórica de Santo Amaro da Purificação, enlaçada pela crueldade do regime escravocrata. Mãe Liberté traça um paralelo entre a escravidão nos tempos antigos e a escravidão moderna, visto que a escravidão ainda existe e os escravos pensam que são livres. O preconceito segue camuflado, e a liberdade distorcida. A pergunta “qual é a cor do amor?” vem mobilizar os participantes a fim de descascar o preconceito velado na nossa sociedade.
“Filho, o amor não tem cor. Não é preto, não é vermelho, também não é branco. Diferente é a cor da nossa pele, dos nossos olhos, dos nossos cabelos, no entanto, será que arrancando a nossa pele, destruindo a nossa carne, queimando os nossos ossos prevalecerá outra cor a não ser a cor das nossas…
O amor não tem cor, mãe, minha mãe preta, minha mãe vermelha, minha mãe branca”.
Você tem uma trajetória internacional, tendo morado em diferentes países. Como essa experiência influenciou sua escrita e sua visão de mundo?
O mundo é a minha casa, e a humanidade é a minha grande família. Eu sou brasileira naturalizada. A Holanda é a minha segunda pátria, país que amo. Eu escrevo sobre a vida, sobre pessoas, sobre almas, sobre mundos vivendo dentro de muitos mundos. O livro “O Mestre Espelho” foi escrito no período que eu me estabeleci na Tunísia, já o “Oitavo Pergaminho”, na Turquia.
Além de escritora, você é fisioterapeuta. Como concilia essas duas áreas em sua vida e como uma influencia a outra?
A fisioterapia me ensinou uma lição eterna: “Viver é recondicionar o presente e reabilitar metas. A dor pode até te fazer parar, mas é você quem decide voltar a dar o próximo passo. Depois de toda dor há um recomeço”.
Em seu livro infantil “Goodbye Corona”, você aborda a prevenção de epidemias. Como foi a experiência de escrever sobre um tema tão relevante para a sociedade atual?
“Goodbye Corona” guarda uma palavra gigante “humanidade”. “Goodbye Corona” é parte da linha infantil “o mundo de Salemo”, também “ficção puzzle”. É um livro para todos os tempos, ensinando crianças, jovens e adultos a adotarem medidas preventivas simples em tempos de endemias, epidemias e pandemias.
Quais são seus planos futuros para a literatura? Existem outros projetos em andamento ou histórias que gostaria de explorar?
Sim, uma linha infantil que já está quase pronta “O mundo de Salemo”. Está saindo do forno. Também vai seguir o estilo “ficção puzzle”. Será muito divertido.
Como você espera que “Mãe Liberté” impacte os leitores e quais mensagens gostaria que eles levassem consigo após a leitura?
Que o leitor aprenda a diferenciar liberdade de dependência, a escravidão que fere a alma, dilacera corações sem rasgar a pele. A liberdade não é livre. É importante estarmos atentos para a mais perigosa forma de escravidão existente, a dependência, seja ela física ou moral. A escravidão existe e os escravos pensam que são livres.
Como estar no gozo da plena liberdade sendo escravo de amores doentios, de mentiras graciosas, de dietas mirabolantes, de vícios destruidores, de produtos de beleza para maquiar quem você é para te transformar no que o outro quer ver? Está na hora de esquecer o que te escraviza quer para entender o que te liberta.
Acompanhe Simone Maryam no Instagram