“Livramento”: Bemti lança o último videoclipe do álbum “Logo Ali” com produção de Marcelo Jeneci, e apresenta versão instrumental

Luca Moreira
15 Min Read
Bemti

No dia 1º de novembro, quarta-feira, foi lançado o aguardado videoclipe da música “Livramento”, do talentoso Bemti. A canção, fruto da colaboração entre o artista mineiro e a talentosa Nina Oliveira, conta com a habilidade de produção de Marcelo Jeneci, Pedro Altério e Luis Calil. Além desse emocionante lançamento visual, no último dia 27 de outubro, a versão instrumental do álbum “Logo Ali” foi disponibilizada em todas as plataformas digitais. Esses lançamentos marcam o segundo aniversário do álbum e encerram um ciclo antes do próximo projeto do artista.

“Logo Ali” foi reconhecido pela APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte) como um dos melhores de 2021, conquistando a 20ª posição na Lista das Listas do mesmo ano. O álbum já ultrapassou a marca de 1 milhão de streams no Spotify e contou com participações especiais de artistas como Fernanda Takai, Jaloo, Josyara, ÀVUÀ, e o talentoso artista português Murais. A versão em vinil do disco, que esgotou rapidamente, levou Bemti a se apresentar em várias regiões do Brasil e em Portugal, com duas datas esgotadas em Lisboa.

O videoclipe de “Livramento”, dirigido pelo próprio Bemti, graduado em Audiovisual pela USP, apresenta um envolvente plano sequência gravado ao amanhecer em um mirante na Serra da Canastra, em Minas Gerais.

Sobre a versão instrumental do álbum “Logo Ali”, os ouvintes podem apreciar o talento de Bemti como tocador de viola caipira de 10 cordas, bem como os detalhes da grandiosa produção musical. Gravado em estúdios renomados como Gargolândia (Alambari-SP) e Ilha do Corvo (Belo Horizonte), o álbum conta com músicos convidados de destaque, incluindo Hélio Flanders, Kinda Assis e Paulo Santos, do Uakti. A produção musical é assinada por Luis Calil (Cambriana) e Pedro Altério (5 a Seco), com co-produção de Marcelo Jeneci, Jojô e Rodrigo Kills (do duo Cyberkills).

Este momento significativo vem acompanhado de apresentações em diferentes cidades. Em outubro, Bemti cativou o público no Rio de Janeiro (Livraria Beco das Letras) e em Belo Horizonte, como parte da Mostra Salve o Compositor! do SESC Palladium.

Parabéns pelo lançamento do videoclipe de “Livramento”. Pode nos contar mais sobre a inspiração por trás desta música e como foi trabalhar na produção do clipe?

Obrigado! “Livramento” é uma música que reflete temas recorrentes no disco “Logo Ali”, sobre como os nossos tempos conturbados afetam nossos relacionamentos e esses processos de amar e desamar. Eu fiquei por meses com uma ideia fixa de fazer uma música chamada “Livramento” que seria bem magoada, na mesma pegada de “Tango” do meu primeiro disco. Quando a inspiração finalmente veio, a música se tornou bem ‘upbeat’ e ambígua, então ela é sobre esse momento em que você está afastado de alguém, mas não sabe ainda se isso vai ser bom ou ruim (na maioria das vezes é sim um livramento). Como eu sou formado em Audiovisual, sempre trabalho nas produções dos meus clipes, foi bem natural.

Como foi a colaboração com Nina Oliveira na composição de “Livramento”?

É da Nina Oliveira essa frase central da música de que “as camisas emprestadas viram pijama ou pano de chão”. Quando conversamos sobre escrever uma música a partir disso, ela mencionou que seria legal se fosse uma sofrência bem sertaneja. Eu comecei a escrever os versos usando uma cadência muito inspirada no estilo da Marília Mendonça (o disco “Logo Ali” saiu 2 meses antes do falecimento dela). No fim das contas “Livramento” tem essa mistura entre indie e folk com uma pitada de sertanejo. Gosto muito da Nina Oliveira e é sempre um prazer criar com ela!

“Logo Ali” foi muito elogiado pela crítica e teve uma recepção calorosa dos ouvintes. Como você se sente sobre o sucesso do álbum?

Eu me sinto grato que mesmo com poucos recursos, sem gravadora e tudo mais, o disco tenha conseguido e ainda consiga atingir tanta gente. É um álbum complexo, cheio de camadas, em que o instrumento principal é a Viola Caipira de 10 cordas (o que é bem inusitado), mas há uma essência muito popular ali nas músicas. As melodias são grudentas, mas a “embalagem” é repleta de conceitos, arranjos muito grandiosos e letras profundas. Eu odeio ser subestimado como ouvinte então o meu objetivo é fazer música pra pessoas que não querem ser subestimadas também. Que bom que tem dado certo na medida do possível e que essas pessoas existem.

“Logo Ali” já ultrapassou 1 milhão de streams no Spotify. Como tem sido a jornada desde o lançamento deste álbum até agora?

Infelizmente estamos num país e numa época em que para um artista novo, entregar um trabalho considerado excelente em diversos níveis não é o suficiente para que você consiga ter muitas oportunidades legais de trabalho ou ser mais requisitado e respeitado pelos programadores, curadores etc. Na maioria das vezes você precisa ter números dignos de artista internacional para que seu trabalho seja enxergado ou já ter uma conexão anterior muito forte com a música como ser de uma família de músicos, produtores etc. Ao mesmo tempo que eu acho extraordinário ter conseguido tudo que já consegui sendo um violeiro LGBTQIA+ do interior de Minas, enfrento muitas barreiras mesmo com resultados tão positivos. Tenho muito orgulho e reconheço muito claramente as conquistas e o potencial desse trabalho, mas sei que poderia ter circulado muito mais com o show do Logo Ali. Felizmente consegui fazer apresentações muito legais em diferentes regiões do país e toquei em 4 cidades de Portugal pela primeira vez em 2022 (com duas datas esgotadas em Lisboa). Só posso torcer para que meu trabalho de formiguinha siga atingindo mais gente, aumentando meu público, e que eu possa encontrar mais pessoas dispostas a tocar esse barco comigo.

O álbum “Logo Ali” tem colaborações notáveis, incluindo Fernanda Takai, Jaloo, Josyara e outros. Como foi trabalhar com esses artistas?

Eu amo muito criar com as participações especiais porque cada convite tem uma razão muito clara por trás dele. Não gosto de feats que parecem vazios ou sem motivo. Cada um dos artistas que estão no Logo Ali ou como participação especial, ou como letristas ou musicistas convidados, estão porque para mim esse encontro faz sentido para a narrativa do disco. Escrevi “Catastrópicos!” pensando na Jaloo e nesse encontro entre o meu universo mineiro e o universo paraense dela de “desconstrução tropical”. “Salvador” tem a Josyara que é de Vitória da Conquista, mas que já viveu em Salvador e tem muito a cara da cidade. “Quando o Sol Sumir” precisava de uma voz doce, porém densa, que encarnasse esse “apocalipse fofo” da música e do clipe e quando a Fernanda Takai topou fiquei feliz demais pois sou muito fã dela! Enfim, cada caso é um caso. A minha cabeça de roteirista pira nessas conexões e no que pode surgir delas. No fim as grandes culpadas por esse encontro são as músicas, esses artistas só topam esses convites porque gostam das minhas músicas.

Sabemos que o álbum foi lançado em vinil e esgotou rapidamente. Como é para você ver que as pessoas ainda valorizam o formato físico da música?

Eu sou colecionador de vinis e foi um sonho realizado ter um disco meu nesse formato. Eu pensei muito o “Logo Ali” para o vinil, mesmo sem saber quando eu conseguiria realizar essa vontade, que bom que foi bem rápido! O lado A e o lado B do disco são muito bem definidos, com climas bem diferentes e tem 20 minutos cada. O lado B começa com um interlúdio calmo (“Salvador”) enquanto o lado A é um grande crescendo que termina com o momento mais épico do disco, o final instrumental de “Não Tava Nos Meus Planos”. Vários detalhes… me deu um frio na barriga quando a Bolachão Discos propôs lançar o vinil do Logo Ali, porque é um processo muito caro! Mas felizmente deu tudo certo, o vinil teve uma saída ótima, o projeto gráfico ficou maravilhoso e eles acataram várias das sugestões que eu dei (o vinil laranja, a embalagem gatefold, o encarte com poster…). Eu projeto no meu trabalho as coisas que eu quero e espero que isso possa ressoar para as outras pessoas. Eu amo vinis e que bom que cada vez mais gente está valorizando-os e que tanta gente se conectou com o “Logo Ali”.

Além do sucesso do álbum “Logo Ali”, você mencionou um próximo trabalho. Pode nos dar algumas dicas sobre o que esperar deste próximo projeto?

Sonoramente vai ser bem diferente dos dois discos anteriores. Ao mesmo tempo é uma evolução do que eu já fiz em faixas como “Se entrega!”, “Jaguar”, “Catastrópicos!”… o som do disco vai refletir muitas coisas que eu tenho ouvido como Bonobo, Caroline Polachek, Washed Out, Jungle… ao mesmo tempo em que abordo temáticas que eu não abordei nos dois primeiros discos.

Você também é formado em Audiovisual e dirigiu o videoclipe de “Livramento”. Como é sua abordagem à direção de vídeos musicais?

Para mim o videoclipe e os visuais são tão importantes quanto as músicas. As partes visuais e musicais vêm ao mesmo tempo na minha cabeça quando começo a escrever uma música nova ou o conceito de um disco novo. Quando é hora de materializar esses visuais eu tento agregar diversas funções, mais por motivos de economia do que por eu gostar de controlar demais o processo. Então eu tenho vários clipes na minha videografia que são verdadeiros milagres financeiros, porque custaram muito menos do que custariam num contexto normal, mas que eu consegui viabilizar por trabalhar nessa área e correr com muitas das funções. Eu também gosto de dirigir e roteirizar projetos para outros artistas e recentemente saiu um clipe estrangeiro que dirigi e onde também atuo (“Imaginary World” do cantor húngaro Kristóf Hajós).

Como foi gravar o videoclipe de “Livramento” no cenário da Serra da Canastra em Minas Gerais? Houve algum desafio particular durante a filmagem?

O clipe de “Livramento” é um plano sequência gravado às 5:30 da manhã num mirante da Serra da Canastra. A luz do amanhecer é muito preciosa porque tem tons rosados e alaranjados, e ao mesmo tempo precisávamos do lugar vazio. Gosto do clipe porque ele revela aos poucos a paisagem e porque eu sempre quis gravar na Canastra: sou daquela região e é um lugar muito importante para mim. Acho que o clipe reflete essa vastidão, essa sensação de “seguir em frente”, que a música traz. E por mais que pareça “simples” a princípio, tem toda uma construção bem complexa ali no clipe de enquadramento, movimentação, clima, chegar até a locação etc. Um desafio particular da filmagem foi que eu tive uma crise de cálculo renal terrível durante a madrugada… então eu não precisei acordar 4 da manhã para gravar 5:30 da manhã porque eu nem dormi (risos).

Além do videoclipe, você lançou a versão instrumental do álbum “Logo Ali”. O que os ouvintes podem esperar ao ouvir essa versão do álbum?

Gosto muito da versão instrumental porque dá a possibilidade para os ouvintes imaginarem “um filme” próprio para essas músicas, desapegados das letras. Me dá a oportunidade de mostrar meu trabalho como violeiro, compositor e diretor musical do disco. Os arranjos do “Logo Ali” são muito grandiosos e com muitas camadas. Trabalhei com diversos produtores e musicistas (lá no Youtube o vídeo com o disco completo tem todos os créditos) mas sempre tive uma ideia muito clara de como eu queria que cada música soasse. É extraordinário escutar o resultado do Logo Ali. É um tipo de som que se escuta muito pouco na música brasileira, inspirado em artistas como Arcade Fire, Sigur Rós, Baleia… e tudo isso com a Viola Caipira como instrumento central.

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