Julia Benford lança primeiro EP solo “Naked As My Soul” e revela visão artística madura

Julia Benford
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A cantora e compositora Julia Benford estreou hoje seu primeiro EP solo, “Naked As My Soul”, uma obra que destaca sua maturidade artística. Com cinco faixas que exploram uma sonoridade folk atemporal, o EP é acompanhado por um projeto visual idealizado pela própria Julia. Os singles “Nada Me Parar”, “Estrelas” e a faixa-título, previamente lançados, agora se juntam a duas novas canções, uma em português e outra em inglês, completando o repertório.

Influenciada por ícones do folk como Joni Mitchell e Carole King, além de contemporâneos como Florence and the Machine, Julia apresenta um som único e atemporal. A produção de Leo Mayer (Hurricanes), que também participou dos arranjos e da gravação dos violões, contribui para a qualidade das faixas. Julia se destaca por sua visão criativa, cuidando de todos os aspectos do projeto, desde a composição das letras até os videoclipes e fotos, demonstrando uma honestidade que expõe suas vulnerabilidades.

A faixa-título “Naked As My Soul” encapsula o conceito do EP. Segundo Julia, “A frase representa a transição entre se apaixonar e realmente se entregar, com crueza, para um alguém novo, que ainda desconhece nossos defeitos e manias. As músicas falam sobre a insegurança em despir os sentimentos mais íntimos e sobre construir uma persona para agradar o mundo exterior.” Como parte do projeto visual que complementa as músicas, dois clipes já estão disponíveis e um terceiro, para a faixa “Stay in My Eyes”, está em produção.

Como você descreveria o conceito por trás do EP “Naked As My Soul” e como ele reflete sua visão artística?

O EP, como o próprio título diz, é o estado mais nu da minha música até hoje. Eu descreveria o conceito como uma doação ao romantismo. Tentei descrever os sentimentos de vários estágios de um relacionamento. Desde o primeiro amor, na adolescência, que carrega inocência. Até um amor mais maduro, com outras necessidades e vontades. Eu falo também da ansiedade em se apaixonar e não se sentir correspondido.

Quais foram os desafios e as recompensas de se lançar como artista solo, especialmente ao explorar um som folk atemporal?

Acredito que esse formato do folk é bastante versátil e acaba englobando um público que flerta com o rock mas que também curte o pop, o indie, e outros gêneros. Mas ao mesmo tempo, é uma cena bastante reduzida no Brasil. Embora eu tenha quase 10 anos de estrada, é como se eu estivesse começando do zero. Estou buscando novos lugares que encaixem com a proposta intimista desse show. Posso citar alguns nomes do folk brasileiro que gosto muito, como o Antiprisma e o Luiz Masi.

Você mencionou que é influenciada por artistas clássicos como Joni Mitchell e Carole King, além de contemporâneos como Florence and the Machine. Como essas influências se manifestam em suas músicas e em seu projeto visual?

Acredito que o liricismo e a escolha de palavras, expressões não convencionais, me intrigam muito na Joni Mitchell. Ela não tem medo de descosturar o próprio peito e colocar o coração na mesa. A Carole King também vem dessa escola, pra mim são mulheres corajosas e a frente da própria época. Na época de “Blue”, as pessoas não entenderam muito o excesso de intimidade na voz da Joni. Existia um filtro, um “dresscode”, e causava estranheza falar com tanta naturalidade sobre temas difíceis. A Florence Welch também bebe nessa fonte, ela cita a Virginia Woolf como uma das suas escritoras preferidas. Outra grande referência pra mim é a Fiona Apple, que leva anos entre os intervalos dos seus discos, porque ela não se interessa em escrever música sem ter de estar vivendo algo intensamente.

Falando sobre o projeto visual, essas artistas também influenciam no meu jeito de vestir, gosto muito da Stevie Nicks na época do Fleetwood Mac, ela também tinha essa estética folk e boho. Eu busco influência na pintura, no movimento surrealista e impressionista. Adoro a Frida Kahlo, Marc Chagall, Berthe Morisot.

Julia Benford
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Como foi a colaboração com Leo Mayer na produção e arranjos do EP? De que maneira a produção dele influenciou o som final das faixas?

O Leo validou meus sentimentos, eu precisava de alguém para confessar minhas músicas e ele foi essa pessoa. As canções estavam prontas, eu sempre tive muita certeza de como gostaria que elas soassem. Mas ele trouxe um refinamento na captação. Pela experiência e ouvido apurado do Leo, pudemos gravar os instrumentos ressaltando a melhor qualidade de cada músico envolvido. Eu também sinto que evolui a minha audição e por consequência minha afinação, trabalhando com o Leo.

A banda toda acabou se envolvendo nos arranjos (Pedro Prado, Thiago Alef e Henrique Cezarino) e cada um trouxe algum elemento novo para essas músicas que fez a diferença no resultado.

Em relação ao projeto visual, como você idealizou os videoclipes de “Naked as My Soul” e “Nada Me Parar”? Qual foi a sua inspiração para os cenários e figurinos?

Eu idealizei os videoclipes como embriões com a Helena Panno (diretora). Eu tinha muita vontade de que o meu primeiro trabalho como artista solo viesse acompanhado de videoclipes visualmente impactantes. Quando procurei a Helena, ela trouxe uma visão única do teatro. Nos inspiramos no universo teatral, criamos hipérboles e metáforas para os sentimentos das músicas. Em “Naked As My Soul” o início de um relacionamento conturbado se torna uma disputa de um jogo de xadrez. Mais à frente, o casal se torna as próprias peças do jogo, representados como cavalos, pelo figurino e maquiagem (a maquiadora Vic Di Lallo criou máscaras de látex a partir dos nossos rostos, algo que eu nunca tinha experimentado antes). A sensação de “Nada Me Parar” é de um resgate da inocência da infância, onde idealizamos mundos infinitos na nossa cabeça.

A esperança por um mundo livre do enclausuramento pandêmico foi representada por uma praia, uma floresta, uma estrada, todos cenários pintados e criadas à mão dentro da minha casa. A influência vem de Coraline (e todos os filmes do estúdio Laika, sou muito fã), Tim Burton, Alice no País das Maravilhas, Sofia Coppola, Wes Anderson, “Wuthering Heights” da Kate Bush. Também nos inspiramos na Pina Bausch para criar a linguagem de dança contemporânea que faz o paralelo de sentimentos: angústia e repulsa x desejo e paixão.

Você tem uma faixa em português e outra em inglês no EP. O que essas escolhas linguísticas representam para você e como elas se encaixam na narrativa do projeto?

Eu acredito que por ouvir ambos os idiomas durante a vida toda, o meu cérebro tem duas chavinhas que ficam alternando e uma hora as composições saem em português, e outra em inglês. Não é proposital, mas às vezes, faço escolhas propositais de inverter os idiomas. Quando sinto que existe uma metáfora ou uma palavra melhor para aquela mensagem, não me apego e faço a troca.

O que você espera que os ouvintes sintam ou experimentem ao ouvir “Naked As My Soul” e ao assistir aos clipes? Há alguma mensagem específica que você gostaria de transmitir?

Para mim, é um mergulho a um mundo fantástico e onírico, é como se eu estivesse indo dormir e deixasse a porta dos meus sonhos abertos. Assim, convido vocês a dividirem comigo essa mistura de sensações. Para mim, eu sinto que a música é a única maneira de concretizar o que vive na nossa cabeça. Embora essa tradução não seja fácil, a música torna os sentimentos muito menos solitários. Então, poder finalmente compartilhar com outras pessoas o que senti nos últimos anos é um grande alívio.

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