Jacqueline Sato reflete sobre papel da arte e da natureza em sua vida

Luca Moreira
18 Min Read
Jacqueline Sato (Roger Mac - Crop Studio)

Atriz e ativista Jacqueline Sato expande sua presença nas telas e, ao mesmo tempo, direciona seu foco para importantes causas. Com uma carreira abrangente, que abrange desde séries e novelas até a dublagem de animes, Sato agora se prepara para atuar em “A História Delas”, nova série do Star+, onde dividirá cena com nomes como Letícia Spiller, Cris Vianna e outros. Além de sua atuação, a atriz, também apresentadora, lançará um programa no canal E! chamado “Mulheres Asiáticas”, focado na representatividade e na celebração da diversidade das mulheres asiáticas brasileiras. Fora das telas, Jacqueline Sato é uma ativista ambiental e embaixadora do Greenpeace Brasil, envolvendo-se em causas como a proteção da natureza, a preservação da Amazônia e a proteção animal, através de sua associação de proteção animal, House of Cats. Ela está aproveitando sua posição para conscientizar sobre questões urgentes e dar espaço a causas essenciais.

Você está envolvida em projetos variados, desde atuação em séries até programas de televisão. Como você equilibra essas diferentes frentes criativas?

Eu sinto que uma coisa complementa a outra, então quando estou ativa numa frente criativa, a outra automaticamente é beneficiada. Gosto de ser livre para me experimentar de diversas formas. Vou rompendo com “limites” internos ou externos e me surpreendendo ao longo do caminho. Procuro estar 100% presente no que quer que eu esteja fazendo e vou fluindo de uma coisa para a outra, fugindo das armadilhas da auto-cobrança excessiva e do estar fazendo uma coisa pensando em outra, ou “querendo” outra.

Você é embaixadora do Greenpeace Brasil e tem uma forte presença no ativismo ambiental. Como a arte e o ativismo se entrelaçam em sua vida e carreira?

São duas presenças muito fortes e importantes para mim. Não vivo sem. É parte intrínseca de quem eu sou. Posso dizer que ambas nasceram comigo. Desde muito pequena, tanto a preocupação com a Natureza quanto a expressão artística já se manifestavam em mim. E a palavra entrelaçar é ótima, pois uma passa pela outra e ambas contém o poder de transformar! Talvez a transformação seja algo que me fascina. Até hoje, arte e ativismo andaram em paralelo e se entrelaçando, eu, enquanto artista, sempre busquei na natureza inspiração e entendimento, e enquanto ativista, procuro usar da expressão e conhecimento em comunicação para que a conscientização chegue de forma clara e impactante para mais gente. Sempre busquei usar da visibilidade que tenho para dar voz a causas importantes e urgentes. E num futuro não muito distante, quero realizar trabalhos que unam ainda mais as duas áreas.

Sua participação em “A História Delas” parece trazer uma narrativa envolvendo representatividade feminina. Como é fazer parte desse projeto e qual a sua visão sobre a representatividade na indústria do entretenimento?

Estou muito feliz em fazer parte dessa série, que como o próprio nome já diz, traz a história de mulheres como narrativa central. Por tantos e tantos anos os conteúdos eram centrados em narrativas masculinas. É tão bom poder ter nossas vozes presentes de forma autêntica nas obras audiovisuais, como é o caso de “A História Delas”. É um projeto que leva a representatividade a sério, tem sensibilidade e cuidado na escolha de cada personagem, de forma a não perpetuar estereótipos, tem representatividade na frente e atrás das câmeras. Foi um prazer imenso e eu estou curiosíssima para assistir!

Agora, minha visão em relação a representatividade na indústria do entretenimento é de que estamos acordando. Ainda falta muito, mas já temos bons sinais de mudança aqui e ali. Há algum tempo, uma parte dos profissionais já despertou para a importância e riqueza que é ter pluralidade em seus castings, equipe, roteiro, tudo; outra parte permanece repetindo o padrão antigo. Ainda falta muito para que essa indústria tenha equidade e abarque a multiplicidade toda que é a humanidade. Acho que quem já está desperto e consciente tem que sair acordando os que ainda não estão agindo nessa direção. Quem tem consciência tem que se unir para gerar a transformação que é tão necessária. E quando nos unimos, nos sentimos mais fortes. Gosto de lembrar que nós, os que não se sentem devidamente representados, somos a maioria, e estando unidos e conscientes podemos agir juntos em busca do que é justo.

Jacqueline Sato (Roger Mac – Crop Studio)

Recentemente, você esteve na Amazônia com o Greenpeace. Poderia compartilhar conosco sua experiência e o que mais a motivou a se envolver com a causa ambiental?

Sim, foi uma das experiências mais transformadoras que já vivi. Eu sempre fui muito conectada com a Natureza e com a proteção dela. Creio que o despertar da minha consciência em relação a importância de não só protegê-la mas encontrar formas de diminuir os danos que nós, enquanto humanidade, já causamos a ela, aconteceu ainda criança. Lembro de escutar sobre extinção de espécies e aquecimento global e na hora já entendi que eu queria fazer algo a respeito. Quase fiz engenharia ambiental, mas o amor pela arte e comunicação me apontou que eu poderia agir através dessas outras formas de trabalho também. E também sempre soube da tamanha influência que pessoas públicas tem, daí optei por este caminho, de usar da visibilidade e comunicação para ser aliada nessa causa.

Sobre essa viagem que fiz à Amazônia, para mim, que sempre a defendi sem conhecê-la presencialmente, de longe, sempre imaginando como ela é, caí para trás ao “estar nela”. É de uma magnitude indescritível. Uma abundância de vida, espécies, árvores infinitamente maiores do que seria possível imaginar, formas de vida e sociedade que ampliam nossa visão sobre a existência. A Floresta é imensa, mas é chocante pensar que ela já foi bem maior. E é chocante pensar que por conta da ganância de uns poucos, tanta vida é destruída, acarretando consequências gravíssimas para toda a humanidade. Sem a intervenção humana, a beleza desse ecossistema funciona perfeitamente, uma coreografia totalmente sincronizada que emociona e faz com que a gente queira proteger ainda mais esse patrimônio de todos nós.

Fiquei hospedada na comunidade do Tumbira, uma reserva de desenvolvimento sustentável, que viveu na pele a transformação de suas vidas desde que se tornaram do time que afirma, com toda a certeza, que a floresta em pé é mais lucrativa e benéfica para todos agora e para o futuro. Para você ter ideia, antes, eles não tinham mercado, escolas, internet. Agora, eles têm tudo isso, os jovens recebem workshops das mais diversas áreas para se aprimorarem naquilo que têm afinidade, possuem um restaurante incrível, e a renda vem praticamente do turismo e venda de produtos artesanais. Infinitamente mais seguro, satisfatório, sustentável e prazeroso do que ser dependente da extração de madeira como, infelizmente, ainda acontece em muitas comunidades.

Como apresentadora do programa “Mulheres Asiáticas”, qual é a importância de destacar e dar protagonismo às mulheres asiáticas brasileiras na mídia?

Para mim, é uma quebra de paradigmas. Eu cresci sem ver pessoas parecidas comigo na TV. Isso pode gerar um buraco, uma dor e um enfraquecimento indescritível. Não haver representatividade faz com que sonhos deixem de ser cogitados como possíveis de se tornarem reais. Eu mesma duvidei inúmeras vezes se poderia e conseguiria seguir na carreira, que tenho plena certeza que é a minha vocação. Persisti e sigo persistindo. Mas sei bem que muitas pessoas nem tentam, outras desistem, e isso é muito triste. Aí, nas poucas situações em que vemos alguém que, de alguma forma, nos gera identificação, muitas das vezes, as feições é que são responsáveis por gerar isto, mas o personagem não, por conta de ser estereotipado ou tão irrelevante na trama que não faz ninguém se conectar verdadeiramente. Depois de 12 anos no mercado, depois de muito assistir e de muito conversar com profissionais do meio, cheguei à conclusão de que a melhor forma (ao meu alcance) de mudar essa “visão” limitada que se tem de nós seria através de um programa que trouxesse mulheres reais para frente das câmeras. Tenho fé que assim, as pessoas conhecerão a diversidade que somos, e assim, colaboraremos para um imaginário coletivo mais amplo e real a respeito de quem são as ditas “mulheres asiáticas”.

Você é fundadora e CEO da House of Cats, uma associação de proteção animal. Como você iniciou esse projeto e qual é a importância da proteção dos animais para você?

Ah, esse projeto é o meu projeto mais antigo (risos). A gente diz que começou quando eu trouxe a primeira ninhada de gatos para casa, aos 9 anos de idade. E a partir daí, resgatar, oferecer lar temporário até encontrar lares responsáveis definitivos, se tornou praxe. Até que a vizinhança passou a nos ter como referência e eu, paralelamente, cresci na minha carreira de atriz, o que fez com que muito mais animais fossem adotados. Hoje, já somamos 2.425 gatos resgatados, cuidados e adotados. Eu fico emocionada quando paro para pensar que são muitas vidas transformadas. A proteção dos animais é algo que sempre viveu dentro de mim, e fico muito feliz de perceber que pude contribuir de alguma forma.

Jacqueline Sato (Roger Mac – Crop Studio)

Em seu trabalho como dubladora no anime “My Hero Academia: 2 Herois”, como é a experiência de dar voz a personagens e como você se prepara para essa atividade?

Ah, foi tão legal! Eu amo dublar anime e animações em geral. A gente pode extrapolar na ousadia e criatividade de formas que em outros tipos de conteúdo nem tanto. Nem todo mundo sabe, mas em dublagem, muitas vezes, você chega no estúdio sem nem saber que personagem vai dublar. Descobre na hora. E daí a criação começa. É tudo muito rápido e fluido. Dependendo do caso, abrem para você antes, mas isso é exceção. Sem falar na parte técnica, de cuidado, aquecimento, preparação para voz, eu considero que a concentração e a espontaneidade têm que estar muito ativas para a hora da gravação. Não há uma sequência de ensaios, são algumas passadas e já se grava. O que torna tudo altamente desafiador. Depois que entendi como é o mundo da dublagem na prática, passei a admirar ainda mais os dubladores.

Na série “Os Ausentes” e em outros trabalhos, você lida com temas complexos e emocionais. Como você se prepara emocionalmente para interpretar personagens com histórias intensas?

Cada personagem pede uma preparação específica. Em alguns projetos a gente tem, inclusive, um preparador de elenco. O que é maravilhoso, pois além do trabalho individual como atriz, há essa troca e sugestões de exercícios vindas deste profissional. Esse é sempre o melhor dos mundos, pois é possível aprofundar conta do com pontos de vista diferentes do seu próprio, o que sempre enriquece. Amo quando tenho oportunidades de trabalhar em produções assim.

A primeira leitura do roteiro é sempre muito importante pra mim. Nela, eu me conecto com minha intuição de forma atenta para ver o que logo de cara brota. Depois eu tenho uma sequência de exercícios que faço, vindos de diversos métodos que fui aprendendo ao longo desses 14 anos de carreira. Gosto de experimentar muito sozinha. Esgotar as possibilidades  que eu possa encontrar sozinha na cena. Mas a real é que ela só nasce quando se está em relação com o “outro”. Então, memorizo as falas de forma neutra, conforme aprendi estudando Meisner, pois pra mim é o jeito que o texto fica enterrado mais profundamente dentro de mim, e vou aberta para o que vai acontecer na hora do “play”. Essa forma de memorizar é a que me deixa com maior liberdade pra realmente estar fluida e maleável para o “agora”, e com porosidade pra fazer cada ensaio com o outro ator, e cada take, de forma única, podendo passar por possibilidades supreendentemente diferentes.

De forma geral, procuro criar essa conexão entre eu e a personagem da forma mais profunda possível, entendendo suas motivações, seus maiores desejos, quais os obstáculos (internos e externos), traços de personalidade (estudar um pouco de psicologia sempre ajuda), e principalmente sentir tudo isso de forma viva no corpo. Entender no racional não é suficiente, precisa trazer pro corpo. E aí, tem milhares de abordagens, desde o uso de exercícios de bioenergética à BodyMindMovement, entre outros. Para cada situação eu escolho o que é mais apropriado e possível.

O legal é quando você já está tão íntima do texto e da personagem que nem pensa mais nada, tudo já está lá dentro de você. Às vezes isso acontece mais rápido, às vezes demanda mais dedicação. Mas é só quando chega nesse ponto é que eu considero que estou “preparada”.

Qual é a mensagem ou impacto que você espera transmitir ao público com os projetos nos quais está envolvida, tanto como atriz quanto como ativista?

Se algum trabalho em que eu estou envolvida gerar reflexão e transformação em uma pessoa, já fico feliz. Um ser humano que se torna mais empático e mais consciente é capaz de multiplicar isso em seu entorno, e assim, vamos, cada um, transformando o todo naquilo que está ao nosso alcance.

Como atriz, sempre foi sobre amar seres humanos e querer entender e sentir mais profundamente o que somos todos nós. Quando se compreende melhor o “outro”, compreende melhor a si. Quando a gente tem real empatia é tão bonito. Justiça, gentileza, conexão passam a ser mais presentes.

Como ativista, é sem dúvida despertar a consciência do contexto em que estamos vivendo e as possibilidades que cada pessoa tem de fazer parte da solução e não do problema, na medida que cada um conseguir a cada momento da vida. Qualquer mínima mudança consciente é extremamente valiosa, porque ela vai a levando a outra, e outra, e incentiva outras pessoas a também agirem.

Como artista multifacetada, qual é o próximo grande desafio que você gostaria de enfrentar em sua carreira?

Estar envolvida em projetos que unam essas minhas duas paixões: arte e natureza. Que seja possível “contar histórias” que possam gerar impacto positivo, histórias que carreguem a urgência da proteção da Natureza como parte importante da narrativa. Mas não somente isso, também quero protagonizar séries e filmes que eu me orgulhe muito sem que, por ser amarela, tenha que explicar minha “existência” na trama.

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