Em “3 Natais Recifenses”, o escritor pernambucano Israel Pinheiro explora os complexos sentimentos despertados pelo Natal, uma data marcada por alegria e união, mas também por solidão e dor. Através de três contos ambientados no Brasil, Pinheiro aborda temas como a esperança, a saudade e o luto, trazendo à tona as dificuldades cotidianas com desfechos otimistas que homenageiam a resiliência do povo brasileiro. O livro, que nasceu no contexto da pandemia de Covid-19, é um convite para refletir sobre os laços humanos e o poder da data para curar corações solitários.
Você transformou momentos de solidão e reflexão em contos que tocam profundamente os leitores. O que te motivou a capturar as complexidades emocionais do Natal brasileiro e transformá-las em narrativas tão cativantes?
Todas as histórias do livro foram concebidas no contexto da pandemia, talvez no momento mais crítico das restrições de convívio e contato físico. Para mim, foi muito importante o exercício de imaginar dias melhores e realidades mais amenas. A esperança de que superaríamos aquele tempo tão atroz foi a minha grande motivação.
O livro aborda temas difíceis, como luto, ansiedade e desafios do cotidiano, mas sempre com desfechos otimistas. Como você equilibra a intensidade dessas emoções com a mensagem de esperança que permeia as histórias?
É bem curioso isso. E olhando em retrospectiva, hoje eu percebo que muitas vezes ser otimista é simplesmente crer que as coisas vão parar de piorar em algum momento. O equilíbrio vem da minha crença pessoal de que não existem derrotas definitivas para quem escolhe lutar contra a desesperança dia após dia.
As histórias de 3 Natais Recifenses têm raízes nas vivências do Nordeste brasileiro, com diálogos ricos e gírias locais. Por que foi importante para você valorizar e retratar essa identidade regional no contexto natalino?
Porque eu me considero um nordestino típico. E acredito que, como escritor, tenho o dever estético de retratar com fidelidade a dicção, sintaxe, símbolos e geografia da minha região.
Cada conto reflete situações muito reais e atuais, como os desafios da pandemia e o impacto das redes sociais. Como esses temas foram recebidos pelo público quando você os compartilhou inicialmente no Instagram?
A recepção efusiva me marcou bastante, foi numa intensidade que eu realmente não esperava. Ao longo da noite de Natal eu fui recebendo depoimentos muito tocantes, as pessoas realmente se envolveram, choraram e sorriram com os conflitos que os contos encerram.
Escrever pode ser um ato de acolhimento tanto para o autor quanto para os leitores. Como foi o processo de usar a escrita para conectar pessoas em um momento de isolamento e trazer conforto para natais difíceis?
Foi antes de tudo um trabalho experimental. Confesso que duvidei bastante de que pudesse funcionar, e também pensei muitas em vezes em não levar a ideia adiante. Mas no final o esforço alcançou o seu propósito: aplacou a solidão de tanta gente querida que estava, prudentemente, isolada nos natais mais estranhos de nossas vidas.
A resiliência é uma característica que você destaca como parte da essência do povo brasileiro. Como esse traço se manifestou em sua vida e influenciou as mensagens que você queria transmitir com o livro?
Aqui, mais uma vez, eu evoco a minha condição de nordestino. Nós somos os brasileiros resilientes por excelência. Muitas vezes incompreendidos, aviltados em nossos afetos e vituperados em nossas escolhas. A despeito disso, permanecemos produzindo a nossa arte imprescindível e esperançosa, guardiã da quintessência da alma nacional.
O Natal é uma data de muitas reflexões e ressignificações. O que você espera que os leitores levem consigo depois de mergulharem nos contos de 3 Natais Recifenses?
Espero sobretudo que seja uma leitura prazerosa. Uma revisita à melhor memória natalina e um vislumbre da perenidade da data e de seus signos.
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