Gabriela Abdala: Da comédia ao indie pop, a artista paraense conquista corações com talento e autenticidade

Luca Moreira
17 Min Read
Gabriela Abdala
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Natural de Carajás, no Pará, e radicada em São Paulo, Gabriela Abdala trilha uma trajetória artística que mistura música, comédia e ativismo. Aos 18 anos, ela deixou sua terra natal para seguir seu sonho de se tornar cantora. Em 2024, a artista encontrou seu verdadeiro caminho na música, com o sucesso do seu primeiro single “Emptiness”, que lhe rendeu uma indicação ao Prêmio Profissionais da Música. Além de sua carreira musical promissora, Gabriela se destaca como comediante, jiu-jiteira e ativista do veganismo, sempre buscando um equilíbrio entre suas paixões e o compromisso com causas maiores.

Desde os 6 anos, você já sabia que a música era o seu caminho, mas percorreu outras rotas até se entregar de vez a esse sonho. Como foi esse momento de decisão em 2024 e o que mais te impulsionou a finalmente dizer “agora é a hora”?

Na verdade, esse momento do “Agora é a Hora “ foi em 2020, mas as coisas demoram um tempinho até gravar a música, mixar, masterizar, e depois ir atrás de fazer o clipe. Foi bem na época da pandemia, isso atrasou também a gravação do clipe. Mas eu acredito que foi a sensação de… Eu não aguento mais viver sem estar fazendo pelo meu propósito. mesmo que eu sempre esteja envolvida na área artística e tudo mais, meu sonho sempre está ligado à parte da música. E como eu sempre coloquei isso num pedestal muito grande, eu tinha dificuldade de realmente encarar e começar. Então foi ali mais ou menos no segundo semestre de 2020 eu consegui ir ao estúdio e começar realmente a gravação das minhas músicas autorais. Hoje em dia já estou com várias músicas gravadas e planejo lançar vários singles em 2025 e em 2026 lançar meu primeiro álbum de estúdio.

Seu primeiro single, “Emptiness”, não só marcou sua estreia como cantora, como também te rendeu uma indicação ao Prêmio Profissionais da Música. Como você se sentiu ao ver essa canção — tão íntima e de estreia — sendo reconhecida dessa forma?

Tenho muito carinho pela minha música Emptiness e fiquei muito feliz, muito feliz mesmo de já ver ela sendo reconhecida em premiações. Tem pessoas que não se importam muito com essa parte de premiações e eu mesma não me importo muito em qualquer outra área, mas na música especificamente eu realmente me sinto muito feliz, muito feliz mesmo. e espero que minhas músicas sempre possam alcançar esse lugar também do reconhecimento por profissionais, de premiações. Eu acho algo muito legal você levar algo tão abstrato, tão subjetivo como é a música, para esse lugar da crítica, de… parece que é algo mais palpável, assim, quando você coloca numa competição e realmente analisa e até mesmo chega em grandes premiações com uma música, que é algo que vem ali para o artista e ele compõe no violão e ele grava. Algo tão abstrato, tão simples, mas ao mesmo tempo pode alcançar lugares tão grandes.

Gabriela Abdala
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Você já foi confeiteira, maquiadora, produtora de eventos e comediante. Cada uma dessas fases parece ter deixado algo em você. O que essas experiências te ensinaram que hoje refletem na artista que você é?

Realmente tudo que eu já trabalhei na vida me agrega muito, tanto como pessoa quanto como artista. Por exemplo, todos os shows que eu faço de comédia e as coisas que eu faço no mundo da música, eu tenho essa bagagem enorme de quando eu fui produtora de eventos. Então eu vou saber reconhecer se alguém não estiver fazendo o trabalho direito, eu consigo fazer as coisas da melhor maneira, porque eu já tive que fazer para outros artistas, consigo entrar em contato com os donos de teatro, donos de casa de shows etc. Da melhor forma para negociar, que eu já sei como funciona esse mundo. E até mesmo fazer toda a parte formal que existe na carreira, desde e-mails até, enfim, media kits, toda a parte mais formal que existe, contratos. Já sei muito bem onde pode ser um ponto fraco, um ponto forte dessas partes. Até mesmo planilhas financeiras. Então, realmente, a parte de produção de eventos é algo que me agrega muito no dia a dia, muito mesmo. Fico muito feliz por já ter trabalhado como produtora de eventos. E as demais profissões me agregam de várias formas, né? Maquiadora, com certeza, é algo que faz muito parte da vida da artista, principalmente mulher, eu acredito. Tem que estar sempre arrumada, você poder se expressar através da sua maquiagem, seja num clipe ou seja num show no dia a dia. Realmente, o fato de eu já ter sido fotógrafa também me ajuda a ter esse olhar crítico para as coisas que eu for lançar, para todo o material audiovisual que eu for lançar. E a parte da gastronomia, por enquanto, é algo que reflete bastante na minha vida pessoal, uma forma que eu vejo bastante como uma forma de afeto. Foi assim que eu aprendi na minha família e é assim que eu pratico a gastronomia no meu dia a dia, como uma forma de afeto às pessoas à minha volta.

Entre shows de comédia, gravações e treinos de jiu-jitsu, sua rotina parece ser um verdadeiro malabarismo criativo. Como você organiza sua vida para dar espaço a tantas versões suas — e ainda manter os pés no chão?

Parece bastante coisa, mas a realidade que muitas pessoas ao romantizar a vida artística não falam é que é muito mais leve do que uma vida CLT, por exemplo, né? Então, nossa, você faz muitas coisas, como você consegue fazer tudo? Porque eu não estou de 8 a 12 horas enfornada num escritório, né? E isso dá muita liberdade, muito tempo. Então, eu fico muito feliz mesmo de ter esse tempo, essa liberdade. Eu estou sempre experimentando coisas novas, eu sou uma pessoa muito apaixonada pela vida. Então, semana passada eu fiz uma aula de cerâmica, fiz uma coisa que eu sempre quis, que era fazer o meu próprio prato, para quando eu fizesse ali um jantar para o meu noivo, uma coisa, eu poder servir no prato também que eu que fiz. Uma coisa, assim, que eu gosto muito de fazer coisas manuais. Então, eu estou sempre experimentando coisas novas, sempre fazendo coisas novas. E tendo bastante tempo, eu acho que, realmente, os artistas, eles, ao romantizar a própria vida, que é algo que eu acho muito legal, acho que a gente tem que, sim, romantizar a própria vida, mas não é algo impossível você fazer muitas coisas quando você não está comprometido 8 ou 12 horas da sua vida e mais de 200 horas semanais trabalhando para outra pessoa em uma empresa. Então, assim, estou sendo bastante realista nessa resposta, mas é a verdade. Realmente, eu consigo fazer muitas coisas e eu sou muito grata por isso. É o resultado de muito trabalho, porque eu não venho de família rica, de herdeira, nada disso, muito pelo contrário. Minha mãe é paraense, meu pai é maranhense, fui criada lá no Maranhão, e nunca fui de família rica nem nada do tipo, tanto que eu sempre trabalhei desde os 15 anos de idade. Então, hoje em dia, eu consigo ter essa vida porque eu estou colhendo trabalhos que eu plantei desde os meus 15 anos de idade, que foram construindo aí os degraus para eu conseguir ter essa liberdade hoje em dia. Mas eu acho que a resposta mesmo mais direta de como eu consigo fazer tantas coisas ao mesmo tempo é essa, que eu consigo comprometer meu tempo somente com os meus projetos e não trabalhando em uma empresa.

Gabriela Abdala
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Seu amor pelos animais te levou ao veganismo, que hoje também é parte da sua identidade pública. De que forma essa escolha influenciou sua arte e o modo como você se comunica com o público?

O veganismo é uma parte fundamental da minha vida há quase 10 anos, e sou muito feliz por isso. Com certeza, isso reflete na forma como me comunico com meu público e como trato as pessoas. Embora muitas pessoas que não conheçam a causa possam encarar o veganismo com certo preconceito ou até arrogância, ele é exatamente o oposto. O vegano não se acha melhor do que ninguém, nem mesmo do que uma formiga ou um porco — um animal que é tratado como um objeto, algo a ser explorado e machucado.

Ser vegano, para mim, é ver todos de igual para igual, não só seres humanos, mas até mesmo os animais, acreditando que eles merecem o mesmo respeito. Ser vegano é ser a voz de quem não tem voz. E isso reflete em todas as partes da minha vida: na forma como ajo no dia a dia e como me comunico com as pessoas.

Uma coisa que sempre procuro passar para as pessoas, especialmente nos meus cursos e em tudo o que faço, é que o que realmente te leva mais longe é não tratar ninguém — ninguém mesmo — como inferior ou superior. Muitas pessoas cometem esse erro. Por exemplo, quando você está começando, acaba endeusando quem já é grande na profissão. Ou, quando você começa a crescer, pode tratar com arrogância ou desprezo alguém que está começando ou um prestador de serviço. Eu realmente acredito que isso seja um grande atraso, tanto no desenvolvimento pessoal quanto profissional. O mundo dá voltas, e tratar as pessoas com respeito e admiração é algo muito importante.

E com certeza, essa visão vem do veganismo, dessa perspectiva natural de enxergar que todos merecem o mesmo respeito — ninguém mais, ninguém menos.

Marjorie Estiano foi uma grande referência para você na infância. O que nas músicas ou na trajetória dela mais te inspirou — e de que forma isso reverbera nas suas composições hoje?

A Marjorie, eu a acho uma grande atriz. Mas assim, não é que ela seja uma referência para mim na música. Aconteceu de ela ser a minha primeira memória de quando eu comprei um CD ali. Um CD mesmo físico e tal. E coloquei num microsystem quando eu era criança. E fiquei ouvindo um álbum inteiro e lendo o encarte com as letras, vendo as imagens. Essa foi a minha primeira experiência, assim, de consumir um álbum musical. E por coincidência foi dela. E esse álbum dela, que eu acho até que o nome é Marjorie mesmo. O nome do álbum também é o mesmo nome da artista. Eu gostei muito, as músicas são incríveis. E naquela época, assim, nossa, eu sabia todas as letras de cor. E eu lembro de pensar, eu quero fazer isso também. Agora, anos depois, isso era muito pequena. Mas anos depois, eu me vi já tem 15 anos que eu tenho cabelo vermelho. Então, eu fico achando, acredito, que em algum lugar ficou a sementinha dela ali na minha cabeça, no meu subconsciente. Porque ela tinha cabelo vermelho, um cabelo vermelho curtinho nessa época. Que era até a época também de malhação dela. Então, eu acredito que possa ter aí uma sementinha da Marjorie. Até mesmo na minha imagem aí, de ter o cabelo vermelho há tantos anos. Isso ser minha marca aí também. Mas, foi nesse lugar. Ela foi a minha primeira inspiração. A Marjorie, ouvir o álbum da Marjorie quando eu era criança, foi um momento… O primeiro momento que eu me lembro de falar assim, caramba, eu quero fazer isso também, eu tenho certeza. É isso que eu quero fazer. Então, eu quero fazer isso também.

Gabriela Abdala
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Você é uma mulher do Norte, com uma história de coragem, recomeços e muita verdade. O que você mais deseja que as pessoas sintam ao te ouvir cantar?

Eu gostaria muito de fazer as pessoas se sentirem vistas. Eu acho que uma das coisas que eu trago da comédia, por exemplo, é que quanto mais pessoal você é, mais as pessoas vão se identificar com você. Existe isso na comédia, de que quanto mais específico e pessoal você for, sabe quando você acha que você tá falando de uma experiência única, que você é a única pessoa que já sentiu aquilo na vida? Pois quando você fala isso, é onde mais você vai ver as pessoas se identificando. E isso é muito verdade. Todas as vezes que eu trouxe algo no palco que era muito pessoal, foram as coisas que mais bobaram, que mais pessoas se identificaram. Isso é muito impressionante. E na música eu quero muito trazer isso também. De poder fazer as pessoas se identificarem comigo e se sentirem vistas, se sentirem acolhidas a partir disso e perceberem que o ser humano é tudo igual e tem uma beleza nisso. A gente, todos nós nos encontramos em alguns momentos, num momento de reflexão, num momento de se sentir muito vivo ou sem vitalidade alguma, em momentos melancólicos, em momentos que você encontra o amor da sua vida ou que você pede o amor da sua vida. Tem muitas coisas que são muito profundas e muito pessoais e ao mesmo tempo são muito coletivas. Todo mundo consegue se conectar a partir desse mesmo momento, dessa mesma emoção.

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