Após quase uma década levando o forró com identidade nordestina para os palcos do Brasil e do mundo, o cantor e compositor paraibano Felipe Alcântara dá um passo inédito em sua trajetória: o lançamento de seu primeiro EP totalmente católico, “Daqui Pro Céu”, previsto para setembro de 2025. Conhecido nacionalmente desde sua participação no Superstar (Globo) como vocalista da banda Os Gonzagas, Felipe explica que o projeto é um movimento natural em sua vida artística e espiritual, reunindo composições feitas ao longo dos anos em momentos de oração e comunhão com Deus — sem abrir mão do forró que sempre esteve na base de sua música.
Felipe, você chamou esse projeto de um “passo natural” e não de uma mudança de carreira. Em que momento você percebeu que essas músicas, escritas ao longo de anos, estavam prontas para ganhar o mundo?
Acredito no tempo certo de cada coisa. Às vezes passamos anos trabalhando em algo que parece banal para quem está de fora, e até para nós mesmos, porque muitas vezes não vemos fruto nenhum daquilo. Assim foram essas músicas: eu escrevi em momentos muito verdadeiros e profundos com Deus e com minha humanidade, e deixei essas ideias guardadas, sem perspectiva nenhuma de quando seriam lançadas, se seriam lançadas ou até se serviriam para algo. Depois da minha ida ao Círio de Nazaré pela primeira vez, comecei a me abrir à possibilidade real de compartilhar essas músicas que falam da minha fé. A partir dessa abertura, as coisas foram acontecendo e, de forma muito natural, Deus me mostrou que era o tempo certo. Isso só reforça o quanto preciso estar atento aos sinais d’Ele, porque Ele sempre me dá muito mais do que mereço.

O Círio de Nazaré de 2024 parece ter sido um marco importante para você. Qual foi o sentimento ao cantar para milhares de pessoas naquele dia e perceber que sua música poderia ter esse impacto espiritual?
Eu me senti extremamente feliz, mas era uma felicidade que transcendia a que eu já sentia cantando as músicas que sempre cantei. Ali eu percebia que, mais do que entretenimento, com a graça de Deus eu estava ajudando a transformar corações — e dava para sentir isso de uma forma muito especial. Saí do palco na abertura do Círio 2024 convencido de que precisava viver aquilo mais vezes. E dali em diante Deus foi abrindo novos caminhos. Muitas vezes eu nem via o chão, mas, pela fé, eu botava o pé. E assim cheguei até aqui, ao lançamento de Daqui pro Céu.

Você falou que “Daqui pro Céu” mantém o forró como base, mas com letras feitas para rezar, dançar e transformar. Como foi o processo de equilibrar essa identidade nordestina com a mensagem de fé que você quer passar?
Eu busquei seguir 100% o que estava no meu coração, sem me prender a rótulos e sem condicionar o processo criativo. Recebi uma baita ajuda de Henrique Cirino, produtor musical desse projeto, que me ajudava a estruturar as ideias sem esquecer das minhas raízes. Então, ao fechar os arranjos, os elementos que seriam usados, as referências, eu ia cada vez mais em direção à minha história na música e na fé. Por isso esses elementos nordestinos e as letras transbordaram de maneira tão natural. Eu só segui meu coração.

Em 2016, seu testemunho de castidade ganhou repercussão nacional. Como você sente que aquela exposição ajudou a preparar o público para receber agora esse lado ainda mais íntimo da sua trajetória?
Eu não sei exatamente o impacto daquela participação no Encontro com Fátima Bernardes, mas sinto que, desde aquele momento, o público que já me acompanhava — ou passou a me acompanhar depois — entendeu que eu não trato a fé católica como um tema qualquer ou só no discurso. Eu busco seguir, com todas as minhas limitações humanas, entre erros e acertos, o que Deus e a Santa Igreja me pedem. Diante disso, e pelas mensagens que já recebi depois do lançamento de Daqui pro Céu, acredito que esse trabalho não surpreendeu ninguém. Muita gente encarou como um passo natural. Recebi mensagens como: “torcia muito para que esse momento chegasse”, “agora vai cantar o que vive!”, “esperei tanto por esse momento!”. Enfim, isso reforça um pouco desse processo natural que sempre menciono.

Muitas pessoas associam música religiosa a algo solene ou distante. Você acredita que o forró pode aproximar a fé das pessoas e torná-la mais leve e celebrativa?
Acredito no agir de Deus, e a música é uma ferramenta com um poder transformador enorme. As músicas que faço são para ajudar as pessoas a se aproximarem de Deus em contextos menos solenes. Minha intenção é que as pessoas possam ouvir essas mensagens em suas rotinas, em casa, em uma festa, no carro, em uma viagem, que virem trilha da vida delas e, sobretudo, que isso as aproxime de Deus. Então acredito sim que o forró tem esse poder de aproximar a fé das pessoas de uma forma mais simples, mais leve, e Deus tem o poder de agir justamente nessa abertura!

Você contou que recebeu mensagens de pessoas dizendo que suas músicas foram “resposta de oração”. Como é para você lidar com essa responsabilidade de ser um canal para experiências tão profundas na vida de alguém?
Esse é o principal motivo de eu ter demorado tanto a lançar uma música que falasse da minha fé e de Deus. Eu sei da responsabilidade que existe em cantar para Ele, e não quero fazer isso de qualquer jeito, nem com intenções que possam colocar em xeque a minha fé. A música é meu trabalho, mas antes de trabalhar eu preciso me ajoelhar diante d’Aquele que me deu saúde, voz, inteligência, oportunidade, talentos e, sobretudo, a vida. Se eu perder isso, eu perco tudo. Por isso eu peço sabedoria para lidar com tudo o que virá com o lançamento dessas canções, principalmente no âmbito espiritual. Trato tudo com respeito, amor, zelo e submissão a Deus, e peço que eu nunca tire os olhos d’Ele até o último dia da minha vida.
Mesmo com esse novo trabalho, você deixou claro que não está abandonando o forró. Como será equilibrar esses dois repertórios — o popular e o espiritual — nos palcos daqui para frente?
Quero que seja muito natural! Estou abrindo um novo caminho e não sei o que me aguarda lá na frente, mas, ao mesmo tempo, já tenho um trabalho no forró de muitos anos, show montado, equipe, e vou continuar fazendo forró até onde Deus permitir. Por outro lado, esse novo repertório e esse novo show vão me permitir chegar a outros corações. Estou disposto a trabalhar duro para seguir cantando e levando meu testemunho de fé onde o Senhor me mandar.
Por fim, se você pudesse deixar uma mensagem para alguém que hoje está vivendo um momento difícil, assim como você viveu antes de compor essas canções, qual seria a principal lição que “Daqui pro Céu” carrega para quem precisa de esperança?
A vida é mais simples do que pensamos quando temos uma meta: o céu! Que o nosso céu não seja negociado. Que nossos valores, nossa fé, os ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo não sejam negociados por nada desse mundo, porque o mundo passa, mas a nossa alma é eterna. Concluo com a frase de Santa Teresinha do Menino Jesus: “Só temos o curto instante da vida para dá-lo ao Bom Deus.”
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