Entrevista: Casa Maré traz espirito de pai e filho no single “Jardim Mar”

Manguebeat, frevo, MPB, ska, reggae e carimbó se misturam num caldeirão dançante de referências bem brasileiras no som da banda cearense Casa Maré. Após dois EPs, o trio prepara o lançamento de seu primeiro álbum de estúdio, “Solta Teu Grito”, pelo conceituado selo paulistano YB Music. A primeira amostra é a envolvente e delicada “Jardim Mar”, que chega acompanhada de um clipe e está disponível em todas as plataformas de música digital.

A música foi composta pelo vocalista Bruno Biú para seu filho Noah Azul e traz uma poesia sobre a relação dos dois e a rotina simples e bonita dentro de casa. O sentimento intimista da canção trouxe a ideia de aproveitar o distanciamento social para retratar o clima caseiro de uma forma lúdica, como uma memória revisitada.

Além de Biú, a Casa Maré é formada por Rodrigo Ildefonso (baixo) e Eduardo Lopes (guitarra), e surgiu em 2016 de modo despretensioso, como um projeto para tocarem juntos enquanto tomavam cerveja e cachaça na varanda da casa de Biú, na Praia de Iracema. Decididos a registrar as novas músicas e inspirados pelo cenário praiano, o grupo decidiu convidar alguns outros amigos músicos para participarem de uma gravação que viria a ser o seu primeiro EP.

Após o lançamento de dois EPs, o trio de vocês está se preparando para lançar o primeiro álbum de estúdio que será o “Solta Teu Grito”, pela YB Music. Como estão as expectativas de cada um de vocês?

A principal expectativa é de fazer esse trabalho chegar nas pessoas. Mostrar que estamos construindo algo, valorizando nossa bagagem cultural e nossa cidade natal, amadurecendo a cada nova música.

Uma das curiosidades sobre o estilo musical de vocês é a grande variedade de gêneros como o manguebeat, frevo, MPB, ska, reggae e carimbó. Como esses diferentes tipos de música conseguem se juntar em harmonia no trabalho de vocês?

Cada músico que passa pela Casa Maré traz referências bem distintas e cada um deixa um pouco de si. Por se tratar de trabalho autoral, é um processo de troca. A gente se doa pela música e ela retribui. De início a gente não pensa “vamos fazer um carimbó psicodélico”, mas na concepção, cada um doa um pouco da própria bagagem cultural e a música vai ganhando esse formato meio Frankenstein. A gente, junto com o trabalho de produção do Klaus, vai aparando as pontas pra chegar na obra final. Cada música tem um pouco dessa mistura, algumas mais sutis, outras nem tanto, mas o multiculturalismo está sempre presente.

Foto: Divulgação

Sobre as faixas que irão integrar o novo projeto, a primeira que foi divulgada foi “Jardim Mar”, que chegou acompanhada de um novo clipe. Como foi o processo de produção dessa música?

Jardim Mar é uma música que já está no repertório de shows há algum tempo e foi natural ela estar presente no disco. Isso foi importante pra amadurecer os arranjos. Com a produção do Klaus Sena, alguns detalhes foram finalizados para que pudéssemos enfim ter a versão final, que está registrada no disco.

Sabemos que essa primeira canção foi além de uma composição normal, sendo escrita do Bruno para seu filho Noah Azul, se tratando de uma poesia que conta sobre a relação entre vocês dois. Poderia nos contar um pouco mais sobre o surgimento dessa composição, Bruno?

A música foi escrita em uma manhã de sábado, aquele momento em que você consegue pular fora da corrida e dos compromissos da semana e pode olhar para as coisas com mais contemplação, ele brincando na sala, eu na varanda com o violão e observando. Com a pandemia passei pela experiência de ficar, pela primeira vez, longe dele por quase 30 dias e isso me afetou demais. Quando retornamos ao convívio, grudamos como nunca e a masterização do disco estava sendo finalizadas, decisões pro que seria lançado etc. Havia essa necessidade de gerar um material em vídeo e tudo estava muito limitado com pandemia, mas já tinha uma ideia pra música e só adaptei para o momento. Um celular na mão e uma ideia na cabeça. Além, claro, de um filtro descolado do instagram. Combinei com meu ator e minha parceira, Gabriela Ribeiro, e tiramos um domingo juntos gravando e nos divertindo. Pedi para o amigo e editor Hander Paiva montar o que tínhamos até ali e mostrar pra banda. Os meninos gostaram e compraram a ideia. Gravamos as cenas da banda e completamos o material.

Foto: Divulgação

A Casa Maré surgiu em meados de 2016. Como foi que a música começou a os unir profissionalmente e de onde veio o nome da banda? Vocês imaginavam a dimensão do projeto que poderia nascer daquele momento?

Eu e Rodrigo já tínhamos passado alguns bons anos tocando juntos em projetos undergrounds da cidade. A banda de hardcore Kubaikan e um coletivo de ska chamado Radio Ilusión. Após o fim dos projetos, passamos alguns anos apenas nos reunindo para trocar ideia e tomar cerveja, mas a música sempre voltava à pauta. Eduardo já era um amigo próximo, acompanhava nossas bandas, sempre estava presente nessas reuniões. Em uma delas comecei a tocar algumas das minhas composições, coisa que fazia em casa sem pretensão e todos começaram a somar nelas ideias, arranjos.

Decidimos que seria uma boa registrar, gravar aquilo e aí nasceu a Casa Maré. O nome veio por morar e respirar na Praia de Iracema, zona boêmia e cultura de Fortaleza e de uma relação íntima que temos com o mar, com a praia.

O primeiro projeto concluído de vocês foi o “Sinestesia”, que já demonstrou ao público o mix de influências que existe entre o trio. Acreditam que essa mistura seja um dos maiores fatores que fazem do grupo o que ele é hoje?

Acreditamos que o que nos faz o grupo que somos hoje é a despreocupação com rótulos. A gente faz música pra se divertir e divertir o público, seja pra 1 pessoa ouvindo só em casa ou em show em praça pública pra 5 mil pessoas.

Como foi a sensação de terem se apresentado no Festival Maloca Dragão, um dos maiores do nordeste brasileiro?

Maloca Dragão recentemente venceu o prêmio de melhor festival do Brasil, então isso já fala muito. Pra gente, mais importante ainda por ter sido lá nosso primeiro show. É um festival que temos muito carinho e orgulho, tanto como artistas quanto como público.

Em 2017, o EP “Fervura” fez com que vocês conseguissem ficar entre os principais do Pré-Carnaval de Fortaleza e Ciclo Carnavalesco da cidade. O que esse projeto significou para a história da Casa Maré, e como foi trabalhar com o produtor Klaus Sena?

A banda já havia inserido cada vez mais na sonoridade o frevo e outros ritmos que dialogam com o carnaval, com festa, calor. O Fervura abriu essa porta para o Carnaval de Fortaleza, um dos maiores do Brasil, abraçar a banda na sua programação e desde então todo ano é uma das épocas mais intensas e divertidas pra todos nós. Klaus é um amigo antigo, um cara que temos respeito carinho e admiração. Além de ter experiência com artistas que admiramos, sons próximos. Então o trabalho flui fácil e todo mundo se entende nos rumos.

Sobre o projeto atual, “Solta Teu Grito” também foi antecipado com “Saia de Banda” e “Arranha-Céus”, sendo que essa primeira já chegou a receber indicação ao Prêmio da Música Brasileira do ano passado. Como foi concorrer a uma premiação tão importante para o mercado fonográfico brasileiro?

A verdade é que a gente tenta sempre não criar muita expectativa sobre o que fazemos. Apenas tentamos nos sentir realizados com o resultado das composições, das apresentações e com a resposta do público. Se a música chega até alguém, mesmo apenas 1 pessoa e ela mostra carinho, a gente já acha isso fantástico. É o que importa. Então, quando surgem surpresas como essa a gente fica até meio espantando, aquela risada de nervoso, é massa!

Quais são as suas previsões para 2021?

Continuar na divulgação do disco e fazer mais show, mas principalmente compor e produzir mais.

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