Elisa Marques fala sobre abordagem de conceitos do amor moderno em novo livro

Elisa Marques (Wictor Cardoso)
Elisa Marques (Wictor Cardoso)

Em “Minha mão na sua boca e um verso sobre o amor”, a autora Elisa Marques transforma as experiências modernas do romance em poesia, abordando desde a espera por mensagens no celular até a leitura de mapas astrais de futuras parceiras. Com 78 poemas, o livro oferece uma visão contemporânea e íntima sobre um dos temas mais universais da humanidade: o amor.

Dividida em capítulos, a obra percorre as diversas fases de um relacionamento, desde os inícios intensos e felizes em poemas como “meu estilo literário é você” até as frustrações e expectativas não correspondidas em “eu ainda não te escrevi coisas ruins”. Combinando ficção e autobiografia, Marques navega por suas experiências amorosas, capturando a inocência dos primeiros encontros e o crescimento pessoal resultante das desilusões.

Com declarações apaixonadas e referências culturais que vão desde a música de Rita Lee até as composições de Beethoven, Marques cria uma miscelânea rica e variada. A obra também presta homenagem à poetisa Emily Dickinson e sua relação com Susan Gilbert, abordando a profundidade e as ambiguidades das conexões humanas. Complementada por ilustrações de Thales Campos e um prefácio de Luca Brandão, “Minha mão na sua boca e um verso sobre o amor” celebra a intensidade das relações amorosas, especialmente do amor sáfico, com endosso do best-seller Guilherme Pintto.

Como surgiu a ideia de escrever “Minha mão na sua boca e um verso sobre o amor”? Quais foram suas principais inspirações?

Eu tiro da minha vida os poemas que escrevo. Sempre tem uma partezinha de mim neles. Neste livro, há romances inacabados, expectativas frustradas, amores que não vingaram. Há experiências comuns a todos quando se fala sobre amor romântico. Eu queria escrever um livro que desse vontade de ler de novo, páginas para onde o leitor pudesse voltar.

Você mencionou que o livro é uma mistura de ficção e autobiografia. Como você equilibrou esses dois elementos na criação dos poemas?

Uma obra autobiográfica respeita a história que se é contada – eu escrevo a partir daquilo que vivi. Na ficção, a narrativa é imaginária – tudo é criação. Já em uma autoficção, que é a mistura de ficção e autobiografia, o texto vem em primeiro lugar. O poema nasce a partir de uma experiência pessoal, mas ele se constrói daí em diante a partir daquilo que ele me entrega. O poema fala. O equilíbrio desses dois elementos vem justamente de saber qual dos dois ouvir.

A obra é dividida em capítulos que atravessam diferentes fases de um relacionamento. Como foi o processo de selecionar e organizar esses poemas para refletir essa jornada emocional?

Ao fim da escrita de um livro (ou quando eu acho que cheguei ao fim), gosto de ver minha obra impressa, esparramada pelo chão de casa, dividida em pilhas que expressam sentimentos/emoções que sinto ao ler cada poema. A partir daí traduzo em um verso ou dois o que cada compilado representa (entra aqui os títulos de cada capítulo). Todo esse processo me traz um pouco de impaciência, porque sempre parece que quero mudar alguma coisa, trocar um poema de um capítulo para outro, mudar títulos, versos, palavras, às vezes até tentar ser outro tipo de autora rs essas dúvidas fazem parte do processo editorial, então venho aprendendo a lidar com elas.

Você faz referências a figuras como Emily Dickinson e Rita Lee. Como essas influências moldaram a temática e o estilo do seu livro?

Eu escrevo a partir de mim. Do que eu sinto. Logo, tudo que observo influencia de alguma forma na construção da minha escrita. Desde escutar uma música ou assistir a uma série – exemplos da pergunta – até esbarrões na rua e conversas alheias. Citar essas figuras mais conhecidas acabou sendo consequência das trocas que tenho com pessoas e com o mundo ao meu redor.

As ilustrações de Thales Campos complementam sua poesia. Como foi a colaboração com o ilustrador e de que maneira as imagens enriquecem a experiência do leitor?

Sou defensora de livros de poesia ilustrados. Meu livro poderia existir sem imagens, mas não acho que teria a mesma força visual. O trabalho do Thales dá um novo sentido ao meu. As ilustrações viram pontos de segurança no livro. Elas não vêm para reforçar algo já dito, elas vêm para dizer outra coisa que o poema ainda não disse. O leitor, se bom observador e intérprete, ganha uma nova experiência de leitura quando se tem escrita e imagem na mesma obra.

Elisa Marques
Elisa Marques

No prefácio, Luca Brandão e Guilherme Pintto endossam sua obra. O que esses apoios significam para você e como eles impactaram a recepção do livro?

Desde o primeiro livro, um dos meus maiores objetivos era ter minha obra endossada por escritores que admiro, escritores que escrevem obras que me tiram da zona de conforto enquanto autora. Fui muito inspirada pelo Luca e pelo Guilherme. O estilo de escrita deles provocou mudanças no meu trabalho. E, claro, ter dois autores já conhecidos pelo público, me apoiando, com certeza estourou minha bolha e ajudou com que mais leitores conhecessem meu livro.

Você estudou Jornalismo e Psicologia nos Estados Unidos. De que forma esses estudos influenciaram sua escrita e abordagem literária?

Eu cursei jornalismo porque queria ser escritora. Claro que fui descobrir isso só depois, mas foi uma escolha quase que inconsciente. A profissão me ensinou a observar o outro para além daquilo que ele me diz. Prestar atenção continua sendo até hoje minha ferramenta mais importante na escrita. No curso de psicologia, aprendi muito sobre relações. Não apenas com o outro, mas nossa relação com o próprio corpo, os próprios pensamentos e como tudo isso reverbera na troca com alguém. Esse conhecimento trouxe uma sensibilidade maior para a Elisa escritora, quase que uma preocupação fora do comum na escolha das palavras que constroem o poema.

Seu primeiro livro, “Até minha terapeuta sente falta de você”, foi muito bem recebido. Quais lições ou feedbacks desse trabalho anterior você levou para “Minha mão na sua boca e um verso sobre o amor”?

Hoje eu entendo que o trabalho do escritor vai muito além de escrever bons livros. Minha maior dificuldade enquanto autora independente lançando seu primeiro livro foi a divulgação da obra depois que ela foi publicada. Como fazer com que os meus leitores cheguem até mim? Assim que comecei a pensar na produção editorial do segundo livro, esse foi um ponto em que bati muito a cabeça. É um trabalho de formiguinha, demorei a entender isso.

Além da literatura, você também trabalha com cinema como roteirista e diretora. Como essas diferentes formas de arte se complementam em sua vida criativa?

A escrita está em tudo que faço. O meu trabalho no audiovisual surgiu da vontade de escrever para outros formatos que não o livro. Então desde escrever um projeto para uma lei de incentivo, até a entrevista com o protagonista do documentário, passando pela escrita do roteiro e a montagem do filme (que é também uma forma de escrever), tudo envolve a arte da escrita. Eu divido meu tempo entre literatura e cinema, então eu estou diariamente em contato com a escrita. Isso preenche minha vida de formas que eu talvez nem saberia te explicar.

“Minha mão na sua boca e um verso sobre o amor” será adaptado para o audiovisual. O que podemos esperar dessa adaptação e como está sendo o processo de transpor sua poesia para uma nova mídia?

Sempre estive em contato com o cinema por conta do meu trabalho como cineasta, mas este está sendo meu projeto mais difícil e o mais próximo do meu coração. O filme já foi gravado e agora estou no processo de montagem, que envolve tomar decisões sobre quais cenas ficam e quais cenas são descartadas. Depois de ter assistido várias vezes o que foi filmado, digo que os leitores podem esperar uma poesia falada bem diferente do comum. Misturo também ficção e autobiografia no roteiro, com cenas construídas do zero juntamente com declamação de poemas já conhecidos pelo público. É um trabalho que estou tendo muito orgulho de estar fazendo.

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