O professor de artes Jabez Wellington, da cidade de Gaspar, Santa Catarina, transformou a rotina de sua sala de aula em conteúdo viral para as redes sociais. Inspirado pela interatividade e pelas ideias de seus alunos, Wellington integrou humor e tecnologia às suas aulas, conquistando não apenas os estudantes, mas também uma vasta audiência online. Em entrevista, ele discute como a educação adaptada às novas gerações pode ser mais envolvente e eficaz, além de refletir sobre a responsabilidade de ensinar na era digital e a importância da arte na formação integral dos jovens.

Professor Jabez, você atualmente ficou bastante conhecido por meio da produção de conteúdo que tem feito com a ajuda de seus alunos nas redes sociais. Como surgiu a ideia de começar a criar conteúdo para as redes sociais inspirados em seu dia a dia na sala de aula?

É até engraçado, porque a ideia surgiu deles. Eu não fazia ideia de que existiam professores que produziam conteúdo para a internet mostrando a rotina ou fazendo brincadeiras e tornando o ensino mais dinâmico e divertido. Até que um dia alguns alunos pediram para eu fazer uma chamada diferente, que eles pudessem responder outra coisa ao invés de “presente”. Eles me mostraram um vídeo de um professor fazendo a chamada e os alunos respondiam com memes da internet. Eu gostei dessa dinâmica e percebi que os alunos também gostavam, então eu comecei a pesquisar outras ideias para fazer com eles em sala e descobri um universo cheio de professores que produziam conteúdo com seus alunos em sala ou mostrando a rotina como professor. Isso serviu de inspiração para eu também criar conteúdo na escola que trabalho, afinal, eu sempre gostei de gravar vídeos e desse mundo da tecnologia e produção de conteúdo. Foi algo que eu me encontrei, e uma forma de fazer com que os alunos gostassem de estar na sala. Isso me aproximou mais deles.

Nós sabemos que principalmente nos dias de hoje, em alguns casos tem sido bastante difícil que alguns professores consigam lecionar em sala de aula, principalmente com essa nova geração que nasceu nativa na era das novas tecnologias (smartphones). Acredita que essa junção do conhecimento junto ao bom humor tenha conseguido trazer um bom retorno para seu método de ensino?

Com certeza! Desde que eu comecei a lecionar há 10 anos atrás eu sempre tive um pensamento diferente dos professores mais tradicionais e que já estavam há muitos anos nessa profissão. Sempre acreditei que a educação precisa ser transformada e atualizada, pois há centenas de anos que seguimos o mesmo modelo de ensino (pelo menos aqui no Brasil) e isso não faz o menor sentido, visto que toda a sociedade e todo o mundo em que vivemos evoluíram e mudaram completamente. Hoje em dia eu ainda acredito que precisamos de mudança, mas hoje eu acredito que a mudança vai acontecer com cada um de nós professores, fazendo cada um a sua parte, cada um transformando um pouquinho. Dentro das minhas aulas eu busco inserir tudo que faz parte da vida social dos alunos nos conteúdos e temas que trabalho dentro dos conteúdos. Acho que isso ainda é pouco, mas é o que eu consigo fazer de dentro desse sistema que temos (que é ultrapassado). Tudo isso que tenho feito tem trazido os alunos para mais perto. E melhor que isso, tem feito com que enxerguem a minha disciplina (arte) com outros olhos, pois eu apresento para eles como a arte está presente em todos os lugares. Sendo assim, acho que essa junção de conhecimento, com tecnologia, humor, dinâmica, diversão e proximidade, tem sim trazido excelentes resultados. E é incrível receber o feedback dos alunos dizendo o quanto gostam das minhas aulas, o quanto admiram a forma com que trabalho, e inclusive, esses feedbacks também vem dos pais e familiares. Isso é incrível.

Uma preocupação que tem crescido bastante na era das redes sociais é a questão da privacidade de crianças e adolescentes na internet. Qual é a sua opinião em relação à essas questões e como geralmente surgem as ideias das gravações junto aos alunos?

Eu acredito que essa preocupação precisa sim existir, afinal não podemos deixar as crianças e adolescentes à mercê da avalanche de informações que temos em toda rede virtual. Porém, o ideal a se fazer, acredito que seja educar e ensinar a terem responsabilidade em tudo que fazem, principalmente na internet. Não dá para proibirmos as crianças e adolescentes de terem contato com essas tecnologias, pois eles nasceram imersos em um mundo tecnológico, e vejo que existe muitas possibilidades para eles nesse mundo, então temos que prepará-los para o futuro em que eles saibam lidar com essas ferramentas com responsabilidade.

Os vídeos que gravo com eles, as vezes parte deles mesmos as ideias, e em outros momentos eu vejo algum vídeo na internet e uso como inspiração para gravar os meus conteúdo. Atualmente eu tenho tentado inserir nos vídeos assuntos mais profundos e que envolvem questões emocionais e significativas para eles, mesmo que de forma sutil. Esses vídeos eu geralmente demoro algum tempo para pensar e elaborar os temas, antes de gravar em sala.

Existe um dito que fala que a relação de aluno e professor é sempre mútua, ou seja, o bom professor é aquele que não só ensina aos seus alunos, porém, também acaba aprendendo com eles. No seu caso, qual acredita ter sido o maior ensinamento que adquiriu com seus alunos e o que você espera deles no futuro?

Sem dúvida, o maior ensinamento que tive nessa relação com meus alunos é que todo ser humano precisa ser ouvido. A gente passa por muita coisa nos nossos dias e na nossa vida, mas não costumamos falar sobre isso, assim como também não temos o hábito de parar para ouvir o próximo. Com as crianças e adolescentes não é diferente. Eles também passam por muita coisa nas suas vidas e dentro de si próprios. Aprendi com eles que é importante falar, e é importante ouvir. Nesses anos que estou em sala de aula já ouvi muitas histórias dos meus alunos, muitas dessas histórias me chocavam, e vinham de alunos que eu jamais imaginaria que estivesse passando por aquela situação. Com o tempo você percebe que o que eles querem é ser ouvidos, mesmo que a gente não fale nada, eles querem falar, querem alguém para ouvir, e no final, um abraço significa muito mais do que qualquer palavra. Todo ser humano precisa ser ouvido, não importa a faixa etária.

Não sei ao certo o que virá no futuro ou o que esperar de cada aluno individualmente, pois tudo vai depender das escolhas que fizer todos os dias. Porém, o que eu espero, profundamente, é que tenham sucesso e alcancem lugares inimagináveis, pois eu sei que capacidade para isso todos eles têm. Desejo que corram incansavelmente para realizarem os maiores sonhos que um dia eles ousaram ter. E claro, desejo que nunca esqueçam de mim, pois espero marcá-los positivamente em uma parte da história da vida deles.

Além do sucesso na sala de aula, o seu trabalho acabou se expandindo, inclusive com você participando do TikTok Awards no ano passado. Na época, você já esperava que o seu conteúdo fosse alcançar tantas pessoas?

Eu sempre sonhei em produzir conteúdo para a internet, mas nunca imaginei que seria com conteúdo junto com meus alunos em sala de aula, pois eu nem sabia que existia essa possibilidade. Também não imaginava que seria tão rápido como foi, em 10 meses eu criei uma rede de pessoas que gostam do que eu faço e que interagem, comentam e se identificam. Isso tudo me levou até o Tiktok Awards em São Paulo, que fui em dezembro para assistir, mas ainda sonho com o dia que estarei lá como indicado de alguma categoria. No começo eu não tinha grandes expectativas para tudo isso, mas hoje eu tenho grandes sonhos e muitos objetivos nessa área da minha vida. É incrível ver algo que você faz chegar para tantas pessoas e receber mensagens e comentários de pessoas que você nem conhece, falando o quanto gostam dos vídeos e o quanto admiram o meu trabalho e a forma que me conecto com meus alunos.

Da mesma forma que existem vários tipos de alunos, também existem vários tipos de professores, seja aqueles mais tradicionais ou aqueles, como você, que buscam criar um ambiente mais lúdico e descontraído para conseguir passar os ensinamentos. Na sua opinião, como professor, existe uma forma certa de se lecionar, ou isso varia de cada situação?

Penso que não exista uma única forma correta de ensinar e de ser professor, mas penso que cada professor deve buscar evoluir e inovar sempre em seus métodos, sempre tentando alcançar o maior número de estudantes. É necessário que haja professores diferentes, pois os alunos são diferentes. Ninguém aprende da mesma forma que o outro, então é preciso ter professores que ensinem de formas diferentes, mas sempre buscando inovar e se reinventar como educador.

Pelo que podemos observar em seus vídeos, você e seus alunos têm um carinho e uma amizade muito grande. Porém, de toda forma, você como professor acaba sendo uma figura de maior autoridade e que na sua função buscar ensiná-los. Como é a responsabilidade de saber que está fazendo parte da construção de uma nova geração de futuros adultos? Na sua opinião a educação pode mudar vidas, tanto no pessoal como no lado profissional?

Eu gosto de manter essa relação de amizade com meus alunos, pois assim eles têm abertura para conversar comigo sobre qualquer situação, sabendo que eu estou ali para ajudá-los no que for necessário e no que estiver ao meu alcance. Além disso, acredito que a sala de aula é um ambiente que vai além de conteúdos pré-estabelecidos que precisam ser explicados para os alunos. Quando você ensina com amor e através de um ambiente divertido, as memórias estabelecidas nesse ambiente serão marcantes para a vida futura de cada estudante. O conhecimento científico é importante, assim como todos os conteúdos trabalhados em sala de aula, mas o “ensinar” vai muito mais além. A gente não forma um cidadão explicando para ele sobre fórmulas matemáticas ou sobre artistas conhecidos de períodos passados. Isso é importante pois serve de base para entendermos o mundo em que vivemos e nos preparar para as possibilidades profissionais que teremos no futuro. O fato de eu brincar com meus alunos em sala, não significa que eu não ensine os conteúdos que preciso ensinar, mas significa que muitas vezes eles estão aprendendo algo de uma forma diferente e mais divertida. Assim, o processo de ensino se torna mais leve e inspirador. E isso sim, transforma vidas! É incrível poder ver a evolução de um aluno através da educação escolar. Poder acompanhar as mudanças tanto nos processos educacionais e de aprendizado, quanto em aspectos sociais e pessoais. A educação pode mudar e transformar a vida de todos aqueles que se dispõem a parar, ouvir, ler, pesquisar e tentar compreender o que não se sabe. E é incrível saber que faço parte de um grande grupo de professores que tentam mudar esse sistema e que enxergam um potencial imenso nas nossas crianças e adolescentes.

O que é educar para você e como avalia a importância do conhecimento da sua disciplina – arte – para as pessoas?

Para mim educar é mostrar os caminhos. Acredito que o papel dos professores deve ser mostrar todas as possibilidades, todos os caminhos e todas as formas de caminhar. A educação escolar é um processo em que entregamos um mapa nas mãos de cada aluno e vamos ensiná-los a decifrar esse mapa e cada disciplina irá entregar ferramentas para passar pelos obstáculos nos caminhos que irão percorrer. Na minha disciplina não é diferente. Dentro da arte eu preciso ensinar para meus alunos que no caminho que eles forem percorrer eles deverão olhar ao redor e encontrar beleza nessa jornada.

Gosto da ideia de enxergar a arte como um óculos, que a gente coloca pra enxergar tudo que nos cerca e que torna nossa jornada mais bonita, mais profunda e mais leve. Afinal, na nossa vida muitas vezes não percebemos toda a arte que nos cerca, seja um quadro numa parede, ou o jardim de uma casa no trajeto para o trabalho, ou até mesmo a trilha sonora de um filme que nos emociona, ou ainda o nosso reflexo ao se olhar no espelho. O mundo é cheio de arte, mas a gente não se dá conta. E é isso que tento mostrar para os meus alunos, que a arte é algo fundamental e está presente em todo lugar.

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