Dra. Ingrid Tavares Izzo tira dúvida sobre congelamento de óvulos e fala de detalhes do procedimento

Luca Moreira
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Dra. Ingrid Tavares Izzo
Dra. Ingrid Tavares Izzo

Com o aumento da idade média das mulheres no momento da gravidez, o congelamento de óvulos tem se tornado uma opção cada vez mais popular. Dra. Ingrid Tavares Izzo, especialista em Reprodução Assistida do Vida e Gerar Vida, unidades do FERTGROUP, esclarece dúvidas e discute detalhes desse procedimento que tem sido procurado por muitas mulheres brasileiras.

Como funciona o processo de congelamento de óvulos para alguém que está iniciando esse procedimento, como você mencionou nas redes sociais?

Primeiramente, é fundamental uma consulta médica com investigação prévia sobre a fertilidade, avaliação dela seguido de esclarecimentos dos prós e contras individualmente a cada paciente, para então estar decidida a congelar óvulos. Decisão tomada, a paciente inicia um estímulo hormonal aos ovários, com injeções hormonais diariamente, associadas ou não a medicações orais, com objetivo de estimular os folículos inicialmente recrutados pelos ovários a crescerem e se tornarem dominantes. Essas informações são dadas pelo controle ultrassonográfico durante esse primeiro momento.

Com uma maioria de folículos dominantes, estimados pela ultrassonografia, que pode durar em média 11 dias de injeções subcutâneas, a punção ovariana é realizada sempre sob anestesia. No dia em que é realizado o procedimento sabemos de fato quantos óvulos conseguimos estimular e coletar. Os óvulos são avaliados quanto a sua maturidade, e os maduros são então congelados.

Você explicou que no processo de congelamento de óvulos são realizadas etapas como tomar vitaminas, fazer exames e colher os óvulos. Pode compartilhar mais sobre como essas etapas são conduzidas para garantir o sucesso do tratamento?

Quando o congelamento de óvulos possa ser uma opção, a primeira etapa seria uma consulta com especialista em reprodução assistida para avaliação quanto a fertilidade, a partir de exames de sangue como hormônio anti-mulleriano e dosagens hormonais, incluindo avaliações quanto a doenças pré-existentes.

Vale lembrar que é importante estar com a rotina ginecológica em dia, a fim de excluir doenças que precisam ser tratadas antes de iniciar o congelamento de óvulos. A partir disso temos uma segunda etapa, que inclui suplementos vitamínicos, e ou medicações que sejam necessárias, a fim de ajustes metabólicos ou hormonais, e ainda restrições a álcool ou tabagismo, na tentativa de ações antioxidantes, para uma melhor qualidade aos óvulos coletados. Isso porque estresses oxidativos podem comprometer de alguma forma, mesmo que minimamente, a qualidade dos óvulos, pois sabemos que o fator qualitativo impactante é a idade da mulher que está realizando o congelamento.

Após conhecer todo o passo a passo, as possíveis intercorrências, vantagens e expectativas ao tratamento, inicia-se a terceira e última etapa. Nos primeiros dias do ciclo menstrual, é realizada a primeira ultrassonografia com contagem de folículos antrais, aqueles recrutados no início do ciclo menstrual pelo ovário e avaliação quanto a ausência de cistos ovarianos, com objetivo de um melhor ciclo a ser estimulado na tentativa da melhor coleta de óvulos dentro da expectativa de cada paciente.

No procedimento que você mencionou, que envolve a indução da ovulação e a coleta dos óvulos, como é conduzido o armazenamento em nitrogênio líquido para garantir os melhores resultados?

Após o estímulo ovariano com injeções hormonais subcutâneas, os folículos ovarianos crescem, amadurecem e na aspiração deles com uma agulha via vaginal guiado por ultrassom, sob anestesia, podemos coletar os óvulos que momentos antes da ovulação sofrem um processo de maturação. Esses óvulos, que passaram por uma sequência correta de eventos intrafoliculares, são chamados de maduros e serão submetidos a criopreservação, pela técnica hoje mais utilizada que chamamos de vitrificação.

A vitrificação é uma forma de congelamento ultrarrápido, no qual os óvulos são “desidratados” em meio a substâncias crioprotetoras para então serem congelados e armazenados em uma haste, rigorosamente identificada e de fácil rastreabilidade em nitrogênio líquido a 196 graus celsius negativos em tanques, mais uma vez rigorosamente checados e identificados.

Em relação ao timing, você recomendou que o tratamento seja realizado idealmente até os 35 anos. Como você orientaria alguém que está considerando o congelamento de óvulos em relação à sua idade atual?

Idealmente, o congelamento de óvulos deve ser realizado anteriormente aos 35 anos. Isso porque, sabemos que a partir desta idade, a mulher vai diminuindo a sua fertilidade, ou seja, perdendo seu potencial quantitativo de produzir óvulos e piorando drasticamente a qualidade deles. Esse relógio biológico acaba impondo um momento para a maternidade que não corresponde ao momento ideal de muitas mulheres.

A dedicação profissional, estabilidade financeira, ou outros projetos fazem com que o assunto maternidade esteja cada vez mais postergado e até mesmo duvidoso em alguns casos. Por isso, o recomendado é fazer o quanto antes.  Quanto mais jovem o óvulo é congelado, maiores são as chances de ocorrer a gestação quando a paciente decidir ter filhos.

O levantamento do IBGE mostra um aumento significativo na idade das mulheres que engravidam no Brasil. Como você orientaria alguém que está considerando adiar a maternidade para uma idade mais avançada?

A mulher que pensa em adiar a maternidade ou até mesmo aquelas com dúvidas em ter ou não filhos, devem realizar uma consulta com seu médico ginecologista ou um especialista em reprodução assistida, para avaliar a fertilidade, inclusive avaliação da reserva ovariana e esclarecer quais as chances, riscos, fatores de infertilidade, correlacionando a idade versus seu potencial reprodutivo. O importante é decidir postergar ou não ter filhos após informações claras e suficientes para uma decisão consciente.

Você mencionou que as brasileiras têm procurado tratamentos de fertilidade por volta dos 37 anos. Como você sugere que essas mulheres planejem sua fertilidade e tomem decisões informadas sobre o momento certo para buscar tratamento?

Como a média de idade em que as mulheres procuram os tratamentos de fertilidade é 37 anos, a melhor forma de planejar e tomar decisões é sempre consultar com um médico especialista para que ele possa investigar de forma direcionada, avaliar, orientar e contribuir para que as melhores decisões, sempre em conjunto com os pacientes, sejam traçadas ou iniciadas.

Destacou-se a importância de um acompanhamento da fertilidade no check-up da mulher antes dos 30 anos. Como você incentivaria alguém a buscar informações sobre suas opções de fertilidade em uma idade mais jovem?

Cada vez mais estamos cientes que a mulher tem seu relógio biológico e que a vida profissional e as prioridades femininas têm colocado as decisões quanto a maternidade cada vez mais tarde. Por isso, o conhecimento e informações sobre sua fertilidade quando chamamos de idade reprodutiva contribui para que mudanças de planos possam ser feitas. Ter a possibilidade de planejar, pensar em estratégias, pode fazer toda a diferença. Ter as informações no que diz respeito a fertilidade evitar que oportunidades sejam perdidas. A frase mais rotineira que ainda escutamos na consulta é: “porque não pediram essas avaliações antes”, “se eu soubesse teria congelado meus óvulos mais cedo ou tentado engravidar mais cedo “.

Dentro do planejamento familiar, enfatiza-se a importância de um olhar que englobe a organização financeira. Como você aconselharia alguém a considerar os aspectos financeiros ao planejar o congelamento de óvulos?

O congelamento de óvulos ainda custa caro e sabemos que apenas uma minoria na realidade brasileira conseguiria arcar com os custos do tratamento. A prova disso é que, recentemente, aparecem notícias como: “Fertilização ‘in vitro’ e congelamento de óvulos passam a ser oferecidos como benefícios por empresas multinacionais onde os tratamentos podem ser até 100% custeados”. Por conta disso, essa decisão precisa ser planejada também financeiramente.

Quanto mais cedo adquirir informações sobre o tratamento, sobre os custos, sobre o custo-benefício individual de cada mulher, mais fácil fica programar e decidir quanto ao congelamento. Dessa forma, é possível evitar atitudes emergenciais e desprevenidas que possam ser prejudiciais e drásticas à saúde financeira da paciente.

Vale lembrar sempre que o congelamento não garante que a gestação venha no momento tão desejado, mas sim pode aumentar as chances para que a maternidade aconteça no momento que ela considere propício, caso não consiga de forma natural. Por isso, conversar sobre essas chances versus o custo do tratamento, versus o planejamento financeiro são cruciais na tomada de decisão quanto à realização ou não do congelamento.

Não podemos esquecer que o investimento é alto, ele pode trazer a chance de um bebê onde a chance real seria muito baixa. Importante ressaltar que mesmo após a coleta e congelamento, há casos em que é necessário realizar dois ou mais ciclos de estímulo para uma quantidade de óvulos que possa valer a pena no futuro.

A pesquisa da WIN mostrou que relacionamentos, estilo de vida e questões financeiras foram os principais precursores para a decisão de adiar a maternidade para após os 35 anos de idade. Como você ajudaria alguém a tomar uma decisão informada sobre o congelamento de óvulos, levando em conta esses fatores?

É sempre importante esclarecer as vantagens e desvantagens de um tratamento proposto. O congelamento de óvulos, indicado por desejo de adiar a maternidade, não se exime disso. Uma maneira fácil de entender e que ajuda muito na decisão, é pontuar as chances de uma gestação na mulher antes dos 40 anos comparado às chances de uma mulher com 40 anos ou mais. A disparidade é enorme, chegando a menos de 5% utilizando a técnica de fertilização in vitro aos 42 anos.

O congelamento do óvulo oferece a chance de gestação da idade em que ele foi congelado e essa chance é por tempo indeterminado. A paciente tentaria, com idade mais avançada, engravidar com óvulos mais jovens e, portanto, com maior qualidade oferecendo mais chance à gestação. E o melhor: ela não acelera a perda do estoque de óvulos com o congelamento. Em todo o ciclo feminino que os folículos ovarianos são recrutados, um único amadurece e o restante é sempre perdido, por isso perde-se o quantitativo ao longo da vida. No momento do estímulo para o congelamento, naquele ciclo, os folículos já recrutados pelo ovário serão estimulados e o que se tenta fazer é estimular aqueles que já seriam desperdiçados num ciclo espontâneo. Por isso não interfere na perda natural do estoque ovariano. Logo, nunca podemos mais uma vez esquecer que o tratamento não garante a gestação, mas uma ótima oportunidade de aumentar a chance da maternidade no melhor momento decidido pela paciente, caso ela decida ter um filho.

Por fim, considerando suas experiências até agora e as informações fornecidas, quais conselhos você daria para alguém que está considerando o congelamento de óvulos como uma opção para o futuro?

O conselho seria informação o quanto antes. Buscar informações com especialistas na área, conversar com pacientes que já passaram pelo momento de decisão e escolheram o congelamento. Vantagens, desvantagens, a partir de uma boa avaliação da fertilidade. Avaliação essa que pode ser até mesmo do casal que pensa também postergar a maternidade. Importante conhecer a fertilidade da mulher ou do casal, para que o planejamento ou adiamento da gestação seja fundamentado, discutido e analisado, mesmo que após os exames e avaliação médica a conclusão seja que a oportunidade já passou e que não exista mais uma relação custo-benefício vantajosa. O importante é tentar não perder a oportunidade de autonomia sobre um projeto de vida.

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