A veterinária chefe do Sea World & Paradise Country, Dra. Claire Madden, aborda os desafios diários da conservação marinha, destacando o impacto das ações humanas nos oceanos. Entre os maiores problemas enfrentados estão os detritos marinhos, como plásticos e equipamentos de pesca descartados, que afetam gravemente espécies como tartarugas, golfinhos e baleias. Madden enfatiza a importância de iniciativas de educação e resgate, além de projetos de conservação para mitigar os efeitos da poluição e da pesca excessiva nos ecossistemas marinhos.
Quais são os maiores desafios que você enfrenta no Sea World & Paradise Country em relação à conservação da vida selvagem marinha, considerando os impactos das ações humanas?
Fora doenças naturais e problemas de saúde das espécies, os detritos marinhos (como equipamentos de pesca, plásticos e resíduos descartados) são um dos maiores desafios que os animais marinhos enfrentam atualmente. No Sea World, recebemos muitas aves marinhas e tartarugas marinhas para tratamento devido ao emaranhamento em linhas de pesca e ingestão de resíduos. Além disso, vemos mamíferos marinhos maiores, como golfinhos e baleias, ficando presos em equipamentos de pesca comercial. Além dos detritos marinhos, também observamos um aumento nas interações entre humanos e animais, como ferimentos causados por colisões com barcos em tartarugas, golfinhos e peixes-boi.
Na sua opinião, quais são os principais fatores humanos que atualmente contribuem para a degradação dos ecossistemas marinhos?
Como mencionado acima, os principais fatores humanos são os detritos marinhos, que impactam o ambiente marinho. Com o crescimento da população humana e mais pessoas tendo acesso aos ambientes marinhos, infelizmente, também veremos um aumento nas interações negativas entre humanos e animais.
Como a poluição, especialmente o descarte de plásticos e outros resíduos, afeta a saúde dos animais marinhos com os quais você trabalha diariamente?
No ano passado, realizamos mais de 400 resgates individuais de animais marinhos, muitos dos quais foram devido a detritos marinhos. Infelizmente, com muita frequência, somos obrigados a resgatar animais marinhos que são afetados por esses detritos, seja por tartarugas ingerindo plásticos, aves marinhas emaranhadas em linhas de pesca descartadas ou baleias-jubarte ficando presas em equipamentos de pesca durante suas migrações anuais. Embora façamos o nosso melhor para reabilitar e devolver os animais, em muitos casos, infelizmente, alguns animais não sobrevivem aos impactos causados pelos detritos marinhos.
A pesca excessiva e a destruição de habitats naturais têm consequências diretas sobre a vida marinha. Como essas atividades impactam a biodiversidade oceânica?
Precisamos garantir que nossos ambientes marinhos permaneçam saudáveis e possam sustentar as muitas criaturas maravilhosas que vivem neles. A perda de habitat é motivo de preocupação por vários motivos. Por exemplo, vimos de perto os impactos do branqueamento de corais, causado pelas mudanças climáticas, em nossos sistemas de recifes, com perda de espécies. A pesca excessiva leva a um desequilíbrio no ambiente marinho e pode alterar severamente os ecossistemas marinhos, deixando algumas espécies à beira da fome e do risco de extinção.
Em termos de conservação, quais iniciativas ou projetos o Sea World & Paradise Country estão liderando para combater os efeitos negativos das ações humanas nos oceanos?
No Sea World e Paradise Country, como membros da indústria de zoológicos e aquários, desempenhamos um papel fundamental na conservação de animais, recuperação de espécies ameaçadas e programas de reprodução. Através da Fundação Sea World, trabalhamos com três pilares principais para ajudar nossos ambientes marinhos:
Resgate: Temos uma equipe experiente e dedicada que está de plantão o ano todo para ajudar quando um animal precisa de assistência. Nossa equipe realiza operações de resgate em muitos animais marinhos, e você pode ver algumas das operações recentes aqui: https://seaworld.com.au/foundation/rescue.
Pesquisa: Trabalhamos de perto com instalações zoológicas, agências governamentais, universidades e organizações afins para promover mudanças que beneficiarão o ambiente marinho. Através dessas parcerias, realizamos e apoiamos projetos de pesquisa sobre a vida selvagem marinha, saúde animal, ecologia e doenças. Algumas viagens de pesquisa recentes nas quais participamos incluem:
- Avaliações anuais de saúde dos peixes-boi com a Universidade de Queensland.
- Estudos sobre baleias-jubarte com a Universidade Griffith.
- Pesquisa sobre o tubarão-enfermeiro com o governo de Queensland.
- Pesquisa sobre algas douradas com a Universidade de Sunshine Coast.
Conservação: Realizamos atividades de conservação, como a nossa limpeza anual do oceano no Gold Coast Seaway, onde este ano 279 voluntários em terra e mergulho removeram quase 250 kg de detritos marinhos da área.
Mais informações sobre essas atividades podem ser encontradas aqui: https://seaworld.com.au/foundation.
Você poderia compartilhar um caso específico de resgate ou reabilitação de um animal que foi gravemente afetado pela poluição ou outra intervenção humana?
Tivemos muitos casos em que estivemos envolvidas em resgates de animais devido a detritos marinhos, mas um que se destaca foi do ano passado, quando ajudamos um golfinho nariz-de-garrafa que estava fortemente emaranhado em uma linha de pesca na região de Moreton Bay. Esta foi uma das maiores operações de resgate em tempos recentes e, felizmente, teve um final feliz. O jovem golfinho foi relatado pela comunidade local com um grande emaranhado de linha de pesca preso à sua nadadeira dorsal e cauda. Em conjunto com a equipe de Parques e Vida Selvagem de Queensland, uma operação de resgate envolvendo 27 funcionários especializados e sete embarcações foi montada para salvar o golfinho. Nossa equipe conseguiu remover o emaranhado da nadadeira dorsal e cauda no local, mas uma inspeção mais detalhada identificou danos graves e consultamos especialistas internacionais para trazer o golfinho de volta ao Sea World e realizar a cirurgia para remover uma parte da nadadeira dorsal, minimizando o risco de reemaranhamento no futuro. Após um período de reabilitação, o golfinho foi devolvido com sucesso à região de Moreton Bay pouco mais de um mês após o resgate inicial. Sem intervenção, esse golfinho teria sucumbido ao emaranhado e morrido de forma lenta e dolorosa. Estamos incentivando as pessoas a serem mais responsáveis na forma como interagem com o meio ambiente – descartem os equipamentos de pesca corretamente, nunca alimentem a vida selvagem, incluindo golfinhos, e sigam a regra “Go Slow for those Below”. Encorajadoramente, devido à nadadeira dorsal identificável, em recentes viagens de pesquisa a Moreton Bay, vimos novamente o golfinho.
Como a educação ambiental pode desempenhar um papel na redução dos impactos humanos nos oceanos e na vida selvagem, e o que o Sea World faz para promover essa conscientização?
A educação desempenha um papel vital na redução dos impactos humanos no ambiente marinho. Através de esforços de conservação e educação, o Sea World e a Fundação Sea World estão criando uma maior conscientização pública sobre as questões marinhas e, através do aumento do conhecimento científico, ajudando a entender melhor como podemos preservar o ambiente marinho e coabitar com a incrível vida selvagem que chama esse ambiente de lar.
No Sea World, recentemente fizemos uma parceria com o Containers for Change e incluímos mensagens e sinalização em nossa apresentação Seal Guardians para educar nossos convidados não apenas sobre a importância de reduzir, reutilizar e reciclar, mas também sobre mudanças reais que eles podem implementar em suas vidas para ajudar os ambientes marinhos.
Olhando para o futuro, que ações imediatas você acredita que devem ser tomadas, tanto pelos governos quanto pelos indivíduos, para proteger melhor os ecossistemas marinhos e suas espécies?
Como mencionado ao longo desta conversa, um dos maiores problemas atualmente são os detritos marinhos, e estamos incentivando todos os níveis de governo e indivíduos a fazerem sua parte para ajudar a reduzir esses impactos. É maravilhoso ver a comunidade se tornando tão apaixonada pela conservação marinha, e há muitas coisas que as pessoas podem fazer em seu dia a dia, tão simples quanto “Levar 3 para o Mar” quando caminham, recolhendo lixo. Também existem muitos projetos maravilhosos de ciência cidadã nos quais elas podem participar para continuar seus esforços.
Acompanhe Dra. Claire Madden no Instagram
