Nádia Figueiredo, natural de Belo Horizonte (MG), traçou um caminho singular na música, mesclando-o com passagens pela moda e o teatro, refletindo uma trajetória marcada por paixão, desafios e determinação. Sua jornada artística começou cedo, aos nove anos, inspirada pelo violão de sua avó, e logo se destacou no Festival Escolar de Música e Poesia (FEMP), ganhando prêmios com suas composições originais. Aos 15 anos, adentrou o mundo da moda, uma fase de aprendizado e resiliência que a levou de sua cidade natal para as passarelas de São Paulo.

Após uma pausa de 12 anos da música para se dedicar à família e à carreira como modelo, Nádia reacendeu sua paixão pela música no Rio de Janeiro, explorando novas vertentes artísticas e mergulhando no teatro musical. Descobriu sua verdadeira paixão pelas músicas líricas, sacras e barrocas, conquistando um público fiel e enfrentando preconceitos contra esse estilo no Brasil. A pandemia trouxe desafios inesperados, mas Nádia canalizou sua força na conclusão e lançamento de seu livro “E por falar em voz”, compartilhando conhecimentos valiosos sobre técnica vocal.

Fora dos palcos, Nádia é uma mulher apaixonada pela família, natureza e seus animais de estimação, refletindo um compromisso com um mundo mais sustentável. Atualmente, ela se aventura pelas sonoridades da Bossa Nova e do Jazz, reafirmando seu compromisso com a autenticidade e inovação em sua multifacetada carreira artística.

Como foi sua jornada na música desde os primeiros passos aos nove anos até sua imersão nos ritmos da Bossa Nova e do Jazz?

Aos 10 anos eu tive um professor de violão extremamente eclético, aprendi desde pop, sertanejo, rock, até samba, guarânia e baião. Uma verdadeira escola para os ouvidos de uma criança, aos 14 anos mudei de professor e fui estudar com um professor de violão clássico do conservatório de música de Belo Horizonte.

Como a carreira de modelo contribuiu para sua formação pessoal e profissional, especialmente diante dos desafios enfrentados?

Eu tive muita resistência do meu pai quando me apaixonei pelo universo da moda aos 15 anos, fiz meu primeiro book contra vontade dele, aquilo ficou na minha cabeça e a vontade foi aumentando cada vez mais. Fui percebendo que tinha essa característica desde nova, eu não desistia dos meus sonhos, por mais difícil que fosse, sempre fui obstinada, eu tive muitos obstáculos, e só comecei a trabalhar com moda profissionalmente com 21 anos, depois de ter sido mãe. O amadurecimento que tenho hoje foi a vida quem me deu, nenhuma escola jamais me daria.

O que a levou a se afastar da música por 12 anos e o que a motivou a retornar a esse universo?

Eu já trabalhava como modelo em BH e uma agência de São Paulo chamada Next Models fez um casting na minha agência e convidou algumas modelos para trabalhar, eu fui seguir meu sonho e me afastei da música. Com 25 anos casei e vim morar no Rio de Janeiro, continuava a trabalhar como modelo e tinha acabado de me formar na faculdade de artes cênicas, na época minha agência do Rio também trabalhava com atores, um dia me perguntaram se eu queria fazer aula de canto, estavam com uma parceria com um professor, resolvi começar as aulas e me apaixonei.

Nádia Figueiredo
Nádia Figueiredo

Qual foi o papel do Rio de Janeiro e da parceria com um professor de canto em seu redescobrimento e interesse pelo teatro musical?

Quando me formei em artes cênicas meu foco era ser atriz, porém, nunca me achei boa o suficiente, via algumas colegas atuando e ficava fascinada. Além da faculdade de artes cênicas, também fiz vários cursos voltados para TV e Cinema na escola do Antônio Amâncio agente de alguns atores bem conhecidos. Decorar textos grandes era um martírio, entendi que eu poderia atuar de outra maneira, não queria mais insistir naquilo e tive a ideia de atuar como atriz de musicais.

Comecei a estudar com o professor de canto que a agência do Rio me apresentou, e ele intercalava as aulas com músicas da broadway, árias de ópera e músicas sacras. Eu simplesmente me apaixonei pelo canto lírico, eu gostava da complexidade do canto, sempre fui extremamente curiosa, aquilo era incrível, eu disse ao professor que não queria mais músicas da Broadway, não queria ser atriz de musicais, queria apenas cantar músicas liricas, de preferência árias em italiano. Eu estudei anos seguidos, toda semana, já cheguei a fazer 4 horas de canto direto sem parar, os professores ficavam enlouquecidos, eu parecia uma locomotiva apitando.

Como você enfrentou o preconceito contra o estilo lírico de música no Brasil e construiu um público fiel?

Eu enfrento preconceito até hoje, em geral o pensamento das pessoas é que esse tipo de música é ultrapassada, brega, estranha, acho que é um misto de sentimentos. Mas eu não ligo, gostaria que pelo menos uma vez na vida as pessoas tivessem a sensação que eu tenho quando canto uma nota sustentada no agudo, é uma sem mágica.

Sobre o público, eu fui levando várias pessoas ao teatro, pessoas que nunca tiveram oportunidade de assistir um show com um misto de voz lírica e popular, levei minha funcionária que trabalha aqui em casa há mais de 10 anos, depois quis voltar e levar as amigas, levei minha faxineira, minha cabeleireira, minha personal trainer, até o tosador dos meu cachorros eu arrestei para o teatro.

Como a pandemia afetou sua trajetória musical, especialmente após a perda de seu pai para a COVID-19?

Na pandemia fiz algumas lives em casa cantando. Todos os teatros fechados, muitos amigos do universo musical passando necessidades. Eu estava conseguindo aos poucos levar as pessoas ao teatro e essas mesmas pessoas voltavam e levavam mais gente, não existe nada mais gratificante do que isso. Mas quando a pandemia veio, tudo desmoronou. Durante o confinamento, comecei a escrever meu livro e logo na introdução deste, meu pai faleceu de Covid, fiquei sem chão, ele era meu maior fã, sempre me incentivava, opinava sobre minhas performances na música, desde pequena quando eu tocava violão pra ele, lembro dele falando: -Precisa “treinar” mais. Mas eu escrevi o livro de luto e entreguei no prazo, sou muito grata a equipe da Funarte que me apoio muito neste momento difícil, porque eu cheguei a falar que ia desistir.

Nádia Figueiredo
Nádia Figueiredo

Pode nos contar mais sobre seu livro “E por falar em voz” e o que motivou você a compartilhar seus conhecimentos e experiências na área vocal?

Nunca dei aula de canto, não sou professora, mas além de ter estudado canto com professores renomados, fiz curso de teatro musical na Cal escola de teatro do Rio de Janeiro, estudei canto com um excelente maestro em Roma, Itália e fiz vários masterclass de canto com professores e fonoaudiólogos. Eu tive uma fenda vocal estudando com um professor que exigia muito dos meus agudos, depois disso tive que fazer alguns meses de fonoaudiologia, a fenda fechou e eu descobri a importância do fonoaudiólogo no canto. Nunca encontrei um livro resumido que abordasse vários temas relacionados a voz, a saúde vocal e ao canto com uma linguagem fácil, como conheço desde maestros, professores de canto, produtores musicais, cantores, músicos até médicos especialistas em voz artística e fonoaudiólogos, eu tinha certeza que poderia contribuir, contando minhas experiências, e falando de temas importantes com ajuda de vários profissionais da área.

Além da música, quais são suas outras paixões e como elas influenciam sua vida e carreira?

Estar na natureza me fascina, é uma válvula de escape desse mundo doido, meus cachorros me fazem feliz, me acalmam, tenho 3, amo música boa, adoro ler, adoro flores e amo cores, meu guarda roupa tem várias cores de roupas, as cores me encantam, mês passado pintei todo meu quarto de verde, de vez em quando fico olhando encantada, acho que as cores tem grande poder.

Como você busca contribuir para um mundo mais sustentável e quais são suas preocupações em relação ao meio ambiente?

Tento sempre separar o lixo que é reciclável, guardo todas as pilhas usadas para descartar em um local apropriado, eletrônicos, baterias e fios descampados, descobri uma empresa que recolhe, roupas que não uso vão para brechó, algumas vezes vão para família, para minha funcionária ou para os meninos que jogam bolinha no sinal, eles amam. Bolsas boas que não uso vendo, entrou algo do armário, sai algo, acredito que isso renova a energia. Evito desperdício de água, tenho uma banheira no meu banheiro e quase não uso, é tanta gente sem água limpa.

Minha preocupação sobre o meio ambiente são as pessoas, principalmente as que vivem como se não houvesse amanhã, que não procuram se informar sobre todos os problemas que o planeta vem passando, me preocupo com a falta de consciência das pessoas, porque as atitudes ruins delas, afeta toda sociedade.

O que podemos esperar de sua nova fase musical explorando as raízes brasileiras e os ritmos da Bossa Nova e do Jazz?

Mais estudo, mais conhecimento e uma Nádia brasileiríssima, que quer explorar cada dia mais esse gênero musical.

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