Da igreja ao estrelato, Tays Reis e a força feminina que transformou o som da Bahia em sucesso nacional

Luca Moreira
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Tays Reis
Tays Reis

Com uma trajetória que atravessa gêneros e gerações, Tays Reis é hoje um dos nomes mais marcantes da música baiana contemporânea. Nascida em um lar evangélico e descoberta pelo país com o hit “Paredão Metralhadora”, a cantora reflete sobre a jornada que a levou dos corais da igreja ao topo das paradas. Em entrevista exclusiva, ela fala sobre amadurecimento, fé, representatividade e a liberdade artística de viver uma nova fase na carreira solo — mais autêntica, emocional e conectada às suas raízes nordestinas.

Tays, sua história começa na igreja, passa pelo pagode baiano e chega ao sucesso nacional com “Paredão Metralhadora”. Quando você olha para esse caminho, qual é o fio que conecta todas essas fases da sua trajetória musical?

Na igreja, eu sempre gostei de cantar. Era aquela que chegava cedo nos ensaios, ajudava a organizar o coral e adorava solar. Sempre estive envolvida em tudo que tivesse relação com música — cantar, tocar violão, participar de apresentações. Aos 16 anos, foi quando saí da igreja e comecei a buscar a música de outras formas: fiz aulas de violão, de canto e comecei a me interessar por MPB, sertanejo e outros gêneros que não costumávamos ouvir na igreja.

Esse desejo pela música foi crescendo e, aos 19 anos, veio o primeiro grande acontecimento: Paredão Metralhadora. É uma rocha — não um pagodão — e mudou completamente a minha vida.

A letra é minha e foi feita com muito amor e dedicação. Sempre fui incansável quando o assunto é música: gosto de laboratório, de criar, de experimentar. Paredão Metralhadora nasceu do zero e caiu no gosto do povo exatamente como a gente planejou.

A música virou um hino do Carnaval e marcou uma geração. Como foi viver aquele momento em que o país inteiro dançava a sua canção? E o que essa fase te ensinou sobre fama e responsabilidade artística?

O que vivi em 2016 foi extraordinário, uma verdadeira obra divina na minha vida. Eu acredito que Deus me escolheu e disse: “Esse vai ser o ano da minha filha”, por tudo o que vivi e de onde vim.

Ver todo mundo cantando Paredão Metralhadora foi um marco. Até hoje, essa música é atemporal — todo carnaval, todo verão, ela ressurge. É impressionante! Hoje, minha filha de três anos canta Metralhadora, e isso mostra como a música ficou marcada.

Mas aquela fase também me ensinou muito sobre responsabilidade artística. Fazer sucesso não é só ter um hit — é ter planejamento, estratégia e um time preparado para o pós. Se você não tem isso, o sucesso vai embora junto com a música. Hoje entendo que o sucesso é momentâneo, e se não for alimentado e planejado, se torna passageiro. Aprendi isso na pele.

Tays Reis
Tays Reis

Você carrega a energia e a identidade da música baiana por onde passa. O que significa, para você, representar essa cultura e ver artistas do Nordeste ganhando cada vez mais espaço no cenário nacional?

Por eu ser baiana e nordestina, é um orgulho enorme ver, depois de tanta luta, o nosso gênero — a rocha — saindo da bolha e se tornando um dos mais tocados do país. Quando a gente vê no Spotify artistas nordestinos ocupando o top 2, top 3, é a prova de que o Brasil entendeu que a gente não tá pra brincadeira.

Nós temos história, cultura e colocamos amor em tudo o que fazemos. Eu, particularmente, faço música por amor, não por dinheiro ou fama. E acho que esse amor refletiu nas pessoas. Hoje, o Brasil não só consome a gente, mas também leva nossa música para os topos das paradas. Estou muito feliz e orgulhosa.

Depois de um sucesso tão grande com a Banda Vingadora, como foi o processo de encontrar a sua própria voz e estilo na carreira solo? Teve medo ou foi libertador recomeçar?

É muito interessante falar sobre isso, porque a voz muda com o tempo. Quando a gente começa muito nova, tem um timbre, e ele vai amadurecendo junto com a pessoa. Em Paredão Metralhadora, minha voz ainda era de menina. Hoje, com 30 anos, meu timbre está mais maduro, mais firme — exatamente onde eu queria chegar. As pessoas dizem “a voz mudou”, mas é o amadurecimento natural.

Antes da Metralhadora, eu sempre cantei músicas românticas. A Metralhadora foi uma aposta pro carnaval — e deu certo. Mas acabou que as pessoas me associaram apenas a esse hit. Hoje, na carreira solo, estou vivendo uma fase libertadora: posso fazer o que amo, cantar o que gosto, e falar de amor — esse é o meu habitat natural. É isso que me define.

Tays Reis
Tays Reis

Sua participação em A Fazenda mostrou um lado mais pessoal e emocional. O que mais aprendeu sobre si mesma ao se ver exposta além do palco e da música?

A Fazenda me ensinou a ser forte. Venho de um berço evangélico, muito protetor, onde eu não tinha contato com o lado mais duro da vida. Quando entrei no programa, senti um choque de realidade. Tive medo, senti fragilidade, medo de me expor, de falar o que pensava. Mas foi um aprendizado enorme.

Quando saí e assisti aos meus vídeos, percebi o quanto evoluí. Hoje entendo que aquele momento foi necessário pra me preparar para os próximos desafios. Eu amadureci muito como pessoa.

Hoje, além dos shows, o artista também precisa se comunicar o tempo todo nas redes. Como você lida com essa conexão direta com o público e o desafio de equilibrar vida pessoal e imagem pública?

É engraçado como o mundo artístico mudou. Antes, o cantor apenas cantava e influenciava pelo talento. Hoje, além de cantar, precisa influenciar também. A internet mudou tudo. Ela cobra que o artista se comunique, mostre o lado pessoal e profissional. No começo, eu demorei um pouco pra me adaptar, confesso. Mas hoje encaro com naturalidade.

Gosto de falar, de me comunicar, de estar perto dos fãs. Eles amam quando a gente conta as coisas de forma mais intimista, quando compartilha o processo. Aprendi a conciliar a vida pessoal e profissional — e isso tem me feito muito bem.

Tays Reis
Tays Reis

Como mulher nordestina que conquistou o Brasil, quais desafios você ainda enxerga na indústria musical? E que mensagem deixaria para outras mulheres que sonham em trilhar esse caminho?

Ainda existe um certo preconceito contra mulheres nordestinas que vêm de baixo e falam com o coração. As capitais que mais impulsionam a música no Brasil — como Rio de Janeiro e São Paulo — ainda carregam um resquício disso. Mas estamos quebrando barreiras todos os dias.

Com a internet e a liberdade de expressão, isso vem diminuindo. Os números não mentem: o arrocha é um dos gêneros mais ouvidos do país. Isso mostra que o Brasil está consumindo o Nordeste. A mensagem que deixo para outras mulheres é: nunca desistam.

Eu vim de uma realidade muito distante, e Paredão Metralhadora se tornou um hit atemporal, uma música que invadiu o país e até o exterior. Se eu consegui, qualquer mulher pode conseguir — basta acreditar no próprio sonho.

Quais são os próximos capítulos da sua história? Podemos esperar novos singles, parcerias ou talvez um projeto especial que mostre uma nova Tays Reis?

Hoje, vocês estão vendo uma Thaís Reis madura, segura de si e do que quer. Meu repertório agora está totalmente voltado pro arrocha. Antes, eu ainda me deixava influenciar por opiniões — “grava isso, o povo gosta daquilo” — mas hoje penso: e o que eu gosto?

Aprendi que o mais importante é fazer música pra mim e pros meus fãs. Quando o artista entende isso, tudo muda. Acabei de lançar um DVD totalmente autoral, com músicas inéditas e releituras de canções que marcaram minha infância. Vem muito mais por aí — novos feats, uma música especial pro verão, e, claro, muito amor e energia. Podem esperar uma Thaís ainda mais determinada e verdadeira.

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