Davi Laranjeira é um exemplo vívido de alguém que seguiu seu coração e encontrou sua verdadeira paixão na gastronomia. Após uma década dedicada à tecnologia, trabalhando em empresas renomadas como UOL e IBM, Davi percebeu que algo vital estava faltando em sua vida profissional: a paixão pelo que fazia. Foi então que ele decidiu dar uma guinada radical, abandonando sua carreira em TI e embarcando em uma jornada culinária.

Originário do Guarujá, São Paulo, Davi fez as malas rumo à capital paulista, onde começou sua jornada na Anhembi Morumbi, financiando seus estudos com o FIES e conciliando-os com seu trabalho em tecnologia.

Em pouco tempo, seus esforços foram recompensados quando ganhou um concurso gastronômico e teve a oportunidade de estudar na prestigiada Le Cordon Bleu em Paris, realizando assim um sonho de longa data.

Qual foi o momento decisivo que o fez mudar de uma carreira em tecnologia para a gastronomia? Como essa transição influenciou sua vida profissional e pessoal?

O momento decisivo foi quando fiz um estágio no Sofitel Jequetimar, no Guarujá, onde pedi para fazer um freela com uma amiga que trabalhava no RH. Foi uma oportunidade para testar se era isso mesmo que queria para minha vida. Na época, eu já trabalhava com TI. Tinha minha própria empresa e atuava de segunda a sexta. No sábado, fui fazer o freela lá e preparei uma feijoada. Foi uma experiência incrível. Naquele dia, tomei a decisão de seguir nesse caminho, por volta de 2010, 2011, quando pensei: ‘Quero isso para minha vida, mas não apenas como um hobby’.

Foi a partir desse momento que comecei a vislumbrar as possibilidades na área da gastronomia. Decidi então mudar para São Paulo e cursar Gastronomia na Anhembi Morumbi. Visitei outras faculdades, como o Senac, para entender qual seria a melhor opção para minhas necessidades. Percebi que precisava de um diploma sólido para ingressar no ramo, já que até então minha experiência se resumia a hobbies culinários em família.

Optei pela Anhembi e consegui financiar meus estudos pelo FIES, já que não tinha condições de arcar com os custos. Vim para São Paulo ainda trabalhando com TI, conciliando as duas atividades. Somente durante o curso de faculdade é que fiz a transição para começar a trabalhar exclusivamente com gastronomia.

Como foi a sua experiência ao estudar na Le Cordon Bleu Paris e como isso moldou a sua abordagem e paixão pela culinária?

A experiência na Le Cordon Bleu Paris foi incrível. Estar no berço da gastronomia mundial, na primeira escola do mundo, onde todas as técnicas são compiladas, organizadas e estruturadas, foi sensacional. Fiz um curso intensivo de uma semana de cozinha regional francesa e pude vivenciar de perto o cuidado e o conhecimento que permeiam a gastronomia francesa.

Não foi apenas a Le Cordon Bleu que me impressionou, mas toda a cidade de Paris e sua cultura alimentar. Percebi que o que estudava no Brasil era universal. Todo o investimento que fiz aqui se mostrou válido em qualquer lugar do mundo. Ao assistir às aulas na Le Cordon Bleu, percebi que compreendia perfeitamente a linguagem técnica gastronômica e que tudo o que aprendia aqui funcionava em qualquer lugar, especialmente lá. Além disso, foi uma experiência única ter aulas em Paris, com um chef francês ensinando sobre a cozinha local. Foi uma imersão no berço das técnicas gastronômicas.

Entre suas várias posições em empresas de renome, qual teve o maior impacto em sua formação como profissional da gastronomia? Por quê?

Das empresas em que trabalhei, destaco as grandes indústrias onde atuei como consultor de negócios gastronômicos. Prestava consultorias para clientes de renome, atendendo algumas das maiores redes do mundo, como McDonald’s, Burger King, Outback, Habib’s, Giraffas, Bobs, Pizza Hut, entre outras. Tive a oportunidade de trabalhar com praticamente todas elas.

Além disso, atuei como consultor em empresas renomadas como Unilever, Mackenzie, Sadia, Perdigão e Nestlé. Destas, a Nestlé se destaca por ser a maior indústria de alimentos do mundo. Foi nela que tive um impacto significativo, aprendendo e absorvendo conhecimento que contribuiu para expandir meu negócio gastronômico. Trabalhar na Nestlé me permitiu entender a essência da consultoria gastronômica em sua plenitude.

Você enfatiza a importância de mudar o mundo através da alimentação. Como vê o papel dos chefs e dos influenciadores gastronômicos na conscientização sobre a comida que consumimos?

A ideia de mudar o mundo através da alimentação é fundamental, afinal, somos o que consumimos. O que ingerimos afeta tanto nossa mente quanto nosso corpo, tornando crucial a consciência sobre nossas escolhas alimentares. Atualmente, com tantas opções e avanços na indústria alimentícia, muitas vezes perdemos o controle do que estamos realmente comendo.

O caminho para uma saúde melhor e para o controle do peso está em preparar nossa própria comida e optar por alimentos verdadeiros. Mas não basta apenas cozinhar, é essencial utilizar as técnicas corretas. Ao fazê-lo, preservamos os nutrientes, proporcionando maior saciedade, saúde e controle de peso, prevenindo a obesidade.

O que ingerimos nutre nosso corpo e mente, influenciando positivamente nossos hormônios e nosso humor. Essa abordagem cria um ciclo virtuoso de saúde física e mental. Meu principal objetivo é disseminar a verdade sobre os alimentos e promover saúde e emagrecimento através da alimentação. Ensinar às pessoas a importância de saber o que estão consumindo e como preparar os alimentos corretamente, para que possam usufruir de todos os benefícios nutricionais.

Quais foram os desafios mais significativos que enfrentou ao se estabelecer como empreendedor na indústria gastronômica?

Um dos desafios enfrentados pelos empreendedores é fazer investimentos e reinvestir no próprio negócio para alcançar o crescimento desejado. Essa é uma dificuldade comum a todos os empreendedores, pois requer a habilidade de gerar receita para expandir os negócios.

Ao reinvestir nos negócios, é importante aproveitar o lucro também para questões pessoais. No entanto, lidar com as burocracias, os impostos e adaptar constantemente as estratégias são obstáculos recorrentes. O objetivo é garantir que o negócio avance e cresça, reinvestindo os lucros para expandir ainda mais.

No ambiente digital, os desafios são semelhantes aos enfrentados pelos empreendedores no Brasil. É preciso lidar com a burocracia e os impostos, além de buscar maneiras eficazes de vender produtos e engajar clientes para aumentar as vendas e, assim, reinvestir no negócio.

Pode compartilhar um pouco sobre a experiência de participar do Concurso Gastronômico “Chef do Futuro” e como isso impactou sua trajetória profissional?

O concurso ‘Chefe do Futuro’ foi um marco significativo em minha carreira, tanto profissionalmente quanto pessoalmente. Ganhar esse concurso enquanto ainda cursava gastronomia foi uma experiência transformadora. Após trabalhar por cerca de 10 anos na área de TI, sem grandes avanços, essa conquista representou um novo começo para mim. Embora tenha tido sucesso em grandes empresas e até mesmo fundado minha própria empresa, foi ao vencer esse concurso gastronômico, logo no primeiro ano de faculdade, e ao estudar na maior escola de gastronomia do mundo em apenas um ano e meio, que percebi ter ido mais longe do que em toda minha carreira anterior.

Essa vitória teve um impacto profundo em minha confiança e conhecimento, reforçando minha convicção de que a gastronomia era realmente meu caminho. Além disso, proporcionou-me uma ampla gama de oportunidades. Abriu portas para que eu me tornasse consultor gastronômico, uma aspiração que já tinha, mas cujos caminhos não eram claros. Em pouco tempo, estava trabalhando como consultor em uma das maiores empresas de alimentos do mundo, a BRF, líder na produção de aves, frangos e suínos, detentora de marcas como Sadia e Perdigão. Ganhar esse concurso não apenas me conferiu autoridade e reconhecimento dentro da faculdade e do mercado, mas também abriu novos horizontes e oportunidades inimagináveis.

Como você vê o futuro da culinária e das tendências gastronômicas nos próximos anos? Existem inovações ou movimentos nos quais acredita que devemos prestar atenção?

Em outubro de 2023, tive a oportunidade de visitar a Alemanha para participar da Anuga, a maior feira mundial de tendências e inovações em alimentos e bebidas, realizada em Colônia. Lá, pude vislumbrar o futuro da alimentação, um cenário marcado por diversas transformações.

Anteriormente, a prioridade era o sabor, com a nutrição em segundo plano. Depois, surgiu a demanda por alimentos saborosos e nutritivos. Hoje, a ênfase mudou: os alimentos precisam ser nutritivos, benéficos para o corpo e saborosos, pois ninguém deseja consumir comida de baixa qualidade.

Nesse contexto, observa-se uma tendência em direção à completa industrialização dos alimentos, incluindo proteínas e carnes de laboratório. No entanto, minha missão é lutar contra essa tendência e promover o consumo de alimentos reais, da forma como foram cultivados e preparados ao longo dos últimos 200.000 anos de evolução humana. Valorizar a agricultura, a pecuária e os pequenos produtores é essencial nesse processo. O caminho para uma alimentação saudável passa pela valorização dos alimentos verdadeiros e pela conscientização das pessoas sobre a importância de consumir comida real.

Quais são os valores fundamentais que orientam sua abordagem na criação de conteúdo gastronômico e na educação dos seus seguidores?

O foco principal é promover a verdade dos alimentos, além de incentivar a saúde e o emagrecimento por meio da alimentação. Para isso, é fundamental ensinar as técnicas corretas às pessoas, permitindo que elas preparem refeições verdadeiramente nutritivas. Ao aprender a cozinhar alimentos de verdade e reter seus nutrientes, as pessoas podem melhorar significativamente sua saúde e qualidade de vida. Essa é a essência dos conteúdos que pretendo criar.

Qual é o conselho mais valioso que você gostaria de oferecer a alguém que está iniciando na carreira de gastronomia e deseja fazer a diferença no mercado?

Um conselho fundamental que compartilho com aqueles que estão na área da gastronomia é que não é uma jornada fácil. Embora a profissão seja muitas vezes glamorizada na televisão, a realidade é diferente. É essencial que os profissionais tenham autoridade e invistam em conteúdo digital. Quanto mais as pessoas conhecerem o trabalho delas e entenderem o potencial do mundo digital, melhor. Além de dominar aspectos relacionados a alimentos, bebidas e técnicas gastronômicas, é crucial que também aprendam sobre marketing e comunicação. Um exemplo disso é Gordon Ramsay, que não alcançou o sucesso apenas por suas habilidades culinárias, mas também por ser um excelente comunicador e entender de marketing e publicidade. Ramsay apresenta um programa dentro da NFL, o que mostra como a sua versatilidade e conhecimento vão além da cozinha. Portanto, é importante que os profissionais invistam em seu desenvolvimento pessoal, não apenas na parte técnica.

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