Bel é uma garotinha cheia de curiosidade, sempre questionando o porquê das coisas. Com seu fiel gatinho Galileu como ajudante, ela embarca em emocionantes experimentos e descobertas que revelam como a ciência está presente em todos os aspectos de nossas vidas, desde nossos celulares até a comida que comemos. O cientista e professor de Medicina, Bruno Gualano, guia as crianças por esse universo fascinante no livro “Bel, a experimentadora”, publicado pela Moah! Editora.

Bel não tem limites em sua busca pelo conhecimento. Ela constrói vulcões caseiros e mistura substâncias químicas que mudam de cor em tubos de ensaio. No entanto, quando seus amigos da Rua Marie Curie começam a suspeitar que ela é uma bruxinha, Bel os convida para uma incrível jornada científica. Com experimentos, ela mostra a eles o que é energia, como ao esfregar uma bexiga em sua blusa de lã e depois aproximá-la do gatinho Galileu, que fica com os pelos arrepiados. Essas experiências encantam as crianças da rua, tornando a ciência uma “brincadeira de experimentar.”

O livro homenageia figuras notáveis da história, como Galileu Galilei, Marie Curie e Mercedes Bustamante, e tem como objetivo promover a alfabetização científica na infância, ajudando as crianças a entender os fenômenos naturais, sociais e tecnológicos por meio de uma perspectiva científica. As ilustrações criativas de Catarina Bessel, que usa a colagem como técnica, tornam a narrativa ainda mais envolvente e divertida. Além disso, o livro aborda temas importantes como diversidade cultural, educação antirracista e representatividade das mulheres nas ciências, apresentando uma protagonista negra. Natalia Pasternak, uma divulgadora científica, apoia essa publicação, destacando seu papel na quebra de estereótipos em torno dos cientistas e na democratização da ciência.

Apoiado pela Faculdade de Medicina da USP, “Bel, a experimentadora” é o primeiro de uma série de livros direcionados a crianças de até 9 anos. Os próximos volumes abordarão temas como vacinas, mudanças climáticas e bullying relacionado a estigmas de corpo, promovendo uma educação infantil rica e diversificada.

“Bel, a experimentadora” busca incentivar o letramento científico em crianças. Como o livro consegue tornar a ciência acessível e envolvente para os jovens leitores?

Bel introduz a Ciência ao mundo infantil de um modo lúdico, destrinchando as suas relações com a sociedade e a natureza. Esse é o pano de fundo que permite as crianças de descobrirem que a Ciência é algo presente em tudo ao nosso redor.

O livro presta homenagem a figuras notáveis da história da ciência, como Galileu Galilei e Marie Curie. Como a narrativa faz uso dessas figuras inspiradoras?

Faz parte do letramento científico apresentar às crianças personagens científicos históricos. Seus feitos precisam chegar aos pequenos, pois os inspiram. Cada volume da coletânea faz menção a cientistas consagrados, e sem esquecer de brasileiros. A minibiografia dos homenageados ao final do livro é um convite para que as crianças mergulhem na vida e obra desses cientistas cujas contribuições mudaram a nossa forma de ver o mundo.

O protagonista do livro, Bel, é uma jovem curiosa. Como seu personagem demonstra a importância da exploração científica e da curiosidade para as crianças?

A curiosidade é uma característica inerente a um cientista. É ela que nos faz refletir porque as coisas são como são e como podemos mudar o que não anda bem. A brincadeira de experimentar da Bel não é nada mais do que um exercício do que você chama de exploração científica. A tentativa e o erro fazem parte desse processo, como nos mostra Bel, ao construir seu vulcão. Cabe a nós, adultos, estimular a experimentação e jamais tolher a curiosidade, um traço tão natural na infância.

Além do enfoque científico, quais outras temáticas importantes, como diversidade cultural e educação antirracista, são abordadas no livro? 5. A protagonista Bel é uma criança negra. Como a representatividade das mulheres e das minorias nas ciências é explorada na história?

A Ciência é para todos e todas. Esta é uma mensagem que o livro traz. Porém, mulheres e negros, por exemplo, são sub-representados na academia. Isso distorce a produção de conhecimento e cria hiato de evidência científica em áreas cruciais, como saúde pública, segurança e cultura. Veja: a revista mais prestigiosa do mundo, a Nature, levou 150 anos para ter sua primeira editora-chefe. A Faculdade de Medicina da USP, onde trabalho, custou 110 anos para ceder espaço em sua direção a uma mulher. Bel é negra, menina e experimentadora. Nossa sociedade precisa enxergar como naturalidade isso. E o mais curioso é que nunca ouvi nenhuma criança questionar por que Bel é como é; todas as perguntas nesse sentido vieram de adultos. Parece-me, de certa forma, uma esperança ou uma evolução (risos)…

Você mencionou que “Bel, a experimentadora” faz parte de uma coletânea direcionada ao público de até 9 anos. Quais outros temas e tópicos o público pode esperar nas próximas publicações desta série?

Exatamente. Bel é uma coletânea de letramento científico. No forno, está Bel e o admirável escudo invisível, que falará às crianças sobre a importância de uma das maiores invenções da humanidade: as vacinas. E vêm aí também volumes sobre o aquecimento global e o bullying, sob o olhar da Ciência, com uma linguagem leve e divertida para o público infantil.

Bruno Gualano

Como professor de Medicina e cientista influente, como você acha que a popularização da ciência desde a infância pode beneficiar o desenvolvimento de indivíduos críticos e bem-informados?

O letramento científico não é uma questão de tudo ou nada, ou seja, a pessoa é ou não alfabetizada em Ciência. A descoberta da Ciência é um contínuo e envolve fases, que não poderiam ser puladas. Na infância, reconhecer a presença dos fenômenos científicos no nosso dia a dia é uma meta fundamental. Não se espera da criança a que se introduz Ruth Rocha, Monteiro Lobato e Ziraldo que se torne um escritor. Da mesma forma, não almejo que Bel ou qualquer outra obra de letramento científico forme cientistas. Antes, o objetivo é a formação de cidadãos pensantes, críticos. Além disso, é direito legítimo da criança o acesso ao bem cultural produzido pela humanidade, do qual fazem parte, por exemplo, a literatura e também a Ciência.

Como foi trabalhar com a ilustradora Catarina Bessel, e como o uso da colagem contribui para a experiência dos leitores?

Catarina é uma artista brilhante. Sua sensibilidade e criatividade são ímpares e contribuíram sobremaneira para a qualidade final da obra. Não há uma criança (nem um adulto) que não se encante com as ilustrações. No fim, acho que fizemos uma boa dupla, pois acima de tudo, compartilhamos dos mesmos ideais transmitidos no livro. É um privilégio tê-la nesse projeto.

Além deste livro, você é conhecido por iniciativas de divulgação científica, como o canal “Ciência inForma” e o podcast “O Cientista Não Morde”. Como a literatura infantil se encaixa em seu esforço maior de promover a ciência?

Tenho também minha coluna na Folha de S. Paulo. São todos espaços de comunicação de Ciência para adultos. Sentia falta de falar para as crianças. Tenho uma filha em idade escolar e comecei a notar que os poucos livros que falam sobre Ciência para o público infantil são estrangeiros. Daí surgiu esse projeto de levar Ciência para os pequenos, com personagens e ambientes tipicamente brasileiros, capazes de criar identificação do leitor. Costumo brincar que nós cientistas somos muito bons em comunicar o que fazemos para os 7 outros cientistas que pesquisam o mesmo que a gente. É claro que isso não é o bastante. Precisamos nos desencastelar e mostrar que a Ciência que fazemos no laboratório está no cotidiano das pessoas. Por isso, vale a pena valorizar a Ciência, cujo investimento é bancado pela sociedade. Comunicar Ciência nos dias atuais é um ato de sobrevivência do cientista. Ademais, não há nada mais gratificante quando o cidadão não especialista reconhece que o que fazemos tem seu valor social.

O livro enfatiza a ideia de que o amor é o fio condutor da vida. Pode explicar como essa ideia se entrelaça com a narrativa científica da história?

Eu diria que o fio condutor da narrativa é a experimentação da vida e do mundo. Ao longo da história, busco desmistificar a ideia de que a Ciência é algo supremo, inalcançável, algo destinado a poucos seres iluminados pelo dom do saber. Ao naturalizar a curiosidade e a “brincadeira de experimental” da Bel, espero que as crianças tenham um primeiro contato com a Ciência mais leve e divertido, que os permita considerá-la como uma boa alternativa de enxergar as belezas e os percalços do mundo.

Acompanhe Bruno Gualano no Instagram

Share.