No último dia 1º de novembro, a talentosa cantora Ayra lançou seu mais recente single, intitulado “Jaguar”. O título da música evoca uma poderosa combinação, unindo a elegância associada a um carro de luxo com a selvageria do majestoso jaguar, um dos animais mais formidáveis da natureza.

Ayra é uma mulher indígena do povo Dofurêm Guaianá, e sua jornada artística reflete uma dualidade fascinante entre sua conexão profunda com sua herança cultural e a intensidade da vida na metrópole. Embora tenha crescido em Diadema, uma cidade da região metropolitana de São Paulo, ela passou sua infância em Natal, a capital do Rio Grande do Norte, imersa na rica cultura caiçara da vila de Ponta Negra. Atualmente, sua vida se desenrola entre a agitada Baixada Santista e a movimentada capital, São Paulo.

Além de seu incrível talento como cantora, Ayra é uma verdadeira artista multimídia. Sua criatividade se estende à atuação, ao audiovisual, à fotografia e à moda. Ela já colaborou em diversas campanhas para marcas nacionais e internacionais, inclusive estrelando um jingle para a Subway que foi veiculado na televisão e em várias outras mídias.

Ayra não apenas se destaca por seu estilo, mas também pela gravadora que a apoia, a Braba Records. Sob a liderança de Rafael Dachuva, a gravadora abriga um grupo talentoso de artistas, incluindo DJ Gio Marx, DJ Aline Puff e o próprio Dachuva. DJ Gio Marx, aliás, contribui para a faixa com suas habilidades nos scratches.

Profissionalmente, Ayra decidiu se dedicar à música há cerca de três anos. Após o lançamento de alguns singles, ela apresentou seu primeiro EP, intitulado “PORTAL 03”, no primeiro semestre deste ano. Este EP conta com participações especiais de artistas como Souto MC, Maryê, Arielly Porto e Roccha, cujas contribuições acrescentaram profundidade às faixas. Ayra menciona influências notáveis em seu trabalho, como Criolo, Tássia Reis, Don L e Racionais MC’s. Seu mais recente lançamento, “Merecedoras”, ao lado de ANABYA, Catarina, Souto MC e ninjanosbeats, preparou o terreno para a chegada de “JAGUAR”.

Jaguar” é um título intrigante para sua nova música. Pode nos contar mais sobre o significado por trás desse título e como ele se relaciona com a música?

O nome da faixa vem por conta de um verso do música: “ O único ronco que eu aceito é o do motor, acelerando eu vou domando Jaguar”, a ideia aqui é dizer que não levo desaforo pra casa ao mesmo tempo em que solto a metáfora entre o ronco de quem não quer nos ver avançando, e do motor um carro esportivo de luxo de alta performance que carrega o nome de um dos felinos com um rugido mais fortes da selva, dando ênfase ao fato de que eu vou acelerar independente de quem tente me parar e como comparativo da carta A força do tarô,  domo esse felino, essa força não me representa ameaça, com sutileza eu trabalho junto a ela.

Você menciona sua dualidade entre a conexão com sua cultura e a vida na cidade. Como essa dualidade influencia sua música e seu estilo artístico?

É impossível para nós artistas indígenas não trazer nossas cosmovisões, nossas raízes em nossas criações por mais que a cidade, outros contextos e culturas formem nosso repertório. É desafiador comunicar nossa essência e multilinguagem numa sociedade e indústria que enxerga na 3D, mas a gente trabalha exatamente para quebrar esses paradigmas e estereótipos

Além de cantora, você é uma artista multimídia envolvida em várias formas de expressão. Como essas diferentes formas de arte se combinam em sua carreira e influenciam sua música?

Por vim do audiovisual, trabalhar com moda e agora com interpretação e música eu me sinto muito grata por ter confiado na minha intuição de explorar as multilinguagens da comunicação e arte porque hoje eu tô construindo uma visão 360 do meu trabalho. Eu compreendo todos os setores e fases de uma produção e eu sei o caminho criativo que eu preciso fazer para amarrar a produção artística do que eu quero apresentar. Consigo expressar melhor meu conceito para os profissionais que venham a trabalhar comigo e consigo entender com mais facilidade o que eles querem me passar. Com essa visão a gente se torna mais exigente também, os orçamentos do que queremos começam a ficar maior (risos).

Ayra

“Jaguar” mescla elementos do trap e do boombap. Pode compartilhar mais detalhes sobre o som e a mensagem que os ouvintes podem esperar deste single?

Quando a Braba Records me fez o convite, a gente foi alinhando entendendo que “Jaguar” precisava sim ser um single dançante, envolvente, mas sem perder a essência hip-hop das ruas que é o que a gente gosta e luta para manter dentro de um cenário que tá ficando líquido e gourmetizado, com milhões de estímulos sendo disparados por segundo. Por isso eu quis mesclar o flow do trap com o do boombap de forma que ficasse nítido a mudança de flow dentro da faixa, como quem lembra de nunca esquecer a base a essência da cultura.

A letra de “Jaguar” fala sobre empoderamento e superar desafios. Quais são algumas das mensagens que você deseja transmitir através dessa música?

Além do que já foi comentado, a track vem para reforçar que estamos em terras indígenas e que não vamos mais aceitar migalhas em nosso próprio território. Lutamos diariamente, mas também temos o direito de comemorar e prosperar.

Você menciona o selo A Braba Records e suas conexões com outros artistas. Como foi trabalhar com esse time e como eles contribuíram para “Jaguar”?

Foi incrível produzir com eles, ter essa soma e troca de musicalidade e referências. Imaginamos juntos esse universo de “Jaguar”, alinhamos as expectativas de uma forma muito fluida e sincera.

Ayra

Contando um pouco mais sobre sua jornada na música, você decidiu se dedicar a isso há três anos. O que a motivou a seguir esse caminho?

A música sempre viveu muito em mim desde os 11 anos eu já escrevia umas coisas de forma espontânea, mas, em 2016, me liguei real que não tinha como correr do hip-hop, era o que me trazia gás, força, vontade de sair do lugar. Já tinha várias track na gaveta e, em 2020, lancei meu primeiro som de forma muito caseira com ajuda da minha família e da minha amiga jazline. Eu venho de uma realidade muito difícil, minha mãe sempre criou a gente sozinha e eu sempre tive que fazer o corre para ajudar dentro de casa e para ter minhas paradas. Nunca me importei com marca ou coisas caras, mas ter um tênis que não rasgasse todo mês por ser de camelô, ter um celular, um computador para trabalhar eram sonhos que pareciam estar muito distantes e indo atrás eu realizei. Em 2019, comprei meu primeiro celular, em 202,0 eu comprei meu primeiro tênis de marca, não parece, mas é tudo muito recente para mim. Não era uma opção quando mais nova investir na música, eu não via caminhos então eu fui atrás de outras coisas primeiro para poder ter o inicial para começar a produzir, tudo o que eu vim trilhando foi pensando nisso. Trocar com outras minas com o mesmo propósito também foi um impulsionador, essa indústria é muito cruel conosco mulheres, e sempre teve aquelas que me motivaram e me apoiaram e tão nessa batalha. A própria jazline que comentei acima, DJ Sophia, KEL, Souto MC, Mamagold, Catarina, Anabya foram peças chaves para que eu continuasse e me permitisse entender podemos. Após meu primeiro lançamento, em 2020, fui atrás de estudar a parte burocrática e fazer acontecer de forma mais profissional.

Seu EP “PORTAL 03” foi lançado recentemente. Como ele se diferencia de suas músicas anteriores, e qual é a mensagem central desse EP?

Portal 03 é um EP muito íntimo. Sou muito ligada à numerologia, aprendi com minha mãe. O 3 é o número dos cantores, comunicadores, poetas, abro esse portal da música com esse primeiro EP, atraindo esse universo, mas também assumindo essa responsabilidade. Ele fala sobre família, luta, sociedade, força e amor. É uma frequência de cura e persistência.

Quais são algumas de suas maiores influências musicais que moldaram seu som e estilo artístico?

Negra Li, Criolo, Flora Matos, Karol Conká, Don L, Tássia Reis, Princess Nokia, Kaê, Souto Mc, The Weeknd, Iamddb, Jorja Smith, J Cole, Rihanna, Ari Lennox, Lilá Iké, SZA, Liniker, Yendry.

Pode compartilhar um vislumbre do que seus fãs podem esperar de sua música no futuro e como “Jaguar” se encaixa nesse panorama artístico?

Tem muita coisa vindo, eu espero que meu trabalho possa despertar nas pessoas a pulsão de movimento, sensibilidade e força, que possa trazer inspiração pro dia-a-dia e também animação pros momentos de lazer, possibilidades de um novo mundo que se conecta com seu antigo sagrado e profano.

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