Através de novo livro, Giovanna Mazetto convida crianças a redescobrirem o mundo além das telas

Luca Moreira
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Giovanna Mazetto
Giovanna Mazetto

Inspirada pelo impacto da tecnologia no cotidiano infantil, a escritora Giovanna Mazetto apresenta Pela Telajanela (Sowilo Editora), uma obra que incentiva crianças a explorarem a imaginação e o mundo ao redor. Por meio da história de ZéGui, um menino que descobre as maravilhas fora da tela, o livro propõe um retorno às experiências analógicas e reforça a importância de pais e educadores em estimular momentos longe da tecnologia.

Giovanna, em Pela Telajanela, você nos apresenta o ZéGui, um menino que vive imerso na tecnologia. O que inspirou você a criar uma história que aborda tão de perto a realidade das crianças atuais, tão conectadas às telas?

A observação do cotidiano é minha maior fonte de inspiração e, em Pela Telajanela, foi ainda mais. A história surgiu justamente no trajeto entre a escola e a nossa casa, quando tentava fazer meu filho mais novo me contar sobre seu dia, observar as flores nas árvores, as pessoas na rua e os carros que passavam. Como ele não respondia porque estava concentrado no seu tablet, eu parei o carro e disse — Olha o dinossauro! Foi uma risada só.

A obra nos convida a olhar para o mundo fora das telas, observando o que está ao nosso redor. Para você, qual o maior desafio de criar uma história que seja capaz de despertar a curiosidade e a imaginação das crianças em um mundo tão digitalizado?

Eu sei que há uma competição entre o mundo digital e as atividades mais tradicionais, como leitura e brincadeiras ao ar livre, jogos de tabuleiro, esportes, mas minha impressão é que, se os adultos dão o exemplo e estão dispostos a passar tempo com as crianças fazendo essas atividades, as crianças migram com certa facilidade e percebem, por si mesmas, as vantagens de uma vida fora das telas.

O livro Pela Telajanela cria certa identificação com as crianças logo de início, pois a situação vivida pelo ZéGui é muito comum e, quando entra a fantasia — os elementos circenses ou os dinossauros, por exemplo —, aí as crianças mergulham na história para, então, reconhecerem que as telas às vezes tomam toda sua atenção e fazem com que fiquem longe do que importa de fato.

Você destaca a importância do contato entre adultos e crianças sem a interferência da tecnologia. Como você acha que podemos, como sociedade, equilibrar o mundo digital e o físico de forma saudável para as novas gerações?

Precisamos todos rever nossa relação com a tecnologia e acredito que isso já está acontecendo. Veja, por exemplo, a proibição de celulares nas escolas, recentemente aprovada. Cabe aos adultos dar o exemplo e criar momentos longe das telas, momentos de atenção plena e de escuta. As crianças são muito sensíveis e percebem quando estamos apenas ouvindo sem de fato escutar, percebem quando nossas preocupações estão em outro lugar.

Acredito que pequenas atitudes podem criar impactos positivos duradouros. No final do Pela Telajanela, a família do ZéGui propõe uma série de atividades e mudanças para fugir do digital e controlar tempo de uso de eletrônicos.

Giovanna Mazetto
Giovanna Mazetto

No livro, a criança aprende a valorizar o simples ato de olhar pela janela. Na sua visão, o que as crianças, e até mesmo os adultos, podem aprender ao desacelerar e observar o que está ao seu redor, sem a pressa da conectividade constante?

O prazer e o aprendizado que podem vir com um simples olhar para fora são imensos. Quando desaceleramos, damos espaço para a curiosidade, para a imaginação e para a conexão emocional. As crianças podem aprender a apreciar a natureza, as pequenas interações sociais e até a dinâmica das cidades. Já os adultos podem redescobrir o prazer do momento presente, algo tão importante para a saúde mental. Observar o que está ao nosso redor ajuda a construir histórias, a criar memórias e a viver de forma mais plena.

O que você acredita que Pela Telajanela pode oferecer aos pais, educadores e cuidadores que estão preocupados com o impacto da tecnologia na vida das crianças, especialmente no que diz respeito ao equilíbrio entre diversão, aprendizado e distração?

O livro pode ser uma ferramenta para iniciar conversas importantes. Ele ajuda a ilustrar o impacto que a tecnologia tem sobre a vida das crianças e como o equilíbrio é possível. A narrativa oferece um caminho para dialogar sobre o tema sem parecer impositiva ou didática demais. Ao mostrar a jornada do ZéGui, Pela Telajanela inspira pais e educadores a proporem atividades que incentivem a interação com o mundo real ou imaginário, criando momentos significativos longe das telas. Também é um lembrete para os adultos de que o exemplo que damos é fundamental para modelar comportamentos.

A personagem ZéGui, ao perceber a beleza do mundo real, começa a abrir sua mente para novas descobertas. Como você enxerga a transformação de crianças que, assim como ZéGui, se distanciam um pouco das telas? O que você espera que os leitores tirem de lição desse processo?

A transformação que ocorre quando uma criança se desconecta um pouco das telas é surpreendente. Elas passam a interagir mais, a usar sua imaginação de maneira mais livre e a explorar a criatividade em atividades que antes poderiam ser ignoradas. Fiquei encantada outro dia quando, em uma festa (de adultos), as crianças se juntaram para brincar de esconde-esconde e cabra-cega, sem nenhuma orientação. Bastou não ser oferecida nenhuma tela que se organizaram sozinhas e brincaram a noite toda.

O ZéGui também é um exemplo disso: ao olhar para o mundo fora da tela, ele descobre muitas possibilidades. Espero que os leitores percebam que o equilíbrio é possível e que há muito a ser descoberto e vivido longe dos eletrônicos.

Você tem uma carreira de escritora com obras que falam diretamente com o público infantojuvenil. Como a sua experiência com o livro Pela Telajanela moldou sua visão sobre o papel da literatura na educação e no desenvolvimento emocional das crianças?

Pela Telajanela reforçou para mim o poder da literatura como uma ponte entre o que as crianças vivem e o que elas podem aprender. É um meio de criar empatia, reflexão e conexão com temas relevantes de maneira leve e acessível. Durante o processo de escrita, percebi como histórias bem construídas podem ser instrumentos valiosos na educação emocional, ajudando as crianças a lidar com questões como limites, paciência, curiosidade e a relação com a tecnologia. O livro também reafirmou minha crença de que a literatura pode ser um lugar de encontro entre crianças e adultos, criando momentos de diálogo e aprendizado mútuo. E muita diversão, claro.

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