Alderico Rodrigues, também conhecido como Moreno, trilhou diversos caminhos ao longo de sua vida, desde cantor de boates até comerciante de calçados. No entanto, um sonho persistente sempre o acompanhou: tornar-se escritor. Após décadas de anotações e sinopses guardadas em seu baú, aos 28 anos, ele finalmente decide dedicar-se à publicação de seu primeiro livro. Nascido em Mimoso do Sul, Espírito Santo, e criado em Duque de Caxias, Rio de Janeiro, Moreno se inspira nas pessoas ao seu redor para dar vida aos personagens de sua obra inaugural, “Obrigado por você existir!”. Esta narrativa mergulha na saga da família Marfez, uma trajetória marcada por mudanças radicais e conflitos profundos que transcendem gerações. O livro, primeiro de uma série de quatro volumes, promete uma reflexão sobre a essência humana, o poder dos sentimentos e as consequências das decisões, tudo isso temperado com uma pitada de realidade em uma trama ficcional.
Como surgiu a ideia de escrever o livro “Obrigado por você existir!” e por que você decidiu publicá-lo após tanto tempo?
Desde sempre, sou possuidor de uma mente muito criativa e privilegiada. Preferia ouvir para deduzir e descobrir o oculto, a essência, ou a raiz de tudo e de todos ao meu redor. Às vezes, as indagações vinham da minha imaginação e de querer saber mais, de forma simples e amigável. Isso com certeza foi a vértice para descobrir nas pessoas o que as tornavam diferentes, interessantes, bizarras, inusitadas, com seus jeitos e trejeitos e atitudes por vezes estranhas…
Com esse dom de ouvir desde menino, eu perguntava muito e era um observador nato. Até minha dificuldade de locomoção ocasionada pela poliomielite com um ano de vida, que deixou sequela de atrofiamento do membro inferior esquerdo, não foi capaz de tirar meu ânimo. Pelo contrário, me encheu de garra, coragem e força de vontade, inteligência e uma mente criativa. Aos 7 anos, no caderno de dever de casa, descrevi um acidente que havia acabado de acontecer numa cancela próximo à minha casa e escrevi: “a mulher que o trem matou, morreu!” A professora perguntou-me três vezes se era isso mesmo, e todas as três eu confirmei. Foi o suficiente para ficar de castigo. A diretora adentrou a sala, sussurrou com a professora, ordenou que eu fosse para o meu lugar e saíram. Minutos depois, retornaram e, naquele exato momento, recebi o maior presente da minha vida até então. A diretora discorreu sobre liberdade poética e citou Sócrates, Machado de Assis e Fernando Pessoa. Assim, me apaixonei pela minha salvadora literatura. A partir disso, jamais faltou um lápis com borracha e um caderno fora do meu alcance.
Os anos se passaram, tudo que chamava a minha atenção, eu escrevia em papel, para não esquecer: letra de músicas, peça de teatro, poemas…, mas a gaveta ficou repleta de lembretes e bilhetes.
Aos 28 anos, fui hospitalizado para ser submetido a uma cirurgia de úlcera entre o duodeno e o estômago. Fiquei 45 dias no pré-operatório. Minha irmã, ciente da minha paixão pela escrita, levou-me caderno, lápis e borracha. No silêncio da noite, deitado em meu leito, li uma palavra da Bíblia, acredito que Eclesiastes: “Deus criou a vida e deu sentido ao seu viver!”. Com essa palavra, me assustei e fiquei gelado, temi, se porventura não saísse vivo daquele lugar, todo o meu acervo e tudo que estava na minha mente, estaria perdido, no anonimato.
Então comecei a escrever está saga que eu já tinha alguns personagens… graças a Deus, saí curado após a cirurgia e escrevi todo o meu acervo manuscrito. Depois ganhei um notebook do meu filho Leonardo, que me convenceu a publicar o primeiro volume desta linda e maravilhosa saga, “Obrigado por você existir!”. Eis uma saga em pleno sucesso! Hoje estou com 74 anos de idade, graças a Deus com muita saúde e vontade de escrever mais e mais.
Qual foi a sua maior fonte de inspiração ao criar os personagens e as tramas do livro?
A minha maior fonte de inspiração estava depositada nas ricas bagagens de informações que as pessoas traziam. Cada uma tem sua contribuição. Todas ganhavam o seu papel no universo da trama, e cada personagem tem seu espaço na linda escultura da história, na ficção.
Podemos esperar que os conflitos familiares e questões de poder sejam temas recorrentes nos próximos volumes da série?
Com certeza! O leque da trama vai se abrindo e, na medida que outros personagens vão surgindo, os conflitos vão se acirrando e o caldeirão vai ficando cada vez mais abrasado!
Como foi o processo de pesquisa e desenvolvimento do enredo, considerando que a história envolve locais e culturas diferentes?
Pesquisar sempre. Mesmo convivendo com os personagens reais, numa história de ficção, é necessário pesquisar em todos os segmentos da trama. Seja qual for a informação, é de suma importância uma prévia pesquisa antes de passar para o leitor. A pesquisa também auxilia o escritor a moldar os seus personagens em todos os sentidos: cultural, dialeto, figurino, costumes regionais…
Você mencionou que os personagens foram inspirados em pessoas reais do seu convívio. Como foi equilibrar a ficção com essas referências da vida real?
Foi como colocar no tabuleiro as pedras nos seus devidos lugares, como numa partida de xadrez. Porém, isso foi transmitido para a trama, segundo os seus temperamentos, atitudes, costumes, jeitos, trejeitos, religião, vícios, cultura, poder aquisitivo…

O livro aborda temas como traições, vinganças e o poder dos sentimentos. Qual mensagem você espera transmitir aos leitores através desses temas?
Está pergunta é muito importante para o momento que vivemos; onde o “supérfluo” está na moda. O “tudo” que “nada” contém está bombando e hipervalorizado. O “nada” que contém tudo, sequer é mencionado! Cito Salmos, 23: “o Senhor é o meu pastor e ‘nada’ me faltará!”. Porque o “nada” contém tudo: alimento, doutrina, prova… Leiam a saga “Obrigado por você existir!” para ter o próprio entendimento.
Como foi a jornada de transformação dos personagens ao longo da história, especialmente diante dos desafios que enfrentam?
Se porventura houver alguma transformação de algum personagem dentro do desenrolar da trama, será apenas um desvio de conduta temporário dentro do seu respectivo papel. Afinal, cada personagem já tem o seu roteiro pré-definido para cumprir com fidelidade!
Além de escritor, você teve outras profissões ao longo da vida. De que forma essas experiências influenciaram sua escrita e visão de mundo?
Muitas experiências profissionais que acumulei ao longo dos anos foram um tesouro de aprendizado. Também nunca deixei de estudar e de escrever os meus lembretes que hoje eu chamo de sinopses. A boa base está na construção de um futuro promissor em todos os momentos da vida. Me orgulho de ter sido engraxate, sapateiro, auxiliar de alfaiate, barbeiro, auxiliar de serviços médicos, balconista, vitrinista, gerente de lojas de calçados e mais tarde proprietário de loja de calçados, motorista particular e cantor de boate para ajudar nas despesas. E agradeço ao Senhor por este privilégio.
Quais são seus planos futuros para a série e para sua carreira como escritor?
Publicar os 3 volumes restantes da saga que estão prontos e revisar os novos trabalhos que estão no baú do meu acervo. Agora, quanto ao meu futuro, a Deus pertence. Espero fazer o máximo para continuar escrevendo e lançar novas obras. Mas não basta somente escrever, isto para mim é o de menos O problema é o dinheiro para cobrir as despesas. Sinceramente, o meu maior temor é o que pode acontecer com o escritor, o que outrora aconteceu com o cantor, entende?