Volatilidade do real acelera corrida por dolarização patrimonial e muda perfil das famílias brasileiras

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Para o consultor Guilherme Barbosa, avanço da alocação global revela mudança estrutural no comportamento financeiro de empresários e investidores de alta renda

A recente volatilidade do real frente ao dólar reacendeu o movimento de dolarização patrimonial entre famílias de alta renda, tendência que já vinha ganhando força desde o período pós-pandemia. Dados da ANBIMA mostram que a busca por produtos no exterior cresce de forma contínua, impulsionada por duas forças combinadas: o acesso quase instantâneo a produtos globais via plataformas digitais e a necessidade crescente de proteger patrimônio e projeto de vida do risco concentrado em um único país e em uma única moeda.

Para Guilherme Puglia Barbosa, consultor de investimentos e CEO da API Capital, o avanço indica uma transformação mais profunda no planejamento do investidor brasileiro. “A preocupação deixou de ser apenas a taxa de câmbio e passou a envolver preservação de poder de compra no longo prazo”, afirma.

Barbosa atua com foco em alocação global e gestão de risco. Segundo ele, a procura por estratégias dolarizadas tem se intensificado especialmente entre empresários do Sul do país, que enfrentam exposição direta a ciclos econômicos e variações de custos atrelados ao dólar. A instabilidade recente contribuiu para acelerar esse processo. “Sempre que há saltos na moeda, observamos um aumento imediato na demanda. Mas, desta vez, há um componente estrutural: o investidor vem entendendo que precisa reduzir a dependência de um único país ou regime monetário”, afirma.

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O movimento também é reforçado pelo crescimento das plataformas de investimento e pela digitalização do mercado, que ampliaram a oferta de produtos internacionais e facilitaram o acesso a estratégias de diversificação. Segundo relatório anual da ANBIMA, os fundos com exposição ao exterior estão entre os que mais avançaram no patrimônio líquido nos últimos anos. Para Barbosa, a mudança reflete maior maturidade financeira das famílias. “A discussão mudou de ‘quanto rende’ para ‘qual é a função de cada ativo na carteira’. Essa transição é positiva e aproxima o investidor brasileiro de práticas já comuns em mercados mais maduros”, analisa.

A API Capital acompanha o movimento com processos padronizados de rebalanceamento, revisão periódica das carteiras e foco no modelo fee-fixo. O foco em processos deriva da trajetória anterior do executivo, que atuou por quase 15 anos na Dow e na Corteva, liderando operações industriais e equipes de grande porte. A formação técnica, segundo ele, influenciou diretamente a abordagem atual na consultoria. “A engenharia ensinou que previsibilidade depende de método e processos. No mercado financeiro, o raciocínio é semelhante. Matemática, estatística, estratégia, rotina e disciplina constroem resultados mais consistentes que qualquer decisão pontual”, diz.

O avanço da dolarização patrimonial também se conecta a outra tendência observada entre investidores de maior renda: a busca por estruturas internacionais para organização financeira familiar. O interesse por holdings, trusts e RIAs nos Estados Unidos cresceu após a elevação da incerteza doméstica. Barbosa planeja expandir sua atuação para esse mercado nos próximos anos, com a criação da API Capital US. “Famílias estão analisando alternativas de longo prazo, tanto para proteção cambial quanto para sucessão. A diversificação geográfica deve fazer cada vez mais parte dessas estratégias”, afirma.

As famílias também passaram a perceber com mais clareza a perda de poder de compra provocada pela desvalorização do real ao longo do tempo. Estudos acadêmicos e análises de mercado apontam que a ausência de ativos dolarizados tende a ampliar a exposição ao risco cambial, especialmente em horizontes mais longos, reforçando a importância da diversificação internacional como instrumento de preservação patrimonial.

Na avaliação do consultor, o cenário atual tende a acelerar a profissionalização do planejamento de investimentos no país. A exigência por governança, métricas de risco e acompanhamento contínuo aumentou à medida que investidores passaram a conviver com ciclos mais curtos de volatilidade e com um ambiente macro mais complexo. “O investidor está mais atento e mais analítico. A busca por clareza de processo e alinhamento total de interesses deve guiar o setor daqui para frente”, conclui.

 

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