A terra sem lei que existe na internet

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Até que ponto a tecnologia pode ser considerada uma amiga do ser humano?

Como os nossos “inimigos” se tornaram tão amados e viciantes ao mesmo tempo? – Esse é o motivo do porque recentemente, o serviço internacional de streaming, Netflix, uma das plataformas mais conhecidas do mundo, virou notícias em diversas manchetes no Brasil, devido à repercussão de seu mais novo documentário: “O Dilema das Redes”, onde o diretor Jeff Orlowski nos mostrou através do comentário de diversas pessoas envolvidas nas principais empresas, que por sinal muitas começaram como start-ups, o segredo e a chave para o seu sucesso entre os usuários.

Uma coisa que me veio à cabeça, e que também deve ter sido feita por muitos, é “como agradar a tantas pessoas?”, levando em conta que essas plataformas acumulam informações de bilhões de pessoas em todo o globo. Acredito que o projeto feito por Orlowski, tenha nos mostrado que apesar de todas as funcionalidades que as plataformas nos propõem, nada disso poderia sair de graça, principalmente quando uma das maiores empresas do mundo, a Facebook, que hoje é um conglomerado que envolve a rede social mais usada no mundo desenvolvido em Harvard e detêm atualmente a WhatsApp, o maior aplicativo de troca de mensagens do mundo, obteve uma renda no começo da década passada avaliada em 7 bilhões de dólares. Como uma empresa conseguiria obter lucros desta dimensão, onde parte dos usuários da plataforma é formada de perfis de usuários comuns, e apenas uma parcela da plataforma investe alguns dólares em publicações pagas?

Foto: Pixabay

O documentário da Netflix consegue abrir a mente de muitas pessoas e mostrar como uma empresa como a Google, que foi fundada a 22 anos atrás em uma garagem nos arredores do Vale do Silicio, controla a vida indiretamente de bilhões de pessoas, e o seu valor de marco se traduz em US$ 382 bilhões. O filme também, apesar de mostrar os bastidores das redes sociais, pode apontar uma ameaça aos impérios da internet, pois em algumas cenas, mostra simulações de como as empresas “roubariam as informações”, utilizando seus usuários como se fosse um grande estoque de produtos. Se pegássemos todos os nossos dias de vida e transformarmos isso em horas, imagine o quanto nossas vidas já viraram propriedade privada das incorporações. É como se a população mundial inteira estivesse centralizada em um único local, que por sua vez, espalham seus servidores por todo o mundo. Eu ficava me questionando se essa atividade toda era ilegal? – Podemos pensar na seguinte questão: como você criou sua conta nas redes sociais? A partir do momento em que você acessou o site da plataforma ou baixou a entrada através das suas lojas de aplicativos, você basicamente entra em o que podemos chamar de uma “propriedade particular”. Depois dessa porta de entrada, você estará sujeito a uma coisa que muitas pessoas ignoram, porém, é exatamente onde poderiam encontrar algumas das respostas para os diversos dilemas e tabus que as gigantes da internet “escondem” entre as letras miúdas. O público alvo das corporações passa a ser não só conquistar o usuário, ou seja, produzir seus produtos por meio das conexões, porém, seu principal interesse é na parcela de anunciantes que pagam para terem seus anúncios voltados as pessoas certas, aquelas que os robôs das empresas detectam que existe uma boa perspectiva dos gostos baterem.

A internet acaba por se tornar uma verdadeira terra sem lei. Enquanto algumas pessoas tem medo de sobrecarregar seus computadores pessoais, para os empresários da tecnologia, quanto mais lotado estiverem seus servidores, mais satisfeitos e mais próximos ficam de terem seus objetivos conquistados. Porém, a dúvida ainda permanece: você estaria pronto para passar por uma verdadeira “abstinência” do que seria uma droga virtual, e principalmente, qual seria o valor que isso causaria de perda na rede social?

Foto: Pixabay

Além das redes sociais que criam o vínculo através dos seus smartphones, elas acabaram criando seus próprios revendedores, que seguindo por certa lógica, seriam os famosos influenciadores, pessoas anônimas, que através do YouTube ou do Instagram, se tornam verdadeiros vendedores para as suas plataformas, ganhando suas comissões por anúncio em publi-posts. O documentário da Netflix também mostra uma cena onde no jantar, uma mãe confisca os aparelhos da mesa da família, e isso é repetido em diversas situações no mundo real. Os pais demonstram preocupação com o tempo em que os filhos ficam conectados, porém muitas vezes não são exemplo de também não fazerem parte dessa teia virtual. Nesse caso, podem alegar que estão conectados pelos seus trabalhos, porém a maioria das fake news compartilhadas através do Facebook e WhatsApp vêm de pessoas adultas. De qualquer forma, o propósito de sua conexão não vai mudar o efeito que possa sofrer pelas redes sociais, o mesmo que teriam se seu filho estivesse conectado. Penso hoje se o mundo já não está 100% entregue a essas corporações, já que elas se mostram um dos possíveis modelos de negócios mais inteligentes do mundo, e um dos maiores propagadores de tendências e notícias, sendo explorado por influenciadores e empresas.

Algumas “doenças” ditas atuais, como o aumento da depressão, tentativas de suicídio ou falta de relações sociais, também são comumente relacionadas ao tipo de relacionamento social moderno. A influência das redes sociais pode não afetar somente ao público adolescente e infantil, em que o documentário utiliza como exemplo, pois, apesar dos adultos conseguirem desenvolver um senso maior de responsabilidade, muitos também acabam por caírem em golpes e outras malícias que as redes podem causas. O motivo da “Geração Z”, como são denominados os jovens usuários, ser mais vinculada e dependente desse alento, pode ser explicado a partir do fato de que os adultos nasceram em uma época onde o quadro das redes sociais não estava em alta, porém, as técnicas de manipulação empregada por designers e programadores se tornaram tão avançadas, que conseguiram englobar muitos adultos, que hoje se mantêm horas conectados e servem de produto para o mercado.

Foto: Pixabay

Essas empresas estão coletando tantos dados que a armazenagem acaba não tendo nem espaço físico em terra, como o caso da Microsoft, que há dois anos atrás noticiou a construções de seus servidores subaquáticos, onde grandes caixas lacradas ficavam situadas em áreas próximas às ilhas Órcades, localizadas a 16 quilômetros da Escócia. Se fossemos contar todos os fatos sobre as redes, nasceriam centenas de livros desse artigo ou do “O Dilema das Redes”.

Alguns meses após o lançamento do filme, o criador e CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, foi a mídia tentar rebater todos os pontos que foram falados no filme de Orlowski, de acordo com uma publicação do PROPMARK, um dos mais conhecidos sites de notícias sobre o universo do marketing no Brasil. O empresário diz que o longa se limitou a informar apenas discussões sensacionalistas sobre as redes sociais. Em uma das respostas de Zuckerberg, os convidados da produção foram apenas ex-funcionários que possuíam coincidentemente a mesma visão sobre o assunto que criticava as empresas. Vale lembrar que o empresário de apenas 36 anos, já é proprietário do Facebook, Instagram e WhatsApp, e carrega em suas contas e ações uma fortuna em torno de 111 bilhões de dólares, se tornando o terceiro homem mais rico do mundo. De acordo com a Revista Pequenas Empresas e Grandes Negócios, ele está atrás apenas de Jeff Bezos, dono da Amazon, e Bill Gates da Microsfot.

Temos que decidir como vamos interpretar essa discussão, ou qual caminho tomar. As fake news criadas pela internet, se tornam tão populares, que podem acabar ganhando aparência de verdadeiras. Mitos e verdades, esse é um dos subprodutos que os bilhões de usuários no mundo são capazes de produzir, alcançando um nível que não conseguimos mais diferenciar o verossímil da mentira, assim como a radiação produzida pelos telefones, que ainda são debates até hoje.

Será que encontraremos uma forma de nos relacionarmos socialmente com mais segurança e humanidade algum dia ou o mundo irá continuar correndo cada vez mais a ponto de perdemos o controle de nossas personalidades?

Acompanhe os últimos artigos de Luca Moreirawww.instagram.com/lucamoreirareal

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