Falando em vilões… e a Malévola?

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Recentemente estreou nos cinemas e no Premier Access do Disney Plus um filme focado numa vilã de um clássico da Disney. Obviamente me refiro ao filme Cruella, que conta uma história sobre o passado da vilã principal de 101 Dálmatas, Cruella de Vil. Infelizmente, por conta da pandemia (Que ainda desenrola-se numa escala cada vez maior aqui no Brasil) e de uma falta no quesito financeiro que existem pessoas aos quais ainda não puderam assistir ao filme. Vide isso, eu, como uma dessas pessoas impossibilitadas. Decidi pegar meu tempo livre e focar meus olhos no assunto desse texto, a vilã Malévola. Usando conhecimentos adquiridos nos filmes: A Bela Adormecida, Malévola e Malévola: Dona do Mal . Eu quero que entendamos juntos o que torna a Malévola, uma figura de superação e redescoberta.

! Spoilers dos três filmes já citados a frente, prossiga por sua conta e risco !

Malévola, uma fada má?

Acredito que uma forma boa de entender a história da Malévola é mostrar onde, quando e como fora criada. No intuito de mostrar como ela está hoje em dia e o que tornou ela o símbolo que é. Vamos começar pela obra clássica, A Bela Adormecida.

No filme clássico de 1959, acompanhamos a história da Princesa Aurora. Filha do rei Estevão (Como é chamado pela dublagem), que nasceu gerando toda uma comoção no reino porque durante seu batismo foi abençoada por três fadas boas e amaldiçoada por uma fada má. Essa fada sendo obviamente Malévola. Em resumo, Aurora quando completasse dezesseis anos iria furar o dedo no fuso de uma roca de fiar e cair num sono eterno. As fadas boas que abençoaram ela decidem então leva-la para longe, em uma tentativa de parar a maldição. Algo que não dá certo e faz com que Príncipe Felipe, o noivo prometido e interesse amoroso da princesa, venha a intervir para salva-la com um beijo de amor verdadeiro. Tendo antes disso, lutado e matado Malévola quando a mesma tentou o impedir. Então o príncipe e a princesa vivem juntos, felizes para sempre como diria o ditado.

Nesse primeiro instante Malévola é mostrada apenas como sendo maligna. Um ser de pele esverdeada que vive num castelo caindo aos pedaços ao lado dos pequenos servos do mal típicos de todo vilão, incluindo seu corvo. Fazendo maldade unicamente porque sim. Essa é a única coisa que sabemos e concluímos sobre ela. Seria essa a apresentação mais justa? por que ela colocou a maldição em Aurora sem mais nem menos? Acredito ser claro suficiente para que com tamanha pouca informação possamos dizer, “tem caroço nesse angu“.

Malévola, visual clássico

Sendo uma consequência clara das continuas tentativas de humanização de personagens clássicos para um novo momento da Disney, algo que já comentei na postagem anterior ocorrer bastante com heróis. O filme de 2014 apresenta um novo panorama sobre o ocorrido com a princesa e mostra porque a Malévola fez o que fez.

Nesse novo filme somos apresentados a dois reinos, o reino humano e o “reino” moors. Moors são seres místicos em geral: fadas, duendes e outros. Os humanos são gananciosos e almejam conquistar as riquezas fantásticas de seus vizinhos, enquanto os moors apenas divertem-se com a natureza em sua maioria ou lidam com invasores numa pequena escala. Sendo Malévola uma desses moors que acaba por lidar com invasores, especificamente um humano de nome Stefan.

Stefan e Malévola

Stefan é um jovem camponês órfão que invadiu a morada dos moors e roubou um pequeno cristal. Foi pego no flagra por árvores vivas que guardavam toda a floresta dos moors e então escoltado até as planícies humanas por Malévola, onde num último momento demonstrou interesse em voltar para vê-la. Ele volta atrás dela e ao longo de anos eles constroem uma amizade. Um sentimento que evolui até o estado ápice de um amor, isso ocorre quando nos dezesseis anos de Malévola ela recebe um autoproclamado por Stefan: beijo de amor verdadeiro“.

O momento do autoproclamado “beijo de amor verdadeiro

Logo após isso, o rapaz some por anos. O mesmo foi em busca de realizar seu sonho de ser rei. Malévola sabia que o humanos eram gananciosos e teve mais uma prova quando o rei das terras humanas tentou invadir com um exército. Junto aos seus outros companheiros moors, ela parou a invasão e feriu gravemente o rei. Então ai que a oportunidade de ouro surgiu para Stefan, seria o próximo rei aquele matasse Malévola.

Usando dos sentimentos construídos ao longo de anos, Stefan desculpou-se com Malévola para que ela lhe deixasse entrar em suas terras e pegasse a mesma quando estivesse vulnerável. Ele não conseguiu mata-la enquanto estava adormecida por uma bebida que o mesmo deu, pois de alguma forma seus sentimentos o impediram. No entanto, ainda foi capaz de cortar suas asas e deixa-la ali sozinha. Mostrando as asas da moors para o rei, fingindo que havia matado-a. Stefan então subiu ao trono.

Momento em que Malévola descobre a perda de suas asas

Machucada, traída e confusa. Aquela que até então era uma das mais poderosas moors e a mais temida das fadas tem que se levantar e tentar entender o que acontece. Ela liberta um corvo que tinha sido capturado por um caçador, transformando-o em humano. Seu nome era Diaval e por ter sua vida salva ele torna-se os olhos da Malévola para saber o que se passava no reino humano. Descobrindo graças ao mesmo toda a verdade acerca de Stefan. Amargurada e raivosa, ela sobe com seus poderes ao trono de rainha dos moors e é quando a filha de Stefan, Princesa Aurora, nasce que ela decide ter sua vingança.

No batismo da criança ocorre tudo como no clássico. De forma magistral, a atuação de Angelina Jolie mostra a amargura e ódio de Malévola em seu ápice. Numa bola de neve que culmina tudo na forma da maldição ao qual Aurora passa a carregar. Graças a traição de seu pai para com a mulher inocente ao qual amou ele mais que tudo. Uma mulher agora detentora do titulo de “A fada má”.

Atire a primeira pedra quem nunca se arrependeu…

As três fadas boas levam a princesa embora assim como no original, só que agora sabemos um fato peculiar. Além de defender os moors com seus poderes por anos, vemos que “A fada má” observou as fadas e a criança. De certa forma zelando por Aurora, salvando-a inclusive uma vez ou outra. Não nos deixando saber ao certo no principio se o fazia por empatia ou apenas para ver a menina sofrer mais tarde da maldição.

Chega um ponto em que Malévola revela-se para a jovem princesa, ao qual acredita piamente tratar-se de sua fada madrinha. A partir dai, nossa “fada má” passa a redescobrir aquilo que a muito tempo não sentia: Amor. A relação materna de ambas cresce, com Malévola mostrando mais do mundo dos moors e passando a arrepender-se terrivelmente de ter condenado o destino da jovem por conta do que o pai dela havia outrora feito. Tentando até mesmo tirar a maldição, embora não adiantasse. Sua amargura na época em que lançou-a tornou ela poderosa demais.

Futuramente quando prestes a completar dezesseis anos, Aurora descobre sua maldição e da culpa de sua “fada madrinha”. Ela retorna ao castelo de seu pai, onde por negligência ela acaba numa situação onde a maldição concretiza-se. Temos então o momento de maior diferença do clássico para com essa nova história. No momento em que o beijo do Príncipe Felipe (Aqui chamado de Phillip) na famosa bela adormecida, simplesmente não gera nenhum efeito aqui. Aurora é apenas salva quando recebe em sua testa, um beijo triste e emotivo de sua “fada madrinha” ao ver que perdeu ela e a culpa é toda sua.

Todo o resto do filme foca numa batalha final entre Stefan e Malévola, ao qual termina na morte do primeiro. Durante a batalha, num simbolismo de renascimento para com sua parte mais pura que havia se perdido durante o episódio de perda das asas. Malévola recupera-as e ascende em glória, coroando sua filha de consideração Aurora, como a nova rainha dos moors o que acaba por restabelecer a beleza e inocência daquela terra.

O que devemos aprender com Malévola?

Em resumo, na sua jornada Malévola enfrenta um episódio de abuso e toda a leva de sentimentos ruins e traumas ao qual isso acarreta. Tendo sido uma mulher inocente de certa forma, ela quando traída apenas consegue responder de uma forma tão maligna quanto ao golpe de resposta que recebeu na contramão de seu amor puro e confiança. Trazendo desgraça para uma vida ao qual nada tinha haver. Ela se arrepende e graças a própria Aurora descobre-se num meio muito mais cinza do que as pessoas acreditavam.

Ela não era a “fada má” que todos acreditavam. Muito menos era a mesma mulher inocente de antes, ela aprendeu mais sobre si quando tornou-se para alguém importante novamente e quando deixou essa pessoa ser importante em sua vida. Ela não iria sair fazendo uma maldade simplesmente por vontade de fazer o mal, não era esse tipo de pessoa, apenas iria fazer o necessário para proteger a si e aqueles que ama quando os mesmos fossem atacados. Algo claro no segundo filme.

Um filme que explora desde suas origens de espécie, até como o seu mito como a “senhora de todo mal” espalhou-se. Porém, ainda alinhada com seu cerne e em contradição com tudo de errado dito sobre ela. Prova-se alguém simples, sendo para Aurora sua “Mamãezinha“.

Julgamos demais as pessoas. Não valorizamos suas histórias e acabamos por deixar pra lá enquanto a vida de alguém se desfaz pois a julgamos previamente. Temos de ser mais como Aurora e saber que o coração da pessoa não necessariamente é um reflexo de uma característica física. Mas também ser como Malévola, lembrando sempre de que é possível recomeçar e de que nunca estamos sozinhos. Principalmente, quando fazemos o bem e reconhecemos nossos próprios erros. Até porque a própria “dona do mal”, tinha asas de um anjo.

Reconecte-se consigo e os outros

Se desejar, confira antigas postagens dessa coluna e comente suas opiniões: Conjecturas Fantásticas

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