Gerson Rocha fala sobre experiência no cinema internacional e relembra sets com Chris Hemsworth, Rodrigo Santoro, Paul Walter Hauser e Mark Wahlberg

Luca Moreira
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Gerson Rocha
Gerson Rocha

Entre sets de Hollywood, treinos de dublê e jornadas pelo cinema internacional, o ator brasileiro Gerson Rocha vem consolidando uma trajetória que o aproxima, passo a passo, de seu maior sonho: alcançar reconhecimento mundial. Hoje radicado na Austrália, ele já contracenou com nomes como Mark Wahlberg, Chris Hemsworth, Phoebe Tonkin e Rodrigo Santoro, além de integrar produções como Subversion, Two Years Later e a superprodução Godzilla x Kong: Supernova, prevista para 2027. Dividido entre o desejo de debutar no cinema nacional e o compromisso de se aprimorar continuamente, Rocha vive um momento de expansão criativa — em que atuação, preparação técnica e espírito empreendedor caminham lado a lado.

Gerson, sua trajetória começou de forma simples e hoje te coloca ao lado de grandes nomes do cinema mundial. Quando você se vê em um set com Chris Hemsworth ou Rodrigo Santoro, o que passa pela sua cabeça — o menino que imitava personagens da Sessão da Tarde ainda conversa com o ator que você se tornou?

Com certeza. Aquele menino ainda vive em mim. Eu sempre fui muito ligado à arte. Quando criança eu dançava forró, lambada, lambadaeróbica, fiz sapateado e participei de grupos de dança e capoeira, pratiquei capoeira por quase 10 anos na cidade de Piedade-SP, que me acolheu e moldou muito do que sou hoje.

Na escola, eu fazia teatro, me apresentava em peças, participava de grupos culturais… sempre estive conectado à cultura e ao movimento artístico. Venho de uma família simples, sem acesso e sem recursos, mas algo dentro de mim sempre acreditou que eu poderia chegar mais longe.

A vinda para a Austrália acabou me levando para o caminho do empreendedorismo, onde aprendi e amadureci muito. Mas, no fundo, algo sempre me chamava de volta: os sets de filmagem, as câmeras, a interpretação, sempre fui viciado em assitir films. Hoje, cada vez que entro em cena, é como se aquele menino olhasse pra mim e dissesse: “Eu sabia que um dia a gente ia conseguir.”

Além de Chris Hemsworth e Rodrigo Santoro, você dividiu set também com Mark Wahlberg, outro grande nome da comédia norte-americana, em Balls Up. Poderia nos contar um pouco sobre suas experiências nos sets de filmagem?

Estar em uma produção como Balls Up foi simplesmente incrível. Eu atuei como um torcedor brasileiro e fiquei de 1 a 2 metros de distância do Mark Wahlberg e do Paul Walter Hauser. Os dois são extremamente simpáticos e descontraídos, eles brincavam e interagiam com a plateia (a torcida brasileira), criando um clima leve e divertido no set. Foram 7 dias de filmagem intensos, mas muito profissionais.

No filme Subversion, interpretei um comandante da marinha com falas e destaque, com câmeras em três ângulos diferentes focando a cena em que eu dispenso minha tropa, uma experiência marcante. Mas nao sabemos o que se passa na cabeca dos direitores editors e a cena que fiz nem va pro ar.

Em Godzilla Vs. Kong, filmei por seis dias dentro dos estúdios da Warner Bros, interpretando um segurança. A estrutura desse set foi algo surreal: organização, logística e um nível de produção gigantesco.

Estar próximo de atores como Chris Hemsworth e ter um rápido diálogo com Rodrigo Santoro em Runner, tambem tive um dialago rapido com a atriz Phoebe Tonkin sem saber que era ela, so descobrir depois quando cheguei em casa, também foram momentos simbólicos, que reforçaram minha certeza de que estou no caminho certo.

Você vive hoje na Austrália, mas ainda carrega o Brasil no coração. Como é equilibrar essa identidade dupla — ser um artista brasileiro construindo carreira internacional sem perder a sua essência cultural?

Ser brasileiro é algo que nunca sai de dentro da gente. Mas construir carreira na Austrália não é simples, especialmente para brasileiros. O mercado é muito competitivo e dominado pelos próprios australianos. Por isso, eu sempre precisei fazer o dobro ou até o triplo para me destacar.

Baseio isso na minha experiência de vida: eu repito, treino, estudo, e faço até encontrar o ponto de equilíbrio. Eu ainda tenho o sutaque, eu faço curso de pronunciação, workshops de língua americana e ainda faço voice coaching, tudo pra melhorar a pronunciar em inglês, mas eu tenho um sutaque australiano no meu inglês.

Procuro dar meu melhor em tudo o que faço, mantendo minha essência, meu jeito brasileiro, minha cultura, mas também absorvendo a disciplina e profissionalismo da cultura australiana. Essa mistura se tornou minha força.

O curso de dublês parece ter te levado a um novo nível de entrega física e emocional. Que lição essa experiência te trouxe sobre coragem e vulnerabilidade, tanto dentro quanto fora das câmeras?

O curso de dublê foi uma das experiências mais inovadoras que já vivi. Eu queria apenas complementar meu talento, conhecimento e currículo, mas logo percebi que o treinamento era muito maior do que isso. Como os instrutores sempre dizem: “Um ator pode ser dublê, mas um dublê não pode ser ator.”

Ou seja, antes de ser dublê, você precisa ser ator, e eu quero ser completo. Porém tem muitos alunos que não fazem atuações, somente o curso de doublê.

Nas minhas duas primeiras aulas, eu não aguentei o esforço físico: tive câimbra no estômago e fiquei uns 15 minutos deitado no chão. Hoje estou muito mais avançado e apaixonado pelo processo.

Aprendemos lutas coreografadas, manuseio de armas, simulações militares, quedas, acrobacias e diversas técnicas de impacto. Ser dublê é uma verdadeira escola de vida: é dominar o corpo, a mente, o medo, a disciplina e o autocontrole. Você acaba levando todo o seu apredizado pra fora das câmeras, e carrega pra vida.

Em Beach Commander, você improvisou falas e acabou conquistando o diretor um momento que parece simbolizar o poder da autenticidade. Como você lida com o improviso na vida real, quando o roteiro foge do planejado?

Na vida, assim como no set, o improviso é inevitável. O segredo é estar preparado e confiante. Mas improvisar não significa falta de prepare, significa estratégia. Sempre planejo o máximo possível, busco estar um passo à frente e mantenho confiança no que sei fazer.

No filme Beach Commander, tive que improvisar porque o texto original criava um vazio entre o meu diálogo e o do ator principal. Esse improviso chamou a atenção do diretor, que gostou muito da minha naturalidade. Beach Commander é um piloto independente australiano com previsão de entrar na Netflix e, por ser um projeto desse porte, temos mais proximidade com diretores e produtores, o que é uma grande oportunidade. Improvisar com verdade abriu portas que eu nem esperava.

Você também é empreendedor, com projetos em tecnologia e inteligência artificial. De que forma esse lado inovador e estratégico influencia o seu olhar artístico — e vice-versa?

Eu acredito que a arte e o empreendedorismo têm muito em comum. Ambos exigem visão, criatividade e coragem para começar do zero. Meu lado empreendedor me ensinou a pensar como produtor, a entender o que há por trás de uma câmera — a logística, o planejamento, o marketing. Isso me ajuda a ser um ator mais consciente.

Por outro lado, o artista dentro de mim traz emoção, sensibilidade e propósito para meus negócios. A tecnologia é a nova linguagem do mundo, e eu quero usá-la para aproximar pessoas, inspirar e criar oportunidades — tanto no cinema quanto fora dele. Eu empreendo há 14 anos. Foram mais de 12 empresas criadas, administrada e gerenciada,s geridas e vendidas, atuando em setores completamente diferentes.

Parei de empreender por um tempo porque queria focar de verdade na atuação e sinto que agora chegou o meu momento. Minha bagagem de vida, minha experiência como empreendedor, a comunicação e a mentalidade estratégica me ajudam muito como artista. A  arte e o empreendedorismo têm muito em comum: ambos exigem visão, coragem, disciplina e criatividade para começar do zero. E eu levo esses dois mundos comigo.

O cinema brasileiro vive um momento de prestígio no exterior. Que tipo de história ou personagem você sonha em interpretar quando finalmente atuar em uma produção nacional?

Gostaria de interpretar personagens que mostrem a força e a complexidade do povo brasileiro. Gosto de dramaturgia, ação, tática, filmes de luta mas o que mais me toca são personagens com emoção, verdade e superação.

Histórias que conectam o público de forma profunda, como:

  • Tropa de Elite, com Wagner Moura, eternizou o Capitao Nascimento;
  • A cena marcante de Lázaro Ramos com Wagner Moura em O Pai Ó;
  • John Ǫ (Denzel Washington) Filme muito bom, ele se identifica com a familia;
  • Seven Pounds (Will Smith) sem palavras pra esse filme, superacao;
  • Crash, esse cai no ditado ingles: goes around, comes

Também quero atuar em produções com temas sociais e psicológicos como meu filme Collapse, que escrevi explorando racismo, discriminação, corrupção, fé e dilemas morais, ano que vem vamos graver o trailer Piloto.

Quero representar o Brasil com orgulho estando e atuando aqui fora, por mais que eu seja Australiano tbem, quando me apresento falo que sou brasileiro. Porém acima de tudo, quero atuar no Brasil. O cinema brasileiro vive um momento grandioso no mundo, e eu quero fazer parte disso.

Você está escrevendo o livro Breaking the Illusion, que reflete sobre sua jornada. Qual foi a maior ilusão que você precisou quebrar para continuar acreditando no seu próprio sonho?

Na verdade, o livro não fala apenas da minha jornada, mas do sistema australiano, da burocracia e de como lidar com os desafios de empreender nesse país. A maior ilusão foi acreditar que sucesso vem rápido ou que o talento é suficiente.

O que realmente faz diferença é a persistência, a disciplina e a fé. Passei por muitos altos e baixos, tanto nos negócios quanto na arte, e entendi que o verdadeiro sucesso é não desistir de quem você é, mesmo quando tudo parece desabar.

A Austrália valoriza muito o trabalhador braçal, os “tradies” e os family-owner businesses. Mas, quando você quer crescer e se tornar uma empresa real, corporativa, aí você enfrenta o Sistema. Você bate de frente com o Sistema.

Meu livro é um guia didático e direto, mostrando como:

  • quebrar limitações de mentalidade;
  • evitar erros comuns;
  • se tornar um empreendedor de verdade;
  • e alcançar independência financeira com saúde e estratégia.

É um manual para quem quer construir algo sólido fora da ilusão, tenho Certeza que ira ajudar muitas pessoas aqui na Australia e for a tambem, porque pode pegar como base.

Sua trajetória parece guiada por uma mistura de disciplina e fé. Quando as câmeras se desligam e o silêncio chega, o que te mantém motivado a seguir acreditando nesse caminho tão desafiador da atuação?

O que me mantém em pé é o propósito. Eu acredito que cada pessoa nasce com um talento, e o meu é contar histórias. Quando estou em cena, sinto que estou cumprindo algo maior do que eu mesmo. Também acredito muito em Deus e no poder da fé. Já passei por momentos difíceis, pessoais, financeiros, emocionais, mas sempre soube que tudo isso fazia parte do processo. Eu me pergunto até hoje qual é o propósito de eu estar aqui na Austrália. De onde eu vim, o caminho que trilhei, tudo o que vivi… nada foi fácil. Mas eu sigo acreditando que existe um motivo maior.

Minha motivação vem da minha saúde mental e física, da minha fé em Deus e da certeza de que posso conquistar minhas metas. Eu cheguei até aqui por mérito, foco e perseverança, e quero ser exemplo para quem se identifica com a minha história. Enquanto eu tiver força, fé e propósito, eu continuo.

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