A cantora, compositora e atriz Lauren Lucas consolida uma trajetória que atravessa palcos, estúdios e agora as telas, reafirmando sua versatilidade como uma das vozes mais singulares da música norte-americana contemporânea. Dona de uma interpretação marcada pela herança sulista e por um timbre rico e caloroso, ela já passou pela Broadway, pelo lendário Grand Ole Opry, liderou turnês internacionais e construiu uma carreira reconhecida tanto pela crítica quanto pelo público.
Indicada ao Tony Award como compositora e ao ACM Award como artista, Lauren dá mais um passo importante ao assinar, ao lado do premiado músico Keb’ Mo’, a trilha sonora original da nova comédia da Netflix, Leanne, na qual também interpreta o tema principal. Sua voz marcante pode ser ouvida ainda no álbum Room on the Porch, de Taj Mahal & Keb’ Mo’, que alcançou o topo da parada de blues da Billboard, reforçando sua presença entre os grandes nomes do gênero.
Com composições já apresentadas na ABC, na Broadway (Urban Cowboy), no cinema e gravadas por artistas como Danielle Peck e Damien Horne, Lauren acumula parcerias de peso, tendo dividido o palco com Blake Shelton, Kenny Chesney, Old Dominion e The Bacon Brothers, entre muitos outros. Enquanto segue escrevendo e gravando novas canções para seus projetos autorais e para trilhas de audiovisual, a artista também dedica parte de sua carreira ao ensino, como professora de composição musical na Belmont University, em Nashville.
Sua trajetória passa por palcos muito diferentes — da Broadway ao Grand Ole Opry, e agora à Netflix. O que permanece o mesmo em você, independente do palco ou do público?
Meu amor por criar música, cantar e contar histórias continua o mesmo, não importa em qual gênero eu esteja escrevendo. Descobri que existem vários pontos de conexão entre escrever para teatro e para música country, o que me surpreendeu. Escrever música instrumental para TV é diferente porque você não escreve letra (exceto para o tema principal), mas criar motivos melódicos e melodias nasce do mesmo lugar. Eu realmente gosto de fazer tudo isso.
Em Leanne, você não apenas compôs a trilha sonora, como também emprestou sua voz ao tema principal. Quando você percebeu que essa canção realmente havia encontrado sua identidade dentro da série?
Nós criamos o tema principal no primeiro dia de trabalho na série. A produtora pediu aquilo imediatamente. Foram necessárias várias versões. Não sabíamos se havia “funcionado” até que nos enviaram imagens de episódios futuros para trabalharmos, e lá estava a música inserida temporariamente. Imaginamos que, como não voltaram com observações e estavam usando o tema nos episódios, devíamos ter criado algo de que eles gostaram para representar o clima da série. Aprendi rapidamente que, nesse meio, ausência de notícias é um bom sinal!

Seu som tem raízes profundas no Sul dos Estados Unidos, mas ressoa globalmente. O que significa para você carregar essa alma sulista em um mundo musical tão diverso?
Eu cresci no teatro comunitário em Columbia, na Carolina do Sul, principalmente me apresentando em shows musicais locais chamados Showstoppers. Eu estava cercada por todos os gêneros — dos standards dos anos 40 ao jazz, ao gospel, às canções patrióticas, e muito mais. Sou muito grata por essa formação musical tão ampla e diversa. A forma de contar histórias e a intensidade emocional das músicas antigas moldaram como eu crio música hoje. O gospel, o Motown e a country foram grandes influências ainda na infância. Algo naquela profundidade da alma desses estilos ficou em mim, junto da abordagem narrativa do processo de composição em Nashville. Com o tempo, conforme tive oportunidades de criar para vários gêneros e outros artistas, bem como para mim mesma, tudo foi se transformando nesse som que eu chamo de “alma sulista” (southern soul).
Como foi o processo criativo ao trabalhar com Keb’ Mo’? Houve algo nessa colaboração que mudou a forma como você enxerga sua própria música?
Keb’ Mo’ tem sido uma das minhas maiores influências musicais desde a época da faculdade. Ter a oportunidade de trabalhar com ele e chamá-lo de amigo é algo profundamente especial para mim. Ele é, de fato, um gênio musical. Ele ouve coisas que outras pessoas não ouvem e sabe exatamente o que busca — um som, um verso, um ajuste de equalização. É um músico incrível e ainda completamente apaixonado pelo ato de fazer música. Aprendi muito com ele, como o fato de que a colocação certa de apenas uma nota ou ritmo pode elevar toda uma composição. Ou como reorganizar uma letra para deixá-la mais impactante e simplesmente escrevê-la da forma como você realmente falaria. E como pessoa, admiro profundamente sua confiança no tempo das coisas e sua capacidade de ver o melhor em todos.

Sua carreira atravessa teatro, cinema, televisão e música country. Em qual desses mundos você sente que sua vulnerabilidade artística aparece de forma mais autêntica?
Acredito que minha vulnerabilidade artística se revele mais na composição — independentemente do gênero. Eu posso interpretar uma música em diversos estilos como vocalista, posso interpretar um personagem ou ajudar um diretor ou artista a comunicar uma história que não é minha. Mas na escrita, sempre levo algo de mim para o processo. Ou estou buscando experiências que vivi, ou imaginando o que seria vivê-las a partir da minha perspectiva e visão de mundo.
Você também leciona composição musical na Universidade de Belmont. O que mais te inspira ao orientar novos compositores — e o que eles te ensinam em troca?
Cada turma cria sua própria dinâmica, e é muito divertido quando o grupo se conecta rápido e se sente vulnerável o suficiente para compartilhar e apoiar uns aos outros. Sinto-me inspirada quando vejo estudantes com fome de aprender, evoluir na técnica e no comprometimento com a composição. É empolgante ver a paixão e a força de vontade deles. Eles me ensinam desde as tendências mais recentes até novos caminhos para abordar uma letra. Também aprendi muito com o próprio ato de ensinar. Eu sempre… fazia. Mas precisar destrinchar meu processo para transmiti-lo a outras pessoas tem sido extremamente valioso para o meu próprio desenvolvimento como compositora.
Muitos artistas descrevem a composição como uma forma de cura. O que escrever e cantar representa para você hoje — ainda é uma busca, um refúgio ou um espelho?
Às vezes, escrever pode ser realmente curativo. Eu escrevo tanto por encomendas que nem sempre vivencio a parte terapêutica diariamente. Mas há certas canções que sempre guardarei com muito carinho porque me ajudaram a processar experiências difíceis. Cantar, para mim, sempre será um refúgio. Sempre me considerei primeiro uma cantora. Eu amo a sensação — é tão natural para mim quanto respirar. Tornar-me compositora exigiu um esforço maior, principalmente de confiança em mim mesma. O canto sempre veio de forma muito mais instintiva.
Depois de tantos palcos e histórias, que tipo de canção você sente que ainda precisa escrever? Há algum tema ou emoção que ainda não tenha colocado em palavras?
Quanto mais eu vivi, mais interessantes minhas músicas se tornaram — na minha opinião. Passei por mais experiências, sou uma pessoa mais interessante do que era aos vinte e poucos anos. Eu costumava escrever apenas canções de amor ou término — muitas das minhas alunas estão presas nesses temas, o que é típico da fase de jovem adulta. Mas hoje tenho muito mais satisfação em escrever sobre redenção, maternidade ou qualquer coisa que esteja ocupando meus pensamentos ou emoções na vida real. Eu me inspiro em outras formas de arte que vejo e me pergunto: “Como eu faria a minha própria versão disso? O que eu posso acrescentar a essa ideia?” Eu não sei se existe um tema específico implorando para sair neste momento, mas mal posso esperar para ver o que me inspira conforme a vida continua a acontecer.
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