Irmãs Spanomarkou levam a Grécia antiga ao cinema em “O Oráculo Perdido de Trófono”

Luca Moreira
10 Min Read
The Spanomarkou Sisters, Ioanna and Areti in Global Music Awards
The Spanomarkou Sisters, Ioanna and Areti in Global Music Awards

As irmãs gregas Loanna e Areti Spanomarkou, reconhecidas como duas das compositoras mais influentes das últimas décadas, estão prestes a estrear no cinema com o filme “O Oráculo Perdido de Trófono”, uma produção que une mitologia, história e suspense em uma narrativa épica. Descrito como um thriller de aventura nos moldes de Indiana Jones e O Código Da Vinci, o longa será filmado em sítios arqueológicos na Grécia e em estúdios na Romênia, prometendo transportar o público para o coração das lendas helênicas.

Membros da Academia de Gravação (Grammy Awards) e premiadas internacionalmente por suas trilhas sonoras, roteiros e direções, as Irmãs Spanomarkou continuam expandindo as fronteiras da arte grega contemporânea. A produção, assinada por sua própria empresa, Strofinx, reafirma o compromisso da dupla em preservar a herança cultural da Grécia, conectando tradição e modernidade em escala global.

“O Oráculo Perdido de Trofônio” combina mitologia, história e suspense. Como foi o processo de transformar uma lenda antiga em uma história cinematográfica contemporânea — mantendo viva sua alma grega?

Para nós, “O Oráculo Perdido de Trofônio” não é apenas uma história — é um retorno às raízes sagradas da narrativa grega. Os gregos crescem cercados por mitos que mais parecem memórias do que contos. Você dirige por cidades ou vilarejos e, de repente, percebe que está passando pelos mesmos lugares onde Sócrates, Hércules, Ulisses ou Leônidas caminharam um dia.

É exatamente isso que sentimos toda vez que visitamos a cidade de Levadia, e foi isso que despertou nossa pesquisa de longo prazo para localizar a caverna subterrânea de Trofônio, que antigamente foi um tesouro e, mais tarde, tornou-se um oráculo. Pausânias chegou a visitá-la e descrevê-la em detalhes — mas sua localização exata se perdeu com o tempo.

Durante uma pausa para o café em uma masterclass em Atenas com o lendário executivo de cinema e ex-presidente do Oscar, Sid Ganis, estávamos contando a ele e à sua esposa, a produtora Nancy Ganis, que seria uma ótima ideia visitarem alguns sítios arqueológicos a caminho de Ioannina.

Durante a conversa, eles perceberam nossa paixão pela história e perguntaram:

“Por que vocês não combinam isso com a paixão que têm pelo cinema?”

Essa frase acendeu uma faísca — e, de repente, nasceu a inspiração para criar este filme, que agora está em pré-produção com um elenco internacional.

A história se passa na Grécia moderna e acompanha um arqueólogo em sua jornada por museus e sítios antigos em busca do Oráculo Perdido de Trofônio. Quando começamos a moldar o filme, não queríamos apenas recontar uma lenda antiga — queríamos despertá-la novamente. Nosso sonho é transportar o público de tal forma que ele queira visitar os próprios lugares onde o mito nasceu.

Por isso, é essencial para nós filmar nos sítios arqueológicos reais. Ainda é possível sentir a energia de Trofônio naquelas pedras, junto aos rios da Memória e do Esquecimento — “Letes e Mnemosyne”. Que nomes incríveis para rios, não é?

Nosso desafio foi conectar eras diferentes, manter o misticismo, o simbolismo e a espiritualidade da lenda, e traduzi-los de uma forma que o público de hoje sinta em seus ossos. O resultado, esperamos, é um filme que fala ao mundo inteiro — mas bate com um coração grego.

Vocês começaram como compositoras e agora estão ingressando no mundo do cinema. O que a música ensinou sobre narrativa que agora influencia o trabalho de vocês como roteiristas e diretoras?

A música foi a primeira forma de narrativa que conhecemos. Cada uma de nossas canções conta uma história. A música ensina estrutura, ritmo, silêncio — ensina como construir tensão e quando deixar as coisas respirarem. De certa forma, enxergamos as cenas de um filme como melodias.

Quando escrevemos um roteiro, não apenas visualizamos — ouvimos a música por trás do diálogo. É possível orquestrar emoção através das falas, das ações, da luz, das sombras e do som. Aplicamos essa mesma filosofia: emocionar o público, guiando-o entre crescendo e pausas, como se conduzíssemos uma jornada emocional.

Estamos muito felizes porque nosso incrível diretor em “O Oráculo Perdido de Trofônio”, Antonis Sotiropoulos, também vem do mundo da música e começou como compositor. Ele compreende o ritmo do roteiro e suas emoções subjacentes, trazendo tudo à vida exatamente como imaginamos!

A Grécia possui uma das heranças culturais mais poderosas do mundo. Como equilibrar o respeito por essas tradições com o desejo de inovar e dialogar com uma geração global?

Para nós, tradição não é uma peça de museu — ela está viva.

Ela fala de forma diferente para cada geração, e cada uma mergulha nas anteriores à sua própria maneira. Nossa abordagem no cinema é respeitar a essência e experimentar na forma.

Podemos usar mitos antigos, modos bizantinos ou ritmos folclóricos, mas reinterpretamos tudo através de paisagens sonoras modernas, da linguagem cinematográfica e de colaborações internacionais. Se você quer crescer e criar novos ramos, precisa garantir que suas raízes estejam mais profundas.

O mundo está pronto para redescobrir a Grécia além dos clichês — para ver a Grécia moderna nas telas, sem perder sua cultura atemporal. Seria uma bênção se, ao assistir a nossos filmes, adolescentes no cinema pegassem o celular e pesquisassem algo. Esse é exatamente o nosso objetivo! Lembramos de ter a mesma reação ao assistir O Código Da Vinci e Indiana Jones. Corremos para as enciclopédias e para a internet.

Ioanna and Areti Spanomarkou
Ioanna and Areti Spanomarkou

Como membros da Recording Academy e artistas com alcance internacional, como vocês veem o papel da arte na construção de pontes entre diferentes culturas?

Todos os corações batem no mesmo ritmo. O batimento cardíaco foi o primeiro ritmo que a humanidade copiou para criar música — é universal, não precisa de tradução para ser sentido.

Através da música e do cinema, vimos como uma melodia nascida na Grécia pode emocionar alguém no Japão, na Malásia, no México ou em Nova York. Elas não apenas entendem — elas sentem.

Fazer parte da Recording Academy reforçou nossa crença de que cada nota carrega o poder de conectar e curar. A música une as pessoas, as vozes se encontram, os corações se alinham — e, de repente, ninguém se importa de onde vem quem está ao lado.

Trabalhar lado a lado como irmãs certamente traz harmonia, mas também desafios. Como essa relação influencia o processo criativo e as decisões artísticas de vocês?

Ajuda muito a manter a ordem no meio do caos! [risos] Existe um ritmo silencioso entre nós — conseguimos terminar as frases e até as melodias uma da outra. Às vezes, até rimos da mesma forma! Quando uma de nós imagina algo, a outra já parece saber como isso soa ou se parece — como se a musa nos inspirasse juntas.

Claro, como todo time poderoso, nem sempre concordamos. Mas essas diferenças geram conversas produtivas. Colaborar significa misturar ideias e sair da zona de conforto. Nunca discutimos sobre quem está certa — e sim sobre o que torna o projeto melhor. Esse é o poder da irmandade: honestidade e confiança.

Em meio à música, ao cinema e à narrativa, qual mensagem ou emoção vocês mais esperam deixar para quem vivencia o trabalho das Irmãs Spanomarkou?

Queremos criar conexão — fazer com que alguém sinta que o coração reconheceu algo familiar, mesmo sem saber explicar o porquê. Seja por meio de uma melodia, uma cena ou uma história, é essa sensação que buscamos.

Nosso sonho é despertar emoção, inspirar as pessoas a sentir, a se interessar por história, arte e descoberta… a buscar suas raízes, paixões e verdadeiras essências. Queremos ajudá-las a experimentar aquela sensação mágica e extasiante da inspiração. É isso o que desejamos.

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