Odilio Xavier Júnior transforma fé e sabedoria sertaneja em fábula sobre escolhas e redenção

Luca Moreira
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Odilio Xavier Júnior
Odilio Xavier Júnior

Quantos sofrimentos poderiam ser evitados se a sabedoria guiasse as escolhas? É essa reflexão que o escritor Odilio Xavier Júnior propõe em O jumentinho, o escorpião velho e os perigos da caatinga, fábula que mistura ensinamentos cristãos e elementos da cultura sertaneja para narrar a jornada de um jumentinho em busca de sentido e fé. Por meio de personagens simbólicos — como um escorpião sábio que renuncia à própria violência —, a obra conduz o leitor por temas como amizade, superação e transformação espiritual, mostrando que a verdadeira sede humana só pode ser saciada pela sabedoria e pela Palavra Divina.

Sua fábula começa com uma pergunta profunda: “Quantos sofrimentos poderiam ser evitados se a sabedoria guiasse as escolhas?” — Quando essa reflexão passou a fazer parte do seu próprio caminho de vida?

Tem um ponto na vida que a gente começa a olhar para trás e refletir sobre nossas decisões, nos machucados que sofremos, nas dores que certamente causamos… Quando me casei (mais ainda depois de ter filhos) percebi que minhas ações afetavam profundamente a vida dos meus. Notei que, para ter uma boa vida, eu precisava de ferramentas melhores que meus instintos. Não foi fácil ver que eu me considerava inteligente, mas que minhas escolhas provavam justamente o contrário.

O escorpião velho escolhe arrancar o próprio ferrão e renunciar à violência. De onde veio essa metáfora tão poderosa sobre transformação e entrega?

Essa ideia veio do princípio de que devemos tratar o outro da maneira que gostaríamos de ser tratados. Se essa “regra de ouro” fosse seguida por mais pessoas, certamente o mundo seria um lugar bem melhor! Quem nos deixou esse ensino foi Jesus de Nazaré. Veja que não estou falando de religião… Estou falando de um homem que poderia ter organizado uma insurgência contra o Império Romano, mas que, ao não fazer isso, e nem recorrer à violência, é lembrado até hoje.

O jumentinho busca água, mas acaba encontrando algo muito maior: sentido e fé. Na sua visão, qual é a “sede” mais urgente que a humanidade precisa saciar hoje?

É fácil ver que a humanidade está doente. Parece que as pessoas gostariam de deslizar um dedo e fazer desaparecer do universo todos que discordam delas… Isso é brutal!! Mas o problema não é o outro: o problema é o mal em todos nós. O inimigo não é o outro: o inimigo é o mal que se manifesta em nós! Essa “sede” só pode ser saciada ao se relacionar com Deus. Sem nada que nos transcende, tentamos saciar nossas carências com orgulho e egoísmo. Isso certamente causará dores.

A amizade entre o jumentinho e o escorpião é o coração da história. Como essa relação entre inocência e sabedoria reflete o relacionamento entre Deus e o ser humano?

O escorpião transmite ao jumentinho trechos da sabedoria milenar presente na Bíblia. Assim como esse sofre pela caatinga por não conhecer um caminho para a água, boa parte de nós sofre por não conhecer o caminho que leva a uma vida feliz. Na fé cristã, cremos que Deus nos enviou Jesus, mostrando-nos o caminho para uma vida com mais significado, mais perdão, mais amor.

Odilio Xavier Júnior
Odilio Xavier Júnior

A caatinga é um cenário cheio de contrastes — árida e bela, dura e cheia de vida. Por que escolheu esse ambiente para ambientar a jornada espiritual de seus personagens?

Na vida de todos nós, beleza e dor se misturam. Mesmo quando uma lágrima cai, às vezes é bom senti-la escorrendo pelas bochechas. Existe beleza até num cacto cheio de espinhos. Acho lindo esses contrastes. Assim é nossa breve existência, assim é a caatinga. Acho que foi por isso que escolhi esse bioma como cenário de “O jumentinho, o escorpião velho e os perigos da caatinga”.

O senhor teve uma carreira longa e intensa como piloto militar antes de se dedicar à escrita. Que aprendizados dessa vivência o ajudaram a construir a sensibilidade e a disciplina presentes no livro?

Existe muito sofrimento na carreira militar. Tive um comandante (Coronel Todesco) que gritou certa vez: “fraco é quem fraco se imagina!”. Aquilo me marcou profundamente, pois eu era tão magro que tinha um colega de turma que me azucrinava dizendo que nunca sabia se eu estava de frente ou de lado. Muitos anos depois, descobri que as palavras daquele comandante tinham embasamento bíblico, pois no livro de Joel está escrito “Diga o fraco: eu sou forte!”. Depois de muitos anos, aprendi que meditar no que está escrito na Bíblia nos arma para vencer qualquer guerra.

Sua obra convida à fé, mas também à reflexão sobre escolhas e autoconhecimento. Como o senhor acredita que a espiritualidade pode dialogar com a razão e a ciência nos dias de hoje?

Não vejo motivos para colocar fé e ciência em lados opostos, num ringue. Você e eu existimos, as estrelas e galáxias também. A ciência busca descobrir verdades que já estão aí, mas que ainda se encontram encobertas. Na fé cristã, acreditamos que Jesus é a Verdade que já nos foi revelada. Pela fé, cremos que Deus criou todas as coisas. A ciência segue atrás (não porque é antagonista da fé), mas porque tenta explicar algo que veio antes dela própria e que é muito maior: tudo que existe.

Se pudesse deixar um conselho do “escorpião velho” para quem está enfrentando um deserto pessoal agora, qual seria?

Às vezes pensamos que sofremos porque não sabemos alguma coisa. É um ponto válido. Mas muito do nosso sofrimento vem por causa de coisas que pensamos que sabemos mas estamos errados. Veja, se você errar ao posicionar algumas peças de um quebra-cabeças, chegará num ponto sem saída em que nada mais se encaixa. O problema não são as peças que restam. O problema está nas peças que você encaixou errado. Se até hoje você desprezou o que Jesus ensinou à humanidade, dê uma chance! Por outro lado, se você é cristão, olhe, com sinceridade, para suas atitudes e veja se você pratica o que Ele ensinou.

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