Isadora Ruppert brilha em “O Agente Secreto”, novo filme de Kleber Mendonça Filho cotado para o Oscar 2026

Luca Moreira
10 Min Read
Isadora Ruppert (Amanda Aguiar)
Isadora Ruppert (Amanda Aguiar)

A atriz Isadora Ruppert integra o elenco de O Agente Secreto, novo longa de Kleber Mendonça Filho que estreia nos cinemas brasileiros em 6 de novembro. Produzido por Emilie Lesclaux e pela CinemaScópio, o filme teve sua estreia mundial no Festival de Cannes 2025, onde conquistou os prêmios de Melhor Direção e Melhor Ator (Wagner Moura), e foi o escolhido da Academia Brasileira de Cinema para representar o Brasil na disputa pelo Oscar de Melhor Filme Internacional em 2026.

Na trama, Isadora interpreta Daniela, uma mulher envolvida em dilemas de paixão, poder e memória, em uma narrativa que revisita os anos sombrios da ditadura militar. “É um filme necessário, sobre o Brasil, sobre o que ainda precisamos enfrentar como sociedade”, afirma a atriz, que também participou do premiado Ainda Estou Aqui, vencedor do Oscar 2025.

Além de seu destaque no cinema, Isadora mantém uma sólida carreira no teatro, com passagens por produções como Cabaré TV e Ainda Sou Circo, e participa da próxima série da Netflix, BR 70. Aos 26 anos, ela celebra o momento de ascensão: “Ver o cinema brasileiro sendo aplaudido no mundo inteiro é emocionante. É uma honra fazer parte dessa história.”

“O Agente Secreto” é um filme que fala sobre memória, poder e o Brasil contemporâneo. Que tipo de reflexões pessoais esse projeto despertou em você durante as filmagens?

Durante as filmagens eu sentia que estávamos fazendo algo grande, até por ser um filme de Kleber. Os filmes dele sempre trazem questões muito pertinentes para a nossa sociedade, e a gente consegue reconhecer, nas histórias que ele conta, muitos dos impasses que atravessam o nosso país. Infelizmente, vivemos em um país que tem lapsos de memória. Sinto que obras como “O Agente Secreto” fazem parte de um movimento necessário: registrar, questionar e romper com lógicas que ainda persistem no Brasil e que precisamos deixar no passado. É fundamental entender o que não pode ser repetido.

O que mais o projeto me fez refletir foi sobre essa questão: que lógica de país é essa em que vivemos? E acho que ainda não tenho essa resposta, porque vivemos em um país com muitas nuances. Mas uma coisa é certa: precisamos compreender os erros do passado para que não vivamos os mesmos retrocessos mais uma vez.

Você estava presente em Cannes quando o filme foi premiado. Como foi viver aquele momento — não apenas como atriz, mas como brasileira, vendo o cinema nacional ser ovacionado?

Foi um estado de êxtase completo! Imagina o maior festival de cinema do mundo… Foi muito emocionante, eu sou completamente apaixonada pelo Brasil, eu tenho muito orgulho de ser brasileira e encho a boca para falar. O Brasil é uma potência: na música, nas artes plásticas e no cinema. Somos reconhecidos internacionalmente por conta disso e foi muito lindo ver um filme muito brasileiro, que fala sobre o nosso país, que fala sobre Recife – que é uma cidade importantíssima culturalmente para o Brasil – tendo esse reconhecimento e acolhimento do público e do festival. Além de ter sido um sonho de adolescência realizado, foi, com certeza, um dos momentos mais marcantes que vivi até hoje.

“Ainda Estou Aqui” e “O Agente Secreto” têm em comum a abordagem de períodos históricos intensos. O que te atrai em projetos que mergulham em feridas políticas e sociais do país?

Quando eu estava prestes a decidir o que faria na faculdade, cheguei a considerar cursar História. Sempre fui muito boa nessa matéria, gabaritava todas as provas e amava de verdade. No fim, optei por fazer Artes Cênicas, mas, de certa forma, continuo contando histórias na minha profissão. Vejo tudo o que vem acontecendo como uma feliz coincidência. Para mim, faz todo sentido mergulhar nesses temas. Poder contar a nossa história e debater questões políticas e sociais por meio do cinema e dos filmes é algo muito potente. Me sinto feliz e honrada por ter tido essas oportunidades. Além de serem assuntos que me interesso profundamente.

Isadora Ruppert (Amanda Aguiar)
Isadora Ruppert (Amanda Aguiar)

Sua avó viveu a repressão da ditadura e precisou se esconder. De que forma essa história familiar influencia suas escolhas e a forma como você se conecta a papéis como o de Daniela?

Morei com a minha avó durante alguns anos da minha vida, e falar sobre questões políticas e sobre a ditadura era algo muito presente no nosso cotidiano. De certa forma, isso me moldou como pessoa, desde muito cedo. Aprendi muito sobre a história do nosso país por causa dela.

Esses filmes foram surgindo de maneira muito orgânica na minha trajetória, mas acredito que nada seja por acaso. Afinal, são temas que, de alguma forma, eu já vivenciava dentro de casa. Sempre que surge um projeto ambientado nesse período da ditadura, penso imediatamente na minha avó. Acho que, onde quer que ela esteja, estaria muito orgulhosa.

Você vem de uma trajetória sólida no teatro. Como essa formação influencia sua atuação diante das câmeras, especialmente em filmes de tamanha densidade emocional?

Eu costumo dizer que o teatro é a casa do ator. O teatro me deu base, me ensinou a ter compromisso com o meu ofício, um compromisso diário de entrega e dedicação, e levo isso para todos os trabalhos que faço. É no teatro que você aprende o que é ser ator/atriz, e sou muito grata por ter estudado em duas grandes escolas aqui do Rio: O Tablado e a UNIRIO.

Sinto que teatro e audiovisual são linguagens diferentes quando falamos de atuação. Então, é claro que, quando estou diante de uma câmera, faço ajustes, ainda mais se for um plano mais fechado. Mas, no fundo, é a mesma coisa, porque uma boa atuação, seja diante das câmeras ou no palco, é uma atuação verdadeira, que vem de dentro.

O quadro “Pequenas Epifanias”, nas redes sociais, mostra um lado leve e cotidiano seu. É uma forma de equilibrar as emoções intensas de papéis como os de “O Agente Secreto”?

O Pequenas Epifanias é o meu xodó. Quem me acompanha diariamente nesse processo é a Beatriz Adler, que além de ser uma grande amiga, é psicóloga, escritora e roteirista. Eu gosto muito desse projeto porque ele me mantém ativa: é leve, bem-humorado, e acho que estamos precisando justamente disso como sociedade. É algo que me mantém em movimento, sempre atuando, criando novas esquetes, pensando em novos vídeos. Me traz muita alegria e leveza.

Em sua opinião, o que o público brasileiro precisa sentir ou repensar ao assistir “O Agente Secreto”?

Como eu disse, O Agente Secreto é um filme que fala muito sobre o Brasil. Ele joga luz sobre questões profundas que ainda nos atravessam como sociedade. Acredito que para evoluirmos como indivíduos, como brasileiros, precisamos encarar o nosso passado: olhar para as sombras que ainda persistem no presente e que podem continuar no futuro se não olharmos para isso. O filme é também um convite para que a gente sinta orgulho do nosso cinema, da nossa história, do Brasil que somos, mas, ao mesmo tempo, para refletirmos sobre o que precisa mudar, sobre os problemas que continuam pairando sobre nós e que não queremos carregar adiante.

Você começou a sonhar com o cinema ainda criança, ao assistir “Recife Frio”. Hoje, trabalhando com Kleber Mendonça Filho, como é ver esse sonho transformado em realidade?

É simplesmente inacreditável. Eu costumo dizer que o cinema do Kleber foi muito importante na minha formação, tanto como artista quanto como pessoa. Foi um marco na minha adolescência entrar em contato com a obra dele, e sinto como um presente poder viver algo tão potente e, ao mesmo tempo, tão jovem.

O Kleber é uma pessoa muito generosa, calma e serena. Foi incrível poder desenvolver uma relação de trabalho e também uma proximidade pessoal com ele. Ele é realmente muito bom no que faz e merece todos os louros por isso. É um cara massa. É muito especial quando você conhece seus ídolos e eles são gente como a gente: gente boa, do bem, massa de verdade.

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