Em Doutrina Alorem: O livro proibido dos 7 Preceitos que destroem a sua vida, o escritor Paulo Kamiya entrelaça filosofia, psicologia e suspense em uma narrativa provocadora que expõe os riscos de ideias nocivas quando disseminadas sem responsabilidade. A trama acompanha Leomar Alorem, um tatuador que transforma seus traumas em uma doutrina capaz de mobilizar seguidores e opositores, ao mesmo tempo em que desafia o leitor a refletir sobre manipulação, polarização e as consequências do poder das palavras no mundo real.
A obra apresenta Leomar Alorem como alguém que transforma suas cicatrizes em um conjunto de preceitos. Como foi para você criar um personagem que usa a dor como ferramenta de construção ideológica?
Criar um personagem que possui uma filosofia de vida sofrida e injusta foi um desafio intenso. Precisei imaginar como a dor poderia moldar seu caráter e se transformar em preceitos distorcidos. Era essencial que fosse real o bastante para soar verossímil. Leomar Alorem precisava ser frio e cruel, mas também carismático, capaz de seduzir apenas pela palavra. Só assim faria sentido a obsessão de Rafael diante de ideias tão nocivas.
O livro mistura filosofia, psicologia e suspense em uma narrativa híbrida. Como você equilibrou a profundidade reflexiva com o ritmo tenso de um thriller?
A mistura das vozes foi acertada porque eu pretendia mostrar a visão do personagem pela Doutrina (1ª pessoa na voz de Rafael), e outra visão mais objetiva (3ª pessoa) para explicar o que realmente acontecia na narrativa. Esse equilíbrio fez com que o ritmo tenso se tornasse mais fluido e a filosofia, mais interessante e menos densa.
A Doutrina Alorem rapidamente se transforma em movimento social. Até que ponto a sua intenção foi refletir sobre o poder das redes sociais e a polarização que vivemos hoje?
A Doutrina Alorem foi pensada como uma metáfora da era digital e um alerta sobre como conteúdos tóxicos podem viralizar e prejudicar indivíduos. Serve também como espelho do comportamento disfuncional das pessoas.
Curiosamente, na história, o livro alcança o mundo inteiro através da tradução feita por Ricardo. No mundo real, isso acontece de forma semelhante pelas entrevistas em sites internacionais. É como se a ficção estivesse se projetando para a nossa realidade, conectando literatura e comportamento contemporâneo.
Os rituais simbólicos, como o uso de velas bicolores e mantras, dão uma aura quase mística à obra. De onde surgiu essa inspiração e o que ela acrescenta à experiência do leitor?
Os rituais surgiram da ideia de que todo movimento ideológico precisa de símbolos para fortalecer a fé dos seguidores. Isso cria sensação de pertencimento e devoção à Doutrina. Cada um dos 7 Preceitos são representados por uma vela bicolor, com cor no topo e base preta, uma escolha pouco comum e original. O fiel que seguir todos os 7 Preceitos ganha como recompensa uma vela totalmente preta, símbolo máximo da Doutrina. Assim, o Mantra e os rituais tornam a experiência do leitor mais imersiva, quase mística e memorável.

Você cita que o objetivo do livro é alertar sobre os riscos de publicar ou compartilhar ideias perigosas. Qual foi o momento em que percebeu a urgência desse alerta?
A urgência desse alerta surgiu ao perceber que pessoas ainda fazem discursos manipuladores ou impõem suas ideias nas redes sociais e nos noticiários. Ideias perigosas podem parecer inofensivas até ganharem adesão e compartilhamentos. Foi a partir dessa análise que o livro nasceu, funcionando como alerta e provocação ao mesmo tempo. Ele diz: cuidado, suas palavras têm poder e podem gerar consequências em cadeia. Assim, o leitor é convidado a refletir sobre responsabilidade e influência no mundo digital.
O enredo provoca o leitor a questionar até onde está disposto a defender sua própria verdade. Ao escrever, você também se viu confrontado com suas próprias crenças?
Em alguns momentos, sim; outros, não. Compreendia muito bem como eram as minhas crenças e, ao escrever a narrativa do livro, tomava todo o cuidado de descrevê-las do ponto de vista do personagem, e não a minha. Porém, eu sabia que as ideias tóxicas de Leomar nunca deveriam me dominar; caso contrário, também me destruiria.
O Teste com I.A. que o leitor pode executar é um recurso curioso e inovador. De onde veio a ideia de conectar a narrativa literária com experiências práticas no mundo real?
Como a I.A. está em destaque na mídia atualmente, decidi inserir essa experiência no meu livro. Porém, ao invés de tratá-la como um simples personagem da história, quis levar a experiência mais além. O leitor utiliza a I.A. da ficção no mundo real, descobrindo como os termos Aloremista ou Anti-Aloremista podem se aplicar à nossa realidade. Essa conexão aproxima a narrativa do cotidiano e provoca reflexão. A intenção é mostrar que ideias literárias podem se tornar práticas, despertando consciência crítica no leitor.
Ao longo da sua trajetória literária, você transitou entre poesia, romance, contos e suspense. O que Doutrina Alorem representa dentro da sua evolução como escritor?
Doutrina Alorem representa um ponto de virada na minha trajetória como escritor. Minha experiência com poesia, romance e contos preparou-me para criar uma obra ousada e diferente. Além de provocar o leitor, o livro oferece uma ferramenta inovadora, o Teste com I.A. Essa experiência interativa leva o leitor a refletir e participar da narrativa. Assim, a obra se torna única, surpreendente e marcada por inovação dentro do meu percurso literário.
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