Duo Lambada da Serpente lança EP de estreia e celebra a fusão entre Amazônia e música latina

Luca Moreira
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Lambada da Serpente (Marcus Bonham)
Lambada da Serpente (Marcus Bonham)

O Duo Lambada da Serpente, formado por Son Andrade (percussão) e Ramiro Galas (tecladeiras), lança no dia 28 de agosto seu primeiro EP homônimo, trazendo ao público uma sonoridade batizada de “Música Latino-Americana Futurista”. A obra mistura elementos tradicionais da Amazônia — como carimbó, lambada/guitarrada e brega — com gêneros nordestinos, como forró e baião, em diálogo com referências latinas que vão da salsa ao mambo. O resultado é um trabalho vibrante, moderno e dançante, que reafirma a importância da conexão cultural entre Brasil e América Latina.

Vocês mencionam que o projeto é um convite para “aprofundar a conexão do Brasil com a América Latina”. Como essa visão se traduz na música de vocês e no modo como vocês enxergam o cenário cultural atual?

Acreditamos que, ao misturar as culturas fruto da interação entre povos da diáspora africana e povos latinos originais, apertamos com mais força esse nó cultural que une o Brasil à América Latina. Na prática, a gente mistura cumbia com o ijexá, o baião com champeta, ritmos tradicionais andinos com coco e carimbó. Tudo isso num formato que flerta com o dub, a cultura soundsystem e a música de pista. Temos essa visão antropológica da cultura atual, a mistura é a música do mundo do futuro.

Lambada da Serpente (Marcus Bonham)
Lambada da Serpente (Marcus Bonham)

A sonoridade de vocês une carimbó, lambada, forró, baião e tantos outros ritmos. Como foi o processo de selecionar e equilibrar essas influências para criar algo que soasse moderno e, ao mesmo tempo, respeitasse suas raízes?

Na verdade, ficamos atentos para não misturar tudo numa música só. Afinal, os andamentos, acentos e escalas desses gêneros são relativamente próximos. Nossa intenção é misturar sem perder a referência de onde vem. Queremos inventar um futuro que valorize esses ritmos forjados da sabedoria de mestres e mestras da cultura popular unidos às sonoridades e tecnologias contemporâneas da música eletrônica.

Lambada da Serpente (Marcus Bonham)
Lambada da Serpente (Marcus Bonham)

O termo que vocês usam para definir o som — “Música Latino-Americana Futurista” — é muito potente. O que significa para vocês ser futurista dentro de um gênero que carrega tanta tradição?

Já dizia Chico Science que o “futuro é agora, peraí, chegou”. É mais ou menos por aí, produzimos músicas com os recursos que temos no “presente”, de olho nas tradições e lições de um “passado” cultural, apontando para um possível “futuro” estético e cotidiano no qual Brasil e America Latina passem a perceber melhor um ao outro.

Lambada da Serpente (Marcus Bonham)
Lambada da Serpente (Marcus Bonham)

O EP “Lambada da Serpente” marca o nascimento digital do trabalho de vocês. Qual foi o maior desafio de transformar o projeto dos palcos e festas para o formato de gravação?

Toda produção musical envolve a definição de um processo de criação. O nosso, logo de cara, foi marcado pela intensa interação entre o produzido no estúdio e o improvisado no ao vivo. Assim, cada “acidente feliz” que acontecia no palco ia parar na gravação, e toda ideia boa de estúdio, levávamos para o palco, e assim seguimos nesse loop.

Lambada da Serpente (Marcus Bonham)
Lambada da Serpente (Marcus Bonham)

Vocês trabalham com computadores, sintetizadores e instrumentos orgânicos. Como equilibram o lado tecnológico e o lado artesanal na hora de produzir as faixas?

O equilíbrio vem da pesquisa e das expertises de anos de trabalho e pesquisa de cada um de nós. Somos produtores, músicos e temos em nosso gosto pessoal uma certa alquimia revolucionária. Assim, amarrar eletrônico e orgânico flui muito naturalmente.

Lambada da Serpente (Marcus Bonham)
Lambada da Serpente (Marcus Bonham)

Vocês enxergam a música de vocês como um ato político ou de resistência? Qual é o papel da arte, na visão de vocês, em tempos de incertezas sociais e políticas?

A música fala pelo conteúdo e pela forma. No conteúdo, a música que tocamos é uma mistura de existência mais resistência de povos e culturas viventes e sobreviventes de um sistema colonizador perverso. Na forma, abraçamos a antropofagia modernista, o desbunde dos anos 70, a pista de dança da música eletrônica, as tecnologias do século XXI… Queremos então uma música decolonial do sul do mundo.

O trabalho de vocês nasceu dos palcos e das festas. Como a reação do público influencia a forma como vocês compõem e pensam os arranjos?

Na pista, improvisamos e testamos o que já foi produzido. No estúdio, notamos o que deu certo na pista e no corpo do público, e aplicamos aos arranjos.

O lançamento do EP é só o começo. O que podemos esperar da Lambada da Serpente nos próximos meses? Há planos para turnê, colaborações ou novos experimentos sonoros?

A gente agora quer rodar com esse álbum no Brasil e América Latina, apresentando nosso show em formato live pa e divulgando nosso som. Mas como o futuro está bem perto, já começamos músicas para um disco novo, estamos fechando parcerias com artistas do Pará, Brasília, São Paulo, Piauí, Brasil e de fora e temos alguns remixes e singles no forno.

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