Inspirado em clássicos da cultura geek dos anos 1990 e 2000, o escritor Jonatas Aragão apresenta Max Oliver: o protetor das galáxias, obra que acompanha a transformação de um adolescente humilde em herói intergaláctico após se fundir a uma inteligência artificial alienígena. Com múltiplas dimensões, paradoxos temporais e referências a obras como Dragon Ball, X-Men Revolution e Ben 10, o lançamento vai além da fantasia e da ficção científica ao abordar dilemas da juventude, desigualdades sociais e o poder da resiliência, firmando-se como uma narrativa que une nostalgia, aventura e reflexão.
A origem do herói – Max Oliver nasce de um encontro improvável com uma inteligência artificial. De onde veio sua inspiração para criar um protagonista que carrega tanto humanidade quanto tecnologia em sua essência?
A criação do personagem Max Oliver veio de diversas inspirações que tive ao assistir animações quando criança, sendo a principal delas a obra Ben 10, cujo protagonista me inspirou bastante. Além disso, o personagem também foi baseado em uma pessoa real que infelizmente faleceu muito jovem, mas cuja bondade, humildade e personalidade serviram de referência. Max Oliver foi criado para retratar as dificuldades vividas pelo povo do Bronx, em Nova York, uma região marcada pela violência, pela falta de oportunidades e pelo abandono social e policial. Ao situar o personagem nesse contexto, busquei transmitir humanidade, mostrando que, mesmo em meio às dificuldades extremas, ainda existem pessoas de bom coração que vivem de forma humilde e digna, mantendo a esperança e a felicidade apesar das adversidades.
Entre ficção e realidade – Apesar do cenário épico e intergaláctico, o livro traz dilemas muito humanos, como desigualdade social, amizade e amadurecimento. Como você equilibrou fantasia e crítica social na construção da narrativa?
Para mim, sempre foi essencial que Max Oliver fosse mais do que apenas um herói em meio a batalhas intergalácticas. Desde o início, eu quis que a obra refletisse também dilemas humanos reais, como desigualdade social, perda, amadurecimento e a importância da amizade. O equilíbrio surgiu de forma natural, pois usei a fantasia como ferramenta para ampliar essas questões e levá-las a um nível mais profundo. O cenário cósmico e as ameaças universais servem como metáfora para os desafios cotidianos que muitas pessoas enfrentam. Assim, enquanto o leitor acompanha as lutas épicas, também é levado a refletir sobre a realidade social. O Bronx, por exemplo, é um símbolo dessa crítica, representando lugares marginalizados. Dessa forma, a ficção não afasta da realidade, mas a potencializa.
Homenagem e legado – A obra foi idealizada em homenagem a um amigo de infância. De que forma essa memória afetiva influenciou a jornada de Max e a mensagem que você deseja passar aos leitores?
A memória afetiva desse amigo de infância foi um dos pilares na criação de Max Oliver. Ele era alguém de coração bondoso, humilde e sempre disposto a ajudar, mesmo diante das dificuldades, e quis trazer essas qualidades para o personagem. Essa inspiração pessoal deu profundidade à jornada de Max, tornando-o não apenas um herói, mas um reflexo da força que existe em pessoas comuns. A obra, portanto, carrega um tributo à vida curta, mas marcante, desse amigo. Cada decisão de Max, cada ato de coragem e compaixão, carrega um pouco dessa lembrança. Meu objetivo é que os leitores sintam que a bondade e a humanidade podem ser tão heroicas quanto enfrentar vilões cósmicos. Mais do que ação e aventura, a mensagem é sobre legado e esperança.
Sarah Medellín Blake e as barreiras sociais – A personagem rompe com as convenções de classe ao se aproximar de Max. Qual foi sua intenção ao colocar essa questão das diferenças socioeconômicas no centro da trama juvenil?
No caso da Sarah Medellín Blake, minha intenção foi criar um contraste direto com Max Oliver. Enquanto ele vem de uma origem humilde no Bronx, Sarah pertence a uma das famílias mais poderosas dos Estados Unidos, dona de um império econômico que domina desde produtos básicos até recursos militares. Porém, ao contrário de sua família orgulhosa e elitista, Sarah é uma jovem humilde e empática, que prefere conviver com pessoas simples. Sua escolha de estudar em uma escola pública, onde conhece Max, simboliza sua ruptura com os padrões da classe alta. Essa relação mostra que a verdadeira riqueza está nos valores humanos, não no patrimônio. A mensagem é que amizade e amor podem superar qualquer barreira social.

A força das referências geek – Você cita inspirações como Dragon Ball, Liga da Justiça e Ben 10. Qual dessas referências foi mais decisiva para a construção do universo de Max Oliver, e por quê?
Entre todas as referências geek que inspiraram o universo de Max Oliver, a mais decisiva sem dúvida foi Dragon Ball. Desde criança, sempre tive um grande apego por essa obra e pelo trabalho de Akira Toriyama, que me marcou profundamente. A forma como ele expandiu sua narrativa para além da Terra, explorando outros planetas e civilizações, foi essencial para eu imaginar algo semelhante em minha própria criação. No Volume 1 já é possível perceber essa influência, mas minha intenção é que, ao longo dos 12 volumes, essa expansão cósmica se torne ainda mais evidente. Dragon Ball me mostrou que uma obra pode ser épica, mas também humana. Essa foi a base para tornar Max Oliver único e vivo.
O vilão e suas sombras – Táramos, o ditador intergaláctico, busca um artefato que sustenta a vida de todos os seres. Você acredita que bons vilões são fundamentais para revelar as virtudes dos heróis?
Sim, acredito que bons vilões são fundamentais para revelar as virtudes dos heróis. No caso de Táramos, ele representa a tirania, a ambição desmedida e a opressão, contrastando diretamente com os valores de Max Oliver. Quanto mais sombria e ameaçadora é a presença do vilão, maior se torna o brilho das qualidades do herói, como coragem, empatia e sacrifício. Táramos não é apenas um inimigo poderoso, mas também um espelho distorcido daquilo que Max poderia ser se escolhesse o caminho errado. Essa dualidade ajuda a reforçar a humanidade do protagonista e a importância de suas escolhas. Para mim, sem um grande vilão, não existe uma grande jornada heroica.
Processo criativo e superação – Você começou a desenvolver essa obra em um período de dificuldades financeiras. De que forma a escrita se tornou também um processo de resiliência pessoal?
A obra Max Oliver nasceu em um porão, durante um dos momentos mais difíceis da minha vida, marcado por limitações financeiras e pessoais. A escrita se tornou, então, um refúgio e uma forma de resiliência, permitindo que eu transformasse dor e incertezas em criatividade. Cada página escrita naquele espaço simples era também um ato de superação e esperança. Ao dar vida ao personagem, eu também me fortalecia, encontrando motivação para não desistir dos meus sonhos. O processo criativo me mostrou que, mesmo em meio às adversidades, é possível construir algo grandioso. Mais do que um livro, essa obra representa minha própria jornada de resistência.
Do interior à galáxia – Você saiu de Jacobina, na Bahia, para buscar novas oportunidades em São Paulo. Essa trajetória de deslocamento e reinvenção também está impressa no espírito aventureiro e sonhador de Max?
Sim, a trajetória de sair de Jacobina, na Bahia, para buscar oportunidades em São Paulo está profundamente refletida no espírito aventureiro de Max Oliver. Desde jovem, percebi que minha cidade natal oferecia poucas chances de construir um futuro sólido, o que me motivou a buscar novos caminhos. A capital paulista e suas influências culturais foram decisivas para ampliar meus horizontes. Ao criar Max Oliver, escrevendo em um porão com um caderno e canetas coloridas, senti que estava transformando minhas experiências em algo maior. Passar essas ideias para um celular antigo foi o início de um projeto que hoje carrego com orgulho. Essa vivência de deslocamento e reinvenção inspira o caráter sonhador e resiliente do personagem. Max carrega a mesma coragem de quem precisa se reinventar para alcançar seus sonhos.
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