“Passatempo”: O debut autêntico e cinematográfico de Agatha na cena musical

Luca Moreira
17 Min Read
Agatha (Amanda Sartor)

A trajetória musical de Agatha está prestes a ganhar novas cores e tons, trazendo à vida seu tão esperado projeto solo. Depois do desfecho da banda MTK no ano passado, a artista viu uma oportunidade única para resgatar um sonho antigo: sua carreira autoral. Com talento não apenas para a música, mas também para a composição e instrumentação, Agatha mergulhou de cabeça em 2022, um ano que se revelou de intensa criação e autoexpressão.

O desejo inicial de lançar um conjunto de músicas que se entrelaçavam, guiadas por histórias semelhantes, logo se expandiu para algo maior: a construção de um álbum completo, dando origem a “Passatempo”, seu primogênito musical. Este álbum de estreia, marcado para o dia 20 de outubro, traz consigo não apenas canções, mas uma narrativa visual imersiva.

Não é apenas na música que Agatha se destaca; sua paixão pelo audiovisual também está presente no projeto. Além das faixas, “Passatempo” é acompanhado por sete videoclipes que compõem um curta-metragem, formando um conjunto onde cada canção é um recorte de uma história mais ampla. A intenção é levar a experiência do ouvinte para além dos sons, permitindo que ele se afunde nas emoções tecidas por essa narrativa cinematográfica.

“Passatempo” se apresenta como um espelho de Agatha, retratando as diferentes nuances de seu ano de 2022. Dos altos aos baixos, das alegrias às tristezas, das reflexões aos aprendizados, cada faixa é uma página de seu diário pessoal, uma viagem por suas experiências e sentimentos.

A sonoridade, meticulosamente produzida em colaboração com seu amigo e produtor musical Mati, funde as influências e referências musicais de ambos. O álbum traz toques de indie pop e folk, com o violão de aço ecoando em todas as faixas. Este projeto, que pode ser enquadrado no emergente gênero do “bedroom pop”, busca simplicidade, autenticidade e a conexão com o ouvinte. E mais do que um mero álbum, “Passatempo” é um marco na jornada criativa de Agatha, um reflexo de sua autenticidade e uma prova de que, para ela, a música não é apenas um trabalho, mas uma forma genuína de expressão.

Você mencionou que o álbum “Passatempo” é uma realização pessoal e conta a história do seu ano de 2022. Pode compartilhar mais sobre as experiências e eventos que inspiraram a criação das músicas?

O ano de 2022 foi um ano complexo pra mim… Eu levei os anos da pandemia um pouco mal, não consegui me manter bem de cabeça. Então, vi em 2022 a oportunidade de virar algumas coisas de cabeça pra baixo – do jeito bom. E virei mesmo, sacudi a poeira interna e reencontrei um monte de sonhos antigos que sempre quis realizar e um monte de versões de mim mesma que sempre quis ser. E quando você não tem mais nada a perder, esse é o melhor momento pra jogar e arriscar tudo. E nesse contexto de mudar, se tornar, se redescobrir, o álbum começou a aparecer. Eu sempre sofri com a minha ansiedade e internalizo meus pensamentos constantemente. Quando comecei a escrever as primeiras palavras, percebi que eram músicas que falavam de amor pelas experiências que passei durante aqueles meses mas também eram como conselhos da Agatha pra ela mesma. Nessa ideia surgiu a premissa principal do álbum: as letras são subjetivas. Elas podem significar o que você bem entender delas e isso torna as músicas universais.

A decisão de criar um álbum visual e incorporar videoclipes é muito interessante. Como você acha que essa abordagem visual adiciona à narrativa do álbum?

Quando eu me formei na faculdade, o meu TCC foi sobre um álbum visual da Florence + The Machine que era exatamente nesse formato e eu fiquei encantada enquanto estudava. Eu já adorava o álbum musical. Quando veio o elemento visual, as músicas ganharam uma nova camada de interpretação e até algumas dúvidas foram respondidas. Com “passatempo” eu quis passar exatamente essa subjetividade das letras que mencionei e esse diálogo interno meu comigo mesma. O filme conta um pouco do meu ano de 2022 resumido em altos e baixos que aconteceriam em uma semana da vida de qualquer ser humano: inseguranças, euforia, arrependimento, esperança, melancolia. O áudio traz uma versão da história que é explicada com o vídeo e a escolha de fazer um filme, com cenas nesses entremeios dos videoclipes, foi pra trazer mais elementos ainda pros espectadores.

Você mencionou que o álbum é dividido em duas partes. Existe uma razão específica para essa divisão e como as duas partes se conectam?

Eu sinto que o “passatempo” pra mim é como uma temporada da série da minha vida. Decidi dividir em duas partes porque senti que minhas composições para aquele momento da minha vida estavam completas, eu já tinha conseguido dizer o que queria dizer daqueles sentimentos, foi natural. Mas eu senti que aquela história não tinha acabado ainda… Como num filme ou numa série, tem spin-offs, tem comebacks de personagens, tem reviravoltas… Já que eu estava fazendo o álbum quase que simultaneamente com o que acontecia na minha vida, decidi esperar essa fase se concretizar e começar essa segunda parte como uma nova temporada, tanto que a parte 2 do “passatempo” já tá sendo construída com os sentimentos que eu tenho sentido agora, nesse exato momento. E eu adoro essa sensação, é impossível não ser algo verdadeiro.

Agatha

O “bedroom pop” é um gênero que tem crescido muito. Como você descreveria a sonoridade do seu álbum dentro desse estilo? Quais elementos musicais os ouvintes podem esperar encontrar?

O “bedroom pop” nada mais é que o pop do “quarto” e o meu álbum foi 100% escrito e produzido dentro de um quarto! Eu escrevi tudo sozinha, com meu violão me guiando ou buscando typebeats que conversassem com a minha pegada musical do momento pra me servir de base para criar. E quando fomos para a produção, tudo grita “bedroom pop”: gravei todos os violões das faixas com meu produtor segurando o microfone na mão pra pegar o melhor som, usando elementos da própria casa que estávamos pra virarem elementos dentro da música como garfos e facas, a qualidade sonora não é de grandes estúdios mas a intenção é justamente soar como algo de um ambiente só, mas jamais unilateral, pelo contrário, é um álbum multifacetado. Tudo isso eu fui descobrindo no processo e fui entendendo que esse é o meu lugar na música nesse momento.

Você trouxe suas referências pessoais, incluindo indie pop e folk, para o álbum. Como você combinou essas influências musicais de maneira única?

O violão de aço é um dos meus instrumentos principais e você vai ouvi-lo em todas as faixas. De cara, ele já traz a textura do folk pro álbum. Ouvi muito Noah Kahan e Lizzy McAlpine esses meses e eles foram grandes referências sonoras. Eu sempre consumi indie, seja nacional ou internacional, então enriqueci algumas faixas com aquele timbre clássico de guitarras e sintetizadores do indie, como você ouve nas músicas do The 1975, Terno Rei ou The Neighbourhood. E o que eu acredito que traz o elemento da autenticidade são as letras. Já ouvi muito que o jeito que eu expresso os sentimentos em letras é algo único, já que passa pelo meu filtro das minhas experiências. Eu uso muitas analogias e metáforas nas minhas letras e gosto de tentar deixar sentimentos complexos que as vezes a gente não consegue descrever em algo mais simples, com uma palavra ou uma frase.

A colaboração com o produtor musical Mati parece ter sido muito significativa. Como foi trabalhar juntos e como vocês conseguiram combinar suas visões musicais?

O Mati é um artista completo: ele escreve, toca, produz, mixa, masteriza e tem uma fonte de referências e bom gosto musical absurda. Acho que o fato da nossa amizade ser algo leve permitiu que esse processo fosse do mesmo jeito. Ele abraçou a essência das músicas, sem querer modificá-las pra caber num padrão x ou y. Ele trouxe a experiência dele com produção e isso permitiu que as bases de todas as músicas ficassem prontas em 7 dias, numa imersão que fizemos em fevereiro desse ano, lá em Porto Alegre. Tudo que ele trouxe de opinião foi para somar e elevar o que o projeto já tinha de bom e isso pra mim era o ponto principal, pra conseguir levar pro mundo as músicas com a maior fidelidade de sentimentos possível.

Em relação à sua jornada musical, como você vê a transição da sua experiência na banda MTK para a sua carreira solo? Quais são as principais diferenças e desafios?

A MTK foi uma aventura maravilhosa. Fico pensando como teria sido me arriscar na carreira solo sem a MTK ter acontecido e acho que eu teria me ferrado muito hahahaha. A MTK foi um período de diversão e laboratório pra tudo que envolve o mundo da música, desde o tipo de música que você faz até as negociações que existem no mercado. Foi uma transição fácil porque foi com amor e gratidão com tudo que vivi nesses 4 anos de banda. Acho que a principal diferença é o fato de estar sozinha. Existe a liberdade de decidir tudo por você mesma mas não tem mais um ombro pra dividir o peso quando as coisas ficam pesadas – porque elas ficam eventualmente. Mas eu vejo tudo como uma linha do tempo, algo que eu precisei viver pra poder viver o que eu vivo hoje. Acumulei ferramentas, criei casca, aumentei minhas referências musicais, dividi milhares de experiências, errei muita coisa que me policio hoje pra não errar de novo. Não poderia estar mais pronta pra carreira solo do que agora e espero que a galera curta essa transição tanto quanto eu.

Com o lançamento iminente da primeira parte do álbum em 20/10, como você espera que os ouvintes se conectem com as músicas e a história que você está contando?

As músicas do álbum falam sobre sentimentos que todo mundo sente. Eu ando dizendo que o álbum não foi feito pra bater em TODO MUNDO agora. Ele vai bater em quem tiver que bater. Talvez bata em alguns daqui uns anos. Porque da mesma forma que eu me identifiquei com ele em um dado momento da minha vida, as pessoas também podem se identificar com ele em dados momentos de suas vidas. Ele fala sobre o passar do tempo e conforme o tempo passa, as coisas mudam, a gente muda. As dores curam, novos amores surgem, pessoas vão embora e o céu pode clarear e escurecer em questão de segundos. Toda essa perspectiva do tempo faz parte do álbum. Ouvir ele esse ano vai significar uma coisa e ouvir ano que vem talvez signifique outra e eu espero que a galera dê essa chance pra ele, pra ele agir como o tempo age.

Além da música, você também é cineasta e trabalha com audiovisual. Como essas duas áreas se influenciam mutuamente em seu processo criativo?

Eu vivo minha vida com trilha sonora então isso já se explica em muita coisa. E o contrário também! Quando eu escrevo uma música, muitas vezes ela já vem com uma cena pronta na cabeça. Quando escrevi a primeira música eu sabia que queria uma cena minha correndo de algo – ou em direção a algo – e foi a primeira cena que escrevi do roteiro do filme que acompanha o álbum. Acaba sendo natural porque é parte do meu processo mental de viver a vida e olhar pra ela com esse olhar cinematográfico.

Com esse álbum sendo uma realização pessoal, quais são suas aspirações para o futuro da sua carreira musical? Há algo que você queira alcançar ou explorar através da sua música?

Eu sinto que alcancei muita coisa que todo artista sonha nesses últimos anos mas também senti muito as dores e a realidade de ser artista e se tornar um produto do mercado. Nessa nova fase musical, eu decidi desvincular a pressão dos números e do alcance porque senão eu estaria sendo refém disso mais uma vez. E uma vez que tomei essa decisão – e me relembro dela todo dia – eu voltei a olhar para as minhas músicas, meu processo e pra mim mesma com gentileza e carinho. E é isso que a arte precisa, ser tratada com amor, ser regada com verdade, pra florescer. O meu maior sonho hoje não é algo que eu quero alcançar porque isso me tirou muito do “momento de agora”, pensar sempre lá na frente. Mas acho que eu adoraria que minha música fizesse bem pra quem ouve, como fez bem pra mim enquanto eu tirava elas de dentro da minha cabeça e coração. Que elas sirvam de conselhos, de ombro amigo, de incentivo. Que elas deem motivos e inspirações pra dar o passo, pra fazer acontecer, pra arriscar. Que elas também te guiem nos seus piores e melhores momentos, que sejam as palavras que você precisava ouvir naquele instante. O futuro segue incerto, eu mudo de planos igual mudo de roupa, sou geminiana hahaha! Mas a música é algo que faz parte da minha missão aqui e eu vou pra sempre usar dessa ferramenta pra levar essa mensagem por aí. Podem esperar uma parte 2 de “passatempo” em breve e o que vem depois a própria vida vai ditar – e essa é a melhor parte rs.

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