Depois de um período festivo e sombrio em seu último álbum “Carnavalha”, o cantor e compositor Pedro Ivo Frota usa o humor, a ironia e a dança como arma em seu quinto disco solo, “Semovente”. O lançamento do selo Cantores del Mundo explicita no título o seu segredo. É algo que não se deixa parar, com a resiliência que é viver à revelia.
O novo disco de Pedro Ivo Frota vem para somar a uma trajetória já prolífica. O compositor, pianista, arranjador e cantor, formado em música brasileira pela Unirio, tem quatro álbuns lançados: “Via Canção” (Tumdum 2007), “Leve o Porto” (Tumdum 2011) e “Monolito” (Biscoito Fino 2017), além do mais recente, “Carnavalha” (2021), este último sua estreia pelo selo Cantores del Mundo. Já foi gravado por diversos artistas da nova geração, como Aline Paes, Liz Rosa, Daíra, André Muato, Karla da Silva, Luiza Sales, Luiza Borges e Martina Marana. Se destacou na direção musical para teatro e ganhou o prêmio de melhor trilha sonora com o musical nordestino “Árvore dos Mamulengos” (Vital Santos).
No final de 2012, abriu shows de Zezé Motta. Compôs a trilha sonora do espetáculo circense da Unicirco Marcos Frota nos anos de 2014 e 2015. Foi integrante do grupo Entreveros com Thiago Thiago de Mello, Marcelo Fedrá, Renato Frazão, Diogo Sili) e com seu trabalho solo, excursionou por Nova York e se apresentou na Berklee College of Music.
Ao lado de nomes importantes da cena carioca como Rodrigo Ferreira, Yuri Villar, Antônio Neves, Bernardo Aguiar e André Siqueira, Pedro Ivo se valeu de inspirações da obra da americana Esperanza Spalding e do icônico álbum “Native Dancer”, que uniu Wayne Shorter e Milton Nascimento em 1975. Todo esse caldeirão sonoro formando uma base sólida para que a lírica do artista se movesse livre. Confira a entrevista!
Em comparação com seu último álbum “Carnavalha”, que trouxe um clima bastante festivo e ao mesmo tempo sombrio, você trouxe em seu novo projeto um toque de humor, ironia e dança para compor o novo lançamento “Semovente”. Como foi chegar nessa combinação de sentimentos e o que o faz ser adequado para o momento atual?
A pandemia foi uma porrada para todos e cada um achou uma fuga nesse momento difícil. A arte ajudou a suportar a mesmice desses dias e para os artistas certamente foi uma oportunidade de adentrar na criatividade e pensar em novos projetos. Acabei criando muito na pandemia, o suficiente para criar repertório para três álbuns que ainda virão por aí.
Em “Semovente” optei por um repertório direto em seu recado, sem muito aprofundamento, mas com provocações mais do que pertinentes. Foi um álbum pensado para ser feito coletivamente com a banda, sem a presença de um produtor musical, muito diferente dos meus dois últimos álbuns que tiveram a produção musical do Apoena e Ivo Senra. Acabei assumindo a produção musical com o auxílio do Elisio Freitas que fez a mixagem também.
Achei importante transparecer uma fragilidade nesse álbum que é real, todos saímos muito machucados desse período que ainda teve o agravante político de um governo autoritário. O álbum é uma resposta simples e contundente a isso tudo dentro da perspectiva de um músico independente, considerando essas limitações todas. Eu acredito muito na beleza do frágil, inacabado, imperfeito. A estética do Semovente tem a ver com isso.
A chegada desse novo álbum vem junto com o lançamento do selo Cantores del Mundo, que tem em sua filosofia algo que está sempre em movimento com a resiliência que é viver à revelia. Para você, o que tem significado a chegada desse novo selo e quais valores você aplica à essas questões promovidas?
O trabalho realizado pela Cantores Del Mundo é fundamental enquanto estratégia de sobrevivência artística num ambiente que não joga a favor, especialmente na realidade cultural carioca com seus últimos governos desastrosos. Essa é a primeira coisa a ser salientada.
É importante falar do trabalho do Arthus Fochi à frente do Selo Cantores del Mundo que aliás lançou um álbum lindo da nossa geração em parceria com Pedro Paulo Júnior, o disco “ Massarambá”.
“Viver à revelia” tem mais a ver com uma postura de desconfiança enquanto artista do que algo pessoal. A rebeldia precisa ser refletida muito bem pela cultura, é preciso ter uma leitura do nosso contexto cultural e político, entender nossas prisões e isso exige humildade e autocrítica, não é fácil.
A esquerda é deslumbrada e cheio de vícios, ou seja, desagradar as vezes é importante enquanto exercício crítico dentro desse âmbito que é aberto ao diálogo mas muitas vezes cai numa intransigência.
É no dissenso que se constrói um ambiente saudável, se todos concordam com tudo o tempo todo estamos reproduzindo um comportamento de manada.
O álbum Semovente toca em feridas incômodas e pouco faladas sem apelar ou desrespeitar ninguém e sem abrir mão da denúncia e do deboche, afinal o humor é fundamental. É um pouco por aí.

Após o período pandêmico que passamos nos últimos dois anos e que afetou o mundo todo, muitos artistas acabam usando esse período como um momento de reflexão, utilizando-se de suas artes como uma forma de expressar esses sentimentos. Além da infelicidade que os impactos da COVID-19 trouxeram pra gente, você acredita que a pandemia possa ter vindo também para nos dar essa oportunidade de repensar alguns aspectos da vida?
Olha para mim a pandemia veio para evidenciar a perversidade e indiferença do poder em situações frágeis da população. O Brasil ficou numa situação completa de vulnerabilidade e o descaso do governo da época foi algo revoltante. Eu me solidarizo com todas as pessoas que perderam pessoas queridas nessa época. Não foi nada fácil.
Esse descaso apresentado traz o sentido ainda mais doído da morte do espírito, ou seja, quando somos completamente indiferentes a dor do outro morremos também.
Não há nada mais fundamental do que isso, e foi pensando nisso que o repertório do disco foi escolhido. Também porque precisamos de leveza e esperança para seguir adiante.
Muitas de suas músicas nesse projeto acabaram flutuando entre vários temas, tanto com o humor indo contra a cena cultural em “Ex-citado” e o milicianismo no poder e uma classe média rancorosa em “Caracu”. Que tantas abordagens, quais costumam ser suas principais inspirações para o nascimento de novas músicas?
São muitas as inspirações desde sempre, a criatividade é um exercício vasto de linguagem e experimentação. A escolha de tocar nesses temas apresentados com essas provocações parte de uma estratégia de ganhar o âmbito público propondo reflexão.
Essa entrevista é uma oportunidade para fazer isso. Quando o contexto do mercado cultural é basicamente o quanto você tem de grana para investir e gerar alcance, é preciso pensar em estratégias de denúncia sem perder a integridade artística e a elegância.
Os singles “Ex – Citado“ e “Caracu“ tratam disso, são denúncias bem humoradas. Em “ Caracu “ o palavrão vem para nos lembrar que as vezes o obsceno é imprescindível – como não ser obsceno diante de uma realidade obscena? Existe uma falsa ideia de que ser elegante é não ser obsceno em qualquer circunstância. Como assim?
O funk Carioca veio atropelar essa ideia na música brasileira, não à toa é o gênero musical que mais incomoda a classe média. É nessa fonte que eu tento beber de modo peculiar, propondo uma leitura jazzística e experimental, partindo do meu lugar de fala. Isso me lembra um verso do Carlinhos Brown que diz “ Sem elegância me sinto original “.
Não dá para dizer que não existe sofisticação no funk Carioca, só uma visão preconceituosa diria isso. Já em “Ex – Citado” o deboche é mais irônico, um banquinho e violão, Leblon, mas não fui citado pelo Caetano. A canção é um partido alto, mas o formato voz e violão além de trazer essa ironia, casa mais com a estética do disco que tem clara influência do jazz e do pop que passa por Esperanza Spalding e pelo disco “Native Dancer” do Wayne Shorter e Milton Nascimento.

Além de você, o novo projeto contou com participações internacionais como a do americano Kai Killion em “Moonlight” e de Taynã, vocalista da banda Fleeting Circus. Como aconteceu essa troca entre vocês e a oportunidade de colaborar com eles?
Por acaso os dois convidados são meus primos mais novos. Dois artistas incríveis, cantores extraordinários. Foi fundamental esse escambo nesse momento porque trás o sentido de renovação e esperança num momento de tantas dores. A minha avó foi quem plantou a arte na família da minha mãe, uma mulher rebelde num tempo em que uma mulher ser rebelde era heresia. Esse convite foi uma forma de manifestar uma reação à violência do mundo, manifestada na luta da minha avó e consequentemente na arte dos meus primos talentosos.
Além de ser formado em música brasileira pela UniRio, você é um artista multifuncional, que além de cantar, também compõe, é pianista e arranjador. Dessa forma, como foi que a música foi se inserindo na sua vida com o passar dos anos?
Meu pai e minha mãe se conheceram tocando em um musical em SP, ela flauta, ele clarinete. Era o musical “A Choros Line” que a Claudia Raia fazia parte ainda no começo da carreira. A minha formação musical começa desde a barriga da minha mãe, dentro de casa. Foram eles que me apresentaram a música brasileira. Minha mãe tocou junto com Léa Freire, Téco Cardoso, Guelo e na orquestra do maestro Laercio de Freitas.
Meu pai rodou a Europa tocando na rua, morou na França tocando numa companhia de música brasileira, viveu a contracultura em seu sentido amplo, me apresentou o Frank Zappa, Led Zeppelin, Miles Davis, Bill Evans, Buena Vista Social Club. São pessoas de mente aberta que entenderam onde o calo aperta. Foram eles os meus maiores professores e sou muito grato por isso.

Fora da indústria fonográfica propriamente dita, você também se destacou no teatro musical, onde recebeu até o prêmio de melhor trilha sonora com “Árvore dos Mamulengos”, além de “Unicirco Marcos Frota” nos anos de 2014 e 2015. Como foi participar dessa experiência que misturou a música com a beleza das artes cênicas?
Amo trabalhar com teatro, circo, cinema, dança e toda linguagem artística que a música pode dialogar. Para um cara que não tem muita projeção como eu, fazer esse tipo de trabalho além de ser enriquecedor artisticamente é fundamental porque amplia as possibilidades de atuação.
Isso sem falar que na contemporaneidade as artes integradas são quase um pré-requisito para inserção no mercado. Não adianta só lançar música, é preciso lançar vídeo. Isso às vezes me cansa um pouco, mas a gente precisa se adaptar ou ficamos para trás. No entanto quando esse formato se apresenta como imposição, cabe ao artista questionar isso.
Foi o que tentei fazer com o clipe de “Cumbia” dirigido por Diogo Brandão, filmado no circo com o casal de dançarinos Dani e Faber. É uma produção muito simples, mas quem disse que a simplicidade não encanta? Espero dialogar cada vez mais com outras linguagens artísticas, fazer pontes, tenho pensado muito nisso, já tenho projeto inclusive. Todas essas experiências foram enriquecedoras e ampliam nossa percepção do mundo, suas belezas e armadilhas.
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