Gabriela Loran fala sobre aceitação e comenta personagem em “Cara e Coragem”

Luca Moreira
14 Min Read
Gabriela Loran (Foto: Leo Lemos)

Uma das vozes mais relevantes sobre diversidade na internet e porta-voz do movimento de mulheres trans no Brasil, atriz, modelo, youtuber e criadora de conteúdo, Gabriela Loran, 28, acaba de retornar às telonas como Luana, em “Cara e Coragem ”, nova novela das 19h na Rede Globo de Televisão, escrita por Claudia Souto e dirigida por Natália Grimberg. Gabriela foi a primeira atriz trans a interpretar uma personagem na novela “Malhação”, também da Rede Globo, em 2018, e agora, estará ao lado de estrelas da emissora como Taís Araújo, Mel Lisboa e Ícaro Silva. As gravações já começaram e a novela tem estreia prevista para maio deste ano.

Gabriela Loran também se prepara para a estreia da segunda temporada de “Arcanjo Renegado”, série da Globoplay em que vive a personagem Giovana, que é chefe de gabinete do presidente da Alerj, interpretada por Chris Vianna. Em breve, ela também estará em “Novela”, nova série da produtora Porta dos Fundos para Amazon Prime, estrelada por Monica Iozzi e com Maria Bopp, Miguel Falabella e Luana Xavier no elenco.

Seu trabalho como digital influencer também vem transformando a vida de milhares de jovens que se identificam com sua história. A carioca tem, hoje, mais de 326 mil seguidores no Instagram, e mais de 10 milhões de visualizações em seus Reels na rede. Em seu canal no YouTube, espaço onde fala sobre suas experiências como mulher trans, militância afro, política e moda, ela tem mais de 23 mil inscritos e 781 mil visualizações, além de 211,6 mil seguidores no TikTok.

No YouTube, Gabriela também foi uma das 12 brasileiras escolhidas para integrar o projeto “Vozes Negras”, criado pela plataforma como mentoria para criadores de conteúdo negros e antirracistas potencializarem seus vídeos e alcance. Confira a entrevista!

Recentemente, você foi confirmada na nova novela “Cara e Coragem” da Rede Globo, onde viverá a personagem Luana. Como estão sendo os seus preparativos para essa personagem e o que podemos esperar da sua personagem na trama?

Voltar para a TV é sempre incrível e quando eu recebi o convite para viver a personagem Luana de “Cara e Coragem” eu fiquei muito feliz, porque veio nesse lugar do convite. Então foi uma experiência maravilhosa. A Luana ainda está caminhando na trama, ela deve crescer e aparecer mais nos próximos capítulos, veremos…

A respeito da sua personalidade na novela, existem muitas semelhanças ou diferenças entre a Gabriela e a Luana? Quais os novos desafios e ensinamentos que ela está te trazendo nesse novo projeto?

Entre Luana e Gabriela, não há muitas coisas em comum. Porque eu sou muito da que fala, da que se expressa muito, sabe? E a Luana é muito observadora. Ela está ali observando as coisas, ela também solta algumas informações para quem ela acha que é importante. Já a Gabriela não. A Gabriela é muito boquiaberta, ela fala, ela se expressa, ela não consegue se calar. Mas tem sido muito legal e tem me trazido muitos ensinamentos, sim. 

Gabriela Loran (Foto: Leo Lemos)

Um dos seus grandes destaques como atriz foi indiscutivelmente a participação na novela “Malhação: Vidas Brasileiras” lá em 2018, onde viveu a personagem Priscila, onde também se tornou a primeira mulher trans a integrar o elenco da novela que já existia desde 1995. Qual o significado desse projeto na sua vida, tanto como artista como de realização pessoal?

“Malhação” foi o projeto que me abriu as portas, foi uma grande experiência. Por mais que tenha sido só uma participação curta, me proporcionou a visibilidade que eu precisava para ter a minha ascensão enquanto atriz. Eu já vinha trabalhando no teatro, mas sem dúvidas, quando a gente se insere na magnitude que é estar na TV, a gente consegue alcançar mais pessoas. Então sem dúvidas foi um divisor de águas na minha vida e foi uma grande realização pessoal também.

Além de você, a nova novela também traz um elenco de peso, apresentando atores como Taís Araújo, Mel Lisboa e Ícaro Silva. Como tem sido o relacionamento de vocês todos nos bastidores e como acha que ficará marcado esse projeto para vocês?

É de muita troca, de muito companheirismo. Eu sou apaixonada demais pela Mel Lisboa. Adoro Ícaro também. Fui super bem acolhida pelo elenco e tem sido uma experiência incrível. Eu quero levar, sem dúvida, essas amizades para fora das gravações. Tem a Ariane também que faz a Margarete, que eu amo demais, a gente tem uma conexão super legal. A Claudia de Moura também, que faz a Marta, é uma mulher incrível, uma atriz super incrível, que me dá muitos e bons conselhos. Quero levar essa galera comigo também. 

Gabriela Loran (Foto: Estevam Avellar)

No campo dos streamings, você também já foi confirmada para a 2° temporada da série “Arcanjo Renegado”, onde vive a personagem Giovana, que é chefe de gabinete da presidente da Alerj, e também está envolvida na produção de uma série do Porta dos Fundos que vai entrar para a Amazon Prime. Como tem sido explorar essas novas plataformas?

Eu fico feliz de poder transitar em várias plataformas. Eu também já fiz cinema, Canal Brasil, então, é ótimo poder estar em plataformas diversas, porque conseguimos mostrar nosso trabalho de diversas formas para públicos diferentes. Sem dúvida, para mim, tem sido muito importante ocupar essas plataformas porque é uma maneira de eu poder mostrar meu trabalho para além do teatro, da TV e da internet. 

Infelizmente, o nosso país lidera há anos o ranking da nação que mais assassina transsexuais no mundo. Como representante dessa orientação sexual, qual você acredita que seja o verdadeiro motivo de existir esse tipo de preconceito e há quantos passos nós termos de tornar o Brasil um país com mais diversidade, seja na homofobia ou em outros tipos de preconceitos, como o racismo?

Primeiro, é importante esclarecer. Não é uma questão de orientação sexual, é uma questão de identidade de gênero. A orientação sexual é o que me atrai enquanto forma afetiva de me relacionar, é diferente, já a questão da transexualidade é uma identidade de gênero, é a identidade para com o mundo. E sim, ainda existe muito preconceito e transfobia. Eu não me enquadro na homofobia porque eu não sou uma mulher lésbica. Eu sou uma mulher trans heterossexual. E sim, a gente vem lutando. Estar em ascensão, ocupar esses espaços, sem dúvida, faz com que mostremos quem somos e que não tenhamos medo. A gente só vai parar de morrer quando começarmos a ser vistas com mais humanidade. Nem é naturalidade, é humanidade mesmo. Sem dúvida, eu já venho fazendo esse papel, muitos outros artistas também. Vamos lutando contra esses preconceitos, mostrando que existimos e ocupando espaços, inclusive espaços de protagonismo. Personagens mais complexas, no meu caso, enquanto atriz, mas também há personalidades na música e em todos os lugares.

Gabriela Loran (Foto: Leo Lemos)

Não apenas na televisão, mas também na internet, o seu nome também está se destacando cada vez mais nas redes sociais, alcançando mais de 781 mil visualizações no YouTube, além de 211,6 mil seguidores no TikTok. Acredita que essa força da internet tenha a auxiliado na carreira de atriz no quesito de visibilidade? Qual é a sua opinião a respeito das polêmicas que vêm associando os números da internet com a seleção de elenco nas programações da televisão?

Sem dúvidas, a internet não é currículo. Eu desenvolvo o meu trabalho na internet, mas eu sou formada em Artes Cênicas pela CAL, eu tenho o meu currículo de atriz, a minha experiência profissional no mercado. E sim, eu acho um pouco desleal quando a gente começa a ver que os números valem mais do que a sua própria arte e o seu próprio talento. Por outro lado, a internet é um modo de mostrar o meu trabalho também. Por exemplo, eu já participei de dois trabalhos nos quais os diretores escreveram as personagens inspirados no que eu faço na internet. Mas acho que precisa ficar nesse lugar da inspiração mesmo. 

Comentando especificamente sobre o YouTube, você foi uma das 12 escolhidas para integrar o projeto “Vozes Negras”, criado pela própria plataforma e que oferece uma mentoria para criadores de conteúdo negro e antirracista. Como tem sido passar por esse projeto e como ela tem melhorado o reconhecimento dos criadores de conteúdo na plataforma?

Fomentar o discurso de pessoas pretas é super importante, então, é uma iniciativa incrível do YouTube e que eu fiquei extremamente feliz por fazer parte. Porque eles não só nos dão uma verba para investir no nosso canal, mas também nos capacitam por meio de vários cursos e mentorias que recebemos. Sem dúvida, é muito importante porque faz com que a nossa voz ecoe cada vez mais nessa plataforma que tanta gente consome e que também serve como um lugar de busca de informações.

Além de seus trabalhos já mencionados, já existem novos projetos que estão próximos de estrear, tal como o filme “O Samba de Enredo” que deverá sair em breve pela HBO Brasil, que busca representar as histórias dos orixás brasileiros. Como estão as expectativas para esse projeto e o que acha que o público pode aprender com ele?

Eu fiz parte de uma pequena história, mas acho que é importante fomentarmos também essa discussão sobre as religiões de matrizes africanas que carregam muita história, muita representatividade e muita significância. E também para lutarmos contra a intolerância religiosa. Acho que já chegou o momento em que a gente precisa respeitar a escolha de cada pessoa e entender que somos diversos e que vivemos num país diverso. Então, nos cabe respeitar e tentar entender. Acho que não custa consumirmos esses conteúdos, de forma que a gente possa aprender cada vez mais.

O que você acredita ser a sua principal “missão” como artista e como pessoa na vida?

Eu não vim para esse mundo à toa, não. Eu acho que a minha missão, sem dúvida, é levar mais humanidade para as pessoas. É poder viver a minha arte, e poder gerar reflexão nem que seja em uma pessoa apenas. Mas que eu possa fazer jus a todas que vieram antes de mim e que infelizmente morreram. Muitas foram assassinadas enquanto pessoas trans. E que eu possa tornar o futuro para as pessoas trans que virão um lugar mais humano. Um lugar onde a violência não seja constante. Um lugar onde o medo de morrer não seja uma realidade. Eu quero poder usar a minha imagem e a minha voz para reconstruir essa sociedade e ampliar um pouquinho mais as coisas, no sentido de poder mostrar às pessoas que somos como qualquer outra pessoa.

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