Semana passada fomos agraciados com a presença da nova série do Disney Plus, Loki, onde vemos uma variante do tão querido Loki Laufeyson (O Deus da Trapaça) lidando com a AVT (Agência de Variância Temporal) que quer lhe podar ou resetar por fugir do fluxo normal da linha temporal sagrada. Sendo salvo pelo agente Mobius M. Mobius para cumprir uma missão em troca de fugir do destino trágico que viria a ter em Vingadores: Guerra Infinita.
Por ser uma série nova eu irei me poupar de fazer um resumo sobre a mesma, pois estamos só no primeiro episódio. Dou a oportunidade aos que puderem, de pegarem e assistirem o episódio para ler esse texto sem termos que fazer mil explicações voluntárias. O objetivo desse texto é tratar da maior questão ao qual essa série tem a oportunidade de agarrar-se e questionar os espectadores: Somos realmente livres?
! Spoilers da série a frente, prossiga por sua conta e risco !
Quem somos?
É meio bobo pensar que em universos ficcionais, ainda mais em universos baseados em quadrinhos ou algo do tipo, uma questão como livre arbítrio não seria abordada. Vide o fato de que a partir duma certa época os quadrinhos e suas histórias adotaram premissas filosóficas para acompanhar o caráter irremediavelmente questionador do ser humano. Um exemplo é Sandman, do Neil Gaiman.
Por mais que não seja do feitio da Marvel Studios criar histórias que se desvencilhem totalmente de sua fórmula, isso pelo menos nos cinemas. Suas séries tem provado como através de passos lentos nós iremos ver o desenrolar de certos personagens em curvas bem diferentes dessa vez (Recomendo que assistam Wandavision ). Então é aqui, nesse lugar esquisito e aparentemente paradoxal chamado AVT, que Loki Laufeyson mostra o motivo de ser um patife mentiroso.
Quem é Loki?
Loki nas suas primeiras aparições estava bem trajado na ideia de ser o irmão maligno e invejoso de Thor. Alguém cujo o propósito único e exclusivo de suas mentiras e tramoias era subir ao trono de Asgard. Algo que seu pai adotivo, Odin, nunca fez questão de sequer cogitar porque nunca o considerou digno para tal. Nesse momento podemos até por a mão um pouco na consciência e pensar no quão injusto algo do tipo é. Odin pousava seu favoritismo num de seus filhos e mesmo assim somos obrigados a “passar um pano” para o mesmo, vide a escala das insanidades que Loki posteriormente faz para adquirir o trono de Asgard ou conquistar o planeta Terra.
Caso fôssemos apresentados desde antes a um complexo de inferioridade cultivado no Loki, provavelmente ficaríamos divididos. Ainda assim, acabamos por ter uma ideia clara da mente dele apenas agora. Onde o próprio ressalta em como ele usa dessa impressão de que gosta da violência infligida para gerar medo, usando esse truque numa tentativa desesperada por controle. Essa é a verdadeira ilusão contada pelo deus das trapaças, mentiras e ilusões. Se nos lembrarmos bem, em seu primeiro filme Thor não era tão diferente de Loki num certo quesito. Thor já se considerava rei e com toda sua arrogância marchava para uma guerra em busca do clamor da batalha e da glória, ao qual dariam para ele o controle da situação e aceitação.
Depois de perceber como os caminhos da guerra só levavam tudo ao fim, incluindo de sua filha mais velha, Odin tornou-se um “homem de paz”. Mesmo assim não foi capaz de perceber como levou seus dois filhos para o caminho do pensamento simples, onde ambos pensaram que tudo poderia e deveria lhes pertencer, caso não fosse assim é porque algo tinha de errado. Um era aficionado por conflito com a capacidade e recursos para tomar tudo. E o outro não tendo capacidade ou sequer direito para faze-lo de acordo com o próprio pai, mas que desejava de tal forma obcecada provar como seu pai estava errado e portante não mediu o tamanho do estrago posterior ao tomar para si uma rivalidade com seu irmão.
Por que mentes loki?
O Loki vilão como conhecemos foi fruto duma rivalidade injusta nascida dos ditos não pensados de seu pai. Um homem preso aos desígnios de “honra”, que recorrentemente fazia o jovem deus sentir-se tão fraco e indigno a ponto de Loki “escolher” ter seu destino enlaçado na vilania. Desejando então subverter a balança, Loki cai nas loucuras demonstradas no primeiro filme Vingadores. Dizendo para uma multidão que o desejo por liberdade, só causa confusão e dor. Para deixa-lo decidir seus destinos, da mesma forma que os conceitos paradoxais de seu pai definiram-no como vilão. Unicamente por estar buscando ser merecedor do todo ao qual seu pai prometeu.
No presente, Loki toma um belo golpe por ser obrigado a olhar para dentro de si depois de tantos anos. Vendo ações que poderia ter tomado e arrependido-se severamente.
Quem podemos ser? Algo melhor
Obviamente parte dos elementos de qualquer boa história significa algo no nosso mundo e só esta ali naquela forma para que possamos vislumbrar em outra perspectiva sem ter nosso julgamento afetado. Alguém que teve o mundo prometido a si e fora considerado não merecedor mesmo antes de tomar qualquer ação, com certeza iria reagir da mesma forma ao qual reagimos a uma injustiça. Nesse ponto, dependendo do que fizermos nós só iremos dar motivo para que nos achem mais indignos ainda. Ainda assim, que culpa temos? Dizer que poderíamos reagir diferente é fácil, mas a verdade é que todos reagem dependendo da maneira com ao qual são provocados. Se fugimos disso, é mérito nosso. Ainda assim não é a regra geral, é uma exceção.
Transitamos no espaço das pessoas com aos quais nos relacionamos e ora ou outra iremos ser mudados pelos outros. Não podendo excluir a influência ao qual temos uns sobre os outros, temos que aprender e ensinar como reagir a isso. Essas influências são nossas verdadeiras correntes e só assim poderemos de alguma forma sermos “livres”.
É possível ser livre de qualquer influência da sociedade? Não, principalmente levando em consideração como o conceito de fugir da sociedade só existe pela influência de existência da mesma.
Agora se você me perguntar se é possível nos tornamos o que queremos mesmo enquanto influenciados, vou te dizer que sim. Diferente do que muitos pensam, não nascemos e nem morremos sozinhos. Nascemos e morremos com todos aqueles nossos “eus” que vêm e se vão dia após dias. No final, a existência dos outros não exclui o controle mesmo que frágil sobre o nosso destino e ser. Loki é culpado de tudo que fez, mas tudo poderia e ainda pode ser diferente.
Não estamos falando mais de histórias maniqueístas onde existe apenas o bem e o mal. Estamos falando de histórias sobre ser o que queremos e se precisarmos nos reinventar para seguir sendo a nossa desejada versão, que assim seja.
Não sei onde os caminhos da nova série irão levar o nosso querido Loki Laufeyson, mas sei de uma coisa. O universo, ou melhor, o MULTIVERSO está de braços abertos para que ele conheças as melhores e piores versões de si. Isso faz parte da vida dele e da nossa. Como homem, mulher, criança ou até cavalo (Só no caso de sermos mágicos).
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