Ditadura: a trajetória da presa política que virou referência de luta

Luca Moreira
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Ao abrir a porta de casa, ela se deparou com agentes policiais da Oban, o maior centro de tortura e assassinatos da ditadura criado em 1969. Homens com metralhadoras tinham invadido a república que Ana Maria Ramos Estevão morava. Motivo alegado? Abrigo de clandestinidade.

Isso a levou à tortura e prisão, meios utilizados para amedrontar e tirar a resistência de circulação. Do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) ao Presídio de Tiradentes, a ativista Ana Maria conta sua trajetória em Torre das Guerreiras, publicado em coedição pela Editora 106 e a Fundação Rosa Luxemburgo.

No livro, a autora traz diversas singularidades sobre a vivência durante esse momento desesperador de sua vida quando ainda era apenas uma estudante de Serviço Social, que se tornou ativista do movimento estudantil e a organização Ação Libertadora Nacional (ALN).

Prisão

– Como Ana Maria, se por algum momento a pessoa virasse um símbolo da resistência, seria presa por diversas vezes, levantando suspeitas a cada vez que seu nome fosse citado por algum preso político.

– O local que abrigava as mulheres presas políticas era chamado pelos detentos homens de Torre das Donzelas. No entanto, elas não queriam ser salvas por cavalheiros. Estavam lá por terem lutado, nas mesmas posições que os colegas do sexo masculino, portanto, renomearam o local como Torre das Guerreiras.

– Tudo no presídio Tiradentes era pensado para acontecer aparentemente na mais perfeita ordem, cumprindo-se os tratados internacionais. Assim, quando as visitas dos grupos de direitos humanos e anistia acontecessem a atenção das torturas e das barbaridades que aconteciam ali era desviada.

Personagens

– Carlos Eugênio Sarmento Coelho da Paz, codinome Clemente, foi uma figura lendária. O desertor, após a morte de Carlos Marighela e Joaquim Câmera Ferreira, se tornou o líder mais procurado durante à época da ditadura. Quase foi pego durante a prisão de Ana Maria, pois planejavam morar juntos.

– Carlos Brilhante Ustra, um de seus encontros com a autora foi quando ele pediu para tirá-la do pau de arara, pois dizia que ela não ia aguentar. Ela se lembrava daquele rosto da igreja Metodista, onde o major era membro frequente e incentivava todos para que fossem olheiros e denunciassem qualquer tipo de resistência. Em outro encontro, pediu que Ana Maria delatasse a companheira Suzana assim que a visse, pois a achava com cara de moça boba da metodista.

– No seu tempo de exílio Ana Maria teve o prazer, em meio a tanta dor da saudade de seu país e familiares, de encontrar Paulo Freire palestrando em debates profundos sobre a ditadura brasileira.

– No caso de Dilma Rousseff, o encontro se deu na entrada de Ana Maria na Torre, ao ser recebida por ela e outras companheiras. Ganhou, da ex-presidenta, o apelido de Urubu, que também a ensinou a jogar cartas. Dilma sempre a instigou coragem e estudos.

Tortura

– Os ativistas que eram machucados antes da prisão, não eram medicados. Seus ferimentos tornavam-se foco de tortura, para que a dor fosse potencializada.

– Em seus relatos, Ana dizia que os jovens que eram treinados para torturar riam, sentiam prazer, e que junto à ideologia, esse contexto fazia deles máquinas de crueldade.

– As sessões de tortura desumanizavam as pessoas, o que as eximia da culpa de se tornar um delator. Era uma questão de dor, e até mesmo do princípio básico do ser humano, a autopreservação. Ao reprimir o sujeito que entrega informações sobre tortura, pode-se eximir o torturador da culpa, e não deve ser esse o caso.

Ana Maria Ramos Estevão
Prefácio de Dilma Rousseff
Selo: 106 Memórias/Fundação Rosa Luxemburgo
Páginas: 192
Formato: brochura, 14x21x1,1cm
Peso: 275g
Preços: R$ 52,90 (versão impressa); R$ 37,00 (ebook)
ISBN versão impressa: 978-65-88342-05-3
ISBN versão ebook: 978-65-88342-06-0
Gênero: Memórias, História, Política, Ditadura

Sobre a autora: Ana Maria Ramos Estevão nasceu em Maceió (AL) em 1948. Mudou-se para a cidade de São Paulo em 1953. Quando iniciou o curso de Serviço Social, em 1969, aproximou-se da Ação Libertadora Nacional (ALN), organização de esquerda que enfrentou a ditadura civil-militar brasileira. Durante o regime, Ramos foi presa três vezes e, em 1974, ficou exilada em Paris. É professora livre-docente aposentada da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e professora adjunta da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). É membra do Sindicato dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes).

Sobre a editora: A Editora 106 nasceu do encontro entre Omar Souza, editor com mais de 22 anos de experiência em diversas casas editoriais de renome, e a psicanalista Fernanda Zacharewicz, proprietária da Aller Editora, especializada em livros voltados para o universo psicanalítico. Com um escopo editorial que se reflete nos vários selos sob os quais publica suas obras, como: 106 Biografias, 106 Ideias (ensaios, Filosofia, História etc.), 106 Pessoas (desenvolvimento pessoal, espiritualidade, negócios etc.), 106 Histórias (ficção histórica e contemporânea), 106 Clássicos (obras e autores consagrados), 106 Crônicas (textos produzidos por alguns dos melhores cronistas nacionais e internacionais), entre outros, a editora prioriza representar os mais diversos públicos.

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