Fleabag

Fleabag: A melhor série de ‘dramédia’ que você vai assistir

Luca Moreira
9 Min Read
Fleabag

Em meio aos flashes de momentos com a melhor amiga morta e às crises familiares, Fleabag está sempre fazendo piadas sobre os desastres de sua vida, inclusive se dirigindo diretamente ao público, numa quebra da “quarta parede”. Mas, apesar de ser classificada como uma série de comédia, a criação de Phoebe Waller-Bridge tem mais cenas dramáticas, em que há intervenções de humor, do que de fato um roteiro comum de séries cômicas com as quais já estamos acostumados.

É nas ruas de Londres que a personagem principal, vivida pela também escritora da série, passa pelos melhores e piores acontecimentos. Fleabag, que em tradução livre, passa a ideia de alguém destruído ou estragado, é uma mulher adulta tentando lidar com o luto, a culpa, os conflitos familiares, e, principalmente, com a sensação de descontrole sobre a própria existência.

Fleabag família

Durante os seis episódios de cerca de 30 minutos cada, somos apresentados ao pai, à irmã neurada, ao cunhado alcoólatra e à madrasta dissimulada da protagonista. Para todos eles, e até para si mesma, Fleabag não passa de uma mulher frustrada, sem controle e que gosta de chamar a atenção. A impressão dos familiares sobre a personagem não é totalmente injusta, já que em vários momentos ela solta comentários irônicos e amargos, além de não hesitar em armar escândalos durante as reuniões familiares.

Apesar das confusões, a profissão de Fleabag não é ser barraqueira. E, como todo o resto de sua vida, o trabalho também não vai bem. A personagem de Waller-Bridge é também dona de um café, que fundou junto com a falecida amiga, Boo (Jenny Rainsford), e que tem como temática os animais preferidos dela, porquinhos da índia. O empreendimento foi de mal a pior após o suicídio da jovem, que se matou “sem querer” para chamar a atenção do ex-namorado traidor.

Fleabag não é vítima

O grande “tchan” da série é a mistura entre os temas mais dramáticos e os diálogos mais engraçados, que são costurados perfeitamente pela roteirista. Conseguimos sentir a solidão e a falta de “luz” causada pelas mortes da mãe e da melhor amiga de Fleabag. Ao mesmo tempo em que nos compadecemos com sua dor, também é possível sentir raiva da protagonista ao descobrirmos mais sobre seus atos.

Em primeiro lugar, porque ela tem uma grande parcela de culpa pelo suicídio da Boo. Em segundo, porque ela é egoísta e está mal, e, por isso, não pensa duas vezes em magoar quem a ama. Principalmente quando se trata de Harry, seu namorado fofo, que depois acaba se tornando ex. Isso não significa que ela não sofra com todos os infortúnios que a rodeiam, mas ela definitivamente não é uma completa vítima deles.

Fleabag Boo
Boo e Fleabag no café

A primeira temporada termina demonstrando todo o caráter de “dramédia” da série. Mais uma vez, Fleabag se vê brigada com a irmã mais velha Claire (Sian Clifford), sem um namorado ou ficante, já que ela foi abandonada por todos os flertes e em um embate com a madrasta, que a odeia. Tudo isso acaba em um novo “show” da protagonista, que encerra o capítulo chorando por ter decepcionado a figura de quem ela mais deseja aprovação, seu pai (Bill Paterson).

Uma nova mulher?

Após o dramalhão final da primeira parte da série, que levou o público às lágrimas, Fleabag retorna como uma pessoa renovada. Ela garante que passou o último ano se livrando dos hábitos tóxicos, como transar por impulso com qualquer um que apareça. Além disso, nessa nova fase, as dívidas do café foram negociadas e ele finalmente volta a dar certo.

Mas é claro, quando tudo parece bem, falta emoção. Por isso, o primeiro capítulo da segunda temporada envolve sangue, polêmica e um personagem inusitado, que vai fazer a protagonista arrumar problemas a níveis celestiais. O tal do personagem é o padre (Andrew Scott), que irá celebrar o casamento entre o pai de Fleabag e sua madrasta, motivo pelo qual a família está reunida depois de um longo tempo afastada.

Logo no jantar de noivado, já notamos que o homem religioso tem muita curiosidade na figura irônica de quem a família faz questão de ignorar a presença. Ele tenta puxar assunto com Fleabag, mas é esnobado por ela. No entanto, ao final da noite, Claire acaba sofrendo um aborto espontâneo e toda uma confusão se desenrola a partir disso, fazendo com que a dona do café seja obrigada a interagir com o padre, já que ele é o único que se dispõe a ajudá-la.

Fleabag igreja

Um romance nada abençoado

Como meu subtítulo entrega, os dois se envolvem amorosamente. E eu não posso negar, adorei o romance provocativo e bastante intenso criado por Phoebe Waller-Bridge. É claro que o namorico dos dois teve que acontecer por debaixo dos panos – ou melhor, da batina – e por isso, os conflitos da segunda temporada se mantém principalmente dentro da atmosfera dos dois personagens.

No plano de fundo, a série mostra o desenrolar da vida de Claire pós-aborto. Em um novo patamar na carreira, ela acaba conhecendo e se apaixonando por um colega de trabalho que também se chama Claire. Eles têm um caso e graças aos conselhos de Fleabag, a advogada cria coragem de deixar seu marido fracassado e o enteado esquisito para trás e ir em busca de seu novo affair.

Fleabag Padre
Fleabag e o Padre

Por fim, posso dizer que a segunda parte da série permite que o público respire um pouco depois de tantas desventuras, mas não perde o marcante humor ácido. A cena final não é tão surpreendente quanto desejaríamos, mas também não decepciona. Assim como em todos os episódios, ela nos traz fortes emoções envolvendo drama e comédia, e deixa o gostinho de “quero mais”.

Apesar disso, não há o que tirar e nem pôr, Phoebe Waller-Bridge finaliza a série perfeitamente, e mesmo que os fãs desejem ver mais sobre Fleabag, a produção acertou no timing e evitou que uma continuação forçada, baseada no sucesso das duas temporadas, pudesse estragar o legado desse presente que a roteirista nos deu.

EXTRA

Emmy 2019 Fleabag - Phoebe-Waller Bridge
Phoebe-Waller Bridge no Emmy 2019

Caso a personagem icônica e a trama inusitada da série não tenham sido suficientes para convencer toda a sua família, amigos e colegas de trabalho a assistir Fleabag, aí vão algumas informações que podem mudar isso:

  1. Fleabag está entre os 100 melhores TV shows no IMDB, com nota de 8,7
  2. A série conquistou quatro prêmios no Emmy 2019, sendo eles: Melhor Série de Comédia, Melhor Direção, Melhor Roteiro e Melhor Atriz de Comédia, os três últimos para Phoebe Waller-Bridge.
  3. Ganhou o Globo de Ouro de Melhor Série de Comédia ou Musical em 2020 e rendeu o Globo de Melhor Atriz em Série de Comédia ou Musical para Phoebe Waller-Bridge no mesmo ano.

 

 

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