Roça Nova lança Corta Quebranto: a renovação do “caipigroove” em um álbum colaborativo e inovador

Luca Moreira
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Roça Nova (Digo Ferreira)
Roça Nova (Digo Ferreira)

Depois do sucesso de Tramoia (2021), a banda mineira Roça Nova celebra a renovação e a cura com o lançamento de Corta Quebranto, seu segundo álbum de estúdio. Disponível em todas as plataformas de streaming, o disco consolida o estilo “caipigroove” ao mesclar sonoridades regionais com uma abordagem moderna e colaborativa, marcando um novo capítulo na trajetória do grupo.

O novo álbum, Corta Quebranto, reflete uma evolução colaborativa na forma como vocês compõem e arranjam suas músicas. Como foi para vocês, como banda, experimentar essa transição de um processo mais individual para um coletivo?

Foi um processo natural que sempre buscamos. Apreciamos muito a musicalidade um do outro, e desde que nos tornamos amigos compor e arranjar juntos é um dos nossos maiores prazeres. Esse álbum nos permitiu lançar músicas que começamos a criar juntos desde que nos conhecemos.

Vocês mencionaram que algumas canções do álbum foram testadas ao vivo antes do lançamento. Como essa interação com o público impactou as versões finais das músicas?

De várias formas, “Quebra-Coco” por exemplo tem uma contagem regressiva no final que é um clássico dos nossos shows, e a gente percebeu que podia levar dos palcos para o álbum. “Montaña” também é uma canção que carrega a fala “nossa bandeira montanha vermelha…”, que nasceu de improvisos do Pedro nos palcos nos encerramentos da música “Cambalacho”. Essa dói uma ideia que surgiu ao vivo depois de “Cambalachol” já ter sido lançada, e que agora entrou no novo álbum fazendo parte de “Montaña”, porque pudemos testar ao vivo e teve uma recepção muito positiva.

Roça Nova (Leonardo Leitão)
Roça Nova (Leonardo Leitão)

A expressão “Corta Quebranto” surgiu de um momento especial durante um show e acabou marcando a essência do álbum. O que essa frase representa para vocês e como ela se traduz no som e nas mensagens das músicas?

“Corta Quebranto” sugere movimento e cura. O próximo passo depois de uma “Tramoia” intensa e inerte é o próprio passo. Reocupar os espaços pós-pandêmicos com cultura popular e regional, com as tecnologias do presente, supondo um futuro em que só o absurdo pode trazer a alegria aos olhos de todo mundo. Trazer à tona as dores e riquezas do nosso interior. Se curar das dores com o autoconhecimento e evoluir em constante movimento.

“No nosso primeiro show de festival, ainda em 2020, me lembro que uma pessoa que estava lá postou um trecho da nossa apresentação em seus stories escrito “Roça Nova corta quebranto!”, e isso marcou todos nós. Assim como o do primeiro disco, esse nome também veio de presente para nós, e mesmo depois de cinco anos, todos nós lembramos com carinho dessa expressão ao sugerimos os possíveis nomes desse novo álbum” – Marco Maia (guitarrista)

“Mesmo não sendo integrante da banda na época, eu e o Tiago sempre achamos o nome muito forte e místico de uma forma existencial, dialoga com o primeiro nesse sentido, não podia ser outro. Tramoia passa uma ideia de inércia e reflexão, enquanto Corta Quebrando sugere movimento e cura. É a ordem natural. Evolução. O próximo passo” – Thalles Oliveira (percussionista)

“Representa muito o momento inicial de desenvolvimento do álbum, que era um período pós-pandêmico de autocuidado e de reocupação dos espaços com cultura. Corta Quebranto é isso, movimento e cura.” – João Manga (baterista)

O álbum conta com feats incríveis, como a Banda de Pau e Corda e André Prando. Como essas parcerias enriqueceram a identidade musical de vocês e o que vocês mais aprenderam com essas trocas?

“Poder juntar o novo interior de Minas Gerais com as raízes Pernambucanas da Banda de Pau e Corda é um sonho realizado. Eu e o Marco já viramos muitas noites ouvindo nossos discos de vinil da Banda de Pau e Corda.

O mais interessante é ver a forma carinhosa com que eles valorizaram nosso trabalho, genuinamente, é da personalidade deles serem assim, e isso tornou meus heróis mais incríveis ainda para mim” – Pedro Tasca (vocalista e compositor da música)

“O André sempre foi uma das minhas maiores referências musicais, sempre fui fã mesmo, de tirar e cantar as músicas dele. Depois que nos conhecemos na estrada tivemos a oportunidade de tocar em inúmeros eventos juntos. Hoje somos grandes amigos e era questão de tempo essa participação vir para a gravação. Ficou lindo, forte e eu me sinto realizado.” – Hector Eiterer (baixista e compositor da música)

As doze telas pintadas à mão que acompanham o álbum trazem um novo nível de simbiose entre música e arte visual. O que vocês acharam mais desafiador ou inspirador nesse processo de traduzir sons em imagens?

“O mais desafiador é partir de um grande projeto com uma repercussão tão positiva como o “Tramoia” para um novo desafio que agrade e surpreenda tanto quando. O mais inspirador é ter ao meu lado o grande artista e amigo Leonardo Leitão, que também participa ativamente das nossas criações musicais, e talvez por isso consiga traduzir nossa música em imagem com tanta maestria” Pedro Tasca (vocalista e diretor de arte)

Vocês exploram uma diversidade de ritmos e instrumentos tradicionais, como a viola caipira e o berrante. Como vocês conseguem equilibrar essas influências regionais com uma sonoridade moderna e inovadora?

Não é tão planejado assim, fazemos a música que parte de nós, tocamos os instrumentos que sabemos, que tivemos como referência durante nossa criação… eu aprendi a tocar berrante desde novinho com meu avô, o Tiago é um grande violeiro e por aí vai… A questão de ser “inovador” acho que é um reflexo natural do mundo em que vivemos e das referências contemporâneas que também fazem parte de nós.

Com o álbum sendo lançado em vinil e a turnê no horizonte, como vocês enxergam o papel do Corta Quebranto na consolidação do “caipigroove” como um estilo que une tradição e modernidade?

Com o “Tramoia” pudemos apresentar nossa proposta musical, e vejo que hoje com as grandes parcerias que já movemos, incluindo grandes referências para nós, conseguimos consolidar esse som que a gente criou como parte reconhecida da música brasileira, que sempre foi assim, tão plural e miscigenada.

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