Miriam Rezende Gonçalves fala sobre bastidores de “Alcântara” e detalhes sobre a pesquisa pelo Programa Espacial Brasileiro

Luca Moreira
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Escritora, entusiasta do Programa Espacial Brasileiro, e editora-chefe e idealizadora do Expresso do Cerrado, Miriam Rezende Gonçalves é nascida em Monte Carmelo, no Cerrado Mineiro, e aos 18 anos foi morar no Rio de Janeiro.

É graduada em Comunicação Social e participou do grupo de teatro ‘‘Não se fala com os muros’’, do diretor Abujamrra após ter se formado na Cal (Casa de Artes Laranjeiras). Desde 2003 trabalhando na televisão, atuou na criação e produção de programas como telenovelas, reality shows e variedades. Entre seus trabalhos destacam-se as novelas ‘‘Da cor do pecado’’, Começar de novo’’ e ‘‘Malhação’’; as minisséries ‘‘JK’’ e ‘‘Queridos Amigos’’; as séries ‘‘Casos e Acasos’’, ‘‘A Grande Família’’ e ‘‘Lolo e Tavinho’’; e programas como ‘‘Fantástico’’, ‘‘Criança Esperança’’, ‘‘Show da Virada’’, ‘‘Menina Fantástica’’, ‘‘Festival de Verão de Salvador’’, ‘‘Clipes de Carnaval (SP e RJ)’’, ‘‘Carnaval Globeleza’’, dentre outros. Foi diretora de criação do projeto literário ‘‘Contos Inversos’’, com grande sucesso de público e de crítica no eixo Rio/São Paulo, e do quadro televisivo ‘‘Se meu carro falasse’ para o programa Auto Esporte, também da Rede Globo.

Miriam deixou a carreira de produtora de televisão para se dedicar integralmente à escrita, e dá os últimos retoques em “NISE, Guardiã da Loucura” seu primeiro romance ficcional baseado na vida e obra da médica Nise da Silveira. Pesquisadora, Miriam tem argumento cinematográfico denominado “Alcântara” registrado na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, resultado de mais de 10 anos de pesquisa sobre o Programa Espacial brasileiro.

Nessa entrevista dada com exclusividade a Luca Moreira, ela abre mais detalhadamente sobre sua passagem pela televisão, e mostra segredos sobre o seu maior sucesso literário, o livro “Alcântara: A História Inspirada na História”, onde de maneira ficcional, ela relata uma história exploratória que teve inicio com o acidente na base de lançamentos em Maranhão, que no dia 22 de agosto de 2003, matou mais de 21 pessoas. Confiram como foi o bate-papo com a jornalista!

Editora-chefe e idealizadora do Expresso do Cerrado, como foram os seus primeiros contatos com o jornalismo e como foi o nascimento de seu projeto, que hoje tem expansão nacional?

O jornalismo surgiu em minha vida, por pressão familiar. Sério! A cobrança de ter um diploma, para uma carreira mais estável, uma vez que eu havia acabado de me formar na Cal, uma escola de atores do Rio de Janeiro. Dentre as opções de cursos, eu escolhi a Comunicação Social, com bacharelado em Jornalismo, por ser uma comunicadora nata. A criação e formato do portal de notícias e mídia impressa, Expresso do Cerrado, surgiram da necessidade de ter um emprego em Minas Gerais, na minha área de atuação, quando voltei para minha terra natal para me recuperar de uma síndrome do pânico.

Foto: Divulgação

Aos 18 anos, você foi morar na cidade do Rio de Janeiro, onde ministrava aulas de teatro no Projeto Jovem Total. Com formação na CAL (Casa de Artes Laranjeiras) e  participação no grupo “Não se fala com os muros”, como foi poder passar os seus conhecimentos aos alunos? O sentimento da arte se intensificou nos momentos de aula?

Era um momento em que eu estava me descobrindo e descobrindo a cidade, surgiu essa oportunidade de trabalho. Foi marcante. Lembro-me de um dia chegar para dar aula e a maioria das meninas estarem com o cabelo claro, parecido com o meu naquele momento. Me dei conta da responsabilidade que era ser espelho para todas elas. A arte é transformadora, sempre. De forma inquestionável. Então o sentimento se intensifica no dia-a-dia sim.

Durante o seu período trabalhando para a televisão, principalmente na Rede Globo, você esteve à frente da criação de diversos programas, como as novelas “Da cor do pecado”, “Começar de novo” e “Malhação”, além de “A Grande Família” e “JK”. Qual projeto você considera ter tido mais significado em sua carreira e que lembranças guarda da época de suas criações?

Nesses projetos que você citou acima, eu trabalhei como produtora. Com criação, eu formatei o quadro “Se meu carro falasse”, onde celebridades contavam histórias que aconteceram dentro de seus carros, para o “Auto Esporte” também da TV Globo, que vai ao ar todo domingo, pela manhã. A novela “Da cor do pecado” me marcou bastante porque foi minha estreia na televisão. Então, foi memorável e inesquecível.

Eu pessoalmente observo algo muito positivo em “Malhação”, que foi uma forma de que a Globo conseguisse quebrar os padrões de que as novelas tratavam de temas do mundo adulto, fazendo com que o público adolescente se identifica-se mais com a novela, que já se repete em mais de 26 temporadas. O que você achou desse projeto?

Concordo com você. Acho que a “Malhação” tem um cunho educativo. Aborda temas como gravidez, bebidas alcoólicas, uso do preservativo – assuntos que nem todos os pais falam dentro de casa.

Foto: Divulgação

Durante um período, você foi diretora de criação do projeto literário “Contos Inversos”. Sobre o que era esse projeto, e como foi o seu contato com o meio literário a partir desse programa?

Esse projeto foi minha grande paixão. Mas também me onerou muito financeiramente e eu fiquei endividada (risos), faz parte! Mas a poesia é necessária e fundamental para a alma, sempre que eu puder e estiver ao meu alcance, vou propagá-la.

Além de sua pós-graduação em Argumento e Roteiro Dramaturgo para Cinema e Televisão pela FAAP, em sua formação consta o período que passou estudando na EICTV, uma escola internacional de entretenimento. Como foi o seu período de estudos fora do país com Elíseo Altunaga, e como isso agregou em sua vida profissional?

Sim, na Faap eu descobri que apesar de ter entregado a monografia e dela ter sido publicada pela FAAP no ano de 2012, eu ainda estou devendo duas matérias por falta. Acredita?! Sim, na ocasião eu estava produzindo paralelamente o quadro “Menina Fantástica” para o programa da Globo São Paulo e acabei tendo mais faltas que o permitido, mas logo irei resolver. Então, após o término da pós, eu fui fazer especialização em dramaturgia com o Eliseo Altunaga, considerados um dos melhores nesse segmento, nessa escola foi fundada pelo escritor Gabriel Garcia Marques.

O que a levou a ir do meio da dramaturgia para o setor do jornalismo?

Eu sou uma comunicadora, nasci para fazer o que faço amo histórias e contar histórias, independente da plataforma de comunicação, seja em livro, televisão, poesia, filme, jornal, eu estabeleço a conexão com o público e me comunico. Meu avô paterno, Sr. Durval, era dono de gráfica de papel, a Gráfica Guaçuana, na cidade de Mogi-Guaçu, interior de São Paulo. Meu pai, sempre me dava bloquinhos coloridos de resto de papel, que ele trazia da gráfica, e essa, era a minha brincadeira preferida. Até hoje, vivo grudada nesses bloquinhos de papel, tenho no escritório, no quarto, dentro da bolsa… Sempre pego na gráfica onde rodo o meu jornal e onde imprimi meus livros. Acredito que venha daí. Meu pai faleceu quando eu tinha treze anos. Acho que é a forma que encontrei de me conectar com ele, através da propagação da cultura do papel.

Foto: Divulgação

Ambientado no universo da astronomia e do programa espacial brasileiro, você conseguiu levantar um gancho que muitas pessoas têm curiosidade, principalmente pelos principais avanços e descobertas que conhecemos serem parte da agência espacial americana NASA. Como foi a sua pesquisa para a criação do livro e que mensagem quis passar com “Alcântara”?

Nossa, foram muitos anos dedicados ao programa espacial brasileiro! Uma vasta pesquisa, até então inédita no país, assim como os temas abordados no livro. Ainda desconheço outras pessoas abordando o assunto, mas felizmente já está começando a surgir.  A conquista espacial existe para resolver os problemas e mazelas da Terra, para garantir nossa sobrevivência. Qualquer discurso diferente disto, é falta de informação. Como a internet, por exemplo, geralmente vem transmitida via algum satélite que está no espaço, a câmera acoplada em nossos celulares, surgiu da necessidade de desenvolver uma câmera de alta definição e compacta para caber na sonda do astronauta que iria para a Lua. O mecanismos de pesquisa do Google, o equipamentos de raio-x, equipamentos de ressonância magnética, o GPS, a previsão do tempo, esses e outros vieram da conquista espacial. Outro exemplo é o amortecedor de tênis, veio da bota do astronauta, a medicina é a principal beneficiada como a cura do câncer, cura do HIV, a cirurgia de catarata, e tantas outras pesquisas científicas são enviadas dentro de um foguete, até a gravidade zero, porque no espaço não tem bactérias e isso facilita pesquisas científicas.

Aproveitando ainda o assunto da última pergunta, porque muitos acreditam que o Brasil não consegue dar avanços na pesquisa espacial, se tornando uma agência ativa em novas descobertas? O que falta para que nosso país se fortaleça e possa ser comparado às demais nações?

Burocracia, falta de investimento, corrupção e falta de Informação.

Apesar de muitas pessoas desconhecerem, no seu livro é retratado a questão do envolvimento de centenas de pessoas e especialistas que estão dedicados a desenvolver uma tecnologia própria para a exploração espacial. Como foram as pesquisas de apuração sobre o assunto retratado, e porque esses projeto ainda são tão pouco difundidos pela população? Acredita que em breve poderemos ver espaçonaves brasileiras indo ao espaço?

Acredito que o fato está relacionado com a demanda do inconsciente coletivo. Vivenciamos hoje, a nova fronteira espacial. Estamos acompanhando os Estados Unidos, a China e os Emirados Árabes, enviarem sondas, robôs para solo marciano. Enquanto diversos países do mundo se alinham com esse novo momento da humanidade. O Brasil tem o melhor espaço-porto do planeta, o Centro Espacial de Alcântara, que está localizado cerca de 2 a 3 graus da Linha do Equador. Na prática, isso significa que qualquer foguete que decole de suas bases, ganhe uma velocidade extra de escape, um impulso extra, que pode chegar a economizar até 30% de combustível em cada lançamento. Dependendo do foguete, pode gerar uma economia de aproximadamente 20$ a 30$ milhões. Além de ter um mar aberto e os lançamentos não oferecerem risco a população. Ou seja, o Brasil precisa aproveitar esse momento.

Foto: Divulgação

Na dedicatória do livro, você se referiu a história da explosão da torre de lançamento de Alcântara em 2003, onde seu primo, Carlos Alberto, trabalhava como engenheiro mecânico, e que morreu de uma forma misteriosa. Poderia nos contar melhor um pouco mais da história dele e a respeito desse acontecimento?

Eu embarquei nessa história, porque perdi um primo na catástrofe que vitimou vinte e um cientistas, na explosão do foguete VLS-03, na base espacial de Alcântara, no Maranhão em 2003. Ao aprofundar no tema, e na importância do programa espacial em nosso cotidiano, me vi diante de uma missão: popularizar o programa espacial brasileiro. Carlos era um visionário, que perdeu precocemente a vida, acreditando que o Brasil poderia conquistar o espaço. Ele era filho da minha tia Luiza, irmã de meu pai. E na ocasião de sua morte, foi se recuperar em minha casa, de tamanho trauma. Eu acabei me envolvendo bastante, porque recortávamos todas as matérias que eram publicadas em jornais e revistas sobre o acidente.

Como nasceu a personagem de Natália, e porque preferiu formular uma ficção em uma história que realmente ocorreu?

Ela nasceu de uma inspiração da vida real. Meu primo Carlos Alberto teve uma filha, antes de se casar, chamada Natália, e ela veio a falecer exatamente um ano após a catástrofe em Alcântara que vitimou seu pai. É uma espécie de homenagem. Contudo, toda a trama desenvolvida por mim é ficcional.

A literatura é hoje uma característica muito presente em alguns jornalistas que possuem o desejo de contar histórias mais aprofundadas através dos seus livros, assim como você fez. Planeja lançar novas obras como autora? Se sim, quais os principais assuntos que estariam em sua mira?

Sim. Pretendo lançar um livro de poesias. Eu escrevo poemas desde criança e sempre vi minhas redações expostas no mural da escola, como resultado do campeonato escolar. No ano de 2012, a FAAP – Fundação Armando Alvares Penteado publicou minha monografia, como resultado de conclusão de curso. Porém ainda devo duas matérias para finalizar, porque na ocasião, eu estava produzindo o quadro do programa do “Fantástico – Menina Fantástica” e acabei perdendo mais aulas que o permitido normalmente. Este livro em questão se chama “Nise, Guardiã da Loucura”, e é o resultado de muitos anos de pesquisa sobre a vida e obra da médica psiquiatra, Nise da Silveira, precursora da terapia ocupacional no Brasil.


Encerramos desejando sorte para a nova missão, Miriam se prepara para assumir o cargo de Assessora Especial de Comunicação Social da Secretaria Especial da Cultura.

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