Mandinga Beat celebra identidade cultural com “Criança Rica” e anuncia novo álbum

Luca Moreira
10 Min Read
Mandinga Beat (Porto)
Mandinga Beat (Porto)

O trio Mandinga Beat, formado por André Sampaio, Joe Dess e a recém-chegada Victória dos Santos, lança o single e clipe “Criança Rica”, celebrando a fusão de ritmos brasileiros e africanos com influências contemporâneas. A canção, que mistura o Semba angolano com afrobeats feitos no Brasil, traz uma mensagem poderosa sobre identidade cultural e prosperidade. O clipe, gravado na histórica “Pequena África” do Rio de Janeiro, destaca crianças interagindo com tambores e dançando, reforçando o tom festivo e lúdico da produção. Além do lançamento, o grupo prepara uma agenda de shows no Rio de Janeiro e São Paulo, prometendo encantar o público com sua sonoridade única.

Vocês transitam entre ritmos brasileiros e africanos, criando uma sonoridade única. Como essa troca cultural se reflete no processo de composição e na identidade sonora do Mandinga Beat?

Quando pensamos uma música, automaticamente pensamos os ritmos que serão trabalhados nela, isso já́ adianta como será́ a linguagem aderida, quais as referências e qual a conexão que nós enxergamos com outras manifestações culturais, queremos exaltar elos.

A entrada da Victória trouxe uma nova dinâmica para o grupo. Como foi essa integração e de que forma a presença dela influenciou a essência do novo trabalho?

A Victória é uma amiga de muitos anos que chegou com a proposta de que gravássemos uma faixa juntos, pois começamos como um duo que produzia em parceria com cantores e cantoras convidados, mas a sintonia foi estão grande que viramos um trio. Victória traz sua consigo uma representatividade fundamental para o trabalho como mulher e também sua entrada representa a consolidação do projeto como uma banda: Foi mesmo desses encontros que parece que já estavam marcados, sua percussão e voz são a cara do Mandinga Beat.

O nome da música traz um duplo significado, unindo cultura e crescimento. Para vocês, o que significa ser uma “criança rica” no contexto musical e social que vivem?

A música fala que a cultura é nossa maior riqueza e que devemos cultivar sua continuidade desde a infância. Conhecer nossa história e cultura e propagá-la, é uma maneira de contribuir para a emancipação de traumas colonialistas que assolam os povos em diáspora e na África até hoje. A letra brinca com nomes de instrumentos e jogos em português e em algumas línguas bantu, fortalecendo os laços da afro-lusofonia. Citando Paulinho de Viola: “Quando penso no futuro não me esqueço do passado”.

Joss Dee mencionou que a canção vai na contramão dos estereótipos sobre a infância africana. Como vocês esperam que essa música ajude a mudar essa visão no imaginário coletivo?

Nossa referência de infância angolana é de cuidado, acompanhamento, brincadeiras e alegria. Uma criança que tem a comunidade com ela, que recebe ensinamento e o suporte que toda criança precisa para se tornar uma cidadã ou um cidadão positivo no mundo.

África é um continente inteiro, com milhares de culturas e políticas diferentes porém as narrativas que costumávamos acompanhar vinham de povos colonizadores, hoje em dia buscamos referências em narrativas de pessoas e pensadores africanos para que muitos estereótipos sejam desconstruídos. Há muita riqueza e aprendizado que podemos enxergar também nas comunidades afro-brasileiras, como em manifestações populares com o carnaval, o congado mineiro e o maracatu. Queremos compartilhar riquezas.

Mandinga Beat (Porto)
Mandinga Beat (Porto)

O clipe tem um clima festivo e lúdico, com crianças interagindo com a música e a dança. Como foi a experiência de capturar essa energia e quais foram os momentos mais marcantes das gravações?

Foi uma tarde linda de trocas com as pessoas que foram colaborar com a gente. Escolhemos um lugar de força pra essa energia lúdica que é a Casa da Mysterios, sede da Cia de Mystérios e Novidades, grupo de teatro popular com  mais de 40 anos de atividade,  cujo trabalho aborda também a valorização da ancestralidade negra da região, conhecida também como “Pequena África”.

A Lu Ponce chegou com seu elenco de crianças do Maracatu e o Joss trouxe o Erik Chimuco, que mora entre Rio de Janeiro e Luanda. Foi uma diversão treinar movimento com eles, aproveitamos alguns movimentos do maracatu pra que ficassem mais à vontade e pedimos pra que brincassem conosco. Trabalhar com criança é um respiro e um convite a continuidade dos nossos ideais.

A música mistura línguas bantu e referências culturais profundas. Como vocês veem o papel da música na preservação e na reinvenção das tradições ancestrais?

Nós somos apresentados a culturas, histórias e filosofias através da música desde sempre, é um veículo eficaz que desperta a curiosidade de quem se interessa e pode dedicar tempo e pesquisa. Assim foi conosco e queremos provocar esse interesse em conhecer mais da herança africana em diversas culturas no mundo, como por exemplo o Tambor Kinfuite, citado na música e que te levará para um universo misterioso da cultura Abakuá em Cuba. Reinventar para preservar, levamos o nome das nossas referências para que não caiam no esquecimento mas criamos a nossa maneira, em coerência com nossas vivências.

Vocês exploram as ligações musicais entre o Brasil e a África de uma maneira muito autêntica. Existe algum aprendizado u experiência em viagens que marcou profundamente a trajetória do grupo?

Gostamos muito de exaltar a presença da cultura africana no Brasil através da musicalidade e também de filosofias e organizações sociais. Quando apresentamos Criança Rica com os versos “palma da mão coçou, e a sorte vem vindo…” , nos admiramos em saber quem em Angola se cultiva a mesma crença popular. Nessas frestas sociais que nossa cultura se mantém viva através do tempo e contra a ditadura colonial que vivemos no mundo eurocentrado.

André Sampaio mencionou a influência da música angolana dos anos 70. Como foi trazer essa referência para um trabalho moderno e qual a importância de olhar para trás ao criar algo novo?

Nosso som se baseia principalmente nessa fusão do ancestral e do contemporâneo, trazer linguagens rítmicas e melódicas de tradições na forma de tocar instrumentos modernos é uma marca da música africana moderna e buscamos fazer isso principalmente nas guitarras e timbres eletrônicos. É como fazer um tempero que mistura algo que nos conecta com um passado profundo mas que tem sabor de frescor e novidade, conectando com outras musicalidades  modernas. No caso da música “Criança Rica”, os solos e alguns fraseados de guitarra tem influência do Mali/ Burkina e tb dos afrobeats modernos, por exemplo. A ideia é pisar no futuro com a força e fundamento do passado.

A música de vocês atravessa fronteiras e se conecta com públicos diversos. Como vocês percebem o impacto desse intercâmbio musical na forma como o Mandinga Beat é recebido dentro e fora do Brasil?

Recebemos ótimos retornos do público que vem conhecendo nosso trabalho. Esse ano nós alcançamos um arco de crescimento incrível nas redes sociais e com muita empolgação do público em ver mais conteúdo e shows nossos. Trazemos também músicas em inglês, pensando nessa amplitude de comunicação. Queremos unir pessoas de muitos lugares diferentes e enxergar nossas afinidades através da música.

O primeiro show do ano, no projeto Leão Etíope do Méier, no Rio de Janeiro, foi um sucesso e o público dançou, sorriu e aplaudiu do começo ao fim. Também estamos ecoando bem fora do Brasil, com rádios na Europa e EUA tocando “Criança Rica” – estamos no Top 10 da rádio WRIR dos EUA, por exemplo. Seguimos muito felizes e confiantes  com o caminho que vem aí.

Além do álbum e dos shows confirmados no Rio e em São Paulo, quais são os próximos passos do Mandinga Beat? Alguma colaboração especial que vocês podem adiantar?

O disco vem aí! Estamos no processo de finalização do disco que contaremos com participações especiais de artistas do Brasil, Cabo Verde, Benin e mais. Final de março lançamos “Mãe me Diz” single com participação de Hélio Ramalho, artista cabo-verdiano que mora no Brasil há alguns anos.

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