Jacqueline Sato retorna à Globo e brilha em novela das 7, enquanto expande impacto ambiental e social

Luca Moreira
13 Min Read
Jacqueline Sato (Andrea Dematte)
Jacqueline Sato (Andrea Dematte)

De volta à Globo com a novela “Volta por Cima”, Jacqueline Sato interpreta Yuki, uma jovem inteligente e resiliente que enfrenta um passado de relacionamento abusivo. Além de sua atuação nas telas, a atriz, apresentadora e ativista ambiental se destaca como embaixadora do Greenpeace Brasil e fundadora da associação de proteção animal House of Cats, que já ajudou mais de 2 mil gatos a encontrarem lares. Jacqueline também lançou este ano o programa “Mulheres Asiáticas”, no canal E!, promovendo representatividade e quebrando estereótipos sobre mulheres nipo-brasileiras.

Ao idealizar e apresentar o programa “Mulheres Asiáticas”, você deu um passo importante para celebrar a diversidade e desconstruir preconceitos. Como surgiu a ideia de abordar a representatividade asiática de forma tão direta? E como foi o impacto emocional de ouvir tantas histórias poderosas?

Tenho uma carreira de quase 15 anos, e é fato que senti falta de conteúdos assim. Criei algo que eu sempre quis ver na TV: mais de uma de nós ocupando esse espaço, podendo revelar o quão diversas somos, indo muito além daquilo que muita gente ainda pensa a respeito de nós, quebrando estereótipos e preconceitos. Valorizando nossas identidades e histórias tão únicas. É a primeira vez que isso acontece na TV na América Latina. Ainda hoje, muitas vezes não somos vistas como ou não nos sentimos pertencentes ao próprio país onde nascemos. O programa vem para celebrar nossas existências com orgulho. Reunimos histórias de 13 mulheres inspiradoras, de faixas etárias que variam dos 20 e poucos aos 80 anos de idade, e que possuem diferentes profissões e trajetórias de vida. E tudo isso feito por mulheres pertencentes ao recorte atrás das câmeras também, em todas as lideranças criativas. Me emociono ao lembrar de cada uma delas. E me emociono ainda mais em lembrar dos comentários, mensagens, e abordagens nas ruas de pessoas que foram profundamente tocadas pelo conteúdo. Para muitas delas, trouxe uma sensação de alívio, de “finalmente, um programa que nos representa com a profundidade e genuinidade que merecemos”, a outras que passaram a entender melhor as suas próprias identidades e questões, por conta do programa e me agradecem de verdade. Eu é que agradeço por cada uma das pessoas que compartilharam comigo o que sentiram ao assistirem ao programa, afinal, a gente cria para chegar nas pessoas, e fico muito feliz que tenha chegado em tanta gente e já tenha gerado tanta transformação e discussão.

Sua personagem Yuki, em “Volta por Cima”, traz à tona temas importantes, como relacionamentos abusivos. Como foi o processo de construir essa personagem e dar vida a alguém que enfrenta desafios tão delicados?

É um assunto muito sério. Muitas mulheres estão em situações de abuso e sem conseguir visualizar alguma chance de sair dessa situação. Eu gosto muito do fato da Yuki ter conseguido sair do ciclo, quebrar o padrão, uma vez. Ela tem o medo, tem os traumas, mas está consciente sabendo da gravidade da situação e cuidando para não permitir que todo esse terror volte a acontecer. Acho bom termos uma mulher que tem um passado que a perturba, mas não a paralisa. Uma mulher forte e inteligente encontra caminhos para seguir em frente. O processo é sempre bem individual, interno. Partindo do texto, sempre busco ver o que mais ressoa em mim, o que traz mais sensações. Porque mesmo que tenham coisas que eu nunca tenha vivido, só de imaginar a situação já mexe demais comigo.  Nunca vivi uma relação que chegue nem perto da que ela vive e dar vida a isso tem sido um processo bastante desafiador, que estou adorando.

Como embaixadora do Greenpeace Brasil, você visitou a comunidade do Tumbira e a RDS do Rio Negro. Qual foi o momento mais marcante dessa experiência? E de que forma essas vivências transformaram a sua percepção sobre sustentabilidade e ativismo ambiental?

Nossa, é muito difícil escolher um só. Vou de 3:

1- Quando vi, pela primeira vez, uma Samaúma. O tamanho dessa árvore é de uma magnitude, me fez ficar em suspensão, repensando a existência, e a forma como temos vivido. Tudo muda de perspectiva na Amazônia, o que você considerava grande, o que você considerava importante, já não é mais. Você passa a ressignificar muita coisa. E eu, que já era engajada e lutava pelas causas socioambientais, fiquei ainda mais movida a expandir minhas possibilidades de ação.

2- Ouvir dos locais que eles eram mesmo madeireiros ilegais, e demoraram muito a acreditar que era possível ter retorno financeiro com a floresta em pé. Me emocionei ao ver o quanto se transformaram em tão pouco tempo, individualmente e coletivamente. Na RDS, hoje, tem escolas, mercado, acesso à internet, não falta comida, e eles vivem do dinheiro advindo do turismo, gastronomia e artesanato. Algo, até pouco tempo atrás, inimaginável. Ficou nítido que por muito tempo eles foram mantidos naquela situação por conta de interesses daqueles que só querem lucrar, sem pensar nas consequências e na humanidade.

3- Ver o boto-cor-de-rosa pela primeira vez. Um ser que eu fiquei encantada e preocupada ao mesmo tempo, quando aprendi sobre ele ainda criança, na aula de ciências, por já ter de estar em risco de extinção na época. Também li sobre ele nas aulas de literatura e isso me deixava muito curiosa. Então vê-lo ao vivo mexeu muito comigo.

É importante conhecer. Conhecer de perto traz ainda mais vontade, gana, urgência de realizar as mudanças necessárias! Saí ainda mais fortalecida e tocada pela experiência e por tudo o que só pode ser vivido lá.

Jacqueline Sato (Andrea Dematte)
Jacqueline Sato (Andrea Dematte)

Em “A História Delas”, você interpreta Mirella, uma ex-modelo com dilemas conjugais. Como você enxerga a evolução das narrativas femininas nas séries e como se sente ao dar voz a histórias tão ricas e complexas?

Quando há mulheres por trás das câmeras em cargos com poder de decisão, tudo fica muito melhor. Ninguém melhor do que nós mesmas para contarmos nossas histórias. E essa equipe contava com muitas mulheres, no roteiro e na direção, e com um diretor consciente dessa importância. Por toda essa sensibilidade e respeito é que acredito que tivemos um resultado de tanta qualidade. Eu amo personagens complexas, pois elas são mais humanas. Fazem com que a gente se identifique.

Fundar a House of Cats e ajudar mais de 2000 felinos é uma iniciativa incrível. Qual foi o caso mais emocionante que você vivenciou nessa jornada de resgate e adoção responsável?

Ahh, obrigada! Quase 3000, já! Eu vivi muitas emoções por conta desses animais resgatados. Mas tem uma história que me marcou muito, que é a de quando uma menina foi adotar e a mãe ficava mega falando para filha levar os filhotinhos. E ela virou para a mãe e disse: “mamãe, os filhotes são lindos, mas a mãezinha deles tem menos chances de ser adotada. Eu a quero”. Eu fiquei chocada e emocionada com a consciência dessa garota de 8 anos de idade.

Sua trajetória inclui novelas, filmes, séries e até programas de TV. Como você equilibra tantas facetas da sua carreira, incluindo o ativismo, e o que mais tem te motivado a continuar explorando novos desafios?

Eu sempre quis isso. Fico muito feliz de olhar para trás e ver que tenho conseguido realizar tantas facetas, e crescer em cada uma delas. Me motiva a querer ainda mais pois, hoje, eu sei que não é impossível. Pode ter sido difícil, desafiador, mas muito do que sonhei tenho conquistado.  Muitos passos já foram dados, e me sinto mais confiante e capaz para realizar ainda mais. Eu acho que o que mais me motiva é colaborar para gerar transformações positivas no mundo. Seja como atriz, produtora ou ativista, sentir que meu trabalho é parte de algo maior e que vai mudar a vida de alguém para melhor em alguma medida, mesmo que seja só trazendo a ela um novo ponto de vista, uma emoção, uma reflexão, é algo importante para mim. Acredito no poder que o contar histórias tem.

Com tantas conquistas no campo artístico e social, qual foi a maior lição que sua carreira e seu ativismo te ensinaram sobre resiliência e propósito?

Não desistir, mesmo que tudo pareça estar dando errado e pareça impossível. Porque foi assim para mim muitas vezes. Escutar aquela voz interna, aquele desejo mais profundo e se apegar nele para enfrentar as adversidades. Acreditar que tudo é importante, mesmo as pequenas coisas, as pequenas ideias, ações, pequenos papéis. Tudo soma na construção desse caminho que é único, e é só seu, e pode se desdobrar em algo maior que, às vezes, nem a gente mesmo sabe. Por exemplo, em relação a House of Cats, eu resgatar os primeiros gatinhos foi um ato que pode ser considerado pequeno para muita gente, mas olha o que se tornou. Eu em relação ao Greenpeace, sempre admirei e colaborei divulgando as ações, e não imaginava que um dia me tornaria embaixadora. E enquanto atriz, tenho muitos exemplos, mas trago aqui meu primeiro papel numa série (“Psi”) em que ele não era tão grande, mas fiz meu melhor e isso me abriu muitas portas, e segue abrindo, a Mirella de “A História Delas” foi convite da Diana Galantini, que era Produtora de elenco dessa primeira série. Uma das assistentes de direção dessa série, Isabel Valiante, também me indicou para outros trabalhos quando pensavam em alguém com o meu perfil. Hoje, ela é Diretora e já me chamou para testes. Thiago Dottori que era roteirista desse mesmo trabalho já me indicou para papéis também. Considero importante o que se faz em cena, e fora dela. Tudo conta. Parece ser o mínimo, mas educação, profissionalismo, chegar no trabalho com uma energia boa, também é colocado na balança e é lembrado pelas pessoas. Agora, como criadora e produtora de “Mulheres Asiáticas”, eu vivi ainda mais intensamente essa conexão com o propósito e resiliência, foram desafios em diferentes âmbitos e muitos deles pela primeira vez na vida, e tudo ao mesmo tempo.  Quando a ideia é sua, a responsabilidade e o eixo a ser mantido para que se chegue no resultado é ainda maior. Vamos dizer que a corrida é mais longa, começa antes na criação, roteiro, pré-produção, produção, e se estende até depois com a pós-produção, lançamento e segue reverberando. Nos momentos desafiadores eu sempre lembrava do porquê tinha criado aquele projeto, qual era o propósito maior por trás de tudo aquilo para não me distanciar da essência dele. Deu certo e lembrarei desses aprendizados todos por qualquer caminho que eu vá percorrer.

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