Gabriela Kulaif transforma drama pessoal em “BitterSweet”, filme que ganha destaque internacional

Luca Moreira
10 Min Read
Gabriela Kulaif (Smartini Media)
Gabriela Kulaif (Smartini Media)

Morando há mais de 20 anos em Los Angeles, a atriz paulista Gabriela Kulaif transforma uma difícil experiência pessoal em arte com o filme BitterSweet. Contracenando com nomes como Erik Marmo, William Baldwin e seu marido, o ator e diretor Steven Martini, a produção leva para as telas a jornada da própria Gabriela ao lidar com o diagnóstico de autismo de Martini e de seu filho. Com exibições em festivais importantes e três apresentações no Marché du Film, durante o Festival de Cannes, o longa promete emocionar o público ao redor do mundo.

Gabriela, sua trajetória como atriz e produtora é realmente inspiradora, mas você já contou que sua história foi, de certa forma, moldada por uma experiência muito pessoal. Como foi ver a sua própria vida sendo transformada em filme, especialmente com temas tão sensíveis como o autismo em sua família?

Luca, o filme foi inspirado em umas das situações mais difíceis da minha vida. Na época eu não sabia que meu marido estava no espectro do autismo e foi muito difícil lidar com a ansiedade e ‘meltdowns’ dele sem saber da onde estava vindo aquele comportamento. Em uma das várias terapias que ele teve que fazer recebemos o diagnóstico do autismo e tudo fez sentido. Fazer o filme foi usar a arte como cura para tudo aquilo que passamos, e atuar em um papel inspirado em mim ao mesmo tempo que foi fácil trouxe de volta a tona sentimentos muito intensos.

O filme “BitterSweet” é um marco importante na sua carreira, além de ser uma produção que envolve toda a sua família. Como foi o processo de trabalhar ao lado do seu marido, Steven, tanto na vida real quanto nas telonas, considerando as dificuldades e as descobertas que ambos enfrentaram?

Foi maravilhoso produzir esse filme com ele, descobrimos uma compatibilidade enorme nessa área e nos uniu ainda mais. Já em casa tem muito mais desafios pois o Steven tem um super foco em escrever roteiro e no lado artístico em geral, e tem zero vírgula zero um de foco em qualquer assunto prático do dia a dia então fica bem puxado para mim! O lado positivo é que ele é super talentoso nesse lado criativo e escreve roteiro muito bem e isso nos traz um ótimo retorno no lado profissional.

Gabriela Kulaif (Smartini Media)
Gabriela Kulaif (Smartini Media)

Como você mencionou, o diagnóstico de autismo foi um divisor de águas para a sua família. Você poderia nos contar um pouco sobre o impacto que esse diagnóstico teve, não só no seu casamento, mas também na sua maneira de ver o mundo e o processo criativo por trás de “BitterSweet”?

O diagnostico nos trouxe clareza, informação e muitas ferramentas de como lidar com o autismo. Mudou completamente a nossa vida. Eu sou a favor que todas as pessoas no espectro sejam diagnosticadas, pois tudo muda quando temos acesso à informação, ferramentas e suporte. No caso do Steven, ele é super focado em música e cinema, os roteiros dele são geniais, prova disso é que dois filmes dele foram produzidos pelo mestre Martin Scorsese. O que ele precisa ajudar é mais com o lado prático que por sorte eu tenho de sobra.

Ao longo da sua carreira, você teve uma jornada que envolveu muitas reviravoltas, como mudar-se para os EUA com um filho pequeno e trabalhar em várias áreas antes de se estabelecer como atriz e produtora. Como essas experiências influenciaram sua abordagem artística e sua visão sobre o sucesso?

Ah Luca, eu acredito que todas as sementes que plantamos vão se juntando e se tornam a arvore da nossa vida. Ser mãe aos 18 anos me trouxe uma maturidade imensa logo cedo, fora o quanto o coração da gente se expande quando temos um filho. Eu amei ensinar Reiki, Kundalini Yoga, e trabalhar com terapias alternativas, foi mágico, me mostrou como temos o poder da autocura e da manifestação dos nossos sonhos, como atriz me deu ainda mais profundidade para atuar em diferentes papéis. O fato de eu ter sido publicitária por 5 anos me ajudou demais também na hora de produzir meu primeiro filme. Eu pretendo dirigir meu próximo filme e sinto que os anos que fui fotógrafa vão me ajudar muito na direção. Tudo que aprendemos vai se encaixando.

Gabriela Kulaif (Smartini Media)
Gabriela Kulaif (Smartini Media)

Sua trajetória inclui um trabalho imenso com autossuperação e adaptação. Em que momentos você sentiu que a arte e o processo de produzir e atuar em filmes como “BitterSweet” ajudaram a curar ou a lidar com as dificuldades de sua vida pessoal?

Eu confesso que me senti com superpoderes quando consegui produzir o meu primeiro filme e ver dar tudo certo! E atuar nele com o Steven após o diagnóstico do autismo, descobrir o quanto trabalhamos bem juntos, tudo se encaixou. Sou prova viva que a arte cura!

Você foi premiada como melhor produtora e recebeu diversas indicações por “BitterSweet”. Como essas conquistas afetaram a sua confiança e sua visão sobre o impacto que esse filme pode ter nas pessoas que, como você, passaram por experiências semelhantes?

Eu espero que “BitterSweet” ajude muitas pessoas e famílias no espectro autista e/ou neurodivergentes que passaram dificuldades como a que passamos.

Gabriela Kulaif (Smartini Media)
Gabriela Kulaif (Smartini Media)

Sua experiência como publicitária, jornalista, professora de Reiki e Kundalini Yoga também formou uma base rica para a sua vida profissional. Como essas diferentes facetas de sua carreira ajudaram a moldar a pessoa que você é hoje, especialmente no contexto de sua vida como atriz e produtora?

As práticas como Reiki e Kundalini Yoga me trouxerem consciência de quem eu sou e do que eu quero, e isso é um predeterminante essencial no sucesso da nossa vida pessoal e qualquer carreira que queiramos seguir.

O cinema brasileiro sempre teve um papel importante na sua vida e você expressou o desejo de atuar em projetos no Brasil. Quais aspectos do cinema brasileiro você acredita que têm o poder de tocar o público internacional de maneira única e especial?

O Brasil é um país que tem uma energia única e contagiante, isso se mostra através da nossa música e da nossa arte. A música brasileira é valorizada no mundo todo! E cinema é um veículo poderoso onde podemos mostrar para audiências enormes quem somos, a nossa graciosidade, a nossa energia alegre, a nossa poesia única.

Gabriela Kulaif (Smartini Media)
Gabriela Kulaif (Smartini Media)

Ao olhar para trás e refletir sobre a mulher que você se tornou, qual foi o maior desafio que você enfrentou em sua carreira até hoje, e como superou as dificuldades que surgiram no caminho?

Olha, vou lhe dizer que o maior desafio que enfrentei e enfrento é unir a maternidade e trabalho. Ser boa mãe e se suceder na carreira não é para qualquer um(a)! Principalmente no meu caso que moro num país onde baba não é tão comum como na cultura do Brasil, e não tenho família perto para ajudar. A sociedade tem que valorizar muito mais as mães que decidem seguir uma profissão. Sem nem entrar no assunto das mães que não tem opção e tem que trabalhar para sobreviver.

Para você, o que significa “abrir suas próprias portas”, como mencionou sobre sua jornada nos Estados Unidos? Como você enxerga o papel da mulher no mercado de cinema mundial e o impacto que histórias como a sua podem ter nas futuras gerações de artistas?

Morar e trabalhar em um país onde não nasci, aonde não conheço tantas pessoas, me fez ter que batalhar mais e ter muito foco para chegar aonde estou, diferente do brasil, que é o país onde nasci e onde conheço muito mais pessoas e automaticamente tenho mais portas abertas. Quanto a mulher no mercado de cinema, em algumas situações infelizmente ainda tenho que lidar com a masculinidade tóxica, mas estamos cada vez mais fortes, tivemos muitas conquistas e estamos em evidência. Chegou a nossa hora!

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